Resposta de
William Lane Craig ao livro “Deus, um delírio” de Richard Dawkins.
Transcrição feita por Jorge
Luiz e Bryann Barbosa do livro "Apologética Contemporânea", página
165-167
A hipótese do design implica a existência de um Designer Cósmico que submeteu as condições iniciais do universo a
um ajuste preciso propício ao surgimento de vida inteligente. Tal hipótese
introduz uma explicação de caráter pessoal no ajuste preciso do universo. Seria
tal explicação implausível? Os detratores do design por vezes objetam que,
nessa hipótese, o Designer Cósmico
ficaria sem explicação. Essa objeção é o que Richard Dawkins chama de "o
argumento central do meu livro" Deus,
um delírio.¹ Ele resume seu argumento da seguinte forma:
1. Um dos maiores desafios do intelecto humano
consiste em explicar como surge, no universo, o design, tão complexo e improvável.
2.
A tentação
natural é atribuir
o surgimento do design ao próprio design.
3. Tal tentação é falsa
porque a hipótese do designer suscita imediatamente um problema maior, o de
quem projetou o designer.
4. A explicação mais
engenhosa e de maior impacto é a da evolução darwiniana pela seleção natural.
5.
Não
temos uma explicação equivalente para a física.
6. Não devemos desistir
da esperança de uma explicação melhor no campo da física, uma explicação que
seja tão forte quanto o darwinismo é para a
biologia.
7.
Portanto,
é praticamente certo que Deus não existe.
Trata-se de um
argumento surpreendente porque a conclusão ateísta — "Portanto, é
praticamente certo que Deus não existe"— não decorre das seis declarações
anteriores mesmo que admiramos que cada uma delas seja verdadeira e
justificada. No máximo, o que se segue é que não devemos inferir a existência
de Deus com base no surgimento do design no
universo. Essa conclusão, porém, é bastante compatível com a existência de Deus e justifica, inclusive, nossa fé em sua existência. Talvez
devêssemos crer em Deus
com base no argumento cosmológico, ontológico ou moral. Talvez nossa crença em
Deus não se baseie de modo algum em argumentos, e sim na experiência religiosa
ou na revelação divina. A questão é que a rejeição dos argumentos do design para a existência de Deus em nada
contribui para provar que Deus não existe ou até mesmo que a crença nele é injustificada.
Seja
como for, não é nenhum pouco implausível que vários passos da argumentação de
Dawkins sejam falsos. O passo (5) faz referência ao ajuste preciso do cosmo que
temos discutido aqui. Dawkins não tem nenhuma explicação para ela, portanto, a
esperança formulada no passo (6) expressa nada mais do que a fé de um
naturalista. Veja-se também o passo (3). Dawkins diz aqui que não há
justificativa para quem queira inferir
que Deus é a melhor explicação para o de complexa que se observa
no universo, porque surge então um novo problema: Quem
projetou o designer?
Essa
réplica pega em dois aspectos. Em primeiro lugar, para que uma explicação seja
melhor, não é preciso que haja uma explicação da explicação. É desse modo que a
filosofia da ciência entende a inferência pela qual se chega à melhor explicação. Se numa escavação do arqueólogo descobre
objetos semelhantes a ponta de flechas, pedaços
de machadinhas e cacos de cerâmica, será correta sua inferência de que
os artefatos encontrados não são resultado do acaso, da sedimentação e da
metamorfose, e sim produtos de algum grupo desconhecido de pessoas, embora não
se tenha explicação alguma sobre quem seriam elas e de onde teriam vindo.
De igual modo, se um astronauta topasse com uma pilha de máquinas no lado oculto da
lua, estaria correta sua inferência de que aquilo era produto de agentes
dotados de inteligência, mesmo que não tivesse
ideia alguma de quem seriam
esses agentes e como
haviam chegado ali. Para que se possa afirmar que uma explicação é a melhor que
há, não é preciso que o indivíduo seja capaz de explicar a explicação.
Na verdade,
esse tipo de exigência levaria
a uma regressão infinita de explicações, de tal
modo que nada poderia ser explicado. Seria o fim da ciência! Portanto, no caso
em questão, não é
preciso ser capaz
de explicar o designer
para admitir que o
design inteligente é a melhor
explicação para o surgimento do design no universo.
Em
segundo lugar, Dawkins acha que no caso de um Designer divino do universo, este
seria tão complexo quanto a coisa a ser explicada, de modo que não há
necessidade de nenhuma explicação. Esse tipo de objeção suscita todo tipo de
problema em relação ao papel desempenhado pela simplicidade na avaliação de
explicações concorrentes. Por exemplo, de que maneira a simplicidade deve ser entendida
em relação a outros critérios como poder de explicação,
alcance explicativo e etc? Vamos, porém, deixar essas coisas de lado.
O erro fundamental
de Dawkins está
em seu pressuposto
de que o Designer
divino é uma entidade comparável em complexidade ao universo. Como mente
incorpórea, Deus é uma entidade notavelmente
simples.
Como
entidade não física, a mente não é composta de partes, e suas propriedades mais
evidentes como autoconsciência, racionalidade e volição são essenciais a ela.
Em contraposição ao universo contingente e variado, com todas as suas
constantes e quantidades inexplicáveis, a mente divina é surpreendentemente
simples. Sem dúvida uma mente dessas é capaz de ideias complexas— como o
cálculo infinitesimal, por exemplo— porém, a mente em si é extraordinariamente
simples.
Dawkins evidentemente confundiu as ideias de uma mente, que podem, de fato,
ser complexas, com a mente em si, que é uma entidade incrivelmente simples.
Portanto, postura a existência de uma mente divina por trás do universo
significa, sem dúvida alguma. Um avanço em relação a simplicidade, não importa
que valor isso tenha.
¹ Richard Dawkins, The God
delusion, p. 157-158.
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