“Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade porque o Pai procura a tais que assim o adorem” (Joao 4:23). Essa conversa se deu com uma mulher samaritana, todos sabem disso, e a disputa daquela mulher seria o local correto de adoração. A correção procede do Senhor, estava chegando uma Nova Aliança,(Hebreus 12:24 com 8:13) ela é uma redenção e uma retirada, o mundo profano não pode mais existir para um homem santo, a adoração e as ações espirituais agora são universais, não limitadas por um tempo, o templo agora se expande, a condição de vida espiritual desde o coração é o principio que rege o culto e a adoração cristã, como no jardim do Éden, cada centímetro daquele lugar era um local de culto e adoração. Não estou defendendo a idéia errônea de que não precisamos de um templo, apenas saliento que o erro está em sacralizar um lugar e colocar limites, até porque o templo está dentro dessa esfera de adorar a Deus em espírito e em verdade desde qualquer lugar, e assim deve proceder cada santo homem de Deus, redimido e lavado pelo sangue imaculado do Cordeiro que morreu por nós na cruz maldita.(Apocalipse 1:5 e 14:4 e Galatas 3:13) Adorar em espírito e em verdade é uma norma neotestamentaria, o véu do templo se rasgou,(Mateus 27:51) isso denota acesso livre ao Trono da graça,(Hebreus 10:19 a 25) e isso ocorre por experiência espiritual dentro de um quarto secreto, numa caminhada pela mata, num contemplar do por do sol, num culto familiar e numa assembléia onde todos os redimidos estejam reunidos seja num salão ou num templo. O Senhor estará em todos esses lugares, e Ele pode ser adorado exatamente em qualquer desses lugares. Conta alguns historiadores que na antiga União Soviética, muitos cristãos perseguidos pelo regime comunista se reuniam nas florestas, ali era o lugar da adoração. Parece que isso ocorre ainda em muitos lugares inóspitos ao evangelho em todo o mundo. Mas mesmo em lugares onde Há liberdade, desfrutamos também dessa emancipação divina e a sua bendita onipresença, temos exemplos disso, desde muito cedo, na narração bíblica e o progresso da revelação divina, na historia de Jonas, o culto de oração de Jonas foi no ventre de um grande peixe nas profundezas do mar, e ali Deus ouviu sua oração.(Jonas 2:1) Mircea Eliade no seu clássico “O Sagrado e o Profano” aborda muito bem o costume de todos os povos na questão de impor um lugar sagrado como uma tradição em qualquer religião antiga ou nova, no paganismo havia essa centralidade do lugar sagrado, note que embora isso tenha ocorrido na antiga aliança com o povo de Deus, vimos que a esfera do sagrado nunca se limitou ao templo, porque na chamada de Abrão, a voz do Senhor se manifestou desde Ur dos caldeus,(Genesis 12) a onipresença de Deus era real na vida de Enoque,(Genesis 522) a sarça ardente e a manifestação do Grande EU SOU para Moisés se deu no deserto e aquele lugar tornou-se terra santa.(Exodo 3:5) A fé cristã e os ensinos de Cristo fortaleceram a tese normativa, aliás deve ser considerado como regra elementar, santificar a Cristo no coração significa adorá-lo em Espírito e em verdade e isso a partir de qualquer lugar e em quaisquer condições(I Tesalonicenses 523 e I Pedro 3:15) Paulo e Silas fizeram da prisão num horário avançado da noite, o local de louvor e adoração.(Atos 16:25) Mircea Eliade não percebeu isso em seu livro, o cristianismo se distingue justamente porque a nossa adoração é espiritual e se no nosso coração não se estabelecer as verdades fundamentais da fé cristã e uma comunhão intima com o Senhor na sua total permanência, a ida a um templo será apenas uma formalidade fria e vazia, há muitos lugares nesse mundo que estão cheios de templos, mas se você quiser encontrar o Senhor, Ele estará do lado de fora desses templos (Apocalipse 3:20)
Cristo então está dizendo a mulher Samaritana “Agora é” ali mesmo, naquele encontro Deus pode ser adorado em espírito e em verdade, é preciso que se diga, que Cristo não anulou o lugar fixo, mas fixou todos os lugares como apropriados para a adoração e devoção espiritual, inclusive ali ao lado daquele poço. Aqui temos a clara diferença da fé cristã das outras religiões, tudo é sagrado na vida de um verdadeiro cristão, nada é secular, a vida espiritual consiste em ter o nosso coração voltado para as coisas de Deus em qualquer situação e lugar, mesmo nos lugares mais inóspitos como uma barriga de um grande peixe ou uma prisão de segurança máxima, ali o Senhor pode ser adorado invocado e louvado, ou entendemos isso e praticamos esse principio ou seremos nada mais do que formalistas religiosos que seguem a correnteza do paganismo. Veja que hoje, as religiões tem seus santuários, eles erguem um e então convidam seus devotos a irem até lá, então colocam os limites e afirmam “aqui é um lugar sagrado”, mas o lugar é sagrado onde a presença de Deus está, e nesse caso, o lugar menos comum seria o Vau de Jaboque.(Genesis 28:12) Como é a presença do Senhor que consagra o lugar então lemos: “Jesus respondeu, e disse-lhe Se alguém me ama, guardará a minha Palavra, e meu Pai o amará, e viremos para ele, e faremos nele morada”(João 14:23) Se alguém é templo do Espírito Santo e morada do Senhor, onde ele estiver ali será um lugar sagrado.(I Corintios 3:16 e 17 I João 1:3) A presença do homem redimido em um lugar é a presença do Senhor que mora nEle nesse mesmo lugar. O sagrado é o brilho que percorre os passos do homem santo, cada lugar que Ele chega ou permanece, na presença de outros amigos, na sua casa, em reunião familiar, na escola, no serviço, não importa, pois se o homem é de Deus, então Deus estará com ele, e onde Deus está o lugar é sagrado porque é santificado por Aquele que é onipresente e 00é perceptível ao coração do homem devoto, o Senhor é onipotente e onisciente Ele está conosco até o fim das eras (Mateus 28:20). é lamentável que hoje em dia, essa verdade não seja ensinada nos púlpitos, a maior parte dessa omissão se dá por causa do fato de muitos lideres quererem uma plataforma de manipulação, e assim precisam de um lugar que seja supostamente mais sagrado, para dar uma suposta força de impressão aos seus adeptos. A verdade é que embora tenha a plena certeza de que dentro de um templo Deus se manifeste em sua onipresença, e de fato o Senhor usou e ainda continua usando muitos pregadores desde dentro do templo, isso nunca significa que ele não esteja fora, ou que dentro do templo seja mais sagrado do que fora do templo. Coloque meia dúzia de homens santos fora do templo, para louvar e adorar a Deus e outra meia dúzia de murmuradores dentro do templo, e fora dele será aos olhos do Senhor mais aprazível do que dentro do templo. A verdade divina era mais honrada na boca de João Batista no deserto do que na boca de muitos rabinos dentro das sinagogas. Podemos entender as palavras de Cristo pelo ângulo mais ortodoxo possível da natureza divina “Deus é Espírito”, não é local e fixo, mas habita em cada redimido e eleito, sua morada penetra a intimidade profunda de nosso ser, nessa comunhão, andamos com a presença de Deus e o sagrado está em nós e nossa presença torna o meio em que convivemos em lugar sagrado, onde estivermos, ali é o lugar sagrado, ali pode ser o lugar da adoração e do louvor, ali se faz o culto mais intimo e pode ser feita a oração mais fervorosa e o louvor mais sincero. É admirável que a sacralidade de Cristo foi além do templo, Ele esteve lá, mas a sua gloria se manifestou num casamento em Caná da Galileia, sua pregação mais profunda se dá pessoalmente com Nicodemos, seus milagres ocorreram até mesmo nos cemitérios, ele prega o sermão da montanha e seu púlpito é uma colina, a atividade sagrada saiu de um lugar com limites em quatro paredes e expandiu-se por todos os espaços da criação. Cristo está vivendo na pratica aquilo que está ensinando a mulher samaritana, sua transfiguração ocorre no cume de um monte, sua redenção é consumada desde uma cruz, quando Ele se revela aos seus discípulos após a ressurreição Ele vai para onde os discípulos estão reunidos, num aposento particular, e a beira de uma praia, quando alguns estavam pescando, lá está Ele esperando seus discípulos com pão e peixe. Nos lugares mais improváveis, lá estava Ele, e ali mesmo ele realizava os milagres e pregava a salvação. Essa é a vida de Cristo e de certa forma, não havia nem sequer um lugar que fosse secular para Ele, seu senso de onipresença do Pai estava no cerne de todas as suas ações, e assim deve ser com cada um de nós.
Porem é necessário ressaltar algo, a peregrinação do cristão toma apenas o rumo certo, não consagração na desobediência, por isso vimos uma expulsão de Adão do Paraíso, a queda foi literal e a conseqüência também, assim o retorno a comunhão partiu de uma busca divina e não humana, após a queda houve uma fuga do homem em pecado e não um encontro, de modo que se o Senhor não interviesse nessa busca do homem, todos estariam irremediavelmente perdido, olhe para o Salmo 1, não consagramos a roda dos escarnecedores e nem o caminho dos pecadores, evitemos o desperdício nas coisas fúteis para ganharmos o premio das coisas eternas.
CLAVIO J. JACINTO
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