A VERDADE OFENDE?
O evangelho ofende as pessoas? Pode um pregador anunciar as boas novas e as verdades das Escrituras sem ofender ninguém? Essas são questões que envolvem uma ampla gama de circunstâncias. Desde o início, podemos afirmar que é impossível pregar o evangelho e as doutrinas da fé cristã sem que algumas pessoas se sintam ofendidas. Afinal, a ofensa é algo subjetivo e depende da formação cultural e social de cada um. Em uma sociedade cada vez mais marcada pelo empoderamento, narcisismo, hedonismo e intolerância ao cristianismo bíblico, todo pregador deveria estar ciente dessa realidade.
As Escrituras são claras ao afirmar que os incrédulos, espiritualmente cegos, se oporão às verdades divinas. O grau de ofensa gerado por essas verdades depende do orgulho, fanatismo, dureza de coração, zelo sem entendimento e idolatria de cada um. Aqueles que amam o pecado odeiam a santidade. O Antigo Testamento nos dá exemplos claros disso: Jezabel odiava Elias; Jeremias foi rejeitado pela maioria dos judeus de sua época, pois sua mensagem não era bem recebida pelos ouvintes.
O apóstolo Paulo ensinou que a Palavra de Deus é útil para repreensão e correção (II Timóteo 3:16). No entanto, em nossos dias, muitos rejeitam tanto a repreensão quanto a correção. Vivemos uma época em que corrigir alguém é considerado ofensivo e politicamente incorreto. Paulo enfrentou essa realidade ao corrigir os gálatas e, por isso, questionou: "Tornei-me, porventura, vosso inimigo, porque vos disse a verdade?" (Gálatas 4:16).
Os exemplos bíblicos continuam: os judeus rangeram os dentes de raiva enquanto Estevão pregava, e o resultado foi sua morte. João Batista, ao denunciar um casamento ilegítimo como adultério, enfrentou a ira de uma mulher ímpia e pagou com a própria vida. O próprio Jesus frequentemente confrontou os fariseus hipócritas, e sua crucificação foi cercada de "ofensas" que resultaram de suas pregações.
Sim, o evangelho é a mensagem das boas novas. No entanto, ao pregar sobre arrependimento, surge a questão: de que deve o ímpio se arrepender? Da idolatria? Dos vícios? Essas verdades podem trazer conforto a alguns, mas ofensa a outros. A doutrina da condenação eterna, por exemplo, é um escândalo para a mente carnal.
Denunciar o pecado inevitavelmente levará ao confronto. Em uma sociedade que se deleita na impiedade, muitos se sentirão desconfortáveis ao serem confrontados e expostos. Um pregador comprometido com as verdades fundamentais do evangelho inevitavelmente ofenderá pecadores que amam viver no erro, bem como falsos cristãos cuja hipocrisia será desmascarada pela pregação da sã doutrina.
Experiências pessoais confirmam essa realidade. Conheci uma mulher que se sentiu ofendida quando um pregador expôs a história da mulher adúltera de João 8. Outra abandonou a igreja após ser corrigida quanto à vestimenta inadequada para um culto. Mesmo o ato de evangelizar pode ser visto como ofensivo, pois muitos se sentem insultados quando suas crenças errôneas são confrontadas.
Falsos cristãos se ofendem quando seus "pecados de estimação" são expostos. Sentem-se inseguros quando suas ilusões são desfeitas e quando são confrontados com a realidade do próprio coração. A história bíblica confirma isso: Jeremias foi odiado por causa de sua mensagem. Amantes de falsos profetas rejeitam a verdade. Hereges desprezam quem prega a sã doutrina. Carnais abominam sermões sobre santidade. Seguidores de uma religião utilitarista odeiam pregadores que proclamam um Deus soberano e senhor de todos.
Sermões que confrontam são desconfortáveis, mas essenciais para a vida espiritual autêntica. Todo verdadeiro cristão entende que a exortação e o conforto são apenas uma parte da caminhada cristã. Repreensão, correção e conselho são necessários para o crescimento espiritual e para manter uma igreja saudável.
Preocupa-me a tendência de uma geração de cristãos mimados, frágeis e superficiais, que se sentem ofendidos por sermões que corrigem e repreendem, pois esses visam alinhar a vida espiritual aos padrões das Escrituras. A Palavra viva de Deus é uma espada penetrante, usada por homens que são instrumentos do Espírito Santo. Muitas vezes, aqueles que se ofendem com a pregação apenas revelam que são incircuncisos de coração, pois resistem à voz divina pronunciada através de um sermão necessário.
É importante esclarecer que não estou defendendo lideranças unilaterais, abuso de autoridade ou manipulação psicológica. O que desejo enfatizar é que, no curso normal da vida cristã, a Palavra de Deus inevitavelmente ofenderá aqueles que não andam segundo os padrões da sã doutrina.
C. J. Jacinto