Sempre apreciei os clássicos da
literatura universal, e minha mais recente leitura foi a obra de Franz Kafka “A
Metamorfose”. Kafka narra a fabula de Gregor Samsa, num cenário chuvoso, o
vendedor que vive perambulando mundo afora, e que num daqueles momentos
preciosos de retorno para casa, após deitar no seu leito de descanso, acorda no
outro dia e descobre que sofreu uma mutação biológica completa. O infeliz
amanhece metamorfoseado em um inseto asqueroso. Essa é a narrativa de Kafka.
Durante décadas, os que apreciam a literatura de Kafka, tem se debruçado nas
favelas da imaginação, tentando descobrir o estado de transformação de Gregor Samsa.
Acho que Kafka deu ao mundo, seu sentimento da melancolia de uma vida sem muito
sentido existencial, quando escreveu “A Metamorfose”. Que destino terrível, e que cenário diatópico
negativo, surge de um homem fadado por viagens, que no período mais apreciado
da vida, sofre uma “penalidade” do destino para ser transformado em uma “barata”,
é como se o escritor jogasse a vida do “Sr Samsa” no despenhadeiro de uma vida
sem qualquer sentido lógico.
Vamos correr ao jardim do bom
senso, e colher a rosa do discernimento, e tentar entender o cenário de um
homem que se transforma em um inseto, e agora precisa viver carregando o fardo
dessa mutação em contrassenso com a existência humana. Nesse novo período da
vida, uma decadência do ser e as causas dessa desgraça envolvem “A Metamorfose”
num conto misterioso, uma fabula de desgraça, a vida perde o sentido, quando
Samsa parecia viver uma vida nem um pouco bucólica, enfiando as linhas
existenciais num cenário tristonho de uma vida erguida sobre as ruínas de um
quase anonimato, um vendedor ambulante, que entra e sai das ruas da vida, e não
encontra um destino para o repouso da alma. Então Kafka, torna-se um profeta
que remete “A Metamorfose” como um modelo niilista para um mundo que já vinha
sofrendo com o desamparo darwinista, que numa antítese, em “A Origem Das Espécies”
inverte o cenário da fabula de Kafka, mas coloca o mesmo viés ideológico, como
o pano de fundo para todo esse teatro da fatalidade casuística. Assim a
comunidade intelectual aplaude as descobertas cientificas de Darwin, e promove também
a mutação do réptil, dos seres primordiais e primitivos, numa escola evolutiva
chegando ao homo sapiens. De repente
havia micro vidas que evoluíram em peixes, depois se tornaram repteis e então evoluíram
para homens. Kafka foi mais imediatista, mas o impacto para o sentido
existencial da teoria da evolução tem um impacto maior, porque enquanto que
Franz Kafka apresenta “A metamorfose” ao mundo como uma fabula. A Teoria da
evolução apresenta o milagre misterioso do mistério das mutações de repteis aos
homens, como uma obra prima do acaso que capricha nos mecanismos da
complexidade, mas enterra a esperança humana no niilismo, e nessa metamorfose
evolucionista, repousa todo o descaso do acaso que oferece um desamparo ultimo
para um homem que é mero produto do acidentes desse mero acaso de escoa pelo
tempo.
A humanidade durante muito tempo
viveu sob a égide vespertina de uma idade utópica, mas acorda no século do
ceticismo, como o produto de uma mutação, sem mágica, sem formulas, simples obra
do acaso, e agora? Como viver a selva da evolução, quando os cientistas quebram
todas as tendências que remetem o homem para uma esperança de imortalidade.
Teilhard de Chardin, bem que intentou formular o “Ponto Omega” mediante o
casamento da ciência com a fé cristã. Mas em vão ecoa suas fabulas! A evolução
é uma força cega que forja o maravilhoso sem enxergar a luz do sagrado, então
conduz o homem para o lugar nenhum, transforma o homem pela antítese de “A
Metamorfose” de Franz Kafka, para uma vida sem sentido, sem esperança futura,
sem um caminho prolongado, a evolução, por sua vez gerou o transhumanismo, a tentativa
de construir uma ponte entre a fatalidade e a ascensão metafísica do homem, e
sua conquista á imortalidade. Por fim, a vida sem Deus é um cenário de chuvas nostálgicas,
onde o homem olha para as nevoas das montanhas e as flores no jardim, e não
consegue transcender além do acidente existencialista. O teatro do acaso
seguiria como condutor de todos os acidentes, por fim cada vida que se vai,
seria a perpetuação da tragédia, e nesse caso, só resta um mergulho no sono do
descaso, um riso mediante a indiferença da vida e o choro perene, não é admirável
que Nietzsche conclua o teatro da sua filosofia, abraçando um cavalo e chorando
copiosamente, quando descobre a sua metamorfose da esperança para a tragédia...
A existência de Deus pode ser
nublada pela desgraça, pode ser ofuscada pelo brilho fátuo da dor, incompreensível
pelo enigma da teodiceia, pode ser mal
compreendida na noite do pecado, por fim chegará a aurora, todas as
dificuldades de compreensão eram mecanismo humanos da incredulidade Aquele que
fez todas as coisas terá uma resposta para todas as perguntas, então o tempo,
como uma pagina de um livro, o livro da existência, apenas mostrará que o
destino de todas as coisas estava sendo escrito por mãos sabias. A história da
vida não poderia ter sido escrita pelas mãos do acaso, porque o acaso não tem
mãos...
Clavio J. Jacinto
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