Você já ouviu aquele jargão
evangelístico “Deus odeia o pecado, mas ama os pecadores”? Ou ainda este “Jesus
te ama”? Será que podemos usar essas frases com objetivos evangelísticos?
Será verdade que Deus odeia os ímpios e pecadores, ou será que Ele os ama?
Primeiro deixe me responde que o método bíblico de evangelismo é proclamar que
o homem é pecador e que deve se arrepender de seus pecados, crendo na
perfeita e consumada obra de Cristo na cruz. (Marcos 1:15, Mateus 21:31 e 32,
Lucas 24:47, Atos 2:36 a 38 e 20:21 e II Timóteo 2;25 e 26). A seguir
vamos observar o cerne da questão desse artigo. A idéia de que Deus odeia todos
os pecadores, tem sido promovida em nossos dias. Essa interpretação teológica
afirma que é errado afirmarmos de Deus odeia os pecadores e não os ama. É
lógico que a idéia se baseia em uma interpretação alguns textos das Escrituras,
afinal de contas há muitas passagens que confirmam isso. Então se juntarmos
todas elas, o resultado será de fato uma conclusão de que Deus, de alguma
maneira, odeia todos os pecadores. Os principais textos que corroboram essa
idéia são: Salmos 5:5 e 6, 11:4 a 7, etc. Essa é uma idéia proclamada
por muitos calvinistas, e é motivada pela exaltação da santidade de Deus
e a extrema pecaminosidade do homem, esse é um tema um tanto polemico,
primeiro porque muitos calvinistas com muito acerto exaltam a santidade e a
soberania de Deus, cada pecado é uma ofensa contra de Deus e só vai existir
pecado se existir pecadores. Por isso mesmo o ódio de Deus não deve se estender
somente ao ato, mas também ao autor. Aqui estamos diante de um tema muito
difícil, eu creio algumas frase e jargões como os citados acima, proclamados
com o intuito de evangelizar e amenizar a mensagem do evangelho estão
completamente errados, nisso eu concordo plenamente com aqueles que afirmam que
a igreja moderna adaptou a mensagem do evangelho, tornando-a bem suave para
pregar sem ofender e tornar-la agradável aos ouvidos dos homens perdidos.
Concordo plenamente com isso. Temos que pregar que o pecado ofende que o
inferno é uma realidade, e que o caminho da perdição é largo e a maioria dos
homens irão para lá. Não há duvida de que isso raramente é pregado hoje. Mas o
cerne da questão é: Deus ama ou odeia os pecadores? Há passagens claras
de que o homem foi alvo do ódio santo de Deus, (Êxodo 32:33 a 35, Levitico 10:1
a 7 etc.) há declarações explicitas de que o homem foi alvo do amor de Deus
(João 3:16, Romanos 5:8 II Coríntios 5:19 a 21, Tito 3:4 I João 4:9 a 10, I
João 4:19 ) Como conciliar esses opostos? . É certo afirmar que Deus odeia
universalmente e incondicionalmente o homem pecador? A resposta é
não! E vou explicar os motivos.
Primeiro: A bíblia afirma que
Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu Filho, alguns argumentam que o
verbo está no passado; Amou. Porém Deus não muda (Malaquias 3:6) então
ele continua amando porque Deus é amor, veja bem, há um texto clássico sobre o
assunto em I João 4:7 a 21. Nesse texto, João aborda o tema, e encontramos ali
o ensino claro de que Deus é amor (Verso 8 e 16) o amor é de Deus (verso 7) Ele
nos amou a nós (verso 9) nos amou (verso 10) nos amou primeiro (verso 19) Agora
vejamos Romanos 5:8: “ Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo
morreu por nós, sendo nós ainda pecadores” Quando Deus provou Seu o amor por
nós? Em que condição esse amor foi provado? Quando a nossa condição espiritual
era de miseráveis pecadores. Nessa condição Deus nos amou, então aqui temos uma
prova irrefutável de que Deus ama uma pessoa na condição de perdido
pecador. Isso está muito claro, ainda que alguém creia na doutrina da
eleição, ainda assim, a maneira como o amor de Deus alcança uma alma é em estado
de pecaminosidade. É claro que a nossa condição de miserabilidade não
pode ficar de fora do assunto, a misericórdia e a longanimidade de Deus é um
assunto vital aqui, Isaias 53:6 I Pedro 3:18 Tito 3:5 e Efésios 2:8 e 9 revelam
que a graça de Deus nos alcançou e por isso a luz do evangelho ilumina o nosso
coração. Nós temos percepção de que somos amados Deus por causa do
seu amor, O Papai celestial deu o seu Filho para morrer por nós e alcança
a nossa miséria, cura nossa cegueira espiritual e nos alcança nos baixos níveis
do vale das sombras da morte, lugar normal de um perdido nesse mundo(I João
3:16) Por isso mesmo, entendo que na condição de um deplorável perdido, o amor
de Deus se manifestou a mim, de outra forma seria eu consumido pela sua ira justa
(Lamentações 3;22) A base da clemência divina é o seu amor, a base da redenção
é a sua graça, a base da sua longanimidade é a sua misericórdia.
Segundo. Há certas condições que
de fato, o ódio de Deus recai sobre os homens e isso é uma verdade bíblica
indiscutível, é bem provável que textos como Salmos 5:5 a 7 de encaixem
perfeitamente nessas condições. Não tenho duvida que em casos de estágios
bem avançados de pecaminosidade, a paciência e o amor de Deus se esgotam,
e a punição torna-se irreversível. Deus não amou os que pereceram no dilúvio,
isso é muito certo, eles pereceram debaixo da ira e do juízo de Deus, da mesma
forma, os homens de Sodoma e Gomorra, eles pereceram debaixo do juízo e da ira
de Deus, “Mas quero lembrar-vos que, como a quem já uma vez soube isto, que,
havendo, o Senhor salvo um povo, tirando-o da terra do Egito, destruiu depois
os que não creram”(Judas 1:5) aqui está a ira de Deus em operação contra a
iniqüidade e seus praticantes, Judas também fala sobre os anjos caídos e Sodoma
e Gomorra e as cidades vizinhas que foram alvos da ira divina (Veja Judas 1;6 e
7) Pedro também fala sobre os anjos caídos que não foram perdoados, o mundo
antigo que sofreu o juízo divino do dilúvio e cita também Sodoma e Gomorra como
alvo da ira santa do Senhor (II Pedro 2:4 a 6) aqui nesses casos temos a ira de
Deus consumindo os pecadores. Mas nem sempre é assim, o Senhor envia Jonas a
Nínive para proclamar arrependimento, e nesse caso houve uma reação dos
ninivitas, eles se converteram de seus pecados, aqui vemos Romanos 5;8 em ação,
amando os pecadores em uma situação de grande miséria espiritual. Assim ocorre
conosco, se o amor de Deus não alcança um pecador, como pode ele
subsistir na impunidade? Será conduzido aos estágios mais terríveis de iniqüidade,
nesse caso aplicam-se dois textos sobre isso: Romanos 1:24 “Por isso
também Deus os entregou as concupiscências de seus corações, a imundícia para
desonrarem seus corpos entre si” aqui temos um estagio de iniqüidade em que o
pecador é entregue a própria paixão pecaminosa e torna-se alvo do juízo e da
ira de Deus, há outra passagem onde o estagio da iniqüidade humana alcança um
nível tão imundo que Deus retira sua misericórdia: “E por isso Deus
enviará a operação do erro, para que crêem na mentira”(II Tessalonicenses 2:11)
Assim entendemos claramente que em certas circunstancias, é verdade que Deus
tira o seu amor do ímpio e a sua ira é aplicada.
Terceiro. Devemos entender que
Deus não tem o pecador como amigo, ainda mesmo assim ama o pecador e isso está
muito claro quando Paulo escreve aos Efésios :”e vos vivificou, estando vós
mortos em ofensas e pecados, segundo o curso desse mundo, segundo o príncipe
das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência,
entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne e
dos pensamentos, e éramos por natureza filhos da ira como outros também. Mas
Deus que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor que nos amou,
estando nos ainda mortos em ofensas, nos vivificou juntamente com
Cristo”(Efésios 2:1 a 5) Olha a ênfase de Paulo “Pelo seu muito amor que nos
amou” quando ele amou assim os pecadores mortos em ofensas em pecados? Quando
eram miseráveis pecadores perdidos. Será que Deus mudou seus sentimentos para salvar
o homem? Creio que não! Não há sombra de variação em seu caráter (Tiago 1:17)
Por isso creio que não é aplicado o amor “Philo” no relacionamento do
Senhor com os pecadores impenitentes. Nesse caso o único amor é o
Ágape, esse é o amor cujo teor celeste e divino nos capacita a amar os
nossos inimigos (Mateus 5:44) e é exatamente dentro do sermão da montanha que
encontramos o amor ágape (O mesmo amor de João 3;16) um amor capaz de amar o
inimigo, e é exatamente esse tipo de amor aplicado ao Senhor com relação aos
pobres pecadores. Quando Jesus ensina que devemos amar os nossos inimigos, ele
está ensinando que é exatamente isso o que Deus faz com relação aos pecadores,
eles são inimigos de Deus por causa dos pecados, cada um de nós também éramos
pecadores separados da glória de Deus, foi através da reconciliação que a
barreira da inimizade foi derrubada (Efésios 2:14). É exatamente isso que
precisamos entender, todos éramos inimigos, e Deus nunca tem um pecador não
regenerado como amigo, pelo contrario é um inimigo, é a redenção que abre o
caminho da reconciliação, e de inimigos passamos a ser amigos de Deus (Leia
atentamente Romanos 5:10 e 11, II Coríntios 5:18 e 19, Colossenses 1:20 e
Efésios 2;16). Assim entendemos que o amor Philo nunca pode ser aplicado na
relação entre um Deus santo e pecadores não redimido. Mas o amor ágape, é o
amor de João 3;16 e de Mateus 5:44, é o amor misericordioso e complacente que é
aplicado aos que estão em desgraça espiritual e são ofensivos com relação a
santidade. Dessa forma, Deus ama sim o pecador, é errado dizer que Deus não nos
ama, ele amou a humanidade, e isso inclui a todos em todos os lugares e
em todo o tempo (Apocalipse 1:5), seu caráter não tem sombra de variação, em
todo o tempo ele continua amando de forma “agape” o pecador, até certo nível
isso ocorre, como foi demonstrado acima. Porem há estágios avançados de
iniqüidade que de fato o amor de Deus é retirado dos pecadores e o juízo e a
ira divina recaem sobre eles.
Terminando assim o assunto, quero
reiterar aqui a minha posição de que não é correto usarmos termos como
“Deus te ama” ou que “Deus odeia o pecado mas ama o pecador” com fins
evangelísticos, ou para adocicar a mensagem do evangelho. Tambem não é correto
afirmar que Deus odeia todos os pecadores de uma forma absoluta. Com relação a
evangelização, somos convocados a proclamar arrependimento, a falar sobre a
seriedade do pecado, a gravidade do pecado e a periculosidade que ele
apresenta, pois que aos pecadores nos é dito, que se insistirem em seus pecados,
ouvirão de um Deus justo as palavras “Apartai-vos de mim malditos, para o
fogo eterno”(Mateus 25:41)
Soli Deo Glória
Autor: Clavio J. Jacinto
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