UM CHAMADO A VIVER SEM FAZER CONCESSÕES COM O MUNDO


 

UM CHAMADO A VIVER SEM FAZER CONCESSÕES COM O MUNDO

 


C. J. Jacinto

 

 

Um dos principais desafios do cristão na pós-modernidade reside em manter fidelidade aos princípios bíblicos em um contexto de crescente afastamento da fé, marcado pela adoção do pragmatismo e do relativismo moral, características proeminentes da nossa época.

Essa realidade, descrita nas Escrituras como "este século perverso", contrasta com a postura de muitos que, embora se declarem cristãos, encontram no mundo e em seus valores o centro de seus prazeres e a razão de sua existência. Demonstram, assim, apego ao mundo e suas inclinações, mantendo, contudo, a designação de cristãos.

 Em um período de crise espiritual e generalizada confusão, no qual conceitos contrários aos princípios cristãos e valores bíblicos parecem prevalecer, tanto no âmbito eclesiástico quanto externo, urge a necessidade de que surjam indivíduos de coragem e ousadia, imbuídos do Espírito Santo. Estes devem se dispor a confrontar a corrente de ideias perniciosas que busca infiltrar-se na igreja. É preciso que se levantem homens e mulheres determinados, verdadeiros soldados espirituais, que tenham a ousadia de se opor frontalmente a essas tendências, a fim de promover a mudança e deixar um legado duradouro para a história da fé cristã.

 Em Romanos, capítulo 12, versículos 1 e 2, Paulo escreveu: “exorto-vos, irmãos, pelas misericórdias de Deus, a que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto espiritual. E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.”

Contudo, para preservar nossa posição social, salvaguardar nossa segurança pessoal, satisfazer nosso ego ou evitar o confronto com o mundo, frequentemente protelamos nossas ações ou nos omitimos de nossas responsabilidades, permanecendo inertes diante das tendências malignas do presente século.

 Digo mais, a fim de manter o nosso status, a fim de manter a nossa própria segurança, a fim de satisfazer o nosso próprio ego, a fim de não sermos incomodados pelo mundo, simplesmente procrastinamos, ou então, nós omitimos de nossa responsabilidade e ficamos quietos diante de tantas desvios que ocorrem sobre a nossa sociedade.


 Valorizamos a falsa paz, a serenidade que o mundo propõe para que mantenhamos o silêncio e evitemos perturbações. Essa é a condição estabelecida. A negociação que estabelecemos com o mundo. O mundo nos diz: "Deixem-nos em paz e concederemos paz à igreja e aos fiéis." Consequentemente, nessa transação com o mundo, a prioridade a Deus é secundarizada. Tememos mais a opinião alheia do que a Deus, e assim nos conformamos.

  Essa é uma característica marcante do cristão contemporâneo. Infelizmente, essa é a realidade que vivenciamos atualmente. Observa-se, portanto, um grande número de indivíduos que se autodenominam cristãos, que professam a fé evangélica, mas que não exercem influência no mundo nem causam incômodo. O mundo demonstra grande satisfação com o (falso) testemunho que os cristãos modernos oferecem sobre Cristo. A recompensa que o mundo oferece aos cristãos é a paz. No entanto, essa situação pode indicar que o cristianismo da maioria dessas pessoas se limita a uma prática religiosa superficial, distante do Evangelho pregado por Jesus Cristo.

 Compreendo que esta mensagem possa causar desconforto, pois parece abordar temas que são sensíveis. Observo que, mesmo entre aqueles que se identificam como cristãos, pode haver resistência em ouvir certas colocações. A prioridade, muitas vezes, parece residir na busca por segurança e conforto pessoal, numa espécie de religião utilitarista, que visa satisfazer os anseios individuais e os desejos da natureza humana.

O foco principal, nesse contexto, parece ser a satisfação pessoal, o bem-estar e a segurança, relegando a fé, as crenças e o próprio Evangelho a um plano secundário. A vida da alma é valorizada acima de tudo, e o medo da morte, do martírio e do testemunho se manifesta como algo absolutamente descartado de possibilidade. Deseja-se viver em paz em um mundo que foi, e ainda é, hostil a Jesus Cristo. Essa é a igreja ocidental e seus componentes, rara as exceções.

 Essa aparente contradição entre a rejeição do mundo por Cristo e o amor que nutrimos por ele levanta questões sobre o tipo de espiritualidade e de Evangelho que, possivelmente, estamos seguindo.

 Diante disso, urge a necessidade de adotarmos uma postura de flexibilidade em relação às normas estabelecidas pelo politicamente correto. É imperativo que consideremos concessões, abrindo exceções, em consonância com nossas próprias experiências e convicções. Devemos, portanto, ajustar-nos às demandas do mundo e às suas influências e exigências.  

 Assim, as características do maquiavelismo, do pragmatismo e do relativismo – traços que se contrapõem aos valores cristãos e que predominam no contexto pós-moderno e pós-religioso – não devem mais representar uma ameaça. Podemos, portanto, manter a serenidade diante desse cenário. Afinal de contas, essas coisas até mesmo podem ser usadas para promover a causa da religião cristã, a essas alturas, digo eu; uma influência demoníaca e abominável.

 Contudo, observamos que, diante da crise moral e das ameaças que o povo de Deus enfrentava na época de Moisés, quando o faraó decretou a morte de todos os recém-nascidos do sexo masculino, as parteiras egípcias pouparam Moisés. Elas desobedeceram às ordens do faraó, movidas pelo temor a Deus, mesmo correndo riscos e contrariando os decretos e a vontade do faraó. Em face dos eventos que visavam à destruição do povo de Deus, as parteiras tomaram a corajosa decisão de violar a ordem do faraó e protegeram Moisés, a fim de que não fosse morto. Fizeram isso correndo o risco de serem condenadas por tais ações.


 Na narrativa bíblica, somos apresentados ao profeta Elias, o tisbita, homem que se manteve inabalável diante das ameaças e perseguições promovidas pela rainha Jezabel, conhecida por sua iniquidade e por seu intento de exterminar os profetas do Senhor. Diante desse contexto de apostasia religiosa e cultural, no qual a fé verdadeira rareava, Elias chegou a questionar a Deus sobre sua solidão. O Senhor, porém, revelou a existência de sete mil pessoas que não se curvaram diante da divindade pagã chamada de Baal.

 Elias, mesmo em sua aparente solidão, recusou qualquer forma de compromisso com a fé corrupta, não cedeu às tentações oferecidas pela corte de Jezabel e não trocou sua fidelidade pelo conforto ou segurança. Manteve-se firme em sua fé, resistindo a toda oposição, fiel aos princípios que regem a verdadeira devoção ao Deus Altíssimo.

 Elias personifica um exemplo notável de perseverança e coragem, enfrentando os falsos profetas e as tendências de apostasia da época. Não se intimidou, mas ousou confrontar a decadência, mesmo que sua posição, em sua perspectiva, parecesse pequena. Essa postura, contudo, fez uma grande diferença, marcando profundamente a história do Antigo Testamento e consagrando-o como um dos maiores profetas de Israel.
 Examinemos outro exemplo notável: os três companheiros de Daniel. O monarca babilônico havia ordenado que todos se prostrassem diante da estátua erguida no vale de Dura. Ao som dos instrumentos musicais, todos os presentes naquele vale deveriam curvar-se, sem distinção de nacionalidade ou religião perante uma divindade representada por uma estátua gigante erguida no vale da região de Dura. Aqueles que desobedecessem ao decreto real e se recusassem a prestar reverência seriam sentenciados à morte. Diante da execução da música, a vasta maioria se prostrou, mas não todos. Três judeus permaneceram de pé. Esses hebreus se recusaram a curvar-se perante as ordens de Nabucodonosor, apesar das ameaças, mesmo sabendo que sua fé os colocava em risco de vida, pois seriam lançados em uma fornalha ardente. Contudo, permaneceram firmes e não se prostraram diante da estátua. Essa narrativa merece profunda reflexão, pois, diante das pressões do mundo contemporâneo que possam desafiar nossa fé e destino, devemos manter nossa lealdade ao Senhor, mesmo que isso implique em riscos. Assim como aqueles três jovens, eles foram firmes e convictos de que agir de acordo com a vontade de Deus era mais importante do que agradar aos homens. Permaneceram inabaláveis diante de circunstâncias ameaçadoras, sem ceder a concessões em prol da própria segurança ou conforto.

 A lembrança dos três amigos de Daniel evoca a memória do próprio Daniel e, por analogia, dos primeiros cristãos, que enfrentaram perseguições severas. Sob o domínio de imperadores romanos, todo o império se voltou contra a Igreja de Cristo, assim como Israel e muitos judeus que não haviam aceitado a fé cristã se opuseram a ela. Em meio a essa adversidade extrema, os cristãos eram levados a julgamento, mortos, assassinados e entregues às feras, servindo de espetáculo para o mundo. Um mundo que se deleitava com a morte dos primeiros cristãos e que por mais estranho que pareça, a igreja ocidental na sua maioria se deleita com ele.

 Essa realidade contrasta com a atitude de muitos cristãos pós-modernos, que parecem oferecer um pacto de silêncio. Ao fazer concessões, buscam refúgio em suas zonas de conforto e segurança, hesitando em testemunhar abertamente. Esse comportamento leva o mundo, outrora inimigo e destruidor da Igreja Primitiva, a ver a Igreja Pós-Moderna como omissa em relação à vivência do verdadeiro Evangelho.





Por fim, gostaria de mencionar Jônatas, amigo de Davi. Diante das adversidades, das ameaças de Saul e ciente do perigo que corria ao proteger Davi, alvo do ódio de Saul, Jônatas, arriscando a própria vida, defendeu e protegeu Davi em meio à perseguição. Jônatas abriu mão de conforto, segurança e vantagens pessoais, demonstrando coragem e altruísmo. Sua atitude revelou virtude e compromisso com o que era correto.

 Assim como as parteiras no tempo de Moisés, os três amigos de Daniel, o próprio Daniel e o profeta Elias, Jônatas não se omitiu nem cedeu a concessões em benefício próprio ou em busca de segurança pessoal. A verdade era inegociável, e, guiados pela sensatez, optaram por ela, mesmo diante do perigo iminente, mantendo-se firmes e buscando a vontade de Deus.

Que em nossos dias sigamos esse exemplo, adotando uma postura firme e corajosa. Caso contrário, nosso testemunho se tornará motivo de vergonha e nossa religião evidencia de um fracasso.

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