Esoterismo Alucinógeno e Divindades “Chapadas”
Como o uso de drogas era usado para o contato como o mundo espiritual caído
C. J. Jacinto
A sociedade contemporânea tem sido marcada por uma crescente permissividade em relação ao uso de drogas. Desde a Revolução Contracultural, que eclodiu na década de 1960 nos Estados Unidos, o consumo de alucinógenos psicodélicos experimentou um notável aumento. Anteriormente, seu uso era mais restrito a círculos esotéricos e de práticas mágicas, onde servia como meio para alcançar estados alterados de consciência e estabelecer contato com entidades espirituais. Estudos sobre feitiçaria e xamanismo revelam essa prática, que se estendia a figuras proeminentes do ocultismo, como Aleister Crowley. Para esses indivíduos, a utilização de substâncias psicoativas representava um caminho para induzir estados alterados de consciência e interagir com espíritos, frequentemente categorizados pelas Escrituras como demoníacos. Tais entidades, por sua vez, eram concebidas como divindades ou potências invisíveis, passíveis de evocação para fins de interesses humanos.
Por um longo período, dediquei-me a
estudos acerca de estados alterados de consciência, esoterismo e o consumo de
substâncias psicoativas. Minhas pesquisas consistentemente revelaram que, em
épocas remotas, o uso de tais substâncias estava intrinsecamente ligado à
religião pagã e o espiritualismo primitivo. No contexto do xamanismo, uma forma
primordial de espiritualidade e contato com entidades e potências espirituais
invisíveis, o consumo de psicotrópicos constituía um meio para alcançar esse
objetivo comum.
Nesse estágio primitivo, o uso de alucinógenos e outras substâncias estava notadamente associado a práticas religiosas. (Veja Deuteronômio 32:17)
Nisto reside a gênese do uso de substâncias alucinógenas: elas tinham o objetivo comum de entrar em contato com um mundo de potências invisíveis.(I Coríntios 10:20)
Com base nessa perspectiva, podemos inferir claramente que o uso contemporâneo de entorpecentes, alucinógenos e psicodélicos oferece uma perigosa abertura para o mundo invisível e à influência de potências demoníacas sobre aqueles que os consomem. É imperativo que se compreenda o uso dessas substâncias sob esta ótica. (Veja deuteronômio 18:9 a 12)
Estou convicto de que a temática da
legalização de substâncias entorpecentes, tão proeminente na atualidade, possui
profundas implicações de natureza espiritual. Adicionalmente, percebo nessa
tendência um traço distintivo do fim dos tempos. Conforme o apóstolo Paulo
enfatiza em suas epístolas, uma das evidências dos últimos dias será a
manifestação demoníaca em larga escala como descreve em sua primeira epístola a
Timóteo no início do capítulo 4, as advertências acerca da apostasia social
e espiritual. Em vista disso, considero que a liberalização e o consumo de
drogas exercem um impacto espiritual considerável sobre a nossa sociedade uma
abertura para a interação com principados e potestades malignas. Essa
influência se intensificará ainda mais com o crescente uso de substâncias
psicodélicas, alucinógenas e psicoativas, mesmo quando destinadas a propósitos
recreativos, pois tais práticas propiciam uma abertura ao mundo espiritual
invisível, configurando-se em uma espécie de evocação. (Veja Levitico 19:31)
No livro "O Sagrado Off Limites", publicado pelas Edições Loyola, de
autoria de Aldo Natali Teerin, explicou que, sob a influência do transe, a
visão dos povos indígenas da América Central, onde, por exemplo, enxergam os
homens que caminham de cabeça para baixo, em um mundo onde o sono ocorre
durante o dia e o trabalho à noite. É nesse contexto que os xamãs percebem o
mundo como uma realidade invertida, semelhante àquela que se apresenta como
negação deste mundo na mística cristã ou budista.
O xamanismo, em virtude de sua antiguidade, tradição e consistência ritual, pode ser considerado um arquétipo de todas as formas de transe, inclusive das práticas contemporâneas de canalização (channeling) americanas, que buscam a comunicação com figuras ilustres do além, e de todas as manifestações, visões e mensagens que se manifestam por meio de um médium ou de um indivíduo dotado de energia especial, outrora denominado "energúmeno", termo que se referia àqueles que possuíam uma energia singular, imbuída por alguma divindade. (Levítico 20:6 e 27)
O autor ainda expõe a tese, com a qual concordo, de que o xamanismo, caracterizado pela utilização de substâncias psicoativas para estabelecer contato com forças espirituais, representa a origem da mediunidade, uma forma mais primitiva que evoluiu até os dias atuais. Assim, evidencia-se a associação entre o uso de drogas e a busca de contato com o mundo espiritual, conforme a percepção dos xamãs e adeptos de práticas pagãs, que viam nas substâncias psicodélicas, psicotrópicas e psicoativas um meio de acesso ao mundo invisível. (Veja Isaías 8:19 a 20)
Ao analisarmos 1 Coríntios, capítulo 10,
versículo 21, onde Paulo menciona o "cálice dos demônios", é
importante compreender o contexto da passagem. A referência ao cálice, a
princípio, relaciona-se aos sacrifícios e rituais idolátricos, nos quais se
ofereciam sacrificios às divindades pagãs. Contudo, a prática do uso de
substâncias psicoativas e alucinógenas para a indução de estados alterados de
consciência e experiências místicas era disseminada na antiguidade, inclusive
no período do Novo Testamento. Religiões de mistérios, como as romanas e
gregas, utilizavam tais substâncias em seus rituais secretos, a exemplo dos
cultos dionisíacos e eleusinos. O emprego de psicodélicos e psicoativos, com o
objetivo de alcançar estados de transe e contato com o mundo espiritual, era
prática comum.
Desta forma, a menção de Paulo ao "cálice dos demônios" pode ser interpretada, em um sentido mais amplo, como uma referência não apenas aos sacrifícios e rituais idolátricos, mas também aos meios que os antigos utilizavam, através do uso de substâncias psicoativas e psicodélicas, para obter êxtase e, assim, se conectar com as divindades que Paulo e outros escritores da Bíblia, identificava como demônios. (Veja Gálatas 5:19 a 21 onde o termo “pharmakeia” usado no original denota o uso de poções mágicas para fins ocultistas e feitiçaria)
É relevante observar que o Dr. Gordon
Wasson, considerado um dos fundadores da etnofarmacologia moderna, fundamentou
suas pesquisas em evidências do xamanismo siberiano. Essas evidências
corroboraram sua teoria de que o cogumelo “Amanita muscaria” seria a substância
utilizada pelos antigos arianos védicos, a qual denominavam "soma".
Curiosamente, Aldous Huxley, em seu romance "Admirável Mundo Novo",
empregou o mesmo termo, "soma", para descrever uma droga que promovia
a felicidade entre os personagens. A substância "soma" é mencionada
no Rigveda, descrita como uma planta inebriante e inspiradora, originária das
altas montanhas do Himalaia. Desta forma, é possível identificar as origens do
uso de substâncias psicodélicas e psicotrópicas em civilizações antigas, como a
indiana.
Na tradição hindu, há uma lenda que
narra a origem do uso de plantas intoxicantes. Conta-se que Shiva, associado às
plantas com propriedades alteradoras da consciência, (considerado como a
divindade padroeira das plantas alucinógenas) se casou com a deusa Parvati e
fixaram residência em uma bela morada na região do Himalaia. Contudo, Shiva
frequentemente se ausentava, dedicando-se a longas caminhadas e relacionamentos
com outras deusas, negligenciando o lar. Parvati, sentindo-se só e frustrada
com a situação, refletia sobre o que fazer. Observando uma planta de cannabis
em floração, colheu suas flores exuberantes e perfumadas. Ao retornar, Shiva
foi presenteado com as flores para fumar. Desta narrativa tradicional surgiu a
crença de que Shiva, divindade central na religião que leva seu nome, é o deus
das plantas psicodélicas e psicotrópicas. Essa crença contribuiu para o
estabelecimento do uso dessas substâncias, especialmente a maconha e seus
derivados, como um meio de prática ritualística para alcançar o êxtase e a
conexão com o mundo espiritual.
Dessa forma, substâncias psicodélicas
integraram rituais destinados a induzir estados alterados de consciência. A
tradição hinduísta narra que Shiva, divindade hindu, teria sido o primeiro a
fumar ganja, uma substância vegetal, desde a criação do universo.
O ato de fumar proporcionou-lhe inspiração e uma alegria incomensurável. Seu terceiro olho se abriu, permitindo-lhe contemplar a deusa Parvati, a quem considerou a mais sublime criatura do universo. Shiva declarou seu amor a Parvati, prometendo estar sempre ao seu lado. A partir desse momento, Shiva e Parvati compartilharam o uso de ganja e a ingestão de bang, uma bebida tradicional. Essa narrativa integra a tradição hinduísta e associa as divindades ao uso dessas substâncias. A utilização de substâncias alucinógenas e psicoativas, juntamente com práticas xamânicas, representa uma das mais antigas origens do emprego de substâncias intoxicantes para alcançar experiências de êxtase, estados alterados de consciência e contato com o mundo espiritual. Posteriormente, no Novo Testamento, Paulo associaria tais divindades a entidades demoníacas.
Como cristão que adota a Bíblia como a Palavra de Deus, e considerando a
história do povo de Israel no Antigo Testamento, observamos a constante
preocupação divina em preservar a pureza espiritual do povo hebreu, separando-o
das práticas religiosas pagãs. Essa preocupação, manifesta de diversas formas,
se justifica, em parte, pelo contexto da região oriental, onde o paganismo e
suas práticas idólatras e panteístas eram proeminentes.
A proibição divina de contaminação espiritual com o paganismo se relacionava,
entre outros fatores, ao entendimento que as religiões da época tinham sobre as
drogas. Estas substâncias, utilizadas por feiticeiros, sacerdotes e xamãs, eram
consideradas ferramentas para alcançar estados alterados de consciência,
facilitando o contato com o mundo espiritual. Os xamãs invocavam o espírito das
plantas alucinógenas, mantinham contato com essas entidades espirituais e
veneração essas plantas, praticando idolatria. A perspectiva bíblica, conforme
apresentada em estudos das Escrituras, tanto no Antigo quanto no Novo
Testamento, descreve este mundo espiritual como perigoso e, em grande parte,
demoníaco. (Efésios 6:10 a 18)
Diante disso, creio que o uso de drogas, incluindo substâncias intoxicantes,
psicodélicos, alucinógenos e plantas psicoativas, mesmo que o indivíduo não
tenha consciência disso, pode ser associado, de acordo com a minha compreensão
cristã da dinâmica do mundo espiritual, a uma interação com entidades
demoníacas. Estados alterados de consciência podem ser vistos como uma forma de
indução que facilita a interação entre o mundo espiritual e a mente e o
espírito humano.
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