O Homem Interior e a Vida Espiritual
C. J. Jacinto
Uma das passagens que mais aprecio meditar acerca da firmeza espiritual e da perseverança reside no capítulo 4 de 2 Coríntios. No versículo 16, lemos: "Por isso não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia."
Nesse trecho do Novo Testamento, de autoria paulina e inspiração divina, o apóstolo Paulo faz menção do "homem exterior", que se deteriora, e do "homem interior", que se renova constantemente. Qual, então, a essência desse "homem interior"?
Neste breve
estudo bíblico, meu propósito é apresentar uma compreensão, solidamente
embasada nas próprias Escrituras, a respeito da natureza desse homem interior,
o qual deve ser renovado dia após dia. Almejo que este estudo possa ser de
profunda edificação e bênção para todos os seus leitores.
Para elucidar a natureza do homem
interior, apresentarei duas passagens significativas. Em primeiro lugar, nos
deteremos em João, capítulo 3, versículo 3. Nessa passagem, o Senhor Jesus,
nosso Salvador, faz a célebre declaração de que "é necessário nascer de
novo, pois quem não nascer de novo não pode ver o reino de Deus".
Subsequentemente, o mesmo apóstolo João, em sua Primeira Epístola Universal, capítulo 3, versículo 9, assevera que "aquele que é nascido de Deus não comete pecado".
Esta é a característica primordial do homem regenerado, o princípio da regeneração, no qual o Espírito Santo opera a formação de uma nova criatura em nosso interior. Isso se alinha com o que também se observa em 2 Coríntios, capítulo 5, versículo 17, que afirma: "Se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas antigas já passaram, tudo se fez novo."
Desejo, ademais, sublinhar o contraste
delineado nas Escrituras Sagradas, as quais abordam a natureza do "velho
homem". Essa figura é apresentada como um antagonista de essência oposta,
intrinsecamente adâmica. Tal conceito é explicitado em diversas passagens: em
Romanos, capítulo 6, versículo 6, Paulo descreve o "velho homem que foi
crucificado com Cristo"; em Efésios, capítulo 4, versículo 22, é mencionada
a corrupção do "velho homem pelas concupiscências do engano"; e em
Colossenses, capítulo 3, versículo 9, exorta-se ao despojamento do "velho
homem e seus feitos".
Percebe-se, assim, nas Sagradas Escrituras, a existência de um homem regenerado e a imperativa necessidade de despojar, despir e crucificar o "velho homem", em contrapartida ao dever de nutrir o novo homem.
Analisando o conceito do homem interior à luz das escrituras, conclui-se que ele representa o novo ser, gerado pelo Espírito Santo mediante a regeneração. A posse do homem interior é, portanto, exclusiva de indivíduos regenerados. Prosseguimos agora para outra passagem, em 1 Coríntios, capítulo 2, versículos 14, 15 e 16, onde Paulo discorre sobre o homem natural e o homem espiritual. O homem natural não apreende as coisas do Espírito de Deus, pois lhe parecem loucura; não pode compreendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Já o homem espiritual julga todas as coisas, mas por ninguém é julgado. Pois quem jamais conheceu a mente do Senhor, para que possa instruí-lo? Nós, porém, temos a mente de Cristo.
Observamos,
mais uma vez, a distinção entre o homem natural e o homem espiritual,
evidenciando um contraste marcante. O homem natural representa o homem terreno,
o homem adâmico, o "velho homem" mencionado em passagens anteriores.
O homem espiritual, por sua vez, possui a mente de Cristo, é aquele que nasceu
de novo, é espiritual e discerne todas as coisas, essa sendo sua principal
característica. Esse homem interior é o homem regenerado. Somente aqueles que
nasceram de novo, que realmente creram no Evangelho, que nasceram do alto,
podem ser corretamente designados como espirituais, como o novo homem, o homem
interior. Sua natureza é celestial, totalmente santa; sua origem é divina,
embora não seja divino em si, mas provém de Deus. É uma nova criação, uma
criação feita por Deus. Esse processo, na Sagrada Escritura, é denominado
doutrina da regeneração: a transformação pela graça de Deus daquele que não
nasceu da vontade da carne, nem da vontade dos homens, mas da vontade de Deus,
como o próprio Senhor Jesus Cristo afirma no livro de João, capítulo 3, onde
trata da doutrina do novo nascimento.
Compreendendo o propósito de nossos estudos, propomos analisar uma passagem da
Primeira Epístola de Pedro, capítulo 2, versículo 1. Nesse trecho, o apóstolo
Pedro distingue as características do homem natural daquelas do homem renovado.
No versículo 1, Pedro menciona aspectos do homem anterior à transformação, como
fingimento, engano, invejas, murmurações e malícia. Em seguida, ele descreve a
condição do homem nascido de novo, que demonstra um desejo ardente, semelhante
ao de crianças recém-nascidas, pelo leite espiritual, o qual é racional e
isento de falsificações, a fim de crescerem.
Portanto, a partir das palavras de Pedro, percebemos que o novo nascimento inicia um processo de desenvolvimento espiritual, comparável ao crescimento natural. Ao nascermos de novo, nos assemelhamos a crianças, e a maturidade é alcançada por meio da busca pelo leite espiritual não adulterado. Desejo ressaltar a importância do termo "desejar". A natureza de cada ser é influenciada pelo alimento que o sustenta.
Em outro momento, o apóstolo Pedro faz alusão à natureza dos animais: a porca que retorna ao lamaçal e o cão que volta ao seu vômito.(II Pedro 2:22) O desejo fundamental do homem regenerado é, então, o leite espiritual não falsificado. Esse alimento espiritual, que o impulsiona em direção ao crescimento, o conduzirá, gradualmente, a desejar o alimento sólido.
Consideremos, inicialmente, a passagem de Hebreus, capítulo 5, versículos 13 e 14. Neles, o autor afirma que aquele que ainda se alimenta de leite não está familiarizado com a palavra da justiça, pois é como uma criança. Observamos, portanto, a distinção que o autor aos Hebreus estabelece entre o estágio inicial após o novo nascimento e o posterior, quando o indivíduo busca o alimento sólido. Este último, conforme o versículo 14, é destinado aos maduros, aqueles que, pela prática constante, desenvolveram a capacidade de discernir entre o bem e o mal. Se você realmente nasceu de novo, esse deve ser seu objetivo, alcançar um nível de maturidade para se nutrir de alimento sólido.
Assim, o homem espiritual, aquele que nasceu de novo, passa por um processo de crescimento, do leite ao alimento sólido, com um objetivo claro: o discernimento. Paulo, em sua primeira carta aos Coríntios, já havia abordado este tema, conforme mencionado anteriormente. O autor de Hebreus, por sua vez, ressalta que o homem espiritual, o nascido de novo, anseia pelo alimento sólido, pois nele encontra a perfeição, que é em Cristo. "Os quais, em razão do costume, têm os sentidos exercitados para discernir tanto o bem como o mal". Isso significa a experiência de conhecimento espiritual avançado e visão espiritual que lhe permite ver as realidades espirituais da vida cristã e do próprio Senhor Jesus Cristo
O discernimento espiritual, a percepção aguçada e a maturidade são, portanto, características distintivas do homem que nasceu de novo, que deixou a imaturidade para buscar o alimento sólido.
Esta é a principal característica do homem que vive segundo o Espírito, do homem interior, santificado e nascido do alto: um desejo intenso pelo alimento espiritual genuíno. Ele anseia pela Palavra de Deus, busca vivenciar e experimentar uma vida cristã profunda e deseja adorar e servir a Deus.
Acima de tudo, o cristão genuíno, aquele que nasceu de novo e cujo homem interior se renova diariamente, apresenta uma característica marcante: uma visão de redenção e vida cristã centrada em Cristo, participando das insondáveis riquezas de Cristo, da vida ressurreta e da vida celestial de Cristo.
O homem terreno, oriundo da fragilidade, contrasta com o homem interior, o qual possui natureza celestial, assemelhando-se a Jesus Cristo. Essa nova natureza, radicalmente distinta da natureza do velho homem, emerge através da regeneração, iniciando um processo de renovação e crescimento espiritual contínuo, que se estende por toda a jornada cristã.
Tal
transformação culminará na glorificação, quando o homem regenerado alcançará a
semelhança do corpo ressurreto de Cristo. A nova natureza impulsiona este
processo, gerando um novo homem que se fortalece gradualmente, como a luz da
aurora que, conforme Provérbios 4:18, brilha intensamente até alcançar o dia
perfeito.
Essa perfeição final é a promessa aos
que nasceram de novo, e a renovação diária do homem interior é essencial. Este
é um processo inerente à vida daqueles destinados à glorificação, uma lei
intrínseca à regeneração, ao crescimento espiritual e à maturidade, que culmina
na plenitude da presença de Deus.
Atualmente, meu foco reside na
relevância do crescimento espiritual e em seus mecanismos. Desejo expressar, de
maneira inequívoca, minha convicção pessoal de que o indivíduo que
verdadeiramente experimentou o renascimento espiritual nutre apreço por valores
como a santidade, a consagração, comunhão intima em unidade com o Cristo vivo e
ressurreto e com a Palavra de Deus. Estes elementos constituem seu sustento
espiritual, promovendo o crescimento e proporcionando o conhecimento essencial
para a realização da glorificação, a vida nos novos céus e na nova terra, que é
a consumação da redenção.
Assim, é fundamental compreender que o crescimento espiritual envolve um processo, conforme delineado nas Escrituras. Inicialmente, alimentamo-nos com o "leite racional não falsificado", até atingir um estágio de maturidade que exige uma mudança na dieta, passando ao alimento sólido. Este alimento sólido, em essência, é caracterizado pelas doutrinas e ensinamentos bíblicos, por vezes referidos no Novo Testamento como sã doutrina.
Como Cristo
afirmou na tentação, "Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra
que procede da boca de Deus".
(Mateus 4:4 e Lucas 4:4) A Bíblia Sagrada, desde Gênesis até Apocalipse,
inspirada e inerrante, serve como nosso alimento espiritual, fortalecendo-nos,
proporcionando discernimento e visão, e nutrindo nosso interior. Portanto, a
renovação diária do homem interior é alcançada através da ingestão do alimento
sólido.
Observamos que Pedro expressa um
sentimento, um anseio que prevalece sobre uma paixão intensa. Deseja-se
ardentemente. Não se trata apenas de um desejo, mas de um anelo profundo. O
cristão nutre um desejo fervoroso. Um anseio intenso por estudar as Escrituras,
por compreendê-las. Uma profunda vontade de ouvir sermões fundamentados na
Bíblia. Um anseio intenso por ouvir pregadores notáveis e homens de grande
erudição e santidade. Apreciam as conversas espirituais e buscam avidamente
livros. Livros de homens que cultivaram uma espiritualidade elevada e nobre.
Homens que, por meio de uma vida consagrada, receberam a revelação dos tesouros
celestiais contidos nas Sagradas Escrituras. Sim, homens que se dedicaram à
Palavra de Deus, somente à Palavra de Deus. E nos níveis mais profundos
encontraram as pérolas mais preciosas, as pedras preciosas espirituais de
grande valor e magnitude, e apresentam esse tesouro em seus escritos. Cada vez
que um desses livros é descoberto e lido, há satisfação, há saciedade, porque
também há uma fome. Crentes e irmãos que se caracterizam por essa fome e sede,
por buscar esse alimento que nutre o seu ser interior, que necessita ser
renovado diariamente. Nesses escritos, encontram um verdadeiro manancial do
qual podem se alimentar com uma abundância celestial de grande intensidade. Há
um grande prazer em desfrutar dessas leituras, tanto em nível devocional quanto
prático, para aplicá-las em sua própria vida. Assim, esses homens santos e
piedosos, cujo interior é renovado dia após dia, enquanto o velho homem é
crucificado constantemente, encontram seu deleite na Palavra de Deus, não
apenas em suas origens, mas também na Palavra de Deus exposta e explicada por
homens santos e piedosos que, por sua vez, também experimentaram a
transformação que provém do novo nascimento. O Espírito Santo os guia para que
aqueles que têm a oportunidade de ler e estudar a Bíblia Sagrada revelem os
mais profundos tesouros contidos na Palavra de Deus, deixando um legado para
sua posteridade.
Nos livros de Levítico, capítulo 11, e Deuteronômio, capítulo 14, versículos 3 a 21, encontramos, no Antigo Testamento, preceitos relativos aos alimentos puros e impuros. Essas regras, presentes na Lei, possuíam um significado profundo e espiritual, delineando o que era apropriado e impróprio para o povo de Deus. Essa distinção aponta para a antiga aliança, da qual, na nova, nos alimentamos de alimento espiritual. alimento solido e leite espiritual não falsificado.
Pedro, por exemplo, menciona o "leite racional não falsificado".
Jesus fala sobre o "pão", que representa a palavra de Deus. O autor
da epistola aos Hebreus, por sua vez, refere-se ao "alimento sólido".
Assim, esses são os tipos de alimento que nutrem o cristão da nova aliança, o
homem renascido. Essa é a base de nossa alimentação espiritual, essencial para
evitar a contaminação.
Em 1
Coríntios, capítulo 5, versículos 6 e 7, Paulo aborda a questão da fermentação,
empregando-a como uma metáfora para a corrupção. O apóstolo adverte sobre a
natureza contagiosa da impureza, que pode afetar tanto o indivíduo quanto a
comunidade, enfatizando a importância de se afastar de influências negativas.
Como também observamos anteriormente, em
Atos 17:11, Paulo, em Bereia, pregou aos judeus. Estes, ao ouvirem a mensagem,
aceitaram o evangelho. Após aceitarem, examinaram diligentemente as Escrituras
e os ensinamentos recebidos, a fim de verificar se a mensagem de Paulo acerca
de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo estava em conformidade com o que nelas
estava escrito. Desta forma, procuraram confirmar a autenticidade e a pureza da
mensagem espiritual recebida. Por essa atitude, foram considerados nobres.
Semelhantemente, todo aquele que renasce pelo Espírito, que experimenta a
regeneração, manifesta uma característica comum: a nobreza interior.
Recordando o relato em 2 Reis, capítulo 4, versículos 38 a 41, onde Eliseu preparou um guisado com plantas silvestres, algumas das quais desconhecia serem venenosas. Os homens que o acompanhavam, ao provarem o caldo, perceberam a presença do veneno e gritaram. Diante disso, o profeta Eliseu interveio, adicionando farinha para neutralizar o efeito tóxico.
Da mesma
forma, a pessoa espiritual, nutrida diariamente pela Palavra de Deus, desfruta
das bênçãos do alimento sólido. Este conhecimento é profundamente enraizado em
seu coração, que representa o centro do seu ser. Ao ouvir e perceber a
falsidade do evangelho, a disseminação de heresias e a deturpação das
Escrituras, percebe o veneno na pregação. Reconhece a ausência do bom alimento
e o rejeita, sentindo a amargura e o perigo.
Quanto mais o homem interior é renovado
pela Palavra de Deus, mais apurado se torna seu discernimento e mais refinado
seu paladar espiritual, permitindo-lhe identificar qualquer desvio da Palavra e
toda forma de heresia. Sua alimentação espiritual é rigorosa e criteriosa,
reconhecendo o bom alimento. Ele não se assemelha ao porco que se deleita na
lama ou ao cão que retorna ao seu vômito, mas demonstra o caráter e a natureza
da ovelha, daquele é nascido de novo.
Seu alimento é santificado, puro e genuinamente bíblico, tornando-se parte
integrante de sua natureza.
A importância da nutrição espiritual é evidenciada em passagens como 2 Timóteo, capítulo 2, versículos 16 a 18, onde o apóstolo Paulo adverte contra falsos mestres. Ali, lemos: "Evite os falatórios profanos, porque produzirão maior impiedade. A palavra desses homens alastrar-se-á como gangrena; entre eles estão Himeneu e Fileto, que se desviaram da verdade, dizendo que a ressurreição já aconteceu, e assim perturbam a fé de alguns." Paulo, portanto, destaca Himeneu e Fileto como propagadores de falsas doutrinas, ensinando que a ressurreição já havia ocorrido, deturpando a fé dos crentes. Pregadores ruins oferecem alimento espiritual ruim, da mesma forma, escritores ruins entregam leite falsificado.
De maneira semelhante, em 1 Coríntios, capítulo 15, versículo 33, Paulo adverte que "as más companhias corrompem os bons costumes". Nesse contexto, o apóstolo aborda a questão daqueles que negavam a ressurreição, propagando ideias contrárias à doutrina cristã. Mais uma vez, falsos pregadores, disseminando heresias de perdição tentando seduzir indiferentes e cegos espirituais para o caminho do erro.
Assim, percebemos que mensagens e ensinamentos que distorcem a Palavra de Deus, sejam em âmbito pessoal ou em livros que propagam falsas doutrinas e heresias, devem ser evitados. Tais ensinamentos, frequentemente originados em indivíduos que carecem da iluminação do Espírito Santo e do discernimento espiritual, ou em situações piores são usados por agentes demoníacos (I Timoteo 4:1) causam confusão e desviam os fiéis da verdade. A exposição a essas influências prejudica o crescimento espiritual e a renovação interior, processos essenciais para aqueles que abraçaram a fé cristã e experimentaram a regeneração.
Voltemos a vida interior do filho de Deus, no seu íntimo, ele encontra alegria
e satisfação, nutrindo uma profunda afeição espiritual. Ele busca e anseia por
alimento espiritual genuíno, encontrando prazer e plenitude nisso. Insatisfeito
com ensinamentos superficiais, ele anela por profundidade. Deseja o alimento
sólido e substancial, pois é isso que o nutre, o deleita e o sacia. A presença
dessas características indica o desenvolvimento de uma maturidade espiritual
progressiva. O indivíduo se torna cada vez mais espiritual, guiado por essa
busca e deleite.
Aprofundar o
conhecimento bíblico, compreender os mandamentos divinos e discernir a vontade
do Senhor trazem-lhe alegria. Naturalmente, busca uma união mais profunda com o
Senhor, que se manifesta na comunhão com Ele e na intimidade espiritual.
Tudo isso faz parte do homem interior,
que cresce continuamente à medida que a natureza antiga se enfraquece e se
corrompe gradualmente, seguindo seu curso natural. Os instintos malignos e as
paixões devem desaparecer para que o homem interior se fortaleça e se
manifeste. Somente através dessa transformação o cristão pode experimentar uma
vida cristã profunda e significativa.
No livro de Amós, capítulo 8, versículo 11, encontramos uma profecia que
adverte sobre um tempo de fome sobre a terra. Essa fome, porém, não será por
alimentos terrenos, mas sim por ouvir a Palavra do Senhor. Contudo, em Provérbios,
capítulo 10, versículo 3, reside uma promessa consoladora: os justos não
padecerão fome.
Essa é uma promessa sublime, de que Deus proverá abundantemente àqueles que, regenerados em espírito, O buscam, desejam crescer em graça e conhecimento, e anseiam pelo desenvolvimento constante do seu ser interior. Essa renovação, que se manifesta a cada dia, conduz-nos a um propósito maior: a santidade e a semelhança com Cristo.
A epístola aos Efésios, no capítulo 4, versículos 11 a 13, nos oferece uma visão clara desse processo. Paulo descreve a diversidade de dons concedidos por Deus – apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres – com o propósito de aperfeiçoar os santos, equipando-os para a obra do ministério e edificando o corpo de Cristo. Essa obra visa a unidade da fé, o conhecimento do Filho de Deus e a estatura da plenitude de Cristo.
As palavras de Paulo são claras e inspiradoras. O Senhor tem dado homens
idôneos, que unem erudição e piedade, possuidores de revelação das verdades
espirituais contidas na Palavra de Deus, capazes de apresentar as realidades
espirituais nela contidas. Essa revelação, esse alimento espiritual, é dado
para o aperfeiçoamento contínuo dos santos.
O aperfeiçoamento, que ocorre dia após dia, é um processo maravilhoso, que nos conduz à plenitude, à unidade da fé e ao conhecimento do Filho de Deus, à estatura completa de Cristo.
Assim, o homem espiritual, regenerado, experimenta uma renovação constante em seu interior, centrada no objetivo de se tornar mais semelhante a Cristo. Essa renovação culminará na glorificação do nosso corpo e em nossa transformação completa, que ocorrerá no dia da volta do Senhor. Como Paulo declara, “nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados”. Que Deus nos guie na compreensão dessas profundas verdades.
Outra passagem interessante encotramos em João 6, pois nesse texto Jesus fala acerca do Maná que o povo da antiga aliança comeu no deserto, Cristo se compara ao maná superior, pois Ele é o pão vivo que desceu do céu.
Jesus afirmou: "Vossos pais comeram o maná no deserto e morreram. Este, referindo-se a si mesmo, é o pão que desceu do céu, para que todo aquele que dele comer não morra."
Quão
magnífica declaração de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo! Ele mesmo
declarou: "Porque a minha carne verdadeiramente é comida e o meu sangue
verdadeiramente é bebida." Aqueles que se nutrem de Jesus fortalecem-se. É
como se essa alimentação espiritual nos unisse a Ele, compartilhando a essência
de Seu ser glorificado, da qual também participaremos.
Quão grandiosas são as promessas que nos
aguardam! Adentramos nas palavras de nosso Senhor Jesus Cristo, quando Ele diz:
"Porque o pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo."
Este pão vivifica o redimido, este pão vivifica todo aquele que nele crê.
Tens te alimentado deste pão? O homem interior se fortalece e cresce com a
Palavra, o alimento da Palavra encarnada. Recorda-te disso, pois é imperativo e
essencial para nossa vida. Precisamos compreender que a Palavra encarnada é o
pão e é a nossa alimentação espiritual. Oh! quão maravilhoso quando um sermão
nos leva a Cristo e quando revela mais de Cristo, quão maravilhoso quando
Cristo é a nossa sificiencia.
Assim, encontramos nas Sagradas Escrituras, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, tudo apontando para Cristo. Isso se manifesta claramente em passagens como Efésios, capítulo 1, versículo 10. Tudo aponta para Cristo e consumará em Cristo. A nossa pregação deve apontar para Cristo e levar outros a ter uma comunhão e conhecimento de Cristo. O livro que lemos deve apontar para Cristo. O artigo que lemos deve apresentar Cristo, deve oferecer Cristo como alimento. A Palavra pregada deve transformar Cristo em pão, para que possamos ser nutridos, crescer e ser renovados diariamente, saciados pela Palavra de Deus, por Cristo pregado e anunciado, que se transforma em pão através da anunciação, da pregação e da exposição da Palavra de Deus, para que possamos experimentar a nutrição diária com esse pão espiritual, que é o Senhor Jesus.
Inspirados
pelo ensinamento de Provérbios 20:27, onde o espírito do homem é comparado à
lâmpada do Senhor, compreendemos que a obra divina se manifesta no interior do
ser, no âmago da alma, onde ocorre o renascimento espiritual. Em Romanos 8:16,
Paulo também declara que o Espírito Santo testemunha em nosso espírito que
somos filhos de Deus, ou seja é o Espirito Santo quem testifica ao nosso homem
interior acerca das realidades do Evangelho. Consequentemente, o homem
regenerado possui a base para receber vida, discernir as realidades espirituais
e perceber o invisível. Por isso, ele é capaz de compreender as Escrituras,
lendo-as e apreendendo as verdades espirituais nelas contidas.
Para o homem espiritual, a Palavra de
Deus, desde Gênesis até Apocalipse, é essencial como o pão. Ele se alimenta
desse nutriente espiritual, fortalecendo-se ao ler e meditar nas Escrituras,
pois elas são o seu alimento espiritual.
Em Romanos
7:22, Paulo também se refere a esse homem interior, que se deleita na lei de
Deus. Essa é a característica fundamental: o homem espiritual anseia por ouvir
sermões espirituais, ler obras espirituais e dialogar sobre temas espirituais.
Ele busca artigos que alimentem sua fé e se satisfaz com o alimento sólido da
Palavra. Ele não se interessa por assuntos superficiais, vãos ou desprovidos de
valor espiritual. Ele não se alegra com a distorção da Palavra, mas sim com sua
proclamação fiel.
Essa é a marca distintiva do homem
interior, deseja ser conciso, até repetitivo, aquele que foi regenerado tem
sinais de vida. Um dos sinais evidentes de sua regeneração é o amor
incondicional, profundo e prazeroso pela Palavra de Deus. Ele deseja ouvir a
Palavra pregada, receber os ensinamentos divinos, e buscar o conhecimento da sã
doutrina, dos mandamentos e das Escrituras. Ele nutre uma fome constante por
elas.
Finalmente, podemos concluir sobre o tema do homem interior, o homem regenerado. Em Efésios, capítulo 3, a partir do versículo 16 até o versículo 17, Paulo escreve: "para que, segundo a riqueza da sua glória, vos conceda que sejais fortalecidos com poder, por meio do seu Espírito, no homem interior, e que Cristo habite no coração de vocês, pela fé, estando arraigados e alicerçados em amor." Observamos que o homem interior tem um objetivo claro: o Espírito Santo opera através da nutrição espiritual, o alimento espiritual que recebe através da Palavra e de Cristo, conduzindo a uma plenitude e a um resultado maravilhoso. Qual é esse resultado? O versículo 17 de Efésios, capítulo 3, declara: "para que Cristo habite no coração de vocês, pela fé, estando arraigados e alicerçados em amor." Que enraizamento profundo! Isso nos remete a João, capítulo 15, onde Jesus se descreve como a videira verdadeira e seus seguidores como os ramos. Aqueles que permanecem ligados a Ele darão frutos. Assim, a pessoa regenerada, cujo homem interior é renovado diariamente, alimentado pela Palavra de Deus, nutrido pelo pão do céu, também frutificará. O homem interior alcança a maturidade, a estatura completa de Cristo, atingindo um nível espiritual de profundidade que o capacita a produzir e a oferecer alimento espiritual aos outros e aos redimidos. Essa é a história dos santos em todos os tempos: ao abrir um livro com um sermão de um homem regenerado, encontramos alimento, pois ele recebeu e ofereceu alimento celestial. Esse é o princípio da vida espiritual, a vida da ressurreição de Cristo em nós: aquele que recebe essa vida de ressurreição, esse poder espiritual, esse alimento espiritual, e é nutrido por ele, também alimenta os outros, partilhando das coisas espirituais. É assim que funcionam as coisas de Deus, a nível espiritual. Que o amado leitor possa ser um daqueles que não apenas recebe alimento espiritual, mas também o oferece aos outros. Assim, vemos que o homem regenerado, aquele que tem seu interior renovado dia após dia, desfruta de todas essas bênçãos. Embora o tema não esteja esgotado, peço que Deus abençoe a cada um de vocês, que leem e ouvem sobre este tema tão precioso, e que sejam ricamente abençoados por meio destas palavras.

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