Reconhecemos que o convite divino, na perspectiva do abandono da idolatria, representa um desafio considerável. Observando a trajetória de Abraão, percebemos que Deus dirige a ele um chamado singular, pois toda convocação divina possui um caráter particular. Deus seleciona os seus, e essa escolha é sempre acompanhada de uma particularidade divina na convocação individual. Contudo, constatamos que, ao convocar Abraão, o Senhor se dirige exclusivamente a ele. Toda sua parentela permanece para trás, assim como a casa de seu pai, os ídolos, a religião e seus cultos. O Senhor tem um chamado, e sempre que convoca alguém, o faz com o objetivo de que essa convocação seja correspondida por uma fidelidade extrema e radical. Abraão precisa partir, e, ao fazê-lo, enfrentará desafios, pois sua parentela, seus amigos, seus pais e a multidão que reside em Ur dos Caldeus, dentro dos limites da cidade, serão deixados para trás, assim como muitas vantagens pessoais. Abraão, contudo, seguirá a voz do Senhor e enfrentará esses desafios. Ele partirá sozinho, ouvindo a voz de Deus. Trata-se de uma profunda conversão, de uma radical transformação de vida e de perspectiva, e, igualmente, de uma completa mudança de religião. Pois, até então, Abraão, conforme as informações disponíveis sobre sua pessoa e a cultura em que vivia, pertencia a uma cultura religiosa inteiramente voltada para os ídolos e os cultos idólatras. Abraão abandona tudo isso. Todo aquele que realmente ouve a voz de Deus e a segue, abandona integralmente a idolatria. A vocação de Abraão representou um chamado
transformador. Desejo enfatizar a natureza radical desse chamado, pois Abraão
habitava em uma região onde templos, ídolos e múltiplas divindades eram
comuns. Contudo, o Deus de Israel convocou Abraão, e essa convocação
implicava em separação. As divindades concebidas pela imaginação humana, os
falsos deuses e a teologia equivocada deveriam ser deixados para trás.
Restava apenas um princípio a ser seguido: a obediência à voz de Deus. Esse
único princípio deveria ser o ponto central. Pois, a partir do momento em que
um indivíduo decide seguir a Deus com sinceridade, todos os seus ídolos
precisam ser abandonados. Sejam eles ídolos internos, cultivados no coração,
ou aqueles venerados em sua religião, tudo deve ser completamente rejeitado,
para que se possa seguir a Deus com fidelidade e pureza. Não é possível
buscar a pureza espiritual sem renunciar aos ídolos que usurpam a glória que
pertence exclusivamente a Deus. Observa-se que, após a partida, houve uma sensação de libertação. A saída de Abraão de Ur dos Caldeus representa um êxodo pessoal, uma libertação, assemelhando-se a uma Páscoa particular. Ali, no altar erguido ao Senhor, Abraão começou a invocar o nome do Senhor, o que, no contexto, sugere a realização de um sacrifício. Este ato de louvor e culto, aparentemente, visava a agradar a Deus e tão somente á Ele. Diante dessa nova realidade, não havia mais lugar para ídolos, pois Abraão, após ouvir a voz do Senhor, abandonou os cultos idólatras e a idolatria. Sua ação imediata foi erguer um altar, onde iniciou o culto e a adoração a Deus, o único Deus que o chamara pessoalmente para deixar a terra dos ídolos e servir ao verdadeiro Deus. No versículo 10 do capítulo 12, relata-se a
existência de fome naquela terra, o que levou Abraão a descer ao Egito.
Diante dessa necessidade, Abraão buscou refúgio no Egito, retornando a uma
terra marcada pela idolatria, característica marcante daquela cultura.
Contudo, Abrão, já liberto, não se deixou contaminar. Embora em contato com
uma sociedade idólatra, sua fé no Deus verdadeiro o protegia, permitindo-lhe
discernir a futilidade da idolatria. A saída de Abrão do Egito representou,
portanto, uma permanência em pureza espiritual, livre da influência pagã,
possuidor de uma percepção espiritual que o distanciava das falsas
representações. Assim, mesmo em meio a uma civilização profundamente
idólatra, Abrão manteve sua integridade espiritual, permanecendo fiel ao
único e verdadeiro Deus. Diferentemente, Aarão, no capítulo 32, versículo 4, é descrito como tendo recolhido o ouro do povo, moldando-o com um buril e fundindo-o em um bezerro. Ele então o declarou como o Deus de Israel, aquele que os havia libertado do Egito. Aarão fez um culto sincrético, moldou uma nova teologia onde a influencia do deus Ápis Egípcio foi um molde espiritual para dar imagem ao Deus que se revelava a Moisés no Monte Sinai, Aarão fez uma representação, seu motivo talvez fosse bom mas a sua pratica foi um erro que custou a vida de outros, uma catástrofe. Percebe-se, assim, que Moisés, que mantinha uma relação íntima com Deus, manteve-se livre da idolatria, ao contrário daqueles que estavam distantes dessa proximidade com o Senhor. Aarão, que não havia subido ao Monte Sinai para receber as instruções divinas diretamente, possuía uma espiritualidade menos profunda. Em tempos de crise espiritual, essa diferença se manifestou, levando Arão a ceder à tentação e a fazer um bezerro de ouro para induzir o povo a um culto idólatra, ato este que acarretou graves consequências. Analisando o episódio de Êxodo 32, observamos como um povo distante de um relacionamento com Deus pode sucumbir à idolatria. Essa ocorrência é lamentável, especialmente considerando que Moisés já havia estabelecido e proclamado a fé monoteísta. A situação contrasta com a jornada de Abraão. Ao deixar Ur, Abraão abandonou os princípios espirituais daquela civilização. A ruptura com a religião de Ur permitiu-lhe uma liberdade espiritual para seguir, relacionar-se e servir ao Deus verdadeiro que a ele se revelou. Diferentemente, o povo, logo após o Êxodo, no episódio do Bezerro de Ouro, em Êxodo 32, caiu facilmente na idolatria. Agravando a situação, houve um sincretismo religioso, pois o Bezerro de Ouro assemelhava-se à divindade egípcia Ápis, um boi venerado no Egito, onde animais eram cultuados como deuses. Ao criarem o Bezerro de Ouro e chamá-lo de "Deus de Israel", que os havia libertado do Egito, demonstraram uma profunda falta de compreensão e discernimento espiritual, o que os levou a praticar um ato abominável e condenado pelas Escrituras. Trata-se de uma tragédia espiritual de grande proporções, argumentar com base em retórica religiosa de boas intenções, o sincretismo e as comparações pagãs e seus modelos idolatras decaídos como uma forma de prestar serviço verdadeiro ao Deus onipotente, usando uma boa intenção, digamos “Aarônica” para justificar o uso de imagens como representações. Essa é a tendência natural do homem natural,
inclinar-se à idolatria. Vemos que isso pode ocorrer de diversas formas e temos
ali no Antigo Testamento diversos exemplos. Por exemplo, lá no capítulo 21 do
livro de Números, quando o povo desobedeceu, o senhor trouxe juízo sobre os
impenitentes e então, para que pudesse trazer a cura para aquele povo que foi
desobediente e foi castigado por picadas de serpente, o Senhor mandou que
Moisés fizesse uma serpente de metal e colocasse sobre uma haste e todas
aquelas pessoas que olhassem, vale bem, que olhassem e não venerassem ou
adorassem, apenas olhassem, um olhar de fé para que aquela serpente seria
imediatamente curada do efeito mortal do veneno das serpentes. Assim, vimos
que nem Moisés não se prostrou diante daquela serpente de metal, mesmo que
ela simbolizasse Jesus Cristo, o Messias futuro Salvador. Ele não se
prostrou, não venerou aquela imagem, não adorou aquela imagem e nem reuniu o
povo para fazer um culto em torno da serpente de metal. Isso vai acontecer
posteriormente quando o povo cai em uma idolatria tremenda e faz daquela
serpente de metal uma deusa chamando até mesmo pelo nome de Neustan. (Veja II
Reis 18:4) Essa é a tendência natural do homem, do homem distante de Deus.
Por que a chamaram de Neustan e qual foi a condição espiritual para que o
povo caísse nessa idolatria? Longe da palavra de Deus, longe de um
relacionamento com Deus, longe dos mandamentos do Senhor. Longe das
Escrituras, longe da Torá, longe de todas as coisas verdadeiras, submergem,
do fundo do nosso coração, as coisas falsas. E assim o povo caiu em uma
idolatria terrível, adorando a antiga serpente de metal. Mas não foi assim
com Moisés. Moisés, assim com Abraão, eles estavam libertos, seguindo em
pureza espiritual ao verdadeiro Deus. Moisés tinha percepção de que aquela
serpente, quando foi confeccionada, não tinha o objetivo de ser um objeto de
culto, nem de veneração, nem de adoração. Era um símbolo que apontava para
Cristo, aquele que perdoa e aquele que purifica os nossos pecados. Esse foi o
meio pelo qual Deus, naquela época, deu livramento e cura os desobedientes.
Essa era a função da serpente de metal, colocar a fé em ação daqueles que
olhavam para ela e nada mais. Além disso, era um contexto imediato só para
aquela época. Não deveria, todas as vezes, que uma pessoa ser picada por uma
serpente se construir uma serpente de metal para olhar para a serpente de
metal e receber a cura. Aquilo era só local para aquela época, dentro daquele
contexto. Não se repetiu em outros episódios na vida e no Ministério de
Moisés. Devemos lembrar com muita atenção, o povo, posteriormente então, adorou a antiga serpente de metal, mas não como Moisés. Ele nunca fez isso. Este, assim como Abraão, mantinha-se liberto, seguindo em pureza espiritual ao Deus verdadeiro. Ele compreendia que a serpente, ao ser confeccionada, não tinha o objetivo de ser objeto de culto, litúrgico, não era objeto de veneração ou adoração, mas sim um símbolo que apontava para Cristo, Aquele que perdoa e purifica os pecados. E, exatamente- como Moisés levantou a serpente no deserto, assim também é necessário ser levantado o Filho do homem, Para que todo aquele [homem] que está crendo para dentro dEle não se faça perecer, mas tenha a vida eterna. (João 3;14 e 15 LTT) A serpente de metal foi a forma que Deus
utilizou, naquele momento, para conceder livramento e cura aos arrependidos.
A função da serpente era colocar a fé em ação naqueles que a contemplavam, e
nada mais. Além disso, essa ação era limitada ao contexto específico daquele
tempo. Não era um ritual a ser repetido em outras ocasiões, nem a solução
para picadas de serpente em outros episódios da vida de Moisés ou de qualquer
outro momento da historia do povo de Deus, tomar o texto bíblico de uma
descrição para usa-la como prescrição é a grande tragédia de muitos, é errar
por não conhecer as Escrituras. Quanto mais conhecemos a natureza divina, Seus atributos, virtudes e santidade, mais nos afastaremos de qualquer forma de idolatria, seja ela externa ou interna. Devemos estar completamente livres de todas as formas de ídolos. A narrativa bíblica oferece inúmeros exemplos dos quais podemos extrair valiosas lições espirituais. Consideremos o episódio de Balaão, o falso profeta que conduziu o povo à idolatria. Este, por meio da sedução, induziu o povo à prática da idolatria. Conforme descrito em Números, capítulo 25, os primeiros versículos relatam como as mulheres moabitas, pagãs, instigaram o povo de Deus a se prostituir espiritualmente, adorando ídolos e cometendo pecados que desagradaram a Deus. Igualmente relevante é a história de Raquel, relatada em Gênesis, capítulo 31. Ao fugir com Jacó, Raquel, filha de Labão, furtou os ídolos de seu pai, ocultando-os. Essa atitude contrasta com a de Abraão, que, ao partir de Ur, não levou consigo nenhum objeto de culto, nenhum ídolo. Ele abandonou as práticas idólatras, deixando para trás todos os deuses e suas representações liturgicas, partindo com as mãos vazias e um coração repleto de fé no Senhor, confiando plenamente em sua providência. Raquel, por outro lado, escondeu os ídolos, simbolizando a dificuldade de alguns em abandonar completamente a idolatria. Muitos desejam romper com a idolatria, mas resistem em abandonar os ídolos, guardando-os em seus corações, sem excluí-los de suas práticas devocionais. Encontram justificativas para aquilo que a Bíblia condena, repetindo o erro do povo de Israel, influenciado por Balaão. Este, embora se apresentasse como profeta do Senhor, ostentando uma fachada de ortodoxia, com mensagens e ministério que aparentavam pureza espiritual, no íntimo procurava justificar e induzir o povo ao erro. Esse comportamento representa um perigo significativo, quando indivíduos que exercem autoridade religiosa tentam, em nome de Deus, legitimar a prática da idolatria, trilhando o mesmo caminho de Balaão.
Concluímos com a epístola de Paulo aos Gálatas. No capítulo 3, versículo 7, lemos: "Sabei, pois, que os que são da fé são filhos de Abraão." Observamos, assim, um vínculo na chamada, tanto na antiguidade quanto na Nova Aliança, no Novo Testamento, demonstrando a unidade do caminho. Somos chamados a abandonar a idolatria. Possuímos, igualmente, uma "Ur" religiosa da qual devemos sair. Recebemos o chamado de Deus, uma convocação pessoal do Senhor, para que saiamos em pureza espiritual, com o único foco em Jesus Cristo, que morreu por nossos pecados, o Cristo ressurreto. No mesmo capítulo, versículo 29, está escrito: "E, se sois de Cristo, então sois descendência de Abraão, e herdeiros conforme a promessa". Estabelecendo, então, um elo entre Gálatas, capítulo 3, e Gênesis, capítulo 12, com a chamada de Abraão, um chamado para sair da idolatria, para abandonar os ídolos e servir ao Deus vivo e verdadeiro, para ter uma fé pura, neotestamentária, bíblica, servindo ao nosso Deus de todo o nosso coração, como disse o Senhor Jesus: "Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento." Esta é a fé, o mesmo chamado, o mesmo Deus que chamou Abraão. O mesmo Deus que chamou Abraão no Antigo Testamento para que saísse de Ur dos Caldeus, abandonando os ídolos e a religião de Ur dos Caldeus, para seguir o Deus vivo, a Suprema Majestade, o Deus Santo e Único, aquele Deus que devemos seguir em pureza, reverência e temor, ao Deus Trino: Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo, em unidade substancial, a fim de que nossa alma e nosso coração não sirvam mais como nicho de ídolos, mas sim como santuário onde adoramos ao nosso Deus Trino. Deus abençoe. Amém. |
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