Cultuando Sentimento e Idolatrando Emoções



 

Cultuando Sentimento e Idolatrando Emoções

 

C. J. Jacinto

 

 

Atualmente, observa-se uma tendência de cristianismo generalizado, na qual a experiência emocional subjetiva suplanta a ortodoxia como critério de verdade. Indivíduos interpretam intensas experiências emocionais, como êxtase induzido por música ou ambiente, como evidência de uma conexão autêntica com o Evangelho e com Deus. Essa validação da fé baseada em sentimentos, em detrimento dos princípios doutrinários, leva à convicção de estar em conformidade com a vontade divina, independentemente de outros fatores. A alegação de sentir a presença de Espírito Santo, por exemplo, torna-se o determinante da legitimidade de práticas religiosas e crenças. Essa priorização da experiência emocional, em detrimento da razão e da doutrina, representa um perigo significativo na sociedade contemporânea principalmente entre os evangélicos carismáticos.


A noção de que a felicidade reside na ênfase às boas emoções e sentimentos “espirituais”, como proposto primeiramente pelo filósofo grego Aristipo de Cirene, dando uma ênfase ao hedonismo tem sido reinterpretada e, nos dias atuais, empregada como critério para determinar a veracidade de algo. A experiência de sentir prazer, seja ao ouvir música, em um ambiente específico ou durante um sermão que evoca emoções positivas, é frequentemente interpretada como sinal de bem-estar e autenticidade espiritual. Essa vivência de alegria é, por vezes, associada à prática genuína do Evangelho. Essa tendência vai alem do “penso logo existo” de Descartes, para Sinto, logo creio e estou correto” do movimento cristão emergente e pós moderno, caracterizado principlamente pelos movimentos de musica ‘worship” e de sermões centralizados num antropocentrismo rígido sob o manto púrpura do evangelho.


Contudo, a freqüência com que o termo "sentimentos" aparece na Bíblia, especialmente no Novo Testamento, é limitada, sugerindo que a experiência emocional não era o foco central nas Escrituras.  

 Observa-se, na contemporaneidade, uma tendência no cristianismo pós-moderno, onde a busca pelo auto-prazer e êxtase emocional parece preceder a dedicação a Deus e a fé. Essa forma de neomisticismo, carente de sustentação bíblica, constitui um desvio potencialmente perigoso.


Portanto, a veracidade de uma crença não se fundamenta nas experiências sensoriais ou emocionais, mas nos ensinamentos bíblicos. Observa-se, na religião contemporânea, uma crescente valorização dos sentimentos físicos e emocionais, configurando-se como um desvio significativo que pode conduzir a equívocos graves. Diante disso, é imperativo examinar com maior atenção o que a Bíblia ensina sobre esta questão, a fim de que a nossa fé se estabeleça sobre os seus princípios, e não sobre as nossas próprias emoções.
 A sensação de êxtase, alegria profunda e bem-estar, frequentemente associada à experiência religiosa, é também experimentada em práticas orientais, como o budismo, o hinduísmo, o esoterismo e o agnosticismo. Essa ênfase na experiência subjetiva era um dos pilares do neoplatonismo, que, para Plotino, a felicidade residia na união mística com o Uno, uma experiência de prazer intenso.

 De maneira semelhante, no espiritualismo, a prática de exercícios espirituais, como a ioga, pode levar a vivências de felicidade profunda e à percepção da presença de uma divindade.  

 Fenômenos semelhantes também foram observados entre os místicos medievais, muitos deles influenciados pelo neoplatonismo, que foi introduzido no cristianismo por meio de Pseudo-Dionísio, o Areopagita.


Assim, constatamos que, tanto entre adeptos de religiões idólatras, pagãs e esotéricas, existe uma gama de experiências subjetivas de felicidade e sentimentos que podem parecer indicar a presença de uma divindade ou algo bom. Essa ocorrência é comum em diversas tradições religiosas, antigas e modernas. Contudo, é importante ressaltar que as experiências emocionais, por si só, não determinam a verdade. E é exatamente isso que desejo reiterar, é a Palavra de Deus que determina a verdade, não nossos sentimentos. Jesus foi claríssimo ao afirmar “A Tua Palavra é a verdade”  (João 17:17) referindo-se a Palavra de Deus, eis o fato, a Bíblia é a verdade. não nossos sentimentos!



As experiências e expressões religiosas autênticas fundamentam-se na doutrina e nos princípios bíblicos. A veracidade não é definida pela experiência emocional, mas sim pelos ensinamentos bíblicos, que, por sua vez, moldam e validam a natureza das emoções e dos sentimentos religiosos. A autenticidade dessas experiências reside na sua conformidade com a verdade revelada e com os princípios bíblicos vivenciados.


Em certa ocasião, ouvi um pastor evangélico, no púlpito, discorrendo sobre a salvação. Dirigindo-se aos seus ouvintes, crentes e não crentes, ele explicou como tinha certeza da sua salvação, afirmando que a sentia. Tal declaração não se coaduna com a verdade das Escrituras. O pastor está, portanto, enganado, e, por conseguinte, ensina um engano, levando as pessoas a confiarem em sentimentos e emoções como critério de salvação. Essa postura é errônea, apóstata e perigosa. Aquele que se utiliza do púlpito para induzir à crença nos sentimentos, em detrimento da verdade bíblica, conduz as pessoas a uma postura egocêntrica. Nós somos salvos porque Cristo nos salvou, e nós cremos na obra consumada e perfeita que Ele realizou na cruz do Calvário, a igreja do Novo Testamento era constituída de pessoas que criam em Cristo e na mensagem do Evangelho e quase sempre enfrentando oposição ferrenha do mundo.


A fé, e não a experiência sensorial, deve ser o fundamento de nossa crença. A verdade reside naquilo que cremos, e não nos sentimentos que experimentamos. Consequentemente, em João, capítulo 12, versículo 48, Jesus declara que a rejeição dos ensinos dele leva à condenação. Em Romanos, capítulo 9, versículo 33, assegura-se que a fé em Cristo não conduz a confusão mas a certeza, e essa certeza está em uma Pessoa, Cristo Jesus e não em sentimentos. Filipenses, capítulo 1, versículo 29, relaciona a fé em Cristo com a capacidade de sofrer por Ele. Hebreus, capítulo 11, versículo 6, enfatiza que a fé na existência de Deus é essencial para se aproximar d'Ele. Em 1 João, capítulo 5, versículo 1, lemos que todo aquele que crê em Jesus é nascido de Deus, as Escrituras são claras ao ensinarem a crer, e não a sentir, é perigoso, senão outro Evangelho, inverter esse principio, pois os sentimentos devem estar debaixo das verdades bíblicas e nunca independentes dela.

 Portanto, a validação de sentimentos e emoções reside em sua consonância com a verdade. A verdade é motivo de júbilo. Eu mesmo experimento alegria e emoção diante da verdade, seja ela expressa em palavras ou em cânticos. Contudo, não me fiam somente nos sentimentos. A base da minha fé e de minhas convicções repousa na minha crença na minha fé em Cristo e nos ensinos das Escrituras. Creio em Cristo, na obra redentora e perfeita de Jesus na cruz. Acredito n'Ele como meu salvador, independentemente das circunstâncias, quer eu me sinta bem, quer me sinta mal. Jamais devo tomar meus sentimentos como critério para determinar a veracidade de algo relacionado a vida cristã e as verdades bíblicas.

 Atualmente, milhões de pessoas incorrem nesse erro. Elas frequentam ambientes onde a música e a performance teatral é abundante e bela, sendo tomadas por emoções fortes e profundas, elas crêem que estão experimentando a verdade. Confundem essas emoções com a presença de Deus. Contudo, ao ouvirmos os sermões, percebemos que são humanistas e egocêntricos.  

 

 Em muitos desses ambientes, propaga-se um evangelho diferente, distante da mensagem da cruz, da pregação sobre Cristo crucificado, sobre o arrependimento e a necessidade de reconhecer a própria pecaminosidade e a iminência do juízo divino sobre os ímpios. Ignora-se a existência do inferno, do lago de fogo, de um Deus supremo e majestoso, digno de temor e reverência, a iminência do fim dos tempos e o juízo divino.  

 Prevalece aquilo que evoca emoções, levando as pessoas à dependência e ao vício emocional. Participam de cultos ditos "emocionantes" ou “impactantes” , condicionados a certas encenações teatrais que buscam despertar a felicidade e uma falsa sensação de presença divina. Na realidade, o contexto demonstra a prevalência de fogo estranho, de um evangelho deturpado, de mero sentimentalismo religioso, desprovido da verdade essencial. Trata-se, pois, de uma verdadeira tragédia.


 Muitas pessoas experimentam uma sensação de emoção, mas também de superficialidade e insatisfação, ao ouvirem sermões centrados apenas na autoestima. O pregador, sem distinção de crença, dirige-se à audiência utilizando termos afetuosos e apresentando mensagens que se alinham com os desejos e preferências do público. Contudo, a essência do Evangelho reside na proclamação daquilo que as pessoas necessitam ouvir, independentemente de sua fé. Tanto crentes quanto descrentes precisam receber a mensagem divina, e não apenas aquilo que lhes agrada. A verdade, por vezes, é incômoda e desafiadora. A análise do ministério de Jesus Cristo e dos apóstolos revela que Suas palavras frequentemente confrontavam e eram rejeitadas, pois o ser humano, em sua natureza, tende a buscar a satisfação de seus próprios anseios em vez de ouvir a vontade de Deus. Há, portanto, uma clara distinção entre esses dois enfoques. Em Romanos 16:17-18, Paulo adverte sobre a presença de falsos mestres que utilizam palavras suaves, agradáveis e lisonjeiras para enganar os incautos.

 É lamentável constatar que, em nossa época, muitos se reúnem para ouvir pregações que se reduzem a mensagens humanistas, lisonjeando o ego e apelando a emoções superficiais. Essa experiência emocional, que busca agradar e comover, assemelha-se à reação de um espectador diante de uma cena dramática em uma novela ou filme, ou à devoção a um ídolo, ou ainda à experiência de êxtase proporcionada por substâncias psicodélicas, que prometem expansão da consciência e contato com entidades espirituais.
 A utilização da emoção como caminho para alcançar a felicidade ou para validar uma crença é comum em contextos religiosos antigos e modernos. Contudo, a revelação divina nos orienta a crer, e essa crença, por vezes, transcende a experiência sensorial. Em contrapartida, Paulo e Silas, após serem açoitados e aprisionados, entoavam cânticos e orações à meia-noite. A motivação deles não residia em um mero êxtase, mas na convicção inabalável de que o sofrimento, por causa do Evangelho, fortalecia suas convicções na verdade.


 Jó, ao receber a notícia da perda de tudo, inclusive da saúde, prostrou-se em adoração. O que ele sentia naquele momento? Jó possuía a firme convicção da existência, da justiça e da fidelidade de Deus, independentemente das circunstâncias, dos sentimentos e das emoções. (Jó 19:25) Uma fé genuína não nos torna reféns de uma busca por aprovação ou por sensações agradáveis, como dependentes que freqüentam cultos em busca de palavras que afaguem seus ouvidos e corações.


 É profundamente equivocado e desprovido de fundamento bíblico que indivíduos considerem a experiência de emoções intensas, como arrepios, calafrios, lágrimas, a percepção de uma presença sobrenatural, sensações de calor ou um fogo interior, como evidência definitiva da verdade ou da fé verdadeira. Tal fenômeno pode ser observado, historicamente, em diversas tradições religiosas e espirituais, incluindo o misticismo católico romano, o sufismo, as práticas de exercícios espirituais de gurus hinduístas, e as diversas vertentes do esoterismo, ocultismo e do movimento Nova Era.


Um exemplo notável é o despertar da Kundalini, que, segundo algumas tradições, pode provocar sensações como tremores, êxtase, e a sensação de um fogo interior. Os indivíduos podem relatar experiências de transcendência, novas revelações e contato com entidades sobrenaturais, acompanhadas de sentimentos de prazer e alegria. O mesmo pode ocorrer no Xamanismo.


 No contexto histórico do Novo Testamento, e mesmo em práticas idólatras no Antigo Testamento, fenômenos semelhantes eram observados em cultos pagãos. As epístolas paulinas e os evangelhos, ao longo da história, alertam contra a possibilidade de tais experiências emocionais serem interpretadas como prova da verdade, especialmente se dissociadas dos ensinamentos de Cristo. A doutrina e não os sentimentos devem nortear a nossa fé (Salmos 119:105 Tito 2:1 etc.)



Atualmente, repito, adeptos de tradições como o paganismo, o esoterismo, o ocultismo, o hinduísmo, a Nova Era e a ufologia relatam vivenciar sentimentos semelhantes: arrepios, lágrimas, a percepção de uma presença sobrenatural, emoções intensas, alegria e a sensação de um fogo interior. Assim, é obvio que, esses sentimentos não são confiáveis como critério para determinar se algo é verdadeiro ou não, e esse principio também se aplica a fé cristã.


 É fundamental compreender que a ocorrência dessas experiências emocionais não constitui, por si só, um indicativo da verdade. Alguém pode vivenciar tais sentimentos e, paradoxalmente, estar imerso em falsas doutrinas e ilusões espirituais. É preciso discernimento e atenção para não confundir emoção com verdade.

 Para concluir, reafirmo que as emoções podem ser instáveis, mas a fé constitui um alicerce sólido e inabalável. (Hebreus 11:1) Não devemos nos deixar guiar pelas emoções, mas, sim, pela palavra de Deus. Viver de acordo com os sentimentos não exige confiança em Deus, mas em si mesmo. Aquele que não lê a Bíblia e não a obedece...

 

 

 

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