Santidade e Consagração: A Vocação de um Povo Separado para Deus
Por C. J. Jacinto
“O pecado habita no inferno, e a santidade, no céu. Lembre-se de que toda tentação vem do diabo, para torná-lo semelhante a ele. Lembre-se de que, quando você peca, está aprendendo e imitando o diabo – e, até certo ponto, é como ele. E o fim de tudo é que você sinta as suas dores. Se o fogo do inferno não é bom, então o pecado não é bom.” (Richard Baxter)
Introdução
O conceito de santidade é um dos pilares centrais da fé, permeando toda a narrativa bíblica. Longe de ser uma mera abstração teológica, a santidade é um chamado divino, prático e transformador. Ela define não apenas o caráter de Deus, mas também a identidade e a missão do Seu povo. Este artigo busca explorar o significado profundo da santidade e da consagração, traçando sua linha desde o Antigo Testamento até sua plena realização em Cristo e na vida da Igreja.
O que é santidade? A melhor definição prática que já ouvi é simplesmente "sem pecado". Essa é a declaração feita sobre a vida do Senhor Jesus na Terra (Hebreus 4:15), e esse deve ser o objetivo de toda pessoa que deseja ser piedosa. É verdade que nunca alcançaremos esse objetivo nesta vida; no entanto, ele deve ser o nosso objetivo supremo e o objeto dos nossos mais fervorosos esforços e orações. (Jerry bridges)
I. O Significado Original: Separação para um Propósito
Etimologicamente, a palavra hebraica para santidade carrega a ideia de "corte" ou "separação". No entanto, essa separação não é um fim em si mesma; é sempre separação para algo. É ser devotado, consagrado ao serviço e à adoração do Deus Santo (Levítico 27:28). Esta santidade é comunicada, podendo ser atribuída a:
· Lugares: O Sinai (Êxodo 3:5), o santuário (Salmos 28:2), Jerusalém (Isaías 52:1).
· Tempos: O sábado (Gênesis 2:3), as festas (Isaías 58:2).
· Objetos: Ofertas (Levítico 7:1), vestes sacerdotais (Levítico 16:4).
· Pessoas: Sacerdotes (Êxodo 29:1), nazireus (Números 6:5), profetas (Jeremias 1:5).
A essência, porém, é clara: a santidade nunca é inerente ou natural à criação; é sempre uma condição concedida por Deus. Era a Sua presença que conferia santidade a Israel, um povo que Ele escolheu para ser Seu tesouro particular (Deuteronômio 7:6; 26:19).
“Num âmbito espiritual cristão, ser santo é ser separado do pecado para a consagração, deixar de ser um instrumento para a satisfação da carne para satisfazer a Deus, deixar de ser um agente inclinado para as coisas do mundo para mover-se em uma busca constante das celestiais, é ser cortado da vida de Adão para ser enxertado em Cristo” (C. J. Jacinto)
II. A Exigência da Santidade: Pureza e Vida
Ser um povo santo, however, trazia consigo uma exigência: a pureza. O famoso mandamento "Sereis santos, porque eu, o Senhor, vosso Deus, sou santo" (Levítico 19:2; 1 Pedro 1:15) é o coração do chamamento divino. A santidade de Deus, Sua perfeição moral absoluta (Habacuque 1:3; Isaías 12:6), torna-O um fogo de julgamento para o impenitente (Isaías 10:16-17), mas um fogo purificador e refúgio para o remanescente fiel (Isaías 4:3-6; 6:6-7).
A santidade, portanto, não é apenas um status, mas um modo de vida. Ela exige pureza moral (2 Coríntios 7:11; 1 Timóteo 5:22), fidelidade e uma prática de vida que reflecte o caráter amoroso, fiel e misericordioso do Deus que habita no meio do Seu povo.
A verdadeira salvação traz consigo o desejo de sermos santificados. Quando Deus nos salva por meio de Cristo, Ele não apenas nos salva da penalidade do pecado, mas também do seu domínio. (Jerry bridges)
III. O Ápice da Santidade: A Obra de Cristo
O Novo Testamento não abandona este conceito; antes, culmina e transforma-o em Cristo.
· Em Deus Pai, a santidade permanece a essência do Seu ser, a quem devemos venerar ("santificado seja o teu nome" - Mateus 6:9).
· Em Jesus Cristo, a santidade divina é personificada. Ele é reconhecido como "o Santo de Deus" (Lucas 4:34; João 6:69). Sua santidade não é passiva; é ativa, cheia de amor, poder e autoridade para julgar e purificar. Crucificado, Jesus tornou-Se both o Sacerdote e a Vítima perfeita (1 Coríntios 5:7; Hebreus 9:25-26). Por meio do Seu sangue expiatório, Ele efetua a santificação definitiva dos crentes (Hebreus 10:10, 14; 13:12). Ele é a fonte da nossa santidade.
· No Espírito Santo, encontramos o agente divino que aplica a obra santificadora de Cristo. É Ele quem confere santidade à Igreja (2 Tessalonicenses 2:13) e habita nela, selando-a como propriedade de Deus.
“Devemos ter a convicção de que é a vontade de Deus que busquemos a santidade — independentemente de quão árdua e dolorosa essa busca possa ser. E devemos ter confiança de que a busca pela santidade resulta na aprovação e bênção de Deus, mesmo quando as circunstâncias fazem parecer o contrário.” (Jerry bridges)
IV. O Chamado à Santidade: A Vida da Igreja
A obra de Cristo cria um novo povo santo (1 Pedro 2:9), a Igreja. Esta santidade é, primeiro, um dom, um estado concedido pela graça através da fé em Jesus. Os crentes são "santos" (Romanos 1:7; 1 Coríntios 1:2) – é a sua identidade em Cristo.
Em segundo lugar, é um processo. Ser santo é também ser chamado a viver de maneira santa (1 Tessalonicenses 4:3-4,7). É uma jornada de crescimento em pureza de coração (Mateus 5:8; 1 Timóteo 1:5), amor que edifica (Efésios 4:12-16) e apresentação de nossos corpos como "sacrifício vivo, santo e agradável a Deus" (Romanos 12:1).
A santidade da Igreja não é sua própria conquista, mas resulta da presença Santa e Santificadora de Deus nela. Coletivamente, somos um "templo santo no Senhor" (Efésios 2:21). Individualmente, somos morada do Espírito (1 Coríntios 6:19). Esta realidade divina é celebrada e fortalecida na "comunhão dos santos":
· No Batismo e na Ceia do Senhor (1 Coríntios 10:16-17; 11:26).
· No mútuo cuidado e suprimento (Romanos 12:13).
· Na unidade do Espírito, selada pelo amor (2 Coríntios 13:12-14).
“O principal propósito da minha vida na posição em que a boa providência de Deus me colocou é que a mortificação e a santidade universal sejam promovidas em meu próprio coração e nos corações e caminhos dos outros, para a glória de Deus; para que o Evangelho de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo seja adornado em todas as coisas.” (John Owen)
Conclusão
A santidade, portanto, é a vocação de todo aquele que foi redimido por Cristo. Começa com um ato soberano de Deus, que nos separa e consagra para Si mesmo através do sacrifício de Jesus. É um estado que já possuímos em Cristo e, ao mesmo tempo, uma busca contínua por viver de modo digno desse chamado. Não é por obras, mas por graça; não para isolamento, mas para serviço; não para orgulho, mas para humildade. É o próprio Deus Santo, Pai, Filho e Espírito, quem inicia, sustenta e consumará esta obra em nós, para que sejamos, de fato, "santos e irrepreensíveis" em amor (Efésios 1:4) para a glória do Seu nome.
“Devemos começar de baixo se quisermos construir alto. Estou convencido de que o primeiro passo para atingir um padrão mais elevado de santidade é perceber mais plenamente a espantosa pecaminosidade do pecado” (JC Ryle)

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