Compreendendo a Justificação através da obra de Cristo




 

C J Jacinto

 

 

Há uma declaração de Paulo em Romanos no capítulo 3, versículo 23 e versículo 24, onde está escrito, porque todos os pecaram e destituídos estão da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus.

O conceito central que abordamos é a justificação. Somos justificados gratuitamente. A causa dessa justificação reside na graça, operada pela redenção em Cristo Jesus. Contudo, lamentavelmente, o termo "justificação" não é plenamente assimilado pela maioria dos cristãos. Essa lacuna de compreensão advém da escassez de debate sobre este tema tão precioso, largamente explorado pelo apóstolo Paulo em suas epístolas, notadamente na de Romanos.

Mas, o que é a justificação sob a ótica teológica do Novo Testamento? Ela constitui, primordialmente, uma manifestação abundante da graça divina. A própria viabilidade da salvação é intrinsecamente ligada à justificação. Em sua essência, a justificação significa, em primeiro lugar, a remoção da culpa decorrente da transgressão.

Essa simples definição nos permite apreender a profundidade e a relevância da obra que Jesus Cristo empreendeu no Calvário. Foi ali, na cruz, que Ele assumiu a nossa culpa, possibilitando assim que fôssemos justificados por meio da redenção que Ele nos ofereceu.

Deparamo-nos com uma passagem notável na Primeira Epístola Universal do Apóstolo Pedro, capítulo 2, versículo 24, onde se encontra a seguinte afirmação: "Levando ele mesmo em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro para que mortos para os pecados pudéssemos viver para a justiça e pelas suas pisaduras fostes sarados."

Neste trecho, evidencia-se uma assertiva inequívoca de que Jesus Cristo assume sobre Si, no sacrifício da cruz, a carga dos nossos pecados. Em outras palavras, Ele se submete a uma sentença. A morte de Cristo na cruz representa uma sentença; o castigo que Lhe é imposto constitui uma punição. Essa punição, contudo, destinava-se a nós, e não a Ele, pois, na cruz, Ele não possuía pecado algum a carregar. Ele era justo e estava completamente isento de pecado. No entanto, observemos que Pedro declara: "Levando ele mesmo em seu corpo os nossos pecados."

São, portanto, os nossos pecados que são suportados na cruz do Calvário. Jesus assumiu para Si esses pecados, os quais Lhe eram alheios. Caso Ele possuísse pecado, não poderia ser um Salvador perfeito, nem o Cordeiro de Deus. Ele, de fato, é o Cordeiro de Deus e o Salvador, por ser o Deus que se encarnou, e, ao encarnar-se, Ele preserva e manifesta Sua natureza de purificação total e completa, tornando-se, assim, um Salvador perfeito, e, por conseguinte, um sacrifício e uma oferta imaculados a serem apresentados diante de Deus.

Como, então, devemos definir apropriadamente a justificação? Referimo-nos àquela que Deus nos concede gratuitamente por intermédio de Jesus Cristo. A palavra "justificação", nos escritos de Paulo, e o conceito de "justificar-se", observáveis tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, possuem um significado legal e judicial preciso. Essa compreensão se estende a todo o contexto bíblico, não se restringindo apenas às Epístolas Paulinas, mas à totalidade das Escrituras. Os termos "justificar" e "justificação" estão intrinsecamente associados à noção de juízo, como se verifica em passagens como 1 Coríntios 4:3 e Deuteronômio 25:1.

Portanto, a justificação pode ser definida como a declaração de um indivíduo como justo por um tribunal. Quando se afirma que Deus justifica um homem, subentende-se que sua causa foi submetida a julgamento perante o tribunal divino e que, após a devida análise do caso, o acusado é declarado isento de qualquer falta e culpa, como se fosse integralmente justo e em perfeita conformidade com a Sua santa lei. Em uma acepção mais acessível, o termo "aceitação" coaduna-se significativamente com o sentido de "justificação".

Assim, torna-se imperativo compreender que a justiça divina só pode ser plenamente satisfeita por meio do sacrifício expiatório de Cristo. Foi Ele, na cruz do Calvário, quem ofereceu um sacrifício substitutivo, possibilitando a salvação da humanidade.

Tenho em minha biblioteca uma antiga revista, intitulada "Pregoeiro da Justiça". Nela, sublinhei e destaquei uma passagem marcante, para que eu sempre pudesse rememorar aquela grandiosa afirmação. Tal passagem declara: "Ninguém pode estar diante de Deus com uma consciência tranquila se a sua confiança repousa nos méritos de sua própria vida."

Trata-se de uma afirmação extraordinária que nos exorta a confiar em Cristo e não em nós mesmos. Não nos é lícito depositar nossa confiança em nossos próprios méritos ou em nossas obras, pois não são estes que nos justificam perante o tribunal divino. Quando, um dia, comparecermos diante do Senhor, seremos justificados aos olhos de Deus, não em virtude de nós mesmos, mas unicamente por intermédio de Cristo.

Compreendemos cabalmente que, no tocante à justificação, o que prevalece é a fé, a crença na obra perfeita que Jesus Cristo consumou em nosso favor, ao oferecer a Deus um sacrifício propiciatório, satisfazendo plenamente a justiça divina. Essa compreensão é veementemente corroborada por Paulo em sua epístola aos Efésios, capítulo 2, versículos 8 e 9, onde declara: "Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie."

No que concerne à salvação, a primazia, perante os desígnios divinos, recai sobre o que Cristo realizou por nós, e não sobre as nossas próprias ações. O olhar de Deus se dirige incessantemente ao sacrifício de Jesus. Ele encontrou plena satisfação na obra que Cristo empreendeu na cruz do Calvário, e não em nossas obras de justiça, as quais, embora possam servir para galardão, jamais constituem a base para a salvação.

Não somos justificados por mérito próprio, mas sim pela consumação da obra de Cristo. Sem esse sacrifício vicário, perfeito e definitivo, realizado na cruz do Calvário uma vez por todas, a justificação de um pecador seria intrinsecamente impossível.

 

 

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