O CAMINHO DA VERDADEIRA VISÃO ESPIRITUAL
C. J. Jacinto
Em Mateus, capítulo 5, versículo 8, Jesus proclama: "Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus." Esta promessa é frequentemente associada à visão beatífica, a contemplação direta de Deus que os redimidos experimentarão na vida futura. Tal experiência, que implica na visão e na comunhão com a divindade, somente será possível com um corpo glorificado. Nossa condição presente, limitada pela natureza humana, não nos permite suportar a visão direta da glória divina sem um efeito profundo em nossa estrutura psicológica, Paulo no caminho de Damasco e João na Ilha de Patmos são exemplos de uma visão do Cristo glorificado com um impacto psicológico profundo. Assim, a promessa de Jesus se refere a um futuro, e não à experiência imediata, pelo menos no que tange a imensidão da formosura perfeita e da glória do Deus Triúno, pois no esvaziamento e na encarnação, quem via a Cristo via o Pai, mas a natureza do corpo do Verbo escondia a glória excelsa de Sua Divindade. No presente, a contemplação de Deus se dá por meio da fé e da admiração de suas obras. Talvez, esse exercício de fé e contemplação seja um preparo para a capacidade de, um dia, contemplar a glória do Deus supremo e infinito, o Deus Trino que se revela de maneira maravilhosa nas Escrituras. Oh quão abençoadas são as praticas piedosas do homem celestial, pois assim o Espírito do Senhor trabalha em nossas vidas para que a visão celestial seja cada vez mais ampla enquanto nossa peregrinação terrena chega no fim.
Em um trecho notável, Santo Agostinho assevera: "Toda a nossa tarefa nesta vida, queridos irmãos, consiste em curar os olhos do coração para que possamos contemplar a Deus." Aqui nesse trecho, concordo completamente com Agostinho. Acredito que aprimoramos nossa capacidade de visão ao nos dedicarmos à profunda contemplação da obra redentora de Jesus Cristo na cruz do Calvário.
Considerar a encarnação, a razão pela qual Ele
desceu do céu, é essencial. As Escrituras nos informam que Jesus veio em busca
daqueles que estavam perdidos, e a encarnação teve um propósito definido,
permeado por uma profundidade incomensurável. Nada relacionado à obra consumada
e perfeita de Jesus Cristo na cruz pode ser considerado trivial. A mensagem da
cruz é intrinsecamente oposta a uma fé superficial e a uma religiosidade
meramente formal. Trata-se de um evento esplendoroso e sublime, cujo estudo aprofundado
nos conduz a um coração repleto de temor reverencial perante esta verdade
extraordinária: a obra realizada por Jesus Cristo na cruz do Calvário.
Tal obra só foi possível graças à
encarnação de Cristo. Ele se tornou humano para, na cruz do Calvário, oferecer
um sacrifício perfeito. Tudo isso possui implicações profundas e magníficas. O
exercício constante de meditar e refletir sobre essa verdade suprema pode nos
capacitar a exercitar nossos olhos espirituais, a fim de contemplar a Deus,
Seus mistérios, Suas bênçãos e Sua vontade.
De fato, a prática da nossa fé é um exercício que promove uma profunda transformação espiritual em nosso íntimo, visando o nosso aperfeiçoamento. Este processo nos prepara para, no futuro, contemplarmos a glória, a majestade e a incomensurável sabedoria de Deus. A visão face a face com Deus, essa experiência é possível através de Cristo, por meio da obra consumada e perfeita de Jesus. É fundamental refletirmos sobre isso, pois Jesus afirmou: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim." Portanto, a viabilidade dessa jornada, esse caminho de peregrinação em nossa vida terrena, que nos leva ao encontro com Deus Pai, realiza-se única e exclusivamente por intermédio de Cristo.
Essa afirmação não se configura como uma teoria, mas sim como um fato, fundamentado em realidades espirituais duradouras e profundas. Assim sendo, é imperativo reiterar a orientação bíblica de direcionar o olhar unicamente a Jesus Cristo, o autor e consumador da nossa fé. A Ele, somente a Ele, devemos nossa devoção.
Este é um ensinamento apostólico fundamental: a doutrina apostólica nos direciona a um único foco. Qual a direção que os apóstolos nos indicam? Eles nos orientam a olhar exclusivamente para Jesus. (Hebreus 12:2) É através do olhar fixo em Jesus, cultivando nossa fé e direcionando nosso coração a Ele, que encontramos a verdadeira orientação. Jesus, o Divino, o Verbo Encarnado, o Cristo Ressuscitado, o Cristo Ascenso aos céus, o Cristo Mediador, o Cristo Triunfante: é Nele que devemos depositar nossa confiança, nossa segurança e nosso amor. Ao fixar nosso olhar em Jesus, nosso coração será moldado continuamente. Assim, no futuro, na promessa dos novos céus e da nova terra, poderemos comparecer diante de Deus e, em uma visão beatífica, contemplá-lo, adorá-lo e amá-lo com toda a nossa intensidade.
É imperativo, em sinal de plena obediência, que conservemos nosso coração
voltado para Cristo, crucificado e glorificado, assentado à direita de Deus,
aquele que retornará em majestade e poder. Deste modo, contemplamos o autor e
consumador de nossa fé. A esta realidade devemos dedicar nossa atenção, pois a
obediência cristã reside na firmeza do olhar. Olhar fixo na vontade divina. E
qual é essa vontade? É que voltemos nosso olhar a Cristo, unicamente a Ele.
No entanto, outrora, no jardim, a serpente seduziu Eva, desviando-a da obediência. Induziu-a a desviar o olhar de Deus, a ignorar Sua palavra e Sua vontade. Em Gênesis 3, compreendemos que Deus instruiu: "Voltem-se para mim, ouçam minha palavra e obedeçam-me". Satanás, a antiga serpente, porém, persuadiu Eva a desviar o foco da obediência e da vontade de Deus, direcionando-a a outra imagem, a algo completamente diferente, em desacordo com os propósitos divinos. Assim, Eva abandonou o direcionamento divino e transgrediu a proibição de Deus.
Tudo isso fez Satanás, intentando contra o que Deus disse, sua malignidade foi menosprezar a autoridade do que Deus disse, impondo a idéia da insuficiência das declarações divinas. Eva caiu na armadilha, e hoje muitos caem na armadilha da crença induzida de que Cristo só Cristo não é suficiente, só a obra da cruz não é perfeita e suficiente, é preciso algo mais, um acréscimo além de Cristo, mas se você ler o Novo Testamento descobrirá que os apóstolos centralizaram a obra e a Pessoa de Cristo e concentraram todas as doutrinas da redenção dentro desse principio único e absolutamente como um assunto encerrado. Cada pequeno desvio, por mínimo que seja, de tirar Cristo desse centro absoluto, pelo qual o cosmos está em processo de total unificação por meio somente de Cristo, pode a longo prazo, causar uma distancia enorme da verdade central do cristocentrismo apostólico para a escuridão da crença errada que culmina em uma esperança errada, uma fé errada e uma verdadeira decepção. (Efésios 1:10)
Meu querido irmão, peço que não se deixe seduzir por discursos e ensinamentos vãos, provenientes de pessoas insensatas que buscam desviar seu olhar de Jesus, o autor e consumador da nossa fé. Ele é o princípio e o fim, pois sua obra foi completa na cruz do Calvário. Não permita que nada nem ninguém o afaste dessa certeza. Afaste-se de tudo aquilo que possa tentar desviar seu foco de Jesus Cristo somente. Evite doutrinas e ensinamentos que possam obscurecer o entendimento da centralidade de Cristo em sua vida. Que seus olhos estejam fixos em Jesus, contemplando-o diariamente, até que, um dia, depois da aurora, chegue o dia perfeito, e você possa contemplá-lo na plenitude da glória.

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