C. J. Jacinto
O desfrute de Deus é a única felicidade com a qual nossas almas podem se satisfazer. Ir para o céu, para desfrutar plenamente de Deus, é infinitamente melhor do que as acomodações mais agradáveis aqui. Pais e mães, maridos, esposas ou filhos, ou a companhia de amigos terrenos, são apenas sombras, mas Deus é a substância. Estes são apenas raios dispersos, mas Deus é o sol. Estes são apenas riachos. Mas Deus é o oceano. (Jonathan Edwards)
No início do Salmo 121, especificamente nos versículos 1 e 2, o salmista se expressa da seguinte forma: "Levantarei os meus olhos para os montes, de onde vem o meu socorro? O meu socorro vem do Senhor, que fez o céu e a terra."
Desejo discorrer sobre um patamar espiritual, abordando a posição de homens de Deus em esferas mais elevadas. Isso nos leva à seguinte indagação: qual é o nível da sua vida espiritual?
É imperativo que reajustemos nossa visão para as alturas, buscando um lugar contínuo na presença de Deus. Isso representa estar em um patamar espiritual elevado. Que nosso coração esteja posicionado diante do trono de Deus, diante do trono da graça, em busca de socorro, refrigério, consolação, esperança, segurança, alegria e paz.
Creio que a verdadeira felicidade reside em viver em santidade na presença de Deus.
Nas Sagradas Escrituras, compreendemos que o vale simboliza um lugar de morte, de ossos ressequidos, de profunda escuridão, e de uma multidão que se encontra à margem da direção divina, imersa em trevas espirituais. Em contrapartida, observamos que o cume representa um local de intimidade, freqüentemente marcado pela solidão.
Recordamos, por exemplo, o episódio da Transfiguração, no qual Jesus ascendeu à montanha com Pedro, Tiago e João, enquanto os demais discípulos e a multidão permaneceram no vale. Similarmente, ao examinarmos o livro de Êxodo, constatamos que Moisés ascendeu ao Monte Sinai em diversas ocasiões, muitas vezes sozinho, enquanto o povo permanecia no vale.
Esta dicotomia possui um profundo significado espiritual, estabelecendo uma distinção entre aqueles que permanecem no vale e os que ascendem ao cume. Em termos espirituais, refere-se à diferença entre indivíduos que vivem conforme os ditames deste mundo e aqueles que anseiam por uma comunhão íntima com o Senhor. Por conseguinte, estes últimos escolhem ascender, preferindo os lugares ermos. Todavia, essa solidão é magnificamente compensada pela presença permanente de Deus, uma experiência que o homem que anseia por escalar o monte alcança e vivencia plenamente.
Evocamos a figura de Enoque, que caminhava com Deus. Recordamos que, no livro de Gênesis, é-nos relatado que Enoque era um homem à parte, precisamente por viver em constante e íntima comunhão com Deus. Naquela era antediluviana, quando a humanidade estava profundamente corrompida e destinada à condenação, Enoque, em contraste, trilhava seu caminho na presença divina.
Por conseguinte, Deus o tomou para Si. Aqueles que se encontram no cume da vida espiritual serão arrebatados por Deus no Dia do Senhor, ao passo que os que permanecem no vale aguardam o juízo divino.
Igualmente desejaria abordar um paradoxo: a ascensão à presença divina, em seus planos mais elevados, apresenta um desafio. Frequentemente, essa jornada se inicia em humildade, em postura de oração. Apresento, portanto, este paradoxo que o cristão deve enfrentar para alcançar a presença de Deus nos lugares altos, lá o vento é mais forte, a temperatura pode ser mais baixa e os acessos são bem mais difíceis, requerem mais esforço e disposição. O cume também é um lugar de vasta perspectiva. Não vislumbramos a amplitude das coisas quando permanecemos no vale. Ao atingir o ápice, porém, desfrutamos de uma visão ampliada. Recentemente, minha família e eu realizamos uma excursão. Em uma cidade, encontramos uma montanha com uma estrada que nos conduziu ao topo. Lá, um mirante nos permitiu contemplar a cidade, o vale e as montanhas circundantes. Essa visão seria inacessível de nossa posição inicial. A perspectiva do cume, portanto, confere discernimento espiritual, uma visão enriquecida.
No alto da montanha, onde o ar é mais límpido, percebemos que a presença de Deus proporciona maior santidade. Observamos, por experiência, que os cumes são os primeiros a serem banhados pela luz solar; assim, aqueles que se aproximam de Deus e se situam nos aspectos mais elevados da vida cristã são os primeiros a receber a luz divina. O cume também representa a fonte, o ponto de origem. Como afirmou Jesus: "Quem crê em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva." A região onde vivo demonstra que os rios, que deságuam no mar, nascem nas montanhas, nos lugares mais altos. A água, em sua descida, purifica-se e refresca. Da mesma forma, aquele que está na presença de Deus, que cultiva um relacionamento íntimo com Ele e que, em oração, ascende aos lugares celestiais, experimenta um fluir espiritual mais intenso, tornando-se capaz de compartilhar essa água viva, saciando a sede espiritual daqueles que a buscam.
Poucos se aventuram a alcançar as
alturas. Certa vez, ascendi, em companhia de minha esposa, a um monte próximo à
nossa residência. Tratava-se de um ponto geográfico singular, um marco na
região. A subida se deu por uma trilha e, ao alcançarmos o cume, deparamo-nos
com a solidão. Ali permanecemos por horas, sem que qualquer pessoa surgisse. A
atmosfera dos lugares espirituais mais elevados evoca a presença divina. As
elevações espirituais são, por natureza, lugares solitários, destinos almejados
por poucos. A conquista desses espaços exige uma vida pautada pela santidade e
obediência a Deus. Impõe-se, ainda, uma sede constante por Deus e uma profunda
necessidade de comunhão com Ele, a fim de empreender essa jornada. Uma jornada
que, muitas vezes, se revela árdua, mas que oferece uma inestimável recompensa:
a presença do Deus Todo-Poderoso, em Sua suprema majestade.
Atingir o ápice espiritual na presença de Deus
é o ponto onde encontramos força espiritual. Deus nos abençoa com Sua presença,
permitindo um relacionamento mais próximo e íntimo. Por isso, observamos que,
quando o Senhor quis entregar as tábuas da lei a Moisés, este subiu ao monte.
Da mesma forma, o cordeiro que substituiu Isaque, filho de Abraão, foi
providenciado no monte. Semelhantemente, quando Jesus Cristo morreu por nossos
pecados, ele foi levado ao monte. No Monte Calvário, Ele entregou Sua vida por
nós. O monte, portanto, é um local marcado pela presença, pela misericórdia e
pela graça de Deus.
A
provação é o terreno da aprovação, o lugar onde aprendemos a forjar a nossa
fortaleza. Observamos que as maiores adversidades, os ventos mais impetuosos e
o frio intenso frequentemente se manifestam nas altitudes, enquanto nas
planícies a temperatura é amena. Nas alturas, percebemos o rigor. Deus permite
que essas experiências ocorram em nossas vidas; em Sua presença, necessitamos
de enraizamento e robustez.
Antigamente, para a construção de navios, os homens subiam aos cumes das montanhas, em busca das árvores que, por anos, haviam resistido aos ventos e tempestades. Ali, a madeira era mais densa e resistente, ideal para a construção de embarcações. Quando empregada, essa madeira conferia aos navios maior capacidade de suportar as tormentas marítimas, pois sua estrutura já havia sido forjada em um ambiente adverso.
De modo semelhante, a nossa jornada espiritual se assemelha a essa experiência. Na presença de Deus, muitas vezes somos postos à prova, com ventos fortes soprando sobre nossas vidas, a fim de que nos enraízemos, construamos uma estrutura espiritual sólida e nos fortaleçamos diante das tribulações do mundo. Não há maneira mais eficaz de enfrentar as aflições do que ser moldado pelas adversidades que, por vezes, encontramos no cume. Na presença de Deus reside a força. Ele, frequentemente, nos fortalece de maneiras que não compreendemos, mas quando descemos da montanha, o fazemos plenos de Sua graça.
Assim se cumpre em nós o Salmo 125: aqueles que confiam no Senhor são como o monte Sião, que não se abala, mas permanece para sempre.
Aqueles que são preparados para enfrentar as adversidades com resiliência, buscando a orientação divina, possuem a fortaleza interior para superar os desafios, mesmo nos momentos mais difíceis da existência.
Após a Queda, quando o homem buscou restaurar sua comunhão com Deus e reconhecer sua necessidade de estar novamente na presença do Senhor, erigiam lugares elevados denominados altares. Eram estruturas simples, compostas por pedras, mas ali, naquele monte elevado, simbolizando um lugar de proximidade com o divino, eram oferecidos louvores e sacrifícios. Analogamente, na vida espiritual, se almejamos crescer em Deus, aprofundar nosso conhecimento das Escrituras, ser cheios do Espírito Santo, ter uma vida consagrada, andar em santidade na presença do Senhor e receber consolo do céu, devemos nos apartar da multidão. É necessário deixar o vale e, muitas vezes, através da solidão e do recolhimento, buscar a presença do Senhor em um lugar elevado. Refiro-me a um lugar figurado, que, no contexto espiritual, representa um espaço reservado para momentos de intimidade com Deus. Você se encontra, neste momento, em um lugar elevado na presença do Senhor, caracterizado pela busca e anseio por estar na presença de Deus e permanecer em Santa Comunhão com Ele, ou você prefere a companhia da multidão que permanece no vale?
Nossa subida ao monte espiritual consiste em cultivar uma vida cristã profunda, para que a intimidade com Deus seja a fonte de nossa vida e consolação, mais próximo do Senhor significa respirar mais santidade, significa mais deleite em andar com Deus e em Deus.
Segundo o puritano Richard Baxter, existem alguns benefícios de nos deleitarmos em Deus:
1. O deleite em Deus provará que você O conhece e O ama e que está preparado para o Seu reino, pois todos os que verdadeiramente se deleitam Nele desfrutarão Dele.
2. A prosperidade, que é meramente a pequena adição de coisas terrenas, não irá corrompê-lo ou transportá-lo facilmente.
3. A adversidade, isto é, a recusa de prazeres terrenos, não o entristecerá muito nem o desanimará facilmente.
4. Você receberá mais lucro de um sermão, um bom livro ou uma conversa que lhe agrade, do que outras pessoas que não se deleitam com eles receberão de muitas dessas oportunidades.
5. Todo o seu serviço será agradável a você e aceitável a Deus; se você se deleita nele, ele certamente se deleitará em você (Salmo 149:4; 147:11; 1 Crônicas 29:17).
6. Ele terá um banquete contínuo com você, para adoçar todas as cruzes da sua vida e lhe proporcionar uma alegria maior que a sua tristeza em sua condição mais triste.
7. Quando você se deleita em Deus, seus prazeres criados serão santificados para você e garantidos em seu devido lugar, o que em outras pessoas são idólatras ou corruptos.
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