A BONDADE E A SEVERIDADE DE DEUS


A BONDADE E A SEVERIDADE DE DEUS

 


Em Romanos, capítulo 11, Paulo aborda a questão da salvação dos gentios e o tratamento de Deus para com Israel. No versículo 22, Paulo declara: "Considera, pois, a bondade e a severidade de Deus: para com os que caíram, severidade; mas para contigo, bondade, se permaneceres na sua bondade; de outra maneira também tu serás cortado."


Esta passagem revela o duplo caráter de Deus. Deus é justo e santo, demonstrando severidade em relação ao pecado e à impiedade. Ao mesmo tempo, Deus é bom. A bondade divina se manifesta, primordialmente, em Jesus Cristo, que se entregou pela redenção dos pecadores. Reconhecemos Deus como um ser providente e protetor.


Nas Escrituras, observamos tanto a bondade extrema de Deus quanto a Sua severidade. Deus é, simultaneamente, infinitamente bom e extremamente rigoroso. É imperativo considerar ambos os aspectos. Omitir um deles, incorrendo em parcialidade, distorce a mensagem do Evangelho. Atualmente, observa-se a tendência de enfatizar excessivamente o amor de Deus, negligenciando a doutrina do juízo, da punição, da disciplina e da severidade de Deus contra a impiedade.

 

É imperativo salientar a natureza dual do caráter divino, que abrange tanto a suprema bondade quanto a rigorosa severidade. Ambos os aspectos devem ser ponderados por aqueles que buscam uma compreensão íntegra e honesta da sã-doutrina, bem como do caráter e da pessoa de nosso Deus, o Pai Todo-Poderoso, Pai de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

A severidade divina tem se manifestado de forma patente não apenas em sua economia histórica — um período em que, como soberano condutor dos eventos, após a rejeição de Jesus como Messias por parte de Israel, a nação foi temporariamente afastada. Em consequência, teve início a era da Igreja, na qual a Oliveira Brava é enxertada na Oliveira para que participe de sua raiz e de sua seiva, conforme o próprio contexto bíblico elucida. Deus está usando de bondade para com os gentios e de severidade para com Israel.

A história do Antigo Testamento frequentemente revela a nítida manifestação de um Deus severo. Tal atributo integra o Seu caráter. A totalidade do Antigo Testamento elucida, de forma inequívoca, não apenas a vontade divina, mas também a Sua severidade. Para o incrédulo e para aqueles que carecem da iluminação do Espírito Santo, certas passagens das Escrituras são, de fato, percebidas como extremas quando avaliadas sob a ótica da suposta sensibilidade humana. Exemplos notórios incluem o juízo divino sobre Sodoma e Gomorra e a narrativa do Dilúvio, ambos manifestações da severidade divina para com os homens impenitentes.

Considerando que abordar o caráter de Deus sob a ótica de Sua severidade por vezes se revela incômodo, primeiramente, desejo afirmar que a doutrina da bondade divina encontra-se alicerçada nas Escrituras. Reconhecemos Sua bondade intrínseca, cuja expressão é visível em passagens como no Evangelho de João capitulo 13 e versículo 16, onde Jesus proferiu que Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu Filho unigênito para salvação dos pecadores. Somente um ser de bondade essencial pode manifestar tal amor. Assim, inferimos a bondade de Deus por Seu ato de amor, que se manifestou de tal forma que, por intermédio de Seu filho unigênito, todo aquele que nele crê não pereça, mas alcance a vida eterna. Contudo, há uma outra faceta: discorrer sobre a severidade de Deus não é um tema que desfrute de grande aceitação. As pessoas, em geral, demonstram receptividade à ideia de um Deus benevolente, mas rejeitam veementemente qualquer noção de uma divindade severa. No entanto mesmo amando passagens como João 3 e 16, não podemos omitir o contexto, capitulo João 3 e o versículo 36.


Ao afirmar Paulo que a palavra de Deus é inspirada e útil, inferimos que, no contexto de sua epístola a Timóteo, ele se referia ao Antigo Testamento. Neste, encontramos passagens históricas que abordam tanto a benevolência quanto a rigorosidade divina, aspectos que serão explorados em exercícios vindouros, com o propósito de fomentar nossa edificação e aprimorar nosso discernimento.

A bondade divina manifesta-se na narrativa bíblica do Jardim do Éden, que descreve a formação de Eva e a constituição de um ambiente paradisíaco, concedendo-lhes todas as condições para uma existência de plena felicidade e santidade. Contudo, ao desobedecerem à palavra e a vontade de Deus, a proibição de comer do fruto proibido, revela-se a severidade de Deus, expressa na expulsão do paraíso e na negação do acesso à árvore da vida. Este episódio ilustra nitidamente tanto a bondade quanto a severidade divinas.

Ao analisarmos o livro do Êxodo, somos confrontados com a narrativa da escravidão do povo hebreu sob o jugo do faraó egípcio. Deus, compadecido com o sofrimento de seu povo, ouviu seus clamores diante da opressão. Diante disso, Deus escolheu Moisés como libertador. Observamos, então, a manifestação da bondade, misericórdia e graça divinas na libertação do povo de Israel do Egito. Moisés conduziu esse resgate, livrando o povo do domínio faraônico. Contudo, durante a jornada no deserto, o povo manifestou ingratidão e rebelião contra Deus e contra a liderança de Moisés. O pecado se manifestou, e a semente da rebelião germinou. Em consequência, o povo experimentou a disciplina severa de Deus. Não preciso discorrer muito sobre isso, pois um leitor médio das Escrituras sabe muito bem que estou me referindo a todas as punições severas que o povo rebelde recebe de Deus por causa da pratica constante da impiedade do povo na peregrinação pelo deserto.

Após experimentarem a benevolência divina revelada na Páscoa e desfrutarem da libertação do Egito, o povo rumou para a terra prometida, terra esta que, segundo a promessa, abundava em recursos naturais. Contudo, demonstraram desconsideração pelas instruções divinas e rebelaram-se em seus corações. Em consequência, a graça de Deus foi negligenciada, e então Deus agiu com severidade para com o povo. A maior parte deles pereceu no deserto, sem alcançar a terra prometida, e sem provar dos frutos que nela existiam.

Moisés, a quem Deus concedeu vitória sobre o faraó, liderança e a promessa da Terra Prometida, experimentou a magnitude e a bondade divina. A generosidade de Deus manifestou-se de maneira notável em sua vida. Contudo, durante a jornada pelo deserto, Moisés desobedeceu ao Senhor ao ferir a rocha. Como consequência, foi ordenado a subir o Monte Pisga, de onde contemplou a Terra Prometida, mas não pôde nela entrar. Nesse momento, a severidade divina se manifestou sobre Moisés, pois ele desobedecera. Aquele que fora agraciado com a promessa da Terra Prometida, em virtude da bondade de Deus, viu essa bondade dar lugar à severidade, e não alcançou a Terra da promessa.
Observamos, portanto, que as Escrituras apresentam inúmeras passagens e exemplos que abordam tanto a bondade quanto a severidade divina. Desejo ilustrar este ponto com o exemplo de Jonas. Jonas, filho de Amitai, foi chamado para pregar o arrependimento em Nínive. A bondade de Deus manifesta-se na intenção de conceder perdão aos ninivitas. Deus ordenou a Jonas que fosse à cidade e pregasse o arrependimento ao povo. Contudo, Jonas fugiu, embarcando em um navio rumo a Társis, em rebelião contra a vontade do Senhor. Nesse momento, a severidade de Deus manifestou-se sobre Jonas, que foi punido por sua desobediência. Deus agiu com rigor em sua vida, de modo que Jonas precisou retornar e seguir os caminhos do Senhor. Jonas foi compelido a voltar e pregar o arrependimento em Nínive. Assim, podemos observar a severidade divina na experiência de Jonas, consequência de sua transgressão foi um fato e uma experiência extremamente amarga na vida do profeta. Este exemplo, entre muitos outros no Antigo Testamento, demonstra, de maneira clara, que a Bíblia Sagrada aborda tanto a bondade quanto a severidade de Deus.

A Palavra de Deus se confirma em toda a Escritura, inclusive no Novo Testamento. Em 1 João 4:8, lemos que "Deus é amor", enquanto em Hebreus 12:29, somos informados de que "o nosso Deus é fogo consumidor". Assim, reconhecemos a dualidade da natureza divina: Deus é benevolente, mas também severo; é santo e justo. Por Sua santidade e justiça, Ele disciplina Seus filhos e julga os ímpios. Este é o Deus revelado na Bíblia, o Deus do Antigo e do Novo Testamento, o Pai de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

É imperativo que o caráter divino seja proclamado e elucidado. Seus atributos devem ser ensinados, para que cada cristão compreenda que Deus é a bondade suprema, mas também a santidade e a justiça absolutas. Devemos reconhecer a Suprema Severidade divina, pois este entendimento nos infunde temor reverente e nos leva a uma santa reverência pelo Senhor, Criador de todas as coisas.

Ao analisarmos o capítulo 25 do livro de Mateus, observamos como Jesus apresenta, simultaneamente, atributos de bondade e severidade. No versículo 34, Jesus convida: "Vinde a mim, benditos". Esta exortação é dirigida aos seguidoress fiéis, aqueles que são considerados dignos do reino de Deus por sua fé em Cristo. Contudo, no versículo 41, Ele declara: "Apartai-vos de mim, malditos". Estas palavras são direcionadas àqueles que não creram, que são considerados indignos de entrar no reino de Deus. Dessa forma, a postura de Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador, evidencia a clareza com que tanto Sua bondade quanto Sua severidade são expressas em Mateus 25. Este é apenas um exemplo, dentre muitos encontrados no Novo Testamento, que ilustram o caráter de Cristo, demonstrando Seu amor através da bondade e Sua santidade através da severidade.


Entre os anos 86 e 160 d.C., o gnóstico Marcião rejeitou o Deus do Antigo Testamento, considerando Deus excessivamente severo, punitivo e vingativo. Marcião, influenciado por essa visão, negou que o Deus do Antigo Testamento fosse o pai de Jesus Cristo, devido às características atribuídas a ele de zelo, vingança e punição. Juntamente com o movimento gnóstico, Marcião rejeitou essa divindade rigorosa, propondo que a divindade fosse unicamente amor.



Atualmente, observa-se uma tendência em alguns pregadores de enfatizar exclusivamente o amor e a bondade de Deus, omitindo a severidade divina, a santidade, a justiça e a punição. Esses pregadores evitam abordar a questão da punição divina, a natureza santa de Deus e a sua aversão ao pecado. De acordo com as Escrituras, Jesus mencionou que o caminho largo leva à perdição, enquanto o caminho estreito conduz à vida, indicando uma distinção entre a maioria e os que alcançam a salvação.

O Novo Testamento apresenta uma dualidade entre a justiça, a santidade e a severidade de Deus, em contraposição à sua bondade e amor. Pregadores que se abstêm de abordar a severidade divina, a punição do pecado e a possibilidade da condenação eterna, preferindo apenas pregar o que agrada às massas, podem estar seguindo uma linha de pensamento semelhante ao dos gnósticos.


É interessante notar que alguns pregadores contemporâneos concentram-se exclusivamente no tema do amor de Deus, e coisas agradáveis, abstendo-se de abordar a questão da justiça divina e de Sua punição. Mais uma vez, repito, é uma postura que assemelha-se às doutrinas do gnosticismo, notadamente às de Marcião. Na prática, tais pregadores podem ser considerados neognósticos, pois rejeitam na prática, a noção de um Deus punitivo, que exerce juízo e que condena os ímpios. Ao fazê-lo, incorrem no que a Bíblia, em 1 João 4:6, denomina "espírito do erro", associado ao espírito do anticristo e, historicamente, ao movimento gnóstico. O gnosticismo caracterizou-se pela negação de um Deus que julga e pune, como retratado no Antigo Testamento e, em certa medida, no Novo Testamento. Tanto Cristo quanto Deus Pai são descritos no Novo Testamento como possuindo tanto extrema bondade quanto rigor. A análise do livro de Apocalipse e dos Evangelhos confirma essa dualidade na natureza de Jesus Cristo. (Veja o tratamento que Cristo dá as sete igrejas da Asia no capitulo 2 e 3 de Apocalipse) O movimento gnóstico ganha impulso hoje através desses pregadores que, ao enfatizar excessivamente o amor de Deus e apresentar mensagens que agradam às massas, evitam abordar temas como o inferno, a condenação eterna e a justiça divina. Omitir a pregação sobre um Deus que odeia o pecado, a falsa doutrina, a impiedade e a iniquidade, e que exercerá juízo sobre a sociedade que as pratica, representa uma distorção da verdade bíblica. Um Evangelho parcial é outro evangelho estejamos atentos as advertências de Paulo em Gálatas capitulo 1 e versículos 8 e 9.


Lamentavelmente, muitos indivíduos contemporâneos não apenas endossam e propagam esse tipo de mensagem, como também financiam aqueles que as difundem. Estes pregadores, embora enfatizem o amor divino, omitem deliberadamente a integralidade da mensagem, abstendo-se de pregar sobre a justiça e a ira de Deus contra o pecado. Essa prática assemelha-se à advertência de Paulo em 2 Timóteo capitulo 4 versículos 3 e 4, onde se prediz que virá um tempo em que as pessoas não suportarão a sã doutrina, mas, guiadas por seus próprios desejos, afastarão os ouvidos da verdade, voltando-se para fábulas. Essa postura evoca as tendências gnósticas do primeiro século, que ressurgem em nossos dias. Que Deus conceda discernimento a todos que lerem esta mensagem, para que o Espírito Santo os guie no caminho da verdade e da justiça.

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C. J. Jacinto

 

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