O TEMPO


 



“De eternidade a eternidade Tu és Deus” (Salmos 90:2)

 

O tempo é o criador, conservador e destruidor de tudo o que existe. Assim ele traz os indivíduos à existência pelo nascimento, mantém-nos na existência pela duração, completa sua existência, chamando-os ao seio do imenso do passado pela morte. Faz parte das operações do Senhor, Deus criou o tempo, colocou você dentro da existência através do tempo, Deus, porém é de eternidade a eternidade. O tempo cria destruindo, e toda a destruição completa-se numa realização plena. O tempo é o lugar de todas as Gênesis e todas as aniquilações da atual criação. A cada instante ele nos tira o ser e nos da o ser, suspende-nos o ser e o nada. E esse foi provavelmente o sentido profundo do pensamento de Descartes, quando ele falava de “criação continuada” Ronsard também dizia “O Tempo nos prepara o tempo nos devora”. Compreende-se, portanto, que os homens tenham adorado o tempo como uma divindade, e quando adoravam o sol, o faziam porque limitados pela incompreensão dos mistérios do Evangelho a eles oculto, entendiam possuir o sol o principio que inseria vida no tempo, controlando o ritmo do dia e da noite e das estações. Mas o tempo não é Deus, mas uma criação dEle, é o meio que Ele nos dá como seres criados, para viver com responsabilidade, cumprir nossa missão existencial e alcançar uma realização existencial, homens criados com um propósito e um destino.

Deus é eterno, e a eternidade é a fonte do tempo, do Senhor haure o tempo que nos é dado, a continuidade da existência de todas as coisas depende absolutamente do Senhor. É através do presente que podemos ter contato com a eternidade. Jesus disse: “Quem ouve as minhas palavras e crê naquele que me enviou TEM a vida eterna” (João 5:24) e ainda afirmou: “Dou-lhes a vida eterna” (João 10:28)

Vivemos o presente em continuidade, não permanecemos nele e não saímos dele, na visão grega o tempo era cronológico, uma visão abstrata do tempo, no Hebraico, o conceito do tempo bíblico, era concreto e qualitativo, o viver o agora como algo peculiar e profundo. Creio que se trata de unir-se à natureza divina (Leia II Pedro 1:4) Deus se identificou a Abraão como o “Eu Sou” (Êxodo 3:14) essa participação é entrar na mesma dimensão da eternidade em que Deus está, ser participante da natureza divina é um dos significados implícitos na declaração do apóstolo Pedro.

O presente é normalmente visto como o cruzamento entre o passado e o futuro, o passado foge de nós, se distancia, o futuro é uma abertura constante para o novo, uma ressurreição de momentos.

De fato o presente jamais deve cessar de se fazer, a fim de que o indivíduo tenha uma percepção da responsabilidade de viver a cada instante, o reencontro do sentido por algo novo e discernir a eternidade além do tempo. A vida espiritual não se restringe pelas limitações impostas pelo tempo criado, ela transcende, e entra no infinito onde Deus se encontra.

O passado deixa suas marcas, Deus estava sempre lá, nós não, mas apenas em parte, encontramo-nos no passado, quando nosso nome foi registrado no livro da vida desde a fundação do mundo, e Cristo estava também lá, no mesmo ponto histórico, isso é uma prova definitiva de que Deus possui o tempo todo e não apenas um passado ou um futuro. (Leia Apocalipse 13:8, 17:8 e Efésios 1:4)

 Para nós, há uma continuidade, e um chamado a responsabilidade, nossa existência navega no rio do tempo, Deus se encontra numa perfeita existência dinâmica como se fosse um oceano completo que já possui todas as águas do rio do tempo. Nós vivemos uma parcela do tempo criado, pois somos criaturas. Há no livro da eterna sabedoria, um capitulo destacado pelo seu conteúdo sobre o tempo, Eclesiastes 3, é lá que vimos a abundância de evidencias da natureza do tempo e seu poder avassalador sobre os mortais.

Deus nos concedeu a vida e o tempo, viver com responsabilidade dentro dele é uma convocação suprema. Deus nos permite entrar no futuro em todo o momento, a eloquência da existência é percepção de que uma parte do tempo é nossa e precisamos viver num desfrute único, viver para a glória de Deus.

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O presente artigo é uma adaptação de vários conceitos do filosofo Louis Lavelle, alguns anos atrás li um livro de Lavelle, e de tal modo, experimentei um impacto profundo na minha vida, que escrevi este artigo, foi inserido varias idéias minhas e algumas passagens bíblicas.

C. J. Jacinto

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