C. J. Jacinto
Introdução: O Medo na Virada do Milênio
A década de 1990 foi tomada por uma onda global de ansiedade apocalíptica.
Enquanto os computadores se preparavam para o "Bug do Milênio", a
cultura popular era inundada por teorias sobre um fim iminente. No centro desse
furacão de especulações estava um evento cósmico aterrador: a inversão dos
polos magnéticos da Terra. Este artigo não é apenas um registro histórico de
previsões fracassadas, mas uma investigação sobre por que somos fascinados pelo
fim e onde podemos encontrar uma esperança que não falha.
1. Os Profetas do Apocalipse: Nostradamus, Blavatsky e Cayce
O renascimento da popularidade de Nostradamus nos anos 90 forneceu um terreno fértil para interpretações catastróficas. Seus versos enigmáticos, descontextualizados, eram apresentados como "provas" de que a virada do milênio traria uma transformação geofísica radical.
O movimento New Age amalgamou essas ideias, encontrando nos escritos de Helena Blavatsky, fundadora da Teosofia, supostos indícios de ciclos de destruição e renascimento planetário. Mas foi a "profecia" mais específica que ganhou força: a do vidente americano Edgar Cayce.
Cayce, em leituras feitas décadas antes, havia mencionado mudanças na crosta terrestre e supostamente fixado 1998 como o ano para um cataclisma final envolvendo a inversão dos eixos. A combinação de um nome "psíquico" respeitado em certos círculos com uma data precisa foi combustível para o medo.
2. A (Pseudo)Ciência por Trás do Mito: De Schiaparelli a Velikovsky
A força da teoria vinha de sua aparente base científica. A ideia original é creditada ao astrônomo italiano Giovanni Schiaparelli, que, no século XIX, teorizou sobre ciclos catastróficos na história da Terra. Alguns proponentes místicos, então, encaixaram nisso um ciclo místico de 7.000 anos.
A figura mais influente nesta ponte entre ciência marginal e especulação foi Immanuel Velikovsky. Este russo-judeu, psiquiatra e discípulo de Freud, causou polemica nos anos 50 com seu livro "Mundos em Colisão". Nele, Velikovsky propunha que catástrofes planetárias (como o "Dilúvio") foram causadas por inversões polares desencadeadas por encontros cósmicos próximos. Suas ideias, rejeitadas pela comunidade científica, foram popularizadas décadas depois por Carl Sagan, que as usou justamente no seu lendário série "Cosmos" como um exemplo clássico de hipótese pseudocientífica – embora sua menção, para muitos, tenha soado como um endosso.
3. O Silêncio de 2000: Quando as Profecias Falham
O relógio chegou a meia-noite de 31 de dezembro de 1999. O milênio virou. E... nada aconteceu.
Os polos magnéticos permaneceram em seus lugares (embora, cientificamente, saibamos que a migração do polo norte magnético é um processo lento e contínuo, sem qualquer catástrofe associada). As cidades não foram engolfadas por tsunamis gigantescos. O eixo de rotação da Terra não capotou. (Esse catastrofismo místico voltou a ganhar popularidade em 2012 com as supostas profecias maias)
O que aconteceu, então, com os profetas? Nostradamus voltou à prateleira dos livros de curiosidades. Edgar Cayce e suas previsões específicas caíram no "sono do esquecimento", lembrados apenas como um capítulo pitoresco da história do pensamento New Age. O modelo de Velikovsky foi arquivado como uma curiosidade histórica. O mundo seguiu em frente, e a próxima grande onda de ansiedade apocalíptica só viria mais de uma década depois, com as profecias maias de 2012 – que, claro, também não se cumpriram.
4. A Resposta Bíblica: Juízo, Purificação e uma Esperança Concreta
Diante desse histórico de previsões falhas, uma pergunta persiste: E se houver uma fonte de revelação sobre o fim que seja confiável?
A Bíblia aborda o fim dos tempos com solenidade e clareza, mas de um ponto de vista radicalmente diferente do catastrofismo sensacionalista.
A Certeza do Juízo: As Escrituras afirmam, sem ambiguidade, que a história humana e cósmica terá um desfecho moral. O julgamento de Sodoma e Gomorra (Gênesis 19) é apresentado como um precedente e uma sombra de um juízo final. O apóstolo Pedro é direto: "Virá, entretanto, como ladrão, o Dia do Senhor, no qual os céus passarão com estrepitoso estrondo, e os elementos se desfarão abrasados; também a terra e as obras que nela existem serão atingidas" (2 Pedro 3:10).
Não Fim, mas Transformação: O foco bíblico não é na destruição por si só, mas na purificação e renovação. O mesmo texto de Pedro continua: "Nós, porém, segundo a sua promessa, aguardamos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça" (2 Pedro 3:13). Esta é uma visão de esperança, não de terror.
A Promessa Definitiva: O profeta Isaías ecoa esta visão com uma poesia poderosa: "Pois eis que eu crio novos céus e nova terra; e não haverá lembrança das coisas passadas, nem mais se recordarão" (Isaías 65:17) e "Porque, como os novos céus e a nova terra, que hei de fazer, estarão diante de mim, diz o Senhor..." (Isaías 66:22).
O contraste não poderia ser maior. Enquanto as previsões místicas e pseudocientíficas focam em catástrofes físicas arbitrárias com datas específicas e falíveis, a perspectiva bíblica apresenta um processo moral de purificação que culmina na criação de uma realidade renovada, onde a injustiça, o sofrimento e a morte são abolidos.
Conclusão: Para Onde Olhar Quando o Mundo Parece Acabar?
A história das previsões falhas de inversão polar nos ensina mais sobre nós mesmos do que sobre o planeta. Ela revela nosso medo do desconhecido, nossa fascinação pelo drama cósmico e nossa tendência a buscar respostas simples para perguntas complexas.
No entanto, essa jornada pelo "fim do mundo que não aconteceu" serve para destacar, por contraste, a solidez e a profundidade da esperança cristã. Esta não se baseia na interpretação dúbia de centúrias ou nas leituras de um psiquiatra, mas na promessa histórica e revelada de um Deus que é soberano sobre a história.
As profecias bíblicas sobre "novos céus e nova terra" não são adivinhações para se marcar no calendário com ansiedade. São o clímax de uma narrativa de redenção, a garantia de que a criação, manchada pelo pecado, não será abandonada, mas gloriosamente refeita. Elas não incutem pânico, mas convidam à esperança vigilante e a uma vida de significado, alicerçada na única fonte que tem autoridade para falar sobre o princípio, o meio e, especialmente, o fim.
Para o cristão o verdadeiro fim não é um evento a se temer, mas um recomeço a se aguardar.
Nota: As informações foram tiradas de um recorte da antiga revista Ano Zero que estava arquivada na minha biblioteca, não tenho o numero da revista e nem o ano da publicação, foi publicada na década de 1990 com certeza!

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