Gnosticismo e a Cultura Andrógina: Antítese à Fé Cristã Tradicional
Introdução: O Eterno Retorno das Antigas Heresias
Distinção entre os animais: “Cada espécie farás entrar na arca, para conservares vivo contigo, macho e fêmea serão” (Genesis 6:19)
Distinção entre a espécie humana: “Ele (Jesus)porém, respondendo, disse-lhes; não tendes lido que aquele que os fez no principio macho e fêmea os fez?” (Mateus 19:4)
"O que foi é o que será, e o que foi feito é o que se fará. Não há nada de novo sob o sol" (Eclesiastes 1:9). Esta observação do sábio escritor bíblico encontra aplicação singular em nossos dias, particularmente no ressurgimento de ideologias que ecoam antigas heresias gnósticas. A atual abolição do gênero e a erradicação da diferença sexual complementar não representam novidades históricas, mas sim o reavivamento contemporâneo de fantasias milenarmente combatidas pela fé cristã ortodoxa.
O Gnosticismo: Raízes Históricas de uma Cosmovisão Anticristã
O gnosticismo, última religião da Antiguidade em termos cronológicos, emerge no alvorecer do cristianismo como uma síntese sincrética que incorporava elementos platônicos, como o mito do andrógino narrado por Aristófanes no Banquete de Platão. Esta corrente filosófico-religiosa desenvolveu uma cosmologia dualística que fundamentalmente rejeitava a criação material como obra de um deus menor e malévolo.
A Advertência Apostólica
O apóstolo Paulo, com notável discernimento profético, já denunciava "as conversas vãs e profanas da falsamente chamada ciência" (tès pseudonumou gnoseôs) em sua primeira carta a Timóteo (6:20). O termo grego gnosis (conhecimento) dá nome ao movimento que Paulo antecipadamente identificava como ameaça à fé cristã.
Em 1 Timóteo 4:1-4, Paulo descreve com precisão cirúrgica as características dessa "ciência falsa": formas de ascetismo que negam a graça geral do Criador, prescrições que visam libertar-se da matéria ou das estruturas criacionais divinas, como o casamento, tratando-as como intrinsecamente más. Este padrão espiritualista, voltado para a depreciação da criação material, constitui o DNA ideológico do gnosticismo.
A Teologia Gnóstica da Androginia
O Mito do Andrógino Primordial
A presença do mito andrógino permeia diversos textos gnósticos. No Evangelho de Tomé (c. 145-160 d.C.), encontramos a explícita rejeição da sexualidade conforme apresentada nos dois primeiros capítulos de Gênesis. Particularmente significativo é o fato de que a diferenciação sexual é introduzida nas Escrituras como o primeiro marcador da imago Dei em Gênesis 1:26-28: "Criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou."
A Cosmologia Valentiniana
Nos escritos valentinianos, observamos uma estrutura cosmológica complexa onde o demiurgo Yaldabaoth - caracterizado como louco e maligno - supostamente transitou do estado andrógino para o masculino, enquanto a divindade suprema permanecia andrógina. Consequentemente, os adeptos gnósticos deveriam buscar retornar à androginia primordial como forma de ascensão espiritual.
As Seitas Naasenas
Segundo Hipólito de Roma (início do século III), a seita dos naasenos propagava a crença de que o Adão original era hermafrodita. Esta concepção representa uma subversão radical da narrativa bíblica, transformando a complementaridade sexual - ordenança divina para a procriação e domínio sobre a criação - em mero acidente histórico a ser superado.
O Ressurgimento Contemporâneo: Ideologia de Gênero como Gnosticismo Moderno
Paralelos Estruturais
O movimento contemporâneo de abolição do gênero apresenta paralelos estruturais impressionantes com o antigo gnosticismo:
Rejeição da Criação Material: Assim como os gnósticos antigos desprezavam a materialidade como obra de um demiurgo inferior, a ideologia de gênero contemporânea rejeita a realidade biológica sexual como construção social opressiva.
Busca da Transcendência através da Negação: O ideal gnóstico de retorno ao estado andrógino encontra eco na atual fluidez de gênero, apresentada como libertação das limitações "impostas" pela diferenciação sexual.
Elitismo Epistemológico: O conhecimento (gnosis) reservado aos iniciados no gnosticismo antigo espelha-se na atual reivindicação de uma compreensão "mais elevada" sobre identidade de gênero, frequentemente apresentada como superior ao "conhecimento comum".
A Agenda Anticristã Contemporânea
O atual movimento não constitui mero fenômeno sociológico, mas parte integrante de uma agenda sistemática de desconstrução dos fundamentos bíblicos da civilização ocidental. A criminalização progressiva de posições cristãs ortodoxas sobre sexualidade e casamento demonstra o caráter fundamentalmente anticristão desta ideologia.
A Resposta Cristã: Afirmação da Ordem Criacional
Fundamentos Bíblicos
A fé cristã ortodoxa fundamenta-se na afirmação categórica da bondade da criação material. Gênesis 1:31 declara que "viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom". A diferenciação sexual não representa imperfeição a ser superada, mas expressão da sabedoria divina na ordenação da criação.
A Complementaridade como Reflexo Divino
A união matrimonial entre homem e mulher constitui tipo profético da união entre Cristo e Sua Igreja (Efésios 5:22-33). A abolição desta complementaridade representa, portanto, ataque direto contra a própria revelação do relacionamento redentor entre Deus e Sua criação.
Implicações Escatológicas: Preparação para o Anticristo
O Padrão Histórico
A história demonstra que períodos de apostasia generalizada precedem manifestações mais intensas da oposição anticristã. O ressurgimento de heresias gnósticas em escala global sinaliza a preparação cultural necessária para a aceitação de uma autoridade que se oponha fundamentalmente aos princípios bíblicos.
A Sedução da Falsa Gnosis
A promessa de conhecimento superior - característica central do gnosticismo - prepara o terreno para a sedução descrita em 2 Tessalonicenses 2:9-12, onde uma "operação do erro" levará muitos a crerem na mentira devido à rejeição da verdade.
Conclusão: Vigilância e Fidelidade
O atual ressurgimento de tendências gnósticas não deve surpreender os cristãos familiarizados com as Escrituras e a história da Igreja. A advertência paulina sobre "a falsamente chamada ciência" permanece atual e urgente. Diante desta realidade, os cristãos são chamados não apenas à vigilância intelectual, mas à fidelidade prática aos princípios bíblicos sobre criação, sexualidade e identidade humana.
A batalha contemporânea contra a ideologia de gênero não constitui meramente disputa política ou cultural, mas continuação da antiga guerra espiritual entre a verdade revelada e a mentira gnóstica. Nossa resposta deve combinar firmeza doutrinária, amor pastoral e sabedoria estratégica, sempre lembrando que "nossa luta não é contra carne e sangue, mas contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século" (Efésios 6:12).
Em última análise, a prevalência gnóstica contemporânea serve ao propósito divino de revelar o coração humano e preparar o cenário para o retorno triunfante de Cristo, quando toda mentira será desmascarada e toda verdade vindicada. Até então, permanecemos firmes na fé uma vez entregue aos santos, confiantes de que "os portões do inferno não prevalecerão" contra a Igreja de Cristo.
C. J. Jacinto
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