C. J. Jacinto
Em 1 João 5:19, o apóstolo João parece concluir sua epístola, na qual, a partir do capítulo 4, expõe um conflito universal, enfatizando que o mundo jaz no maligno. Embora rejeitemos a visão maniqueísta de um conflito dualista no universo, reconhecemos, com base na clareza da revelação bíblica, a soberania e o absoluto domínio de Deus sobre todas as coisas. Contudo, torna-se necessário compreender que, por permissão divina, o diabo exerce, em certa medida, sua influência sobre o mundo, conforme demonstrado explicitamente nas Escrituras.
Podemos apresentar algumas passagens bíblicas. Julgo que poucas são necessárias, pois algumas já são suficientes para elucidar esta questão fundamental. Observamos, por exemplo, que em Efésios, capítulo 2, versículo 2, Paulo menciona a "potestade do ar", referindo-se aos espíritos que atuam nos filhos da desobediência. Adicionalmente, considerando Efésios, capítulo 6, versículos 10 a 18, e 1 João, capítulo 4, versículos 1 a 6, percebemos a existência de um conflito neste mundo, onde há um domínio permissível por Deus. Em outras palavras, Deus permite que espíritos malignos, demônios e o próprio diabo exerçam influência em certas esferas do mundo. Essa realidade é evidente nas Escrituras. Contudo, isso não implica que Deus tenha perdido Sua soberania. A atuação do mundo espiritual caído sobre o mundo e sobre os homens ocorre pela permissão divina.
Ademais,
consideremos o relato em Lucas, capítulo 8, sobre os gadarenos. Esses
indivíduos, possuídos por espíritos malignos, eram controlados por uma legião
de demônios, não pelo Espírito Santo. Semelhantemente, conforme descrito em
Efésios, capítulo 2, versículos 1 e 2, uma parcela da humanidade se encontra,
em maior ou menor medida, sob a influência dessas potestades espirituais. (Veja
II Corintios 4:4) É fundamental, portanto, compreender que a Escritura Sagrada
expõe claramente a existência de esferas da sociedade e de sistemas que estão
sob a influência de espíritos imundos e de Satanás. Contudo, isso não implica,
em hipótese alguma, que Deus tenha perdido Seu domínio, Sua autoridade ou Seu controle
sobre toda a criação.
Entretanto, é fundamental compreender,
de maneira clara e concisa, para evitar qualquer equívoco, que a soberania
divina e o controle absoluto de Deus sobre todas as coisas permanecem
inabaláveis. Essa premissa é inegável. A Bíblia Sagrada, contudo, nos faculta a
interpretação, ensinando que certas áreas estão sob a influência de Satanás. A
afirmação do apóstolo João de que o mundo jaz no maligno deve ser entendida
nesse contexto. Existem, portanto, esferas que, por permissão divina, ainda se
encontram sob a atuação de Satanás.
Evidencia-se claramente a influência de
Satanás quando este, na tentação, ofereceu a Jesus os reinos terrenos,
reivindicando-os como seus: "Este domínio, estas regiões, estes reinos
pertencem a mim; foram-me dados, e dou-os a quem quero".(Por favor leia o
registro caracterizado por uma precisão acadêmica de Lucas no seu evangelho,
capitulo 4 do versículo 1 ao 14 onde encontramos a passagem da tentação) Essa
afirmação de Satanás revela, sob a permissão divina, seu domínio, resultado do
pecado e da queda, sobre os reinos terrenos. Tal controle perdurará até que lhe
seja retirado, como prediz Apocalipse 11:15, que os reinos do mundo se
tornariam do Senhor Jesus Cristo. Portanto, a declaração de Satanás corrobora a
realidade bíblica da sua influência.
A fim de ilustrar, apresentarei uma analogia. Imaginemos um vasto reino, governado por um monarca. Este monarca, sentado em seu trono, detém a autoridade e o domínio sobre todas as criaturas do reino. Todos os seus súditos, os habitantes daquele território, devem respeito, obediência e serviço ao monarca.
Contudo, suponhamos que, dentro desse
reino, existam grandes cidades e, em algumas delas, favelas. Nestas favelas,
encontramos indivíduos que se rebelaram contra a autoridade do monarca. Eles
buscam uma existência independente, exercendo controle sobre certas áreas das
favelas, comandando as ruas, o comércio e os espaços sob seu domínio.
Nesse cenário, é importante compreender que o monarca não perdeu sua autoridade nem seu domínio. Ele enfrentará desafios e deverá agir para subjugar esses elementos rebeldes.
De maneira análoga, no âmbito
espiritual, Deus nunca perdeu o controle sobre o universo. Embora seja
onisciente e perfeito em Sua administração, Ele permite certas ocorrências,
como a presença do mal no mundo. Isso não implica em perda de controle, mas, ao
contrário, as Escrituras Sagradas nos revelam um triunfo final. Nesse triunfo,
Deus prevalecerá, triunfante em absoluto.
Consideremos, então, as opiniões de
renomados teólogos e estudiosos sobre a questão do domínio. A palavra
"domínio", no uso decorrente
para uso conforme as informações declaradas e explicitas em 1 João 5:19,
refere-se ao controle que Deus permitiu ao diabo sobre os reinos terrenos e
certas esferas da existência, como a mente e o coração dos homens ímpios. A
Bíblia descreve a mente como o principal centro de atuação do príncipe da
potestade do ar, conforme mencionado em diversas passagens. Exemplos notáveis
incluem Atos 16, onde Paulo expulsa um espírito de adivinhação, e Lucas 8, no
qual Jesus liberta um homem possesso de uma legião de demônios. As Escrituras
fornecem inúmeros textos que corroboram essa realidade, a qual não podemos
ignorar.
“Eles tem acesso permitido a este mundo. Satanás é chamado de deus deste mundo (II Coríntios 4:4). Esse acesso é evidente na história as queda, e na tentação de Cristo, nas advertências dadas aos crentes contra ele como seu adversário e nas declarações feitas quanto ao poder que ele exerce para cegar a mente daqueles que não crêem” (James P. Boyce – Teologia Sistemática. Uma introdução aos pilares da fé)
Como devemos compreender o domínio de satanás de acordo com algumas mentes
eruditas:
O substantivo "domínio" usado empregado num contexto para compreender
I João 5:19 ė um usus loquendi , ou
seja, está subordinado ao versículo citado e ao contexto da exegese de I João 5:19.
Vamos ver algumas definições partindo de escritos de eruditos :
Vincent sobre keimai (Palavra grega traduzida por "jaz" em I João 5:19 - "A palavra é mais forte do que 'esti', 'é', indicando o estado passivo e não progressivo na esfera de influência de Satanás." O mesmo faz o léxico grego de Strong definindo o verbo keimai (traduzido com "jaz" em I João 5:19) : "Sob o termo " mundo" , o Apóstolo sem dúvida inclui toda a raça humana. Ao dizer que o mundo está nas mãos do maligno , ele o representa como estando sob o domínio de Satanás"
Matthew Henry no comentário de I João 5:19 faz o contraste entre os regenerados
debaixo da autoridade de Deus e o mundo debaixo do domínio de satanás (Isso
mesmo! Henry usa o substantivo masculino "domínio " no seu
comentário )
John MacArthur comenta sobre I João 5:19: "O mundo segue a ordem de seu
governante, satanás. Jaz no poder do maligno ou seja está sujeito ao domínio
(ops!) do maligno.
Por sua vez João Calvino acerca de I Joao 5:19 comentou: "Sob o termo " mundo" , o Apóstolo sem dúvida inclui toda a raça humana. Ao dizer que o mundo está nas mãos do maligno , ele o representa como estando sob o domínio de Satanás"
Refletindo essas verdades, recomendo finalmente a nota explicativa da Bíblia de Estudo ACF que faz um comentário de I João 5:19 com essas breves palavras:
“Os crentes estão em Deus, apesar da maioria da humanidade está em poder de Satanás”
Todo esse domínio e poder que Satanás exerce sobre o mundo incrédulo e ímpio, está absolutamente sob a permissão de Deus e dos limites que o Deus Triúno e Soberano impõe sobre eles.

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