O Espinho e a Graça




 

 

C. J. Jacinto

 

 

Em 2 Coríntios 12:1-7, Paulo relata suas extraordinárias revelações espirituais, um privilégio que o elevava acima do comum. Contudo, para conter o orgulho e a auto-exaltação, Deus permite um espinho doloroso em sua carne. Clamando por livramento, Paulo ouve a resposta divina: à dor do espinho, Deus adiciona Sua graça suficiente. O espinho, embora humilhante, devastador e agonizante, éra necessário. Ele fere, humilha até o pó, mas permanece fincado, como um lembrete da dependência de Deus. Nós, porém, rejeitamos os espinhos. Na teologia moderna, o espinho é visto como algo diabólico, desumano, a ser evitado a todo custo. Para muitos, a presença do sofrimento é incompatível com a santidade. Como a esposa de Jó, que aconselhou: “Amaldiçoa a Deus e morre” (Jó 2:9), alguns acreditam que um homem reto, temente a Deus, não merecia tal aflição. “Um santo não pode sofrer tanto!”, argumentam os teólogos e pregadores de nossa era. No entanto, Deus permite espinhos. Eles desaceleram o orgulho, apagam as chamas das paixões terrenas e funcionam como um tratamento divino, essencial para moldar o caráter. Quanto maior a revelação celestial, mais profundo o espinho deve penetrar, atingindo as medulas da alma. A igreja contemporânea, no entanto, faz campanha contra os espinhos. Seus pregadores promovem um manual teológico intitulado “Como se Livrar dos Espinhos de Deus”. Profetas modernos arrancam o que Deus permite, abraçando uma religião romântica que prioriza o alívio emocional por meio de entretenimento. A mensagem centra-se na fuga do sofrimento, na superação do que Deus ordena, em troca do hedonismo que a filosofia oferece. Para essa visão, o objetivo supremo da religião é a felicidade terrena, alcançada pela remoção dos espinhos, mesmo que isso signifique abrir mão da graça divina. Sem espinhos, dizem, a felicidade é plena — eis as delícias de uma religião antropocêntrica.Todavia, a graça de Deus é suficiente. Para muitos cristãos, porém, ela nunca basta. O velho homem insiste em salvar-se pelo suor de suas obras, lutando contra si mesmo. O espinho mortifica a carne, mas o desejo de arrancá-lo alimenta a busca por alívio e prazer hedonista. Assim, a religião se torna um esforço para extirpar o que Deus permite, como se a graça divina fosse insuficiente. Arrancar os espinhos passa a ser o motivo central de muitos religiosos, enquanto a verdadeira espiritualidade, que abraça a graça no sofrimento, é esquecida.

 

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