C. J. Jacinto
Em Lucas, no capítulo 16, versículos 19 a 31, encontramos a narrativa de Jesus sobre o Rico e Lázaro. Algumas traduções da Bíblia apresentam um subtítulo que a identifica como a parábola do Rico e Lázaro. É importante ressaltar que, nos textos originais, não há menção explícita de que se trata de uma parábola. Mesmo que Jesus tenha empregado a parábola como recurso didático, a comparação entre parábolas, dentro de um contexto bíblico, deve ser feita com cautela. Essa consideração é fundamental para evitar interpretações heréticas da Palavra de Deus. Explicarei os riscos envolvidos em análises inadequadas.
Ao empregar parábolas, Jesus não recorria à ficção. Suas narrativas não se assemelham às obras de Monteiro Lobato ou às fábulas de Esopo. Ao utilizar parábolas para comunicar verdades espirituais e doutrinárias, Jesus se valia de situações e elementos reais, com o intuito de conduzir seus ouvintes a uma compreensão mais profunda.
Consideremos, por exemplo, a
parábola do semeador, em Mateus, capítulo 13. O semeador, a semente, o solo
pedregoso e o sol representam elementos concretos do contexto cultural da época
de Jesus e do Novo Testamento. Jesus tomava fatos da realidade e os aplicava a
ensinamentos com o objetivo de instruir seus ouvintes.
Essa abordagem é essencial para a
compreensão das parábolas, especialmente no que concerne a Lucas, capítulo 16,
versículos 19 a 31. Independentemente de se tratar ou não de uma parábola, a
narrativa apresenta elementos factuais.
Aqueles que buscam desvirtuar o texto,
interpretando-o como uma fábula para justificar suas próprias crenças, como os
defensores do sono da alma ou os que negam a imortalidade e a vida após a
morte, tentam manipular o texto sagrado, principalmente esse trecho específico.
Eles buscam convencer outros de que Jesus utilizava fábulas sem nenhuma base na
realidade. Essa interpretação é equivocada. Ao defender tal visão, a pessoa
demonstra ter sido induzida ao erro. A narrativa apresenta fatos concretos.
Examinemos a vida do homem rico. Ele
permanece anônimo, pois o Senhor Jesus não menciona seu nome. Contudo, podemos
inferir que seu comportamento refletia a incredulidade e a impiedade. Ele não
nutria fé na vida após a morte, depositando sua confiança no deus Mamon.
Confiante em seus recursos e considerando suas riquezas como sua divindade,
vivia de forma opulenta e se sentia seguro. Descrente da existência de uma vida
pós-morte, possivelmente nem sequer a cogitava. Era, em suma, um materialista,
um reducionista. Acreditava que a vida se iniciava e terminava aqui, restando
apenas aproveitar o presente, findando-se com a morte e a extinção. No entanto,
ao findar sua existência terrena e abrir os olhos para uma nova realidade,
encontrou-se perdido, em tormentos. Esse choque de realidade resultou em
profundo desespero.
Examinemos agora a vida de Lázaro com
maior atenção. Ele era um mendigo, um indivíduo em necessidade. Sua vida era
marcada pela pobreza, mas, apesar disso, residia nele uma riqueza singular: a
riqueza da fé. É imperativo interpretar a narrativa da vida de Lázaro à luz dos
ensinamentos de Jesus, que relatou esta história. Jesus ensinou de maneira
clara que a salvação é alcançável através da fé nele. Portanto, o destino de
Lázaro foi, naturalmente, consequência de sua fé e confiança, especificamente,
sua confiança em Jesus Cristo. Essa fé o conduziu ao paraíso, onde encontrou
segurança. Embora não seja o propósito desta análise, é importante reconhecer a
natureza transitória desse local. O foco principal reside na salvação de
Lázaro, que evidencia o contraste entre sua vida e a vida do rico. Esta
narrativa, portanto, demonstra a existência da vida após a morte, com a
possibilidade de condenação eterna e salvação eterna. Consequentemente, a fé em
Jesus Cristo é o fator determinante do destino de nossa alma.
Analisemos novamente a situação do rico. Ele,
ciente de sua condição, percebeu tardiamente a verdade. A vida não se encerra
com a morte. Ele permanece consciente, aprisionado em um lugar de sofrimento e
grande tormento. Observamos em seu desespero a percepção de sua condição atual,
a qual o leva a recordar a vida terrena, com sua família, que agora se encontra
distante. Subitamente, a morte o alcançou, lançando-o em uma situação difícil,
irreversível. Essa é a condição desse homem. Concluímos, assim, que muitos, ao
partirem desta vida, enfrentarão circunstâncias semelhantes, marcadas por um
profundo desespero.
Em meio à intensa angústia e desespero, agravada pela consciência de seu
sofrimento e pela lembrança de seus irmãos ainda vivos na terra, destinados à
mesma condição, o rico vislumbra ao longe Abraão, o pai na fé dos cristãos. A figura
de Abraão, amplamente mencionada por Paulo na Epístola aos Gálatas como modelo
de fé, a quem o Evangelho foi pregado e a quem a fé foi creditada como justiça,
surge como uma possível esperança.
Considerando a santidade e a
proeminência de Abraão no Antigo Testamento, ele se apresenta como o potencial
representante, intercessor e mediador entre os vivos e os mortos. É a Abraão
que o rico se volta em busca de auxílio, na esperança de encontrar uma solução,
mesmo que não para si, mas ao menos para seus irmãos. Nesse estado de
sofrimento, o rico deposita sua confiança em Abraão, o grande patriarca,
buscando em sua intercessão uma saída para a situação de seus entes queridos.
Observamos, portanto, que o homem rico, em desespero e consciente de sua
condição no pós-vida, faz um apelo. Persistindo em seus equívocos, tal qual
quando em vida, ele permanece com uma compreensão errônea das questões
espirituais. Ciente dessa situação, ele dirige seu apelo a Abraão, confiando em
sua posição. Ele reconhece a importância de Abraão no contexto judaico, ciente
de sua relevância no Antigo Testamento. Em sua súplica, ele acredita que Abraão
poderia intervir e mediar em favor de seus irmãos na Terra, buscando amenizar
sua situação.
Diante de nós, vemos um homem em erro. Ele dirige suas súplicas e rogos à pessoa equivocada. De modo semelhante, hoje, muitas pessoas, no curso de suas vidas, em relação às questões da vida após a morte, dirigem suas preces a indivíduos inadequados. Não nos diz a palavra de Deus, em 1ª Timóteo, capítulo 2 e capítulo 5, que há um só mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, homem? Como podemos confiar nossa alma, nosso destino eterno, a outros seres humanos, como fez aquele homem? Intercedendo e clamando à pessoa errada, entregando os cuidados das almas de seus irmãos a indivíduos inadequados. Abraão nada pôde fazer por eles, assim como hoje também não o pode. Nem Maria, nem Pedro, nem João, nenhuma pessoa que tenha falecido pode fazer algo por nós. A parábola do rico e Lázaro desmascara essa heresia, essa confiança em pessoas equivocadas, um erro tão grande quanto o do homem rico no Hades. Ele, do abismo do inferno, clama a Abraão, pedindo que socorra seus irmãos, que corriam o risco de ter o mesmo destino que ele. Essa é a questão que deve ser considerada, pois essa parábola ensina isso, e pessoas que se dizem cristãs jamais podem ignorar esse ensinamento tão precioso e sério de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
É evidente que a narrativa bíblica apresenta um caso de equívoco: o homem rico, em sua condição desfavorável, buscou auxílio na pessoa errada. Similarmente, muitos indivíduos contemporâneos, em busca de soluções espirituais, direcionam-se a fontes inadequadas, sem respaldo nas Escrituras.
Não há, nos ensinamentos dos apóstolos,
qualquer indicação de que devamos recorrer a figuras como Maria, Pedro, João ou
Tiago, mesmo que tenham sido santos e homens piedosos, já alcançando a
salvação. A Bíblia não instrui a apelar a eles em busca de ajuda para questões
espirituais, especialmente no que concerne à vida eterna e ao destino final.
A parábola do rico e Lázaro demonstra claramente essa falha. O erro do rico,
evidenciado em sua atitude, serve como alerta para que ninguém, hoje, tente
buscar auxílio em figuras do Antigo ou Novo Testamento para resolver seus
problemas espirituais ou deposite neles a esperança para a vida eterna. A
salvação é exclusivamente por meio de Cristo, por sua mediação e pelo
sacrifício que ele fez por nós.
O Novo Testamento e a voz do Espírito Santo afirmam essa verdade. Caso essa mensagem não seja recebida e compreendida, o destino poderá ser semelhante ao do homem rico, que, mesmo após a morte, em vez de confiar em um Salvador, confiou em um ser humano. Atualmente, muitos depositam sua fé em fontes equivocadas, correndo o risco de uma grande decepção na vida após a morte.
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