A FÉ BÍBLICA É UMA FÉ INABALÁVEL


 



 

C. J. Jacinto

 

 

Um dos trechos mais relevantes sobre a fé encontra-se em Hebreus, capítulo 11, especificamente nos versículos 1 a 3, onde lemos: "Ora, a fé é a certeza daquilo que se espera, a convicção daquilo que não se vê. Pela fé, os antigos obtiveram bom testemunho. Pela fé, percebemos que o universo foi formado pela palavra de Deus, de modo que o visível não foi feito do que é aparente." Este é um tema de grande importância, embora frequentemente mal interpretado. A compreensão do seu significado, tanto no contexto bíblico quanto em sua acepção original, nem sempre é clara. O propósito deste breve artigo é oferecer algumas reflexões sobre o assunto, motivado pelo desejo de edificar os cristãos e aprofundar sua compreensão da fé conforme revelada nas Escrituras. Que esta leitura possa ser uma fonte de bênçãos.

“É função da fé crer no que não vemos, e a recompensa da fé será ver o que cremos.”(Thomas Adams)

 O capítulo 11 da epístola aos Hebreus apresenta uma galeria de figuras notáveis pela sua fé, homens que enfrentaram inúmeras dificuldades e, apesar disso, permaneceram perseverantes, sem se deixarem abalar pelas provações a que foram submetidos. A consequência inerente a uma fé genuína reside na formação de um cristão inabalável, alicerçado em fundamentos sólidos e reais. As estruturas de sua crença, firmemente estabelecidas, resistem às adversidades, mantendo-se intactas e resilientes diante de crises ou provações. É fundamental compreender que a palavra "fé", em hebraico, possui uma conotação pragmática e, a meu ver, impactante, devido à sua significação no contexto do pensamento hebraico. Podemos observar claramente. A fé constitui o fundamento da justificação do cristão. No livro de Hebreus, conforme mencionado, o autor aborda a fé, afirmando que é impossível agradar a Deus sem ela. No contexto hebraico, frequentemente, o significado da fé é negligenciado, confundindo-a com crença. Como exemplo, na epístola de Tiago, a Escritura declara que os demônios creem, mas não possuem fé. A fé, no sentido bíblico, distingue-se da crença; crer em Deus é diferente de ter fé em Deus. É essencial discernir essa diferença para uma compreensão mais profunda.

A fé se mostra genuína quando é concretizada por meio de nossas ações. (Thomas Schereiner)

 No idioma hebraico, a palavra traduzida como "fé" possui um significado profundo e pessoal. Considero-o impactante, transcendendo a compreensão usual do termo. Em hebraico, essa palavra é "emunah", que se traduz como firmeza inabalável, confiança profunda ou, ainda, confiança fundamentada em uma experiência íntima com Deus. É uma confiança relacional, resultante da intimidade com o Senhor, acompanhada de um complemento prático.

 Portanto, a fé, no sentido bíblico, não deve ser confundida com crença. A crença pode prescindir de ação, enquanto a fé, segundo a Bíblia, exige ação. Há, portanto, uma diferença significativa de significado. A crença pode ser subjetiva, mas a fé é objetiva. Essa é a essência do conceito bíblico de fé, conforme podemos compreender através da perspectiva hebraica.
 Com base nos argumentos apresentados, reafirmo que a fé, conforme a perspectiva bíblica, não é uma atitude passiva. Contrariamente, a fé, tal como descrita nas Escrituras e na tradição hebraica, é inerentemente ativa.  Dessa forma, compreendemos, à luz do conceito de fé exposto em Hebreus, capítulo 11, que a fé genuína é transformadora, resultando em consequências significativas. A fé nos conduz a uma experiência profunda com Deus, fortalecendo nossas convicções e, por conseguinte, nos tornando resilientes diante das adversidades, uma vez que estas convicções derivam de realidades espirituais que satisfazem as anseios e expectativas do nosso coração.

“A fé está assentada no entendimento, assim como na vontade. Ela tem um olho para ver Cristo, assim como uma asa para voar até Cristo.” (Thomas Watson)

 Com base no ensinamento bíblico contido no Sermão da Montanha, Jesus aborda a questão do homem prudente, aquele que constrói sua casa sobre a rocha. Encontramos essa narrativa no capítulo 7 do livro de Mateus. Ao analisar o relato de Lucas, que também registra os ensinamentos de Jesus sobre o homem prudente, notamos que a construção sobre a rocha é precedida pela ação de cavar fundo. (Lucas 6:45 a 47) Nesse contexto, a fé inabalável é comparada a uma estrutura edificada sobre a rocha, mas que exige ir além da superfície.

 O princípio espiritual subjacente é claro: a fé verdadeira não se contenta com o superficial. A ação de cavar fundo, conforme descrito por Lucas, simboliza a busca por uma compreensão mais profunda, que transcende a superficialidade e estabelece um contato direto com a rocha. Portanto, todo aquele que genuinamente possui fé em Cristo estabelece uma relação íntima e profunda com Ele, tocando na rocha eterna, e assim, solidificando sua fé de forma inabalável. Consideremos agora a aplicação prática. Apresentarei exemplos das Escrituras, tanto do Antigo quanto do Novo Testamento, que demonstram como um indivíduo de fé genuína, caracterizado pelos princípios descritos em Hebreus 11, possui uma fé inabalável. Essa é a essência da fé cristã verdadeira. Ela difere da mera crença, que se limita ao consentimento intelectual. A fé, por outro lado, transcende a crença e se manifesta na vida espiritual, transformando o indivíduo de acordo com seus princípios. Apresentarei alguns exemplos específicos, extraídos das Escrituras, para ilustrar a natureza da fé genuína. Acredito que estes exemplos, embora concisos, serão suficientes para elucidar a compreensão da verdadeira fé conforme ensinada nas Escrituras.

Iniciaremos, portanto, uma breve análise da trajetória de José, o Egípcio (Leia Genesis 37 a 50). Consideremos sua vida, marcada por traições, rejeições e injustas acusações. Ele suportou a punição por um crime que não cometeu e enfrentou severas provações. Apesar de tudo, sua fé permaneceu inabalável, confiante na promessa divina. Sua vida, diante das adversidades, demonstra uma firmeza exemplar. Poderíamos, assim, descrever a fé de José como inabalável, pois ele logrou êxito em superar todas as provações, aflições e tribulações, mantendo-se firme mesmo diante de evidências contrárias às suas convicções. Ele transcendeu as crises e, por fim, triunfou em um sentido espiritual, mantendo-se fiel às promessas divinas, confiando em um Deus justo, soberano e verdadeiro. Essa fé o conduziu à vitória, culminando na experiência notável de ascender da condição de escravo, vendido por seus irmãos, ao trono, exercendo domínio sobre diversos povos.



Da mesma forma, podemos considerar a história de Jó. (Leia Jó 1 a 3) Jó era um homem que temia a Deus, íntegro e que se afastava do mal. Apesar disso, ele enfrentou um período de grande aflição. A profundidade de seu sofrimento é indescritível. Contudo, perante tais circunstâncias, ele não abandonou sua fé. Quando sua esposa, sua pessoa mais próxima, o incitou a amaldiçoar a Deus e morrer, ele simplesmente se ajoelhou e adorou a Deus.

 Dentre as figuras bíblicas, destaca-se Daniel, que, ameaçado de ser lançado na cova dos leões, manteve sua fé inabalável, preferindo a morte à negação de sua crença (Leia Daniel 6:1 a 28) O Senhor, contudo, interveio, livrando-o da boca dos leões. De igual modo, os três companheiros de Daniel recusaram-se a curvar-se diante da estátua erigida no campo de Dura, em adoração a Nabucodonosor.(Daniel 3:1 a 30) Apesar da ameaça de serem lançados em uma fornalha ardente, permaneceram firmes em sua fé, recusando-se a negar o Senhor. Esses exemplos ilustram a verdadeira fé, demonstrada pela disposição de enfrentar a morte. Os três amigos, lançados vivos na fornalha, escolheram a prova de sua fé, preferindo a provação à desobediência. Apesar de terem sido libertados milagrosamente, demonstraram estar preparados para o martírio.

Podemos notar também o ministério do profeta Jeremias (38:1 a 13) Ele foi desprezado e perseguido, mas, apesar das aflições e tribulações, permaneceu anunciando sua mensagem. Mesmo após ser lançado em um poço, manteve-se firme, convicto de que sua mensagem era a verdadeira, dada por Deus para advertir o povo sobre a iminente queda de Jerusalém. Embora sua mensagem fosse desagradável, Jeremias demonstrou coragem e, apesar de todo sofrimento, foi resoluto em seu ministério profético, pois possuía uma fé inabalável, independente das circunstâncias, mantendo-se fiel a Deus.

Analisemos um exemplo do Novo Testamento. Considero-o instrutivo e valioso para a meditação nas Escrituras Sagradas, especialmente no que concerne aos princípios de uma fé inabalável. Refiro-me à experiência de Paulo e Silas na prisão.  

 Após serem açoitados e lançados num cárcere interior, tiveram seus pés presos a troncos. Essa situação, de grande sofrimento e pressão psicológica, era devastadora. Contudo, em Atos, capítulo 16, lemos que, apesar das circunstâncias adversas, eles entoavam cânticos ao Senhor.

“Aqueles que mergulham no mar das aflições (Com Cristo) trazem perolas (Espirituais) raras (E preciosas) para cima” (Charles Spurgeon – As palavras entre colchetes são acréscimos feitas pelo autor deste artigo)

Evidencia-se, assim, a fé inabalável de Paulo e Silas, resultado de um profundo conhecimento do Senhor. A fé que possuíam era prática, com confiança profunda, isenta de superficialidade. Não se tratava de uma crença rasa, mas de um cristianismo profundo, assim como a fé desses heróis da fé que aqui mencionamos. Era uma fé firme e resoluta, que não dependia das circunstâncias, mas estava alicerçada em fundamentos eternos: as promessas de Deus e um relacionamento íntimo com Ele.

 Considero que os exemplos apresentados são suficientes. A epístola aos Hebreus, escrita no contexto da Igreja do Novo Testamento, que enfrentava severas perseguições tanto por judeus quanto pelo Império Romano, demonstra a importância do ensino da perseverança dos crentes, mesmo diante do martírio. Essa fé, baseada em realidades espirituais, pode nos conduzir a experiências profundas com Deus, permitindo-nos permanecer firmes e convictos, mesmo em meio a adversidades. Nossa estabilidade reside em Cristo, que é a nossa base. Acreditamos na fé que foi entregue aos santos, uma fé bíblica e verdadeira, pela qual cremos em Cristo como nosso Senhor e Salvador, cientes de que enfrentaremos perseguições e aflições neste mundo. Contudo, perseveraremos, conforme Paulo expressou em sua carta aos Filipenses: "Porque, para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro."

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