O ESPÍRITO DO ERRO E OS ÚLTIMOS DIAS




C. J. Jacinto

 

Em Mateus, capítulo 22, versículo 42, o Senhor Jesus dirige uma indagação aos seus apóstolos. Essa pergunta representa um marco decisivo, de substancial relevância não apenas para a Sua época, mas também para a contemporaneidade. De fato, a figura de Cristo, independentemente de filiação ou perspectiva, tornou-se inegavelmente um ponto de grande controvérsia, tanto no hemisfério ocidental quanto no oriental, abrangendo tanto o universo da fé cristã quanto esferas externas a ela.
 Jesus formula essa questão fundamental que, como já mencionado, é intrinsecamente capaz de definir e determinar o destino de cada indivíduo, conforme a resposta que lhe for atribuída. É uma pergunta de profunda pertinência, cujo eco ressoa através dos séculos. Por essa razão, o Espírito Santo assegurou seu registro nos evangelhos, por intermédio dos evangelistas, pois sua resposta, em certa medida, molda o nosso destino.
 A referida indagação é encontrada em Mateus, capítulo 22, versículo 42, onde Jesus pronuncia: "Que pensais vós de Cristo?". Trata-se de uma questão de singular pertinência para a contemporaneidade, tal como o foi na era de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Isso se deve ao fato de que, no capítulo 16, observamos diversas pessoas nutrindo um conceito equivocado acerca da identidade de Jesus. Alguns afirmavam que o Filho do Homem era João Batista Redivivo; outros, Elias; e ainda outros, Jeremias ou um dos profetas. Embora tal identidade conferisse a Cristo certa respeitabilidade e dignidade, todavia, Sua grandeza é incomensurável. As Escrituras Sagradas comprovam, de forma irrefutável, que Ele vai muito além da figura de um profeta, de um sacerdote ou de um Rabi. Ele é, indubitavelmente, o Filho de Deus.

 De modo análogo, emerge uma segunda indagação, de idêntica relevância, a ser proferida por um indivíduo desprovido de fé e piedade.   No confronto com o Senhor, durante o julgamento que culminaria na condenação de Jesus à cruz, Pilatos eleva sua voz para abordar o fulcro de uma questão essencial. Esta, longe de ser meramente filosófica, revela-se, no contexto neotestamentário, uma indagação de natureza intrinsecamente espiritual. Em João 18:38, é enunciada essa portentosa pergunta, cuja profundidade se equipara àquela registrada em Mateus 22:42. Assim, Pilatos se volta para Cristo e formula a questão: O que é a verdade?
 Dessa forma, duas perguntas são formuladas e, embora em contextos distintos, estão intrinsecamente conectadas por uma essência, por um fundamento que se manifesta em todas as escrituras. Visto que o próprio Jesus, em João 14:6, declara ser a verdade ao proferir: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida". Desse modo, a resposta que se revelava a Pilatos — e, por extensão, a solução para nossas indagações existenciais, o sentido da vida e de todas as coisas — encontra-se plenamente em Cristo Jesus. Ele é, de fato, a resposta, transcendendo a mera concepção filosófica. Filósofos, a exemplo dos gregos, apenas tatearam a verdade.

 Como Paulo elucida em Atos dos Apóstolos, embora eles buscassem a Deus, essa procura era intrinsecamente deficiente, e tal deficiência sempre persistirá. A plena revelação da verdade, por sua vez, manifesta-se unicamente através de sua pregação, fato este elucidado em Romanos 10:8-10.
 Na contemporaneidade, observa-se a tentativa de estabelecer uma distinção entre o Cristo da História e o Cristo da Fé. Essa abordagem sugere, com um viés reducionista, que a relevância do Cristo histórico é nula, contanto que subsista a crença em um Cristo da Fé. Em outras palavras, tal postura visa a despojar a figura de Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador, de sua substância existencial, reduzindo-o a uma mera figura metafórica, cujo escopo se restringe ao Novo Testamento. Sua importância, assim, seria exclusivamente teológica, desprovida de ancoragem no domínio factual ou histórico.

 Essa desconsideração do cristianismo histórico manifesta-se de maneira insidiosa e velada, como se a questão do Jesus histórico – um homem que, de fato, viveu em nosso meio e cuja existência se deu em um contexto temporal, espacial e histórico concreto – fosse de somenos importância. A negação dessa realidade compromete a estrutura essencial e subverte os fundamentos da mensagem evangélica. Constitui-se, portanto, em uma doutrina equivocada e espúria, cuja manifestação remonta aos primórdios da era apostólica. Tal equívoco era impulsionado por uma força que insuflava falsos profetas e doutores a proclamar um Cristo desvinculado de qualquer dimensão histórica, espacial, temporal ou material.
 Nos primeiros séculos da era cristã, durante o período de atuação dos apóstolos Paulo e João, emergiu um movimento controverso. Este movimento, impulsionado por uma influência espiritual considerada errônea, já operava no seio da comunidade apostólica. Uma de suas principais características era o questionamento da cristologia, especificamente a negação da encarnação do Verbo. Essa corrente de pensamento, presente por muitos anos na Igreja Primitiva, teve diversos representantes, cada um defendendo suas próprias interpretações e desvios doutrinários, conforme evidenciado pelo registro histórico.
 O movimento gnóstico, também conhecido como gnosticismo, possuía características específicas. É possível identificá-las em quatro pontos principais: primeiramente, negava a autoridade do Antigo Testamento como escritura divina; em segundo lugar, rejeitava o Deus descrito no Antigo Testamento, atribuindo-lhe um caráter maléfico, comparável a um demiurgo; em terceiro, contestava a historicidade da encarnação do Verbo, considerando que a divindade não poderia assumir uma forma humana; por fim, o gnosticismo manifestava-se em dois extremos: um mundanismo permissivo, que defendia a irrelevância do corpo e a necessidade de destruição da matéria, justificando a prática do pecado como meio de fazê-lo; e um ascetismo rigoroso, que promovia o isolamento do mundo e a prática de exercícios espirituais próprios, visando a alcançar objetivos religiosos individuais.

 Concluímos, portanto, que o movimento gnóstico visava apresentar uma nova doutrina, considerada falsa, que impedia, sobretudo, a encarnação do Filho de Deus. Na cosmovisão gnóstica, a possibilidade de Deus se manifestar em carne era completamente excluída. Dessa forma, havia uma negação integral de um Cristo que transcendia o espaço, o tempo e a matéria. Essa ideia era vista pelos gnósticos como algo praticamente impossível, uma impossibilidade intrínseca. Acreditavam em um Deus que, em sua visão, não possuía o poder ou a capacidade de transcender seu trono, de intervir neste mundo e se revelar aos homens. Ao longo dos séculos, o gnosticismo se ramificou em diversas vertentes. Em sua essência, o movimento se fundamenta em uma única premissa: a rejeição da divindade de Cristo e, consequentemente, da possibilidade de Deus se encarnar. Essa é a questão central que define a natureza do erro gnóstico. Atualmente, observa-se uma tentativa de separar o Cristo histórico do Cristo da fé, baseada em supostas inconsistências históricas, que, na realidade, não se sustentam. Os que negam a fé recorrem a diversas estratégias e desonestidades para refutar a historicidade de Cristo. É importante notar que religiões como o Islã também negam a encarnação do Verbo. A negação da encarnação questiona a veracidade do Espírito Santo, que inspirou os autores do Novo Testamento, os quais afirmam a encarnação do Verbo. Essa afirmação é evidente não apenas nos escritos do apóstolo João, mas também na Epístola aos Hebreus. Portanto, a negação da encarnação do Verbo ataca o cerne do Evangelho, destruindo sua mensagem central.

 No contexto da doutrina da encarnação, o objetivo foi que Cristo assumisse a natureza humana, a fim de se tornar o substituto penal, oferecendo uma expiação vicária. Dessa forma, encontramos um fundamento essencial e inegociável: a obra consumada e perfeita que Jesus Cristo realizou na cruz do Calvário. Ali, Ele Se ofereceu como sacrifício, através do qual Deus, em Sua ira contra o pecado, condenou o pecador em Cristo. A cruz, portanto, constitui-se como um tribunal onde a sentença de muitos pecadores foi executada, quando a ira divina recaiu sobre o Senhor Jesus. Ao assumir os nossos pecados, Ele suportou a nossa condenação, a fim de proporcionar a salvação através do Seu próprio sangue, do Seu corpo, como propiciação e sacrifício aceitável a Deus. Esta é a ideia central do Novo Testamento. O espírito do erro, contudo, continua a atuar no mundo, procurando negar essas verdades fundamentais.
 A compreensão de que a origem do erro reside em Satanás, o pai da mentira, a antiga serpente e o diabo, é corroborada pela doutrina da encarnação do Verbo. A encarnação do Verbo, seu ministério e sua morte na cruz do Calvário, culminando em um triunfo definitivo sobre o império das trevas, constitui um ensinamento central e inquestionável das Escrituras. Negar a encarnação do Verbo equivale a negar a vitória de Cristo sobre principados, potestades e o pai da mentira.



Essa doutrina é fundamental, como atesta Hebreus 2:14: "Visto, pois, que os filhos têm participação comum na carne e no sangue, também ele (Cristo) participou das mesmas coisas, para que, por sua morte, destruísse aquele que tem o poder da morte, a saber, o diabo." Consequentemente, a rejeição da doutrina da encarnação do Verbo é, em essência, uma tentativa de negar o triunfo de Cristo sobre as forças espirituais do mal, conforme descrito em Colossenses 2:15. O diabo e o espírito do erro buscam impedir que os pecadores compreendam que a cruz representou não apenas a derrota do pecado e da morte, mas também a aniquilação do império do diabo, como evidenciado em Hebreus 2:14.
 Negar a encarnação do Verbo Divino equivale, em essência, a negar o próprio amor de Deus, pois foi por amor que Deus enviou Seu Filho unigênito para morrer pelos nossos pecados. Mediante esse ato da encarnação, Deus propiciou nossa redenção eterna, alcançada, contudo, por meio do sacrifício de sangue, o sangue de Cristo. Atesta-se em Atos dos Apóstolos, capítulo 20, versículo 28, que a Igreja do Senhor foi adquirida por sangue divino, um sangue literal, puro, perfeito e imaculado, derramado por Cristo na cruz do Calvário. Desta forma, a negação da encarnação, que constitui o cerne da história e encontra seu ponto focal na cruz, implica na negação do amor, da redenção, do Antigo e do Novo Testamento, da revelação divina e da providência divina concernente à salvação dos pecadores destinados à perdição eterna.
 Relembremos Mateus, capítulo 16, versículos 13 a 16, onde Jesus questiona seus apóstolos sobre a identidade do Filho do Homem. Jesus pergunta: "Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?". As respostas apresentadas foram diversas, mas todas se mostraram imprecisas. Alguns identificavam-no como João Batista, outros como Elias, Jeremias ou outro profeta. Percebe-se que a imagem de Jesus era a de um profeta notável, um sábio proeminente da antiguidade, alguém com uma posição de destaque espiritual ou religioso, semelhante à forma como algumas religiões, como o Islamismo, o apresentam. Essa perspectiva, na qual Jesus é visto apenas como um grande profeta, foi considerada equivocada por Ele.

Diante disso, Pedro respondeu: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo". Essa confissão de fé é de suma importância e determina nosso destino. Nossa vida se transforma a partir do momento em que professamos a crença de que Jesus Cristo veio em carne. Ao chegarmos à primeira epístola universal do apóstolo João, capítulo 4, versículo 6, encontramos a questão da prova dos espíritos: aqueles que são de Deus e aqueles que não o são. Os que são de Deus se caracterizam por confessarem que Jesus Cristo veio em carne. Portanto, nesta passagem, reside o fundamento para discernir a luz espiritual, distinguindo o espírito da verdade e o espírito do erro. É imprescindível considerar outro aspecto relevante: sem a encarnação do verbo, a ressurreição é impossível. Isso se aplica tanto à ressurreição de Cristo quanto à dos santos. Sem a ressurreição, a essência do cristianismo se esvai. Aquele que nega a ressurreição de Cristo, implicitamente, declara a falsidade de Deus e a inutilidade da mensagem da cruz. Sem a ressurreição, a glorificação de Cristo não se concretizaria. Sem a ressurreição, Cristo não retornaria à sua glória, em um corpo glorificado, e a nova aliança não seria inaugurada. A instituição de uma nova aliança é dependente do derramamento de sangue. Portanto, como observamos na Epístola aos Hebreus, o sangue de Jesus Cristo detém uma importância fundamental para o estabelecimento dessa nova aliança. Consequentemente, a morte e a ressurreição de Cristo desempenham um papel crucial na distinção entre a verdade e o erro. Desta forma, reitero a ideia central que tenho exposto: O que pensais, seguidores de Cristo?
 A questão fundamental, conforme estabelecida por Jesus Cristo em Mateus, capítulo 22, versículo 42, questiona a natureza de Cristo. Considera-se este ponto crucial para o espiritualismo e outras religiões, como o Islã. Todas as correntes religiosas que refutam a encarnação do Verbo, incluindo aqueles que, movidos pela descrença, empregam argumentos falaciosos para negar a divindade de Cristo, encontram-se sob a influência do espírito do erro. Esta é uma questão fundamental para nossa compreensão, pois o espírito do anticristo, em última análise, se manifestará plenamente através dessa negação. O gnosticismo e suas diversas ramificações buscam um Cristo, mas um Cristo desprovido de divindade, não o Verbo. Pretendem apresentar um profeta, um homem de grande influência na filosofia e na sabedoria, mas jamais um Deus encarnado. Para o espírito do anticristo, a encarnação de Deus é inaceitável. Observamos, de certa forma, que movimentos filosóficos como o ateísmo compartilham dessa mesma postura, defendendo a mesma tese. Nos tempos finais, o espírito do erro e o espírito do anticristo exercerão uma grande influência, buscando apresentar ao mundo um falso Cristo, que nega a plena divindade de Deus encarnado.
 Conforme encontramos nas epístolas universais do apóstolo João, essa inclinação definirá o período final. Ela se manifesta como uma característica proeminente, um ressurgimento do pensamento gnóstico que distorce a cristologia. Tal fenômeno prenuncia uma grande apostasia, que, por sua vez, seduzirá muitos. Que os cristãos verdadeiros e o remanescente fiel do Senhor estejam vigilantes a este sinal.

 

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