LIVRE EXAME DAS ESCRITURAS E A NOBREZA DOS CRISTÃOS BIBLICOS E ESPIRITUAIS


 



 

C. J. Jacinto

 

 

Em Atos 17:11 lemos a narrativa lucana do comportamento dos judeus de Beréia que após ouvirem a pregação de Paulo, foram verificar com diligencia e muito cuidado nas Escrituras Sagradas se o que Paulo pregou e ensinou estava de acordo com o que estava escrito.  O Espírito Santo chamou os bereianos de nobres, pela excelência do comportamento em consultar com diligencia os escritos inspirados do Antigo Testamento para ficarem seguros de que o apostolo Paulo não era um falso doutor, que conduta magnífica, aqui temos um exemplo claro acerca do livre exame das Escrituras, e a Palavra de Deus chama de atitude nobre, pois buscar no livro sagrado, verdades absolutas é um caminho seguro para não sermos enganados por falsos profetas e enganadores. Notemos as coisas com mais profundidade; Os judeus, ao receberem a mensagem de Paulo, consultaram as Escrituras do Antigo Testamento e as examinaram detidamente para verificar se sua pregação estava em conformidade com a autoridade textual estabelecida. É crucial notar que eles não buscaram validação na tradição oral, nem se dirigiram à liderança judaica ou aos rabinos para tal averiguação. Pelo contrário, tomaram as próprias Escrituras como critério único, conferindo se o que Paulo expunha naquele momento se alinhava com o que já havia sido revelado e estabelecido no Antigo Testamento. Essa diligência, ademais, proporciona-nos uma compreensão mais profunda da postura que um cristão deve manifestar em relação ao que lhe é transmitido, ao que lhe é doutrinado e ao que lhe é ensinado. Alguns indoutos e falsos mestres empenham-se em induzir os indivíduos a uma profunda desorientação acerca deste tema. Para tanto, referenciam passagens descontextualizadas, como 1 Pedro, capítulo 1, versículo 20, com o propósito de sustentar que as Escrituras Sagradas não admitem interpretação privada, dado que há uma única e legítima autoridade está privada a um sistema elitista de novos “escribas  e doutores da lei” que já estabeleceram e determinaram a “verdadeira” interpretação, sendo que o povo deve permanecer passivo, uma atitude “antibereiana”
 Constata-se que, no âmbito da discussão presente, podem emergir duas compreensões equivocadas. Uma delas reside na confusão entre a interpretação particular e o livre exame das Escrituras. Sob a premissa de que tais abordagens são idênticas, empregam-se sofismas e artifícios retóricos, visando persuadir os desinformados e aqueles desprovidos de discernimento crítico sobre a matéria.

Assim sendo, é crucial salientar que a interpretação particular é uma prática específica, a qual, conforme as Escrituras é verdadeiramente proscrita. Refere-se, em essência, à manipulação dos textos sagrados para fins de benefício pessoal ou para a concretização de interesses particulares. Tal entendimento é corroborado pela advertência de Pedro, expressa em sua segunda epístola, capítulo 1, versículo 20. É imperativo assinalar que, no âmago do ensino ministrado pelo Espírito Santo, aquele que, ao ouvir uma mensagem ou pregação, diligentemente recorre às Escrituras para discernir a conformidade do conteúdo com a voz divina, é designado como nobre. Esta é a característica distintiva de um cristão biblicamente fundamentado, que, por tal conduta, demonstra não ser suscetível à alienação. Somente indivíduos, notadamente líderes, que se opõem à escrutinação de suas pregações, mensagens e exortações, o fazem por receio de que a inautenticidade de suas declarações seja desvelada.
 O livre exame das Escrituras constitui a prerrogativa essencial de questionar e aferir ensinamentos à luz dos preceitos bíblicos. Indivíduos aos quais essa liberdade é negada permanecem em um estado de alienação. Quando uma entidade — seja uma instituição religiosa, um sistema doutrinário, um sacerdote ou um pastor — obstaculiza o livre exame, à semelhança do que fizeram os bereianos diante do apóstolo Paulo, revela-se um sistema que não liberta, mas sim escraviza. A proibição do escrutínio pessoal das Escrituras, que visa verificar a conformidade do que é pregado, ensinado ou exposto com a palavra divina, quando imposta por um líder ou um sistema religioso, demonstra ser um mecanismo manipulador, incapaz de apresentar ou defender a verdade. Essa é uma das principais marcas do sectarismo! 

 Percebe-se que a prática do exame das Escrituras é, de fato, recorrente entre os judeus. Jesus, em João 5:39, por exemplo, refere-se aos judeus que as examinavam com o propósito de encontrar a vida eterna. Ele então afirmou que as Escrituras testemunhavam a seu respeito. Esse livre exame permitia aos judeus daquela época evitar os equívocos provenientes de falsos profetas e doutrinas espúrias. Contudo, em Mateus 22:29, observa-se que aqueles que manejavam a Palavra de Deus com negligência, desprovidos do hábito diligente e acurado de discernir o ensino das Sagradas Escrituras, incidiam em equívocos. Jesus, por exemplo, advertiu que o erro dos saduceus residia no desconhecimento das Escrituras, visto que não acreditavam na ressurreição. Uma análise minuciosa do Antigo Testamento, de fato, atesta que a ressurreição — não apenas do Messias, mas da humanidade em geral — é exposta com notória clareza em passagens como Daniel 12:2.

 Assim, o erro deles advinha do desconhecimento. Similarmente, muitas pessoas, na atualidade, também incorrem em equívocos e são induzidas a equívocos por não cultivarem o hábito do livre exame das Escrituras mas a aceitarem passivamente o que lhes é ensinado. Resignam-se à palavra do sacerdote, do pastor ou do pregador, sem consultar as Escrituras para verificar a conformidade entre o que é ensinado ou pregado e o que está escrito. Porém a verificação diligente e cuidadosa dessa  prática é não apenas salutar, mas igualmente validada pelas Sagradas Escrituras. Os que se opõem a tal postura o fazem movidos pelo intento de manipular terceiros e pelo receio de que uma verdade seja plenamente desvelada. Atualmente, muitos líderes receiam que os cristãos, e sobretudo seus ouvintes, exerçam o livre exame das Escrituras, à semelhança dos bereianos. Tal apreensão advém do temor de que suas inverdades e equívocos sejam inequivocamente expostos. Em decorrência desse receio, promovem confusão, inclusive por meio de retóricas enganosas que sugerem a proibição bíblica do livre exame, contrariando a verdade de que as Escrituras jamais o coíbem. Pelo contrário, Deus exalta a nobreza de quem não se permite ser induzido por falsos doutores e profetas. Os bereianos exemplificaram essa nobreza, mesmo ao confrontar os ensinamentos de uma figura de grande envergadura espiritual e teológica como Paulo, cuja sabedoria, espiritualidade, profundidade, discernimento e entendimento, fruto de uma formação elevada, são patentes em suas cartas do Novo Testamento. Apesar de serem ouvintes assíduos do apóstolo Paulo, eles recorreram aos rolos sagrados para confirmar a conformidade de seus ensinamentos com o que já estava escrito. É imperativo reiterar que não se voltaram a tradições, ao sistema, a rabinos ou a quaisquer outros mestres; recorreram, sim, diretamente às Escrituras. Lamentavelmente, um grande número de pessoas é ludibriado por negligenciar o salutar hábito de consultar o Novo Testamento, a fim de verificar a consonância do que é pregado com os ensinamentos de Paulo, Pedro, Tiago e Jesus e outros.  No contexto de Atos 17:11, onde a palavra "nobre" é traduzida do grego "eugênes", que denota alguém de mente elevada, conduta moral exemplar e caráter nobre, observamos a escolha cuidadosa do Espírito Santo. Essa palavra sublime foi aplicada àqueles que, após ouvirem uma pregação ou ensinamento, dedicavam-se a examinar as Escrituras, verificando se o que lhes era apresentado estava em conformidade com o que nelas se encontrava escrito.  Em 2 Timóteo 3:16, a Escritura é descrita como divinamente inspirada e útil para correção. A Palavra de Deus, portanto, corrige o ensino incorreto. Diante disso, a consulta a toda a Escritura, que é divinamente inspirada, torna-se essencial, pois ela é proveitosa para a correção. Somente assim podemos obter proteção. O Salmo 91:4 declara que a verdade do Senhor, ou seja, a Palavra de Deus, é escudo e broquel, protegendo-nos do falso ensino. Consequentemente, a atitude de um cristão verdadeiramente bíblico é avaliar e examinar o que lhe é pregado e ensinado, a fim de verificar sua consonância com as Escrituras.
 Atualmente, observa-se um considerável número de indivíduos que adotam uma religião, muitas vezes manifestando uma participação religiosa passiva, baseada na crença e confiança em figuras humanas. Contudo, a Bíblia adverte contra a confiança irrestrita nos homens. Em contrapartida, a fé cristã, em sua essência, não promove a passividade, mas sim o exercício discernimento e isso se alcança estudando, pesquisando e conferindo as Escrituras.  Em 1 João, capítulo 4, versículo 1, lemos: "Amados, não creiam em qualquer espírito, mas examinem os espíritos para ver se eles procedem de Deus". A Bíblia não preconiza uma aceitação passiva e acrítica. Ao contrário, incentiva a análise e a verificação. Interpretar as Escrituras com autonomia, buscando entendimento, não constitui pecado nem representa uma interpretação particular que invalide a palavra de Deus. Aqueles que deturpam essa compreensão e induzem à crença cega, sem a devida análise, agem como falsos profetas e mestres. Homens de fé genuína, comprometidos com a verdade, apresentarão o ensinamento bíblico e estimularão a consulta às Escrituras, pois o exame delas é um conselho divino. Toda a Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para o ensino e a correção. Portanto, devemos, como os nobres, adotar uma postura de discernimento, evitando sermos enganados por aqueles que se opõem à análise bíblica. Aquele que nos afasta da consulta e do exame das Escrituras, como fizeram os bereanos, com certeza nos conduz ao erro. Essa atitude contraria o ensinamento de Mateus 15:14: "Deixem-nos; são guias cegos. Se um cego guiar outro cego, ambos cairão numa cova". Em Colossenses 2:4, Paulo adverte: "Ninguém vos engane com palavras persuasivas." De maneira semelhante, desejo alertá-los para que não se deixem iludir por aqueles que vos dissuadem de examinar as Escrituras. Aqueles que assim ensinam buscam, em última análise, obscurecer a verdade, contrariando a vontade e os ensinamentos divinos. Eles se opõem à palavra de Deus e tentam vos afastar da nobre busca pelo conhecimento. Contudo, a Bíblia deve ser estudada diariamente, especialmente nestes tempos finais, pois falsos profetas se levantarão. Aquele que vos afasta do conhecimento da palavra de Deus não permanece na verdade, mas se move no espírito do erro.

0 comentários:

Postar um comentário