John
Wesley
Pregado em Savannah (USA)
20 de Fevereiro de 1736
'E ainda que distribuísse
toda minha fortuna, para o sustento dos pobres; ainda que entregasse o meu
corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria'. (I Cor. 13:3)
(1) Existe uma grande razão para temer o
que irá, de agora em diante, ser dito da maioria dos que estão presentes aqui;
já que essa Escritura, tanto quanto todas aquelas que vocês ouviram antes, não
teve proveito algum para vocês. Alguns, talvez, não foram sérios o suficiente
para atenderem a ela; alguns que a atenderam, não acreditaram nela; alguns que
acreditaram, pensaram que seria difícil praticarem-na, e então, ela foi
esquecida, tão logo puderam; e, daqueles poucos que a receberam alegremente,
por um tempo, alguns não tendo raiz de humildade e auto-abnegação, quando
perseguidos, levantaram-se, por causa da palavra, e preferivelmente, a
sustentarem-na, definharam. Mais ainda: mesmo os que atenderam a ela; os que
acreditaram e os que se lembraram, receberam-na, tão profundamente, em seus
corações, que ela criou raízes, tanto quanto suportou o calor da tentação, e
começou a produzir os frutos; ainda que não todos os frutos da perfeição. As
inquietações e prazeres do mundo, e o desejo de outras coisas, (talvez, não
tivessem caído, até então) cresceu com a palavra e a sufocou.
(2) Nem eu, que prego a Palavra de Deus, estou mais seguro desses
perigos do que vocês que a ouvem. Eu, também, tenho de lamentar 'um coração
mau da descrença'. E, quando quer que Deus permita que a perseguição se
erga; ela seja apenas um relance de reprovação, eu sou o primeiro a ser
afligido. Ou, se eu estou capacitado para apoiá-la, ainda assim, ele largaria
as inquietações do mundo sobre mim, e o desejo de outras coisas
(preferivelmente, a conhecê-lo e amá-lo), e eu certamente seria subjugado, e,
tendo pregado para outros, eu mesmo seria um indivíduo abjeto.
(3) Por que, então, eu prego essa Palavra, afinal? Porque um
desígnio do Evangelho foi confiado a mim; e, o que quer que eu venha a fazer
amanhã, eu não sei; mas, hoje, eu irei
pregar o Evangelho. E, com respeito a você, minha incumbência é: "Filho
do homem, eu o enviei a eles; e você deve dizer-lhes: 'Assim diz o Senhor teu
Deus...'; quer ouçam, quer evitem ouvir".
(4) Assim diz o Senhor Deus: 'Não importa quem
tu sejas, deves guardar os mandamentos'. (com esse objetivo, 'acredita
no Senhor Jesus Cristo, e serás salvo'). Não desiste de te reunir, em
conseqüência da maneira como alguns são'. Em segredo, igualmente, 'ora ao
teu Pai que vê no oculto', e 'derrama teu coração diante dele'. Faça
de minha palavra 'uma lanterna para teus pés, e a luz para teus caminhos'.
Mantém isto, 'em teu coração, e em tua boca; quando tu te sentares em tua
casa; quando tu caminhares; quando tu te deitares, e quando tu te levantares.
'Volta para mim, com jejum', também em oração; e, em obediência ao teu
Redentor, comendo daquele pão e bebendo daquela taça; 'anuncie a morte do
Senhor, até que ele venha'. Pelo poder que tens recebido do alto, por esses
meios, faze todas as coisas que estão prescritas na Lei, e evita todas as
coisas que são proibidas nelas. Sabendo
que, se afligires, em algum ponto, serás culpado de todos os outros'. 'Não
te esqueças de fazer o bem, e distribuí-lo'; sim, enquanto tens tempo, faze
todo o bem que puderes a todos os homens, Então, 'nega-te, toma a tua cruz
diária'; e, se chamado para isto, 'resista
no sangue'. E, quando cada um de vocês puder dizer: 'Tudo isto eu tenho
feito', então, que ele diga a si mesmo,
além disso, (palavras das quais, não somente alguém como Felix se estremeça;
também a mais santa alma sobre a terra). 'Ainda que eu distribuísse toda
minha fortuna, para o sustento dos pobres; ainda que entregasse o meu corpo
para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria'.
Concerne
grandemente a todos nós sabermos:
I. O completo sentido daquelas palavras: 'Ainda que eu
distribuísse toda minha fortuna, para o sustento dos pobres; ainda que
entregasse o meu corpo para ser queimado';
II. O verdadeiro significado da palavra
amor;
III. Em que sentido ela pode ser dita, que 'sem amor, nada
disso me aproveitaria'.
I
A
respeito do primeiro: Deve-se observar que a palavra usada por Paulo significa
propriamente dividir em pequenos pedaços, e, então, distribuir o que foi assim
dividido; e, conseqüentemente, implica, não apenas, privar-nos, imediatamente
de todos os bens mundanos que desfrutamos, tanto de um ataque de desagrado para
com o mundo, quanto de um começo repentino de devoção, mas um ato de escolha, e
esta escolha calmamente e firmemente executada. Ela pode implicar, também, que
pode ser feita, não abrindo mão da vaidade, mas, partindo de um princípio
correto, ou seja, de um objetivo de executar a vontade de Deus, e um desejo de
obter Seu reino. Pode-se observar mais além que a palavra significa atualmente
entregar uma coisa de acordo com a concordância; e, concordantemente, isto
implica, como a palavra precedente, não uma ação precipitada e impensada, mas
uma constituída com olhos abertos, e um coração determinado, concorde com a
resolução tomada anteriormente. O sentido completo das palavras, entretanto, é
esse: que ele que tem olhos para ouvir, que ouça:
'Embora eu dê todas as provisões de minha casa, para
alimentar o pobre; embora eu aja assim, através de uma escolha madura e
deliberação; embora eu passe minha vida, distribuindo isto a ele, com minhas
próprias mãos, sim, e isto por um princípio de obediência; embora eu deva estar
sujeito, pelo mesmo ponto de vista, não apenas à reprovação e vergonha, não
apenas às algemas e prisão, e tudo isto,
através de minha própria ação e declaração continuada, não aceitando
livramento, mas, mais do que isto, entregando-me à morte, — sim, a morte
imposta, na maneira mais terrível para a natureza; ainda assim, apesar de tudo
isto, se eu não tivesse amor (o amor de Deus, e o amor a toda humanidade,
derramando0se por todo meu coração, através do Espírito Santo dado a mim'),
nada disso me aproveitaria'.
II
Vamos
inquirir o que esse amor significa — qual o verdadeiro significado desta
palavra: Nós podemos considerá-la, tanto em suas propriedades quanto em seus
efeitos: E não estaremos debaixo de possibilidade alguma de erro, se, afinal,
não buscarmos o julgamento de homens, formos até o próprio nosso Senhor para um
relato da natureza do amor; e os efeitos dele, ao seu Apóstolo inspirado.
O
amor, que nosso Senhor requer, em todos seus seguidores, é o amor de Deus e
homem — de Deus, por causa do homem; e do homem, por causa de Deus. Agora, o
que é amar a Deus, a não ser alegrar-se nele. Regozijar-se na sua vontade, e
desejar agradá-lo continuamente, para buscar e encontrar nossa felicidade nele,
e ansiar, dia e noite, por uma alegria
mais completa no Senhor?
Quanto
à medida desse amor, nosso Senhor nos tem falado claramente: 'você deve amar
o Senhor seu Deus com todo o seu coração'. Que você não deve amar ou se
deleitar em quem quer que seja, a não ser ele: Uma vez que ele nos tem
ordenado, não apenas para amarmos o nosso próximo, ou seja, todos os homens,
como a nós mesmos; — desejarmos e buscarmos a felicidade deles, tão
sinceramente e firmemente como a nossa própria , — mas também para amarmos
muitas das suas criaturas, no sentido mais estrito; deleitarmo-nos neles,
alegrarmo-nos com eles: Apenas, em tal maneira e medida, como nós sabemos e
sentimos; não para nos indispormos, mas para nos prepararmos para a alegria
Nele. Assim, então, nós poderemos dizer que amamos a Deus com todo nosso
coração.
Os
efeitos ou propriedades do amor, o Apóstolo descreve em um capítulo, diante de
nós. E todas essas sendo marcas infalíveis, por meio das quais, qualquer homem
pode julgar por si mesmo, se ele tem esse amor, ou não; marcas estas, que
merecem toda a nossa mais profunda consideração.
'O amor é paciente', ou é longânime. Se você ama seu próximo, por
causa de Deus, você irá suportar generosamente todas as suas fraquezas: se
falta a ele sabedoria, você deverá ser misericordioso, e não menosprezá-lo. Se
ele cair no erro, você irá suavemente esforçar-se para recuperá-lo, sem
qualquer indelicadeza ou reprovação: se ele for surpreendido em uma falta, você
irá trabalhar para recuperá-lo, no espírito de humildade: E, se, por acaso,
isto não puder ser feito logo, você deverá ser paciente com ele; e esperar que
Deus, possivelmente, o traga para o conhecimento e o amor da verdade. Em todas
as provocações, tanto da fraqueza, ou da malícia dos homens, você deve
mostrar-se como um padrão de gentileza e mansidão; e, sejam elas tão
freqüentemente repetidas, não seja dominado pelo mau, mas supere o mal com o
bem. Não permite que homem algum engane você com palavras vãs: Quem quer que não seja assim longânime, não
tem amor!
Novamente:
'O amor é gentil'. Quem quer que
sinta o amor de Deus e homem, derramando em seu coração, sente um desejo
ardente e ininterrupto de buscar a felicidade de seu próximo. Sua alma
derrete-se no desejo fervente que ele tem de continuamente promover isto; e
fora da abundância do coração, sua boca fala. Em sua língua está a lei da
delicadeza. A mesma delicadeza está impressa em todas as suas ações. A chama
continua espalhando-se, mais e mais, em todas as circunstâncias de boa-vontade
para com todos aqueles com que ele tem de conviver. De modo que, o que quer que
ele pense ou fale; ou o que quer que ele faça, tudo segue a mesma finalidade —
alcançar, de todas as maneiras possíveis, a felicidade de todas as criaturas.
Não engane, pois, a sua própria alma: Quem
quer que não seja assim gentil, não tem amor!
Mais
ainda: 'O amor não sente inveja'.
Isto, realmente, está implícito, quando é dito, 'O amor é gentil'. Já
que gentileza e inveja são inconsistentes: eles não podem habitar
conjuntamente; assim como a luz e a escuridão. Se nós desejamos sinceramente a
felicidade de todos, nós não podemos ficar afligidos pela felicidade de alguém.
O cumprimento de nosso desejo será como doce para nossas almas; muito longe de
sofrermos por causa disso. Se nós estamos sempre fazendo todo o bem que podemos
ao próximo, e desejando que pudéssemos fazer ainda mais, é impossível que
lamentemos qualquer bem que ele receba: De fato, isto será motivo de muita
alegria em nosso coração. Embora possamos adular a nós mesmos, ou uns aos
outros, quem quer que sinta inveja, não
tem amor!
Segue-se
que 'o amor não trata com leviandade';
ou melhor, não é impulsivo ou apressado no julgamento: Já que este é, de fato,
o verdadeiro significado da palavra. Quem ama seu próximo, pela causa de Deus,
não irá facilmente receber uma opinião doentia de alguém para quem ele deseja
todo bem, espiritual, ou temporal. E não poderá condená-lo, em seu coração, sem
evidência; ou, através de uma evidência fraca, ou, tampouco, por qualquer que
seja a evidência, sem, primeiro, se possível, tê-lo face a face, e deixá-lo
falar por si mesmo. Cada um de vocês sabe que não se pode agir, a não ser dessa
forma, com respeito a alguém a quem se ama ternamente. Porque aquele que não age assim, não tem amor!
Eu
mencionarei apenas mais uma das propriedades desse amor: 'O amor não se ensoberbece'. Você não
pode causar prejuízo a alguém que você ama: Por conseguinte, se você ama a Deus
com todo seu coração, você não pode assim ofendê-lo, como a despojá-lo de Sua
glória, tomando para si o que é devido a Ele somente. Se você possui tudo que
você tem, e tudo que você tem, é dele, então, você nada tem. Ele é sua luz e
sua vida; sua força e seu tudo; e você não é nada; sim, menos do que nada,
diante dele. E se você ama seu próximo, como a você mesmo, você não será capaz
de vangloriar-se diante dele. Mais ainda, você não será capaz de menosprezar
quem quer que seja, mais do que odiar a ele. (Ao contrário, você irá considerar
cada homem melhor do que si mesmo). Assim como a cera se derrete diante do
fogo; assim, o orgulho se derrete diante do amor.Toda arrogância, do coração, palavras,
ou comportamento, desaparece, onde o amor prevalece. Ele coloca abaixo o olhar
soberbo daquele que alardeia sua força, e o faz como uma criancinha; acanhado
de si mesmo, desejoso de ouvir, feliz por aprender, facilmente convencido,
facilmente persuadido. E quem quer que esteja assim inclinado, por outro lado,
que ele desista de toda esperança vã. Quem
quer que assim se ensoberbeça, não tem amor!
III
Resta
inquirir, em que sentido, pode ser dito que 'E ainda que distribuísse toda
minha fortuna, para o sustento dos pobres; ainda que entregasse o meu corpo
para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria'.
O
principal sentido das palavras é, sem dúvida, este: que o que quer que façamos,
e o que quer que soframos, se não formos renovados, no espírito de nossa mente,
pelo 'amor de Deus que se derrama em nossos corações, pelo Espírito Santo
que foi dado a nós', nós não
poderemos fazer jus à vida eterna. Ninguém o fará, a menos na virtude da
aliança que Deus nos tem dado junto ao homem, no Filho de seu amor.
Mas,
porque as verdades gerais estão menos aptas a nos afetarem, vamos considerar
uma ou duas particularidades: com respeito ao que todos nós podemos fazer ou
suportar, se nós não tivermos amor, nada disso terá proveito. Primeiro, que
tudo, sem amor, nada se aproveitaria, de maneira a fazer a vida feliz; nem, em
segundo lugar, para tornar a morte confortável.
(1) Em primeiro lugar: sem amor, nada poderia ser de proveito
para tornar nossas vidas felizes. Pela felicidade, eu quero dizer, não o prazer
débil e trêmulo, que talvez, comece e termine na mesma hora, mas tal estado de
bem-estar, que contenta a alma, e dá a ela uma firme e duradoura satisfação.
Mas que nada, sem amor, pode ser de proveito para nós, uma vez que nossa felicidade
presente irá aparecer dessa simples consideração: você não pode ter escassez
dele, em qualquer circunstancia simples, sem dor; e quanto mais você se afasta
dele, maior será a dor.
Você
tem carência de longanimidade? Então, quanto mais você se frustrar quanto a
isso, mais frustrado você estará quanto à felicidade. Quanto mais os
temperamentos opostos — raiva, mau
humor, vingança — prevalecerem, mais infeliz você será. Você sabe disso; você
sente isto; nem poderá a tempestade ser acalmada; ou a paz alguma vez retornar
à sua alma, a menos que a mansidão, gentileza, paciência, ou, em uma palavra, amor,
tomem posse dela. Algum homem encontra em si mesmo, má vontade, malícia,
inveja, ou qualquer outro temperamento oposto à delicadeza; então, a miséria lá
se encontra; e quanto mais forte esse temperamento for, mais miserável ele
será. Se disserem que o homem indolente pode comer sua própria carne, muito
mais o malicioso ou invejoso. Sua alma é
do mesmo tipo do inferno ; —cheia de tormento, tanto quanto de maldade. Ele já
tem o verme que nunca morre, e está se apressando para o fogo que nunca poderá
ser extinto. Apenas como o grande abismo não está fixado entre ele e o céu;
como já existe um Espírito pronto para ajudá-lo, em suas enfermidades; quem
ainda está desejoso, se ele estender suas mãos, em direção aos céus, e lamentar
sua ignorância e miséria, de purificar seu coração das afeições vis, de
renová-lo no amor de Deus, e, então, conduzi-lo, através da felicidade
presente, para a felicidade eterna.
(2) Em segundo lugar: sem amor, nada poderia tornar a morte
confortável.
Por
confortável, eu não quero significar estúpida, ou insensível. Eu não poderia
dizer que morreu, confortavelmente, aquele que morreu por apoplexia, ou por um
tiro de canhão, não mais do que aquele que, tendo sua consciência endurecida,
morreu tão indiferente, quanto os animais, do que aquelas bestas que perecem.
Nem eu acredito que você invejaria o conforto de alguém que morresse louco.
Mas, por uma morte confortável, eu quero dizer, uma passagem calma da vida,
cheia, até mesmo, da paz e alegria racionais. E tal morte, toda a ação e todo o
sofrimento, no mundo, não podem dar, sem amor.
Para
tornar isto ainda mais evidente, eu não posso apelar para sua própria
experiência; mas eu posso apelar, para aquilo que eu tenho visto, e para as
experiências de outros. E eu vi duas pessoas morrendo, no que podemos chamar de
uma maneira confortável; embora que não com o mesmo conforto; já que uma
tinha mais amor do que a outra. Apesar de todo sofrimento, uma delas deu graças
a Ele, por tudo, dizendo 'Todo o tempo será perdido, se não pensarmos no
céu. Meu amado Salvador dominou todos os inimigos. Ele está comigo, e eu nada
temo'.
Nelas
pudemos observar que não havia mistura de qualquer paixão ou temperamento
contrário ao amor; por conseguinte, não havia miséria; com o amor perfeito
tendo lançado fora o que poderia ocasionar tormento. A ausência do amor
obscurece a alma, e não existe nem paz, nem conforto nela. E quem quer que
tenha a mesma medida de amor, sentirá a mesma paz, em seus momentos finais.
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Comentario do Autor do Blog: A falta de amor cristão é um grave erro que se perpetua em nossos dias. Infelizmente muita gente que se diz cristã apenas vive para "ferrar" com a vida alheia, essa apostasia dos sentimentos apenas sinaliza que muitos que professam a Cristo possuem mesmo é a marca de Caim.
Clavio J. Jacinto
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