Os Perigos da Teologia Liberal e Inclusiva para a Fé Bíblica


 


 

 


 

1. A Origem da Teologia Liberal, Seus Iniciadores e a Atmosfera de Descrença onde Nasceu

 

A teologia liberal não nasceu dentro de um ambiente de fé, reverência e submissão à Palavra de Deus, mas precisamente no oposto: em um clima intelectual de incredulidade, racionalismo e rejeição da autoridade divina das Escrituras. Seu berço histórico foi a Alemanha, entre os séculos XVIII e XIX, num período em que o Iluminismo havia exaltado a razão humana acima de qualquer revelação sobrenatural. Foi nesse cenário que surgiram os primeiros grandes expoentes do liberalismo, homens que, apesar de falarem sobre religião, não a tratavam como Palavra inspirada, mas como mero produto da consciência humana.

 

Entre seus iniciadores estão Johann Salomo Semler, considerado “o pai da crítica bíblica moderna”, que argumentou que a Bíblia possuía partes “históricas”, “não inspiradas”, “culturais” e “espirituais”, e que caberia ao estudioso moderno separar o que deveria ser aceito e o que deveria ser descartado. Logo após ele surgiu Friedrich Schleiermacher, por muitos chamado “o pai da teologia liberal”. Para Schleiermacher, a essência da fé não era a revelação objetiva de Deus na Escritura, mas o “sentimento de dependência absoluta” do homem ( parecido com o subjetivismo neo pentecostal do “eu sinto , então é de Deus”) . A fé deixou de ser verdade revelada; tornou-se experiência subjetiva.

 

No século seguinte, Albrecht Ritschl aprofundou ainda mais o afastamento da Bíblia ao afirmar que doutrinas como expiação, pecado original, queda e juízo eram “conceitos religiosos primitivos”. Segundo ele, o cristianismo deveria ser reduzido à ética e ao exemplo moral de Jesus. Adolf von Harnack seguiu pelo mesmo caminho, dizendo que o evangelho deveria ser “depurado” dos elementos sobrenaturais — milagres, encarnação, ressurreição e juízo —, sobrando apenas o ensinamento moral do amor.

 

Todos esses autores tinham um ponto em comum: descrença explícita na inspiração divina da Bíblia, abandono da autoridade final das Escrituras e substituição da revelação pelo raciocínio humano. Em vez da Palavra julgar os homens, os homens passaram a julgar a Palavra. Foi exatamente desse ambiente de frieza espiritual, incredulidade teológica, exaltação da razão e desprezo pelo sobrenatural que surgiu a teologia liberal. Por isso seu fundamento é frágil, sua doutrina é inconstante e sua influência é destrutiva.

 

A essência do liberalismo teológico continua sendo a mesma até hoje: negar a inspiração plenária e verbal da Bíblia, tratá-la como mero documento histórico-religioso e reinterpretar tudo o que é sobrenatural, profético ou miraculoso como mito, símbolo ou metáfora. Isso contradiz diretamente o ensino claro da Escritura: “Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir e para instruir em justiça” (2Tm 3:16). Quando a razão humana assume o trono e a revelação divina é relativizada, a fé deixa de ser fé e passa a ser mero produto cultural.

 

 

 

 

 

 

2. A Negação dos Milagres e da Ação Sobrenatural de Deus

 

 

 

Um dos traços mais destrutivos da teologia liberal é sua recusa em aceitar o sobrenatural. Ela tenta reinterpretar os milagres bíblicos como metáforas, poemas ou exageros folclóricos. Nega o nascimento virginal, a ressurreição corporal de Cristo, os milagres de Jesus, a travessia do Mar Vermelho, a historicidade de Jonas e inúmeros outros atos divinos registrados nas Escrituras. Porém a Palavra afirma: “Porque para Deus nada é impossível” (Lc 1:37). Ao negar os milagres, nega-se o poder de Deus; ao negar o poder de Deus, nega-se o próprio Deus. A fé cristã é, em sua origem e essência, sobrenatural. Retirar dela o sobrenatural é destruí-la por completo.

 

 

3. A Negação da Criação e a Substituição pelo Naturalismo

 

 

 

A teologia liberal também rejeita o relato literal da criação, tratando Gênesis como mito ou alegoria moral. Mas Jesus afirmou a historicidade da criação: “No princípio da criação, Deus os fez macho e fêmea” (Mc 10:6). Paulo também trata Adão como personagem histórico real: “O primeiro homem, Adão, foi feito em alma vivente” (1Co 15:45). Negar a criação é negar a queda; negar a queda é negar a necessidade da redenção; negar a necessidade da redenção é negar Cristo. Assim, a desconstrução do Gênesis pelo liberalismo serve como ferramenta para sabotar toda a estrutura doutrinária da fé cristã.

 

 

4. A Teologia Inclusiva e a Redefinição Pecaminosa da Moralidade

 

 

 

 

A teologia inclusiva é filha direta da teologia liberal e herda sua mesma incredulidade quanto à Bíblia. Porém vai ainda mais longe, pois redefine pecado e santidade de modo a acomodar práticas condenadas pela Palavra. Ao afirmar que Deus aprova práticas como relações homossexuais, casamento entre pessoas do mesmo sexo, poliamor, bissexualidade, transgeneridade e toda forma de ideologia de gênero, ela contradiz frontalmente a ordem moral que Deus estabeleceu.

 

A Bíblia é clara: “Não te deitarás com homem, como se fosse mulher; é abominação” (Lv 18:22). E o Novo Testamento reafirma essa mesma ética imutável: “nem os efeminados, nem os sodomitas ” (1Co 6:10) não herdarão o reino de Deus. Não há contradição, não há ambiguidade, não há brecha hermenêutica. A Palavra permanece a mesma porque Deus permanece o mesmo: “Eu sou o Senhor; não mudo” (Ml 3:6).

 

5. Ideologia de Gênero e a Rebelião Contra o Criador

 

 

 

A ideologia de gênero, com seu discurso de que gênero é fluido, mutável ou construído subjetivamente, é uma negação direta da ordem da criação. Deus fez o ser humano “macho e fêmea” (Gn 1:27). Quando o homem rejeita essa estrutura divina e cria sua própria identidade à revelia do Criador, ele incorre exatamente no pecado descrito por Paulo: “mudaram a verdade de Deus em mentira” (Rm 1:25). A confusão moral é o resultado inevitável da rejeição da verdade.

 

6. A Negação da Realidade do Inferno e a Necessidade Bíblica, Moral e Filosófica do Inferno

 

 

A teologia liberal e inclusiva, ao relativizar o pecado, necessariamente relativiza também o juízo. Assim, uma de suas marcas mais perigosas é a negação da existência do inferno literal, eterno e consciente. Para esses movimentos, um Deus santo e justo não poderia punir pecadores eternamente; portanto, reinterpretam o inferno como metáfora psicológica, símbolo de sofrimento emocional ou mera linguagem poética.

 

Mas o ensino bíblico é claro e repetido. Jesus falou do inferno mais do que qualquer outro personagem bíblico. Ele afirmou que aqueles que rejeitam o evangelho “irão para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos” (Mt 25:41). Ele descreveu o inferno como lugar onde “o seu bicho não morre, e o fogo nunca se apaga” (Mc 9:48). O próprio Cristo, que é a expressão máxima do amor divino, é quem ensinou mais claramente sobre o juízo eterno.

 

Há também uma necessidade moral e filosófica do inferno. Se Deus é perfeitamente justo, Ele deve punir o mal. Um Deus que não julga o ímpio não é santo, não é justo e não é bom. A justiça humana é limitada e muitas vezes falha, mas a justiça divina é perfeita. Se não houver inferno, então genocidas, estupradores, tiranos, blasfemadores e rebeldes contra Deus terminariam da mesma forma que os salvos — o que seria uma monstruosa injustiça. O inferno declara que Deus leva o mal a sério, que o pecado é ofensivo à Sua santidade e que a redenção somente tem sentido porque há juízo. Negar o inferno é negar a santidade de Deus, negar o valor da obra de Cristo na cruz e negar a gravidade do pecado.

 

Filosoficamente, o inferno também é a consequência lógica da liberdade humana. A criatura que rejeita Deus, rejeita Sua graça, rejeita Sua verdade, rejeita Seu evangelho e rejeita Sua autoridade está escolhendo se colocar eternamente fora da presença de Deus. O inferno é a ratificação divina da escolha humana. Moralmente, é o testemunho de que Deus é justo. Biblicamente, é a doutrina que sustenta o evangelho. A negação do inferno é, portanto, uma das mais perigosas heresias da teologia liberal e inclusiva.

 

7. A Perniciosidade Doutrinária e Moral dessas Correntes

 

 

 

A teologia liberal mina a fé, destrói a confiança nas Escrituras, relativiza a doutrina e seculariza a igreja. Já a teologia inclusiva corrompe a moralidade, normaliza práticas que Deus condena e cria um “evangelho” que não chama ao arrependimento. Ambas produzem igrejas que abandonaram a cruz, rejeitaram a santidade e substituíram a verdade pela opinião do século. Cristo orou: “Santifica-os na tua verdade; a tua palavra é a verdade” (Jo 17:17). Toda tentativa de ajustar a fé ao mundo leva o povo de Deus ao engano.

 

 

 

 

> “Quando a Bíblia não é mais a autoridade final, qualquer vento de doutrina torna-se aceitável, e qualquer pecado passa a ser justificável.”

— Francis Schaeffer

 

 

 

 

 

 

Referências Bibliográficas

 

Schaeffer, Francis. A Morte da Razão.

 

Machen, J. Gresham. Cristianismo e Liberalismo.

 

Lloyd-Jones, D. Martyn. O Perigo da Apostasia.

 

Carson, D. A. A Autoridade das Escrituras.

 

Geisler, Norman. Enciclopédia de Apologética.

 

Bíblia Sagrada, Almeida Corrigida e Fiel (ACF).

 

Autor:

 

Rui Alexandre Dias

Pastor da IBBV São Carlos, SP.

 

 

 

 

0 comentários:

Postar um comentário