A VIDA ESPIRITUAL DO HOMEM REGENERADO
C. J. Jacinto
Em Tiago, capítulo 2, versículo 26, encontramos a
verdade fundamental de que "O corpo sem o espírito está morto." De
fato, é sabido que fomos criados de tal maneira que o espírito interage
intrinsecamente com o corpo, capacitando-o a experimentar e a relacionar-se com
o mundo físico. Tal é a concepção divina.
Considere-se, por exemplo, nossos olhos,
que captam e transmitem os estímulos visuais — imagens, luz e cores — ao
cérebro. Este, por sua vez, decodifica esses sinais, permitindo a compreensão
das realidades físicas. O ser humano, em sua constituição corpórea, vivencia a
interação com o mundo exterior precisamente em virtude do espírito que o
habita. Afinal, a audição, o olfato, o tato, o paladar e a visão são
experiências sensoriais que só se manifestam em seu contexto a experiência do
mundo físico pelo corpo enquanto o espírito reside no nele.
Caso o espírito se separe do corpo, as
funções vitais, incluindo as cerebrais e as dos órgãos dos sentidos, cessam.
Evidencia-se, assim, que essas capacidades perceptivas e a própria virtude
existencial também de alguma forma são atributos inerentes ao espírito, e não
meramente ao corpo.(Lucas 16:19 a 31)
À luz do contexto geral das Escrituras,
compreendemos que o ser humano foi criado em um universo com o qual estabelece
uma interação recíproca. Nesse diapasão, entendemos que o homem é dotado da
capacidade de perscrutar os astros, decifrar a mecânica celeste e as estruturas
cósmicas, bem como de imergir no universo atômico, desvendando seus enigmas e
complexos sistemas de funcionamento. Essa aptidão inerente advém do fato de o
homem ter sido concebido para interagir com a criação, e a criação, por sua
vez, para interagir com ele.
Contudo, percebemos que a Queda alterou profundamente essa percepção, tornando nossa compreensão atual consideravelmente deficiente. Adão, era detentor de uma acuidade perceptiva profunda sobre todas as coisas, difere substancialmente do ser humano contemporâneo debaixo das conseqüências da queda. A Queda e o pecado corromperam as estruturas de nosso conhecimento e de nossas capacidades, resultando em uma acentuada dificuldade para apreender a totalidade das coisas, em notável contraste com a clareza que o homem desfrutava antes de ser afetado por tal evento.
Desejo apresentar dois exemplos de percepções equivocadas ou de dificuldades na compreensão de verdades profundas e essenciais. Inicialmente, a Queda incutiu na humanidade, de certa forma, a inclinação ao ateísmo, levando-a a questionar veementemente a existência de um Criador.
Adicionalmente, uma segunda dificuldade de percepção reside na completa perda, pós-Queda, da capacidade humana de discernimento no âmbito espiritual, resultando na sua inaptidão intrínseca para distinguir, por si só, entre um espírito das trevas e um espírito de luz. Esclareço que a menção a "espíritos das trevas" e "espíritos de luz" não possui, neste contexto, conotação esotérica. Utilizo tais termos para designar os espíritos que estão em Deus, conforme delineado em 1 João 4:1-6, na admoestação acerca da prova dos espíritos — estes representam os anjos do Senhor —, em contraste com os espíritos malignos e demônios, também apresentados nas Escrituras. (Efesios 6:10 a 18) ou seja, o mundo espiritual caído e o mundo espiritual preservado da queda.
Consequentemente,
o homem comum, isto é, o homem natural, carece da faculdade de discernir tais
realidades. Embora reconheça a existência de um plano espiritual, ele ignora a
identidade dos agentes atuantes e não tem uma capacidade intrínseca natural a
isso. Esta condição configura uma cegueira espiritual que o predispõe tanto ao
engano quanto à propagação de equívocos. É por essa razão que a evocação e
invocação de espíritos são práticas expressamente vedadas nas Escrituras.
Contrariamente, a condição primordial de Adão distinguia-se. Ele detinha a
inabalável convicção da existência divina e uma profunda percepção de comunhão
com seu Criador, a qual não foi totalmente obliterada após a Queda. Tal
persistência é observável nos capítulos posteriores a Gênesis 3, onde emergiu
um remanescente que invocava o nome do Senhor. No âmago do ser humano,
remanesceu um impulso intrínseco,(induzido pelo Espirito Santo) um princípio
fundamental que instiga à necessidade de cultuar e reverenciar uma divindade.
Essa inclinação manifestou-se entre poucos, como Enos, descendente da linhagem
de Sete, por intermédio de quem se iniciou a invocação do nome do Senhor. Essa
era a compreensão singular de alguns poucos a respeito de um Deus Altíssimo, de
uma Suprema Majestade. A vasta maioria da civilização daquela epoca, em
contrapartida, sucumbiu à idolatria e ao politeísmo. Conforme a história humana
atesta de forma inequívoca, o homem é, por sua essência, um ser intrinsecamente
religioso. Esta peculiaridade é exclusivamente humana, sendo inerente apenas a
ele dentre todas as criaturas terrestres.
Após a Queda, não houve senão a morte. Esta, acima de tudo, detém um significado profundo e, para alguns, até mesmo complexo. No entanto, as Escrituras a elucidam com clareza, apresentando-lhe duas acepções principais. A primeira denota a separação entre o homem e Deus. A segunda, por sua vez, consiste na separação entre o espírito e o corpo.
Entendemos, portanto, que a Queda ocasionou a ruptura da comunhão íntima com Deus. Consequentemente, a regeneração restaura essa intimidade rompida. Como isso se processa? Quando o cristão se converte ao Senhor e vivencia a genuína experiência da regeneração, o Espírito Santo passa a residir permanentemente na vida do novo nascido.
Ao lermos a Epístola aos Efésios, no capítulo 2, versículos 1 e 6, compreendemos a condição de morte espiritual do homem, que jazia em suas transgressões e pecados. É fundamental recordar que a encarnação do Verbo, quando Jesus se fez homem, implicou em seu esvaziamento, assumindo a forma de servo para morrer na cruz do Calvário, a fim de realizar a redenção eterna. Essa obra foi efetuada pelo poder e influência do Espírito Santo. Em João, capítulo 14, versículo 16, Jesus prometeu a vinda do Espírito Santo, que permaneceria para sempre com os crentes. A regeneração espiritual é o ponto de partida para essa promessa. A morte de Cristo, sua ressurreição, ascensão e entronização à direita de Deus foram seguidas pela vinda do Espírito Santo. Essa sequência estava nos planos divinos: a descida do Espírito Santo para habitar nos salvos aconteceria após a morte de Cristo pelos nossos pecados, sua ressurreição para nossa justificação e sua ascensão para ser nosso mediador à direita de Deus. Na antiga aliança, a presença divina parece ser algo extrínseco sob a cobertura de um grosso véu e um acesso restrito, embora em certos momentos, a Presença Divina se Deu de forma pessoal como ocorreu na chamada de Abraão ou nas manifestações da sarça ardente e posteriormente no Sinai.
Ao falecer, o indivíduo regenerado experimenta a separação do corpo e do
espírito. Contudo, conforme a promessa de Jesus em João 14:16, o Espírito Santo
permanece conosco para sempre. Entende-se, portanto, que o espírito do salvo,
embora separado do corpo, pertence a Deus. O Espírito Santo, então, toma posse
do espírito do crente e o conduz à presença divina, estabelecendo uma interação
íntima. Como o apóstolo Paulo escreveu, o Espírito Santo testifica com o nosso
espírito que somos filhos de Deus. (Romanos 8:16)
Assim, o regenerado é propriedade de Deus, adquirido através da redenção realizada na cruz do Calvário. O preço pago foi o sangue imaculado de Jesus, garantindo ao Espírito Santo a total posse do espírito humano. Por isso somos chamados de templo do Espírito Santo. O Espírito Santo não apenas habita e salva, mas também possui o nosso espírito, de modo que, no momento da morte, o espírito, separado do corpo, permanece sob o domínio e a posse do Espírito Santo, sendo conduzido à presença do Senhor até o dia da ressurreição.
A Redenção, portanto, engloba a restauração da comunhão e, posteriormente, com a glorificação do corpo, a restauração integral do ser conforme a vontade divina original para o homem. Adicionalmente, implica uma nova expectativa: o homem regenerado e ressuscitado terá a semelhança do Filho de Deus. Devemos, pois, considerar 2 Coríntios, capítulo 5, versículo 17, onde Paulo declara que "se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo". Ao afirmar que tudo se fez novo, Paulo indica que a principal característica do homem regenerado reside em sua renovação mental, em novos anseios e desejos. O desejo primordial é servir a Deus, seguir a Cristo e obedecer a Seus preceitos, encontrando deleite nas coisas espirituais. O homem regenerado não é um homem natural, mas sim um homem espiritual. Sua espiritualidade provém do fato de não estar mais morto em ofensas e pecados, mas vivificado em Cristo Jesus pelo poder e pela obra do Espírito Santo, que nele habita e opera.
O homem espiritual não está separado do Divino Espirito Santo, mas está unido a Ele, de modo que essa é uma restauração de comunhão divina, a resolução do problema da morte espiritual, a garantia da ressurreição com um corpo glorificado e por fim a vida eterna.
A pergunta pertinente é essa: Você já creu em Cristo como seu salvador para passar pela experiência da regeneração?

0 comentários:
Postar um comentário