No capítulo 5 de sua obra Forgotten Truths (Verdades Esquecidas), Sir Robert Anderson aborda um dos temas mais profundos e frequentemente negligenciados da teologia cristã: o mistério de Cristo. Esse conceito não se trata de algo obscuro ou incompreensível, mas de uma verdade divina que permaneceu oculta até ser revelada pelos apóstolos, especialmente por Paulo.
O que é o “Mistério”?
Anderson começa lembrando que a palavra “mistério”, no sentido bíblico, não se refere a algo incompreensível, mas a uma verdade que estava escondida e foi revelada por Deus. É um segredo divino, agora manifestado. No caso do “mistério de Cristo”, trata-se da revelação de que Deus estava preparando algo que transcendia todas as expectativas baseadas no Antigo Testamento.
A Limitação da Interpretação Tradicional
O autor critica a tendência da “ortodoxia antiquada” de espiritualizar as profecias do Antigo Testamento, aplicando-as de forma alegórica à Igreja, como se todas as promessas feitas a Israel já estivessem sendo cumpridas na história do cristianismo. Essa abordagem, segundo ele, não apenas desfigura o sentido original das Escrituras, mas também abre espaço para o ceticismo, pois a realidade da história da Igreja não corresponde às gloriosas visões dos profetas hebreus.
Anderson afirma:
“As palavras sublimes das Escrituras Hebraicas são supostamente cumpridas na história da Cristandade. […] Este sistema de interpretação faz com que as páginas sagradas pareçam, para a incredulidade, um labirinto sem esperança de misticismo.”
O Mistério de Cristo Revelado
O cerne do capítulo está na exposição de que o mistério de Cristo é a união dos crentes com Ele, de uma forma que não era conhecida antes. Enquanto o Antigo Testamento falava de um relacionamento nupcial entre Deus e Israel, o Novo Testamento revela algo ainda mais íntimo: a Igreja como Corpo de Cristo.
Anderson escreve:
“A figura da Noiva indica a união mais próxima, mas a unidade absoluta está implícita na figura do Corpo.”
Essa verdade é exposta principalmente nas Epístolas da Prisão (Efésios e Colossenses), onde Paulo fala do “mistério que desde os séculos esteve oculto em Deus” — a saber, que gentios e judeus são unidos em um só corpo em Cristo.
Implicações Práticas e Escatológicas
Esse mistério tem implicações tanto para a vida prática do crente quanto para a esperança futura:
1. Unidade Prática: A doutrina do Corpo de Cristo deve influenciar profundamente a vida do cristão e seu relacionamento com outros membros do Corpo.
2. Esperança Celestial: A consumação desse mistério não será na Terra, mas na glória celestial. A Igreja, como Corpo de Cristo, não tem existência corporativa completa até que todos os membros sejam reunidos na vinda do Senhor.
Anderson enfatiza que a Igreja não é a Noiva — essa figura se refere a Israel no contexto escatológico —, mas o Corpo de Cristo, uma realidade mais elevada e íntima.
Conclusão: Uma Verdade que não Pode ser Esquecida
Sir Robert Anderson conclui alertando para o perigo de negligenciarmos essa verdade. Quando a Igreja esquece o “mistério de Cristo”, perde sua identidade, sua missão e sua esperança. A tendência de confundir a Igreja verdadeira com a “Cristandade professa” ou de espiritualizar as promessas terrenas a Israel só contribui para a apostasia e a fraqueza espiritual.
“Este mistério culminante da revelação do Novo Testamento é arrastado para a lama pela Igreja de Roma… Mas, no entanto, ‘a Igreja que é Seu corpo’ não está na Terra, nem pode ter existência corporativa até que todos os membros sejam trazidos.”
Para Anderson, recuperar o “mistério de Cristo” é essencial para uma fé sólida, uma vida santa e uma esperança viva na volta do Senhor.
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