Por Ícaro Alencar de Oliveira
"Porque ESTE MEU FILHO ESTAVA MORTO, E REVIVEU, tinha-se perdido, e foi achado. E começaram a alegrar-se. Mas era justo alegrarmo-nos e folgarmos, porque este teu irmão estava morto, e reviveu; e tinha-se perdido, e achou-se." (Lc. 15:24,32)
Não podemos permitir que o ensino claro das Escrituras Sagradas acerca do que significa a Morte Espiritual, seja turvado, de modo a admitir, erroneamente, que o homem morto em seus delitos e pecados seja comparável a um defunto humano, totalmente incapaz.
O significado primário da Morte Espiritual é separação de Deus, não aniquilação em relação a Deus; isso significa que o estado de morte espiritual do homem não necessita implicar na sua INCAPACIDADE TOTAL de cooperar voluntariamente com a graça salvadora, operada no pecador pelo Espírito Santo. A separação em relação a Deus não anula a liberdade liberária do ser humano, nem precisa significar que o homem não pode querer a Deus, uma vez que a graça o tenha atraído (Jo. 12.31).
Qual é, então, o grande problema de se assumir a "morte espiritual" como "aniquilação espiritual", comparável a um "defunto"?
Primeiramente, a própria figura comparativa da morte espiritual como um defunto, não alcança o sentido bíblico da doutrina exposta nas Escrituras; ora, um cadáver humano é incapaz de fazer qualquer coisa, INCLUSIVE PECAR! Mas vemos que a morte espiritual mencionada nas Escrituras inclui a prática contínua de pecados e decisões morais pecaminosas:
"Em que noutro tempo andastes segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência; entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como os outros também." (Ef. 2:2-3)
Observe os verbos nessa passagem: "andastes", "andávamos", "fazendo [a vontade da carne]", "éramos". Consegue imaginar um defunto fazendo quaisquer uma destas coisas? Certamente não.
Quando pecou contra Deus, Adão e Eva foram capazes de responder ao Criador (Gn 3.8ss.). A questão em torno da Morte Espiritual não diz respeito à possibilidade de o homem começar e dar o primeiro passo do processo da salvação por si e de si mesmo, a parte da graça de Deus; aqui, todos concordam com o sentido lato de "separação". Insistimos, porém que Cristo mesmo atrairia a todos (observe que atrair não é coagir).
O problema é quando a Depravação total, que significa a corrupção de cada aspecto do ser humano, passa a significar incapacidade total e pressupõe que Deus é quem causa a vontade de crer ao conceder a fé apenas aos eleitos, o que afeta completamente a teologia do arrependimento e torna a salvação um teatro determinista divino.
Ora, neste sentido, a teologia do arrependimento é completamente esvaziada de seu sentido de uma oferta genuína de Deus para todos os pecadores, e implica numa exigência que necessita ser irresistivelmente imposta sobre o homem eleito para que possa ser satisfeita; a situação se torna ainda mais vexatória quando observamos que, se a incapacidade total é verdadeira, e Deus capacita apenas os eleitos a satisfazer aquela exigência divina de arrependimento e fé, logicamente, ao exigir dos não-eleitos que façam aquilo que Deus sabe que são totalmente incapazes de fazer, se de fato a morte espiritual significa a aniquilação total, concluímos que não houve nada que o homem pudesse rejeitar, pois nada lhe fora verdadeiramente oferecido, pois, supostamente, apenas o seleto grupo dos eleitos podem apropriar-se dessa capacidade, e, como insistem os deterministas, um defunto morto não pode fazer nada; mas um ser humano separado de Deus, sob influência, iluminação e influência antecedente da graça, é capaz de vir a fé e então nascer de novo, nessa ordem.
Finalmente, as imagens que ilustram estas poucas palavras, representam o sentido bíblico de um filho que estava morto e reviveu, e o sentido imposto às Escrituras para que coadunassem com sínodos, confissões e tradições humanas, nascidas com Agostinho de Hipona, no séc. V, que em sua velhice retornou às suas raízes gnóstico-maniqueístas, após duas décadas ensinando a doutrina tradicional da cristandade dos primeiros quatro séculos, que afirmava a soberania divina e o livre-arbítrio humano.
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