O caminho Místico ou o Caminho Bíblico?


O caminho Místico ou o Caminho Bíblico?


 

C. J. Jacinto

 

A maneira bíblica e correta de conhecermos a Deus é através das escrituras e pela fé. Hoje em dia, uma religião de sentimentos e experiências psíquicas e emocionais vem se popularizando cada vez mais.

Da mesma forma, milhões de pessoas que se dizem cristãs estão em busca de experiências emocionais agradáveis, inclusive experiências ou de iluminação espiritual.

Autores como o católico Laurence Freeman vem propondo o exercício de meditação oriental, tipo “esvaziamento da mente” e o uso de mantras para propor experiências místicas. No livro “Envolvido pela Luz” Betty J. Eadie, numa experiência de “Quase Morte” afirmou o encontro de um ser de luz gloriosa, um ser com uma luz dourada que possuía uma aureola, ela sentiu um grande amor que a envolvia, e então concluiu que se tratava de Jesus Cristo.   O mais inquietante, na narrativa documentada, no livro “O Altar Supremo” Patrick Tierney, abordando o tema das religiões primitivas da América do Sul e o sacrifício humano, muitos desses sacrifícios eram feitos depois de certas experiências em que uma divindade ordenava um sacrifício humano. A narrativa de experiências agradáveis envolvendo luz, seres ou potencias espirituais que se passam por anjos de luz ou divindades é comum nas religiões, mesmo nas mais primitivas como o Xamanismo. Não podemos cristianizar experiências místicas, há um perigo por trás disso, um grande engano, demônios se disfarçam de anjos de luz e o diabo promove experiências de efeitos agradáveis. A literatura esotérica e religiosa está cheia de descrições, a historia das religiões está cheia de descrições dessas experiências. O cristão deve tomar cuidado.

 

A Bíblia revela duas dimensões fundamentais do relacionamento do crente com Deus: o conhecimento posicional (baseado na nossa identidade em Cristo) e o conhecimento experiencial (desenvolvido pela comunhão e obediência). Entender essa distinção é essencial para uma vida cristã equilibrada e madura.  Porquanto essas duas dimensões estão pautadas nas Escrituras, a revelação completa dos atributos e a natureza do Verdadeiro Deus.

Enquanto o conhecimento posicional é instantâneo e garantido pela fé, o experiencial é progressivo e depende da nossa resposta a Deus. Ambos são complementares e indispensáveis. Sempre pela luz das Escrituras e nunca fora delas.

Há certa tendência hoje em dia, de querer conhecer Deus pelos sentimentos e emoções, esse não é o critério que  a Bíblia apresenta para nosso relacionamento com Deus, nosso relacionamento com Deus deve ser sustentado pela fé e não pelos sentimentos.

Outro erro mais perigoso, promovido pelo esoterismo, é a crença no “Eu Superior” uma divindade que está oculta dentro do homem, e através de uma busca mental introspectiva, essa divindade pode ser achado nas profundezas da nossa alma. Isso é absolutamente errado e totalmente perigoso.

Há nas Escrituras, informações claras de como ocorre nosso conhecimento e nossa relação com Deus de forma correta


1. Conhecimento Posicional: O Que Temos Pela Fé

Definição

O conhecimento posicional refere-se ao relacionamento legal e permanente que todo crente tem com Deus a partir do momento da salvação. É uma realidade espiritual estabelecida pela graça, independente de sentimentos ou experiências subjetivas. Na dispensação da graça, somos chamados a andar por fé, movidos pelo Espírito Santo, a relevância da fé é algo de suma importância para a era da graça, não andamos por vista: “Ora a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que não se vêem” (Hebreus 1:1) sem fé é impossível agradar a Deus (Hebreus 1:6) não por sentimentos ou emoções, mas por fé, a nossa esperança se baseia em uma confiança de que Deus fez tudo por nós em Cristo, e nós devemos descansar nesse fato histórico e imutável. Por isso mesmo, a base da nossa direção espiritual é a peregrinação (I Pedro 2:11) “Porque andamos por fé e não por vista” (II Coríntios 5:7) A base pelo qual sustentou a fé de Jó e de Paulo e Silas na prisão não foram emoções e sentimentos agradáveis, não foram êxtases místicos, mas uma fé inabalável diante de circunstancias de extrema provação e tribulação.

Nossa posição em Cristo pela redenção:

João 17:3 – "E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste." Como conhecemos a Deus? pelas Escrituras.

Aqui, "conhecer" indica um relacionamento salvífico, não apenas informação intelectual. Trata-se de um testemunho do Espírito Santo, uma confiança firme em Deus, não uma quantidade de informações teológicas guardadas na mente.

Gálatas 4:9 – "Mas agora, conhecendo a Deus, ou melhor, sendo por ele conhecidos..."

Destaca que a salvação nos coloca em uma relação de aliança com Deus.

Hebreus 8:11 – "E não ensinará cada um ao seu próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo: Conhece ao Senhor; porque todos me conhecerão, desde o menor até ao maior."

Na Nova Aliança, todos os salvos têm acesso direto a Deus. Mas ao Deus das Escrituras, revelado nas Escrituras e não quaisquer divindades, experimentadas ou entendidas fora de uma consciência iluminada pelo Espirito Santo pelas Escrituras.

No livro “Deus uma Presença” (Editora Nova Era) apresenta um relato de diversos personagens, místicos, hindus, católicos romanos etc. Tais pessoas de renome como Deepak Chopra, Wayne Dyer e Lousie Hay experimentaram a presença de uma divindade, não a divindade da Bíblia, um caminho falso para entender ou experimentar Deus leva para as experiências que induzem a falsificações espirituais. Não questiona que as experiências delas sejam autenticas o que questiono é a natureza dessas experiências, elas não são bíblicas.

O caminho bíblico da experiência com Deus se dá pela Adoção

Imagine uma criança adotada. No momento da adoção, ela passa a ter todos os direitos de um filho, mesmo que ainda não conheça profundamente seus pais. Da mesma forma, ao crermos em Cristo, somos imediatamente reconhecidos como filhos de Deus (João 1:12), mesmo que nosso relacionamento com Ele ainda precise crescer. Mas reitero que esse crescimento se dá pela fé e pelas Escrituras.

 

2. Conhecimento Experiencial: O Que Aprendemos Caminhando com Ele

 

O conhecimento experiencial é o crescimento prático e íntimo no relacionamento com Deus, desenvolvido por meio da obediência, oração e comunhão com o Espírito Santo. Ele varia de acordo com a dedicação de cada crente. Não se trata de experiências produzidas através de sentimentos, êxtases, emoções, tudo isso, os esotéricos podem alcançar através de estados alterados de consciência, pratica de meditação, mantras, nas religiões de mistérios da antiguidade, alcançar estados de “felicidade” era comum, assim como em religiões idolatras também pode ser comum experiências de êxtases místicos que produzem euforia, alegria, experiências de novas revelações espirituais, iluminação espiritual, entrada para dimensões espirituais coloridas, técnicas de meditação, yoga e outras praticas místicas promovem visões luminosas e tantas outras coisas agradáveis, mas isso não é bíblico, Paulo conhecia a natureza dessas experiências, pois vivia numa sociedade cheia de religiões que promoviam esses tipos de misticismo. Mas a sua ênfase era sobre a fé, a confiança em Deus, um caminho seguro, que não depende dos mecanismos psíquicos e seus desdobramentos espirituais, mas numa confiança nas promessas de Deus, na Soberania de Deus, na obra consumada e perfeita de Cristo e no Evangelho.

Filipenses 3:10 – "Para que eu conheça a Cristo, o poder da sua ressurreição e a participação dos seus sofrimentos..."

Paulo, já salvo, buscava conhecer Jesus de maneira mais profunda e pessoal.

1 João 2:3 – "Ora, sabemos que o conhecemos, se guardarmos os seus mandamentos."

A obediência é um indicador de um relacionamento real com Deus.

Oséias 6:3 – "Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor..."

O conhecimento de Deus é um processo contínuo, não um evento único.

Analogia: Casamento

No casamento, o "sim" no altar estabelece um vínculo legal (posicional). Porém, o verdadeiro conhecimento do cônjuge se aprofunda com o tempo, através do diálogo, do amor e das experiências compartilhadas (experiencial).

W.H. Griffith-Thomas escreveu: “A vida espiritual que se torna nossa é constantemente realizada por justificação, santificação e consagração, deve ser mantida e sustentada para crescer e aumentar em vigor, poder e bênção. A vida espiritual no verdadeiro sentido do termo é muito mais do que a existência espiritual: isso implica força, vigor, progresso, alegria e satisfação (João 10:10) esta vida abundante é a única vida que realmente influenciará os outros e realizará plenamente a vontade de Deus”. A fé conforme descrita nas Escrituras podem nos conduzir a uma alegria, satisfação e gozo, mas isso não é um produto do esforço psíquico, não é algo germina em exercícios místicos e esotéricos, não é algo que brota de experiências psicológicas. É bem mais que isso, na verdade a alegria espiritual autentica é espontânea e vem de relacionamento correto com Deus de acordo com as diretrizes escriturísticas.

Conhecimento posicional é a base: somos salvos e pertencemos a Deus. Emoções, sentimentos até podem ser frutos do mover do Espírito dentro de nós, mas essa não é a regra estabelecida pelas Escrituras.

Conhecimento experiencia é o desenvolvimento: aprendemos a andar com Ele diariamente. Por fé e não por vista, a visão beatifica será consumada no mundo vindouro e não durante a nossa peregrinação terrena.

Devemos atentar para o fator mais importante, a nossa fé não se baseia em experiências e em sentimentos, ela se baseia em fatos históricos e em doutrinas sólidas, uma verdadeira espiritualidade que é sustentada por praticas condenadas pelas Escrituras, tais experiências podem ser  falsas e podem até mesmo serem diabólicas.

 Não podemos negligenciar a segurança da nossa posição em Cristo, nem deixar de buscar um relacionamento mais profundo com Ele. Portanto segue um princípio básico, qualquer tipo de experiência espiritual deve ter o respaldo bíblico, em síntese, deve nos induzir para mais próximo de Cristo, fortalecer nosso critério com relação à importância das Escrituras (Inspiração plenária, inerrância e autoridade final), envolver a soma da grandeza da gloria de Deus e não a nossa, além de nos induzir para uma ortodoxia mais profunda e alicerçar ainda mais todas as doutrinas fundamentais do Evangelho, se não promove isso de forma que enfraquece essas coisas e nos afasta da sã doutrina, é perigosa e é falsa, não importa o quão agradável, luminosa e prazerosa seja!

 Na mística helenística principalmente na neoplatônica, tendo como principal representante, Plotino, encontramos a experiência da união com o  “Uno” ou o absoluto.  Qualquer conhecedor dos escritos e das experiências espirituais dos neoplatônicos, percebe que grandes vultos da teologia cristã dos primeiros séculos foram influenciados por elas, é impossível ler As Confissões de Agostinho de Hipona sem perceber essa influencia, o teólogo alemão, profundo conhecedor do movimento místico, Josef Sudbrack, reconhece essa influencia em Agostinho, no seu livro “Mística: A busca do sentido e a experiência do absoluto” (Edições Loyola)

"A intimidade do Senhor é para os que o temem aos quais ele dará a conhecer a sua aliança." (Salmo 25:14)

Não há união com Deus sem Cristo, ninguém tem acesso ao Pai, a não ser através de Jesus Cristo e por meio de Jesus Cristo (João 14:6) essa união se dá pela fé e não pelos sentidos, não há nas Escrituras métodos ou exercícios para se chegar a uma união com o absoluto, isso é ideia pagã. Ainda que não se descarte na teologia cristã bíblica, a função das emoções e dos sentimentos na espiritualidade, elas estão absolutamente submissas a fé e a sã doutrina. Portanto, o culto santo ao Senhor na congregação pode nos dar alegria e refinar nossa emoção e expressar nosso amor ao Senhor, os cânticos cristocentricos podem elevar nossa alma e nos possibilita momentos de felicidades, essas emoções são sadias e santas, são decorrentes de um ambiente puramente espiritual no seu sentido mais bíblico. Para um cristão bíblico a experiências espirituais estão sob o controle do Espírito Santo para dentro da ortodoxia, para dentro das verdades bíblicas, pois essa é uma de suas memoráveis funções, nos guiar para dentro da verdade.

Que todo crente busque não apenas saber sobre Deus, mas conhecê-lo de forma transformadora!

 

 

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