Introdução
Meu objetivo é que o leitor tenha intuição espiritual para compreender o conceito errôneo da salvação pelo Senhorio a fim de obter discernimento acerca da fé bíblica.
Nos últimos cem anos, uma doutrina conhecida como Salvação pelo Senhorio ganhou espaço nos círculos evangélicos. Antes obscura, tornou-se o foco de intensos debates nas décadas passadas e hoje é predominante em muitas igrejas. No entanto, essa doutrina, segundo veremos à luz das Escrituras, adiciona exigências humanas à simplicidade do Evangelho da graça — um erro grave que corrompe a pureza do ensino apostólico.
Este artigo serve como introdução a uma série voltada à análise crítica dessa doutrina. Aqui, estabelecemos suas definições, origens, implicações e os perigos doutrinários que ela representa.
A minha posição é que ainda que a regeneração nos conduza para a posição de uma nova criatura em Cristo, e que isso muda nossa consciência e coração, da impiedade para santidade, das trevas para a luz, todavia deve se levar em conta que a luz das Escrituras, nossa confiança, descanso e certeza deve ser colocado unicamente em Cristo, autor e consumador da fé e na Sua obra consumada e perfeita deve permanecer o foco de toda a nossa esperança de vida eterna, Tão somente em Cristo e em Sua obra consumada e perfeita e não em nossas obras.
1. A Essência do Verdadeiro Evangelho
A salvação, conforme ensinada nas Escrituras é somente pela graça, mediante a fé, sem qualquer mérito humano. Essa é à base do Evangelho que Paulo defendeu com vigor. Observe:
“Mas se é por graça, já não é pelas obras; de outra maneira, a graça já não é graça.” (Romanos 11:6)
“Mas aquele que não pratica, mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada como justiça.” (Romanos 4:5)
Paulo mostra que graça e obras não se misturam. Fé é o oposto de obras. Misturá-las é corromper o conceito de graça, assim como adicionar qualquer substância à água pura a torna impura.
Existe um ensino positivo das Escrituras acerca do testemunho cristão, e isso é relevante dentro do contexto espiritual, a salvação do começo ao fim é uma obra divina e não humana, portanto nossa confiança deve ser colocada inteiramente na obra de Cristo e não em nossas obras que houvéssemos feito.
2. O Que é a Salvação pelo Senhorio?
Definição Doutrinária
A doutrina da Salvação pelo Senhorio ensina que:
- A pessoa deve se arrepender de seus pecados e
- Prometer obediência a Jesus como Senhor para ser salva.
- E ainda: a ausência de frutos visíveis (obediência) indicaria que a salvação não ocorreu de fato.
Apesar de parecer piedoso, isso é problemático. Ao condicionar a salvação a atos e frutos, essa doutrina substitui a suficiência de Cristo pela performance do homem. De certa forma esse conceito é um caminho aberto para o semi-pelagianismo.
A verdade é que somos salvos pela obra da regeneração pela morte de Cristo na cruz, a evidencia disso é a morte e ressurreição de Cristo, devemos confiar no que Jesus realizou por nós mediante o sofrimento vicário no Calvário, a presença do Espírito Santo na vida dos salvos nos impulsiona a viver em piedade, mas aqui o mérito é do Espírito Santo em nós e nada mais. Nunca podemos perder o foco da nossa fé e esperança.
Um Termo Pejorativo
O termo "Salvação pelo Senhorio" é geralmente usado por críticos dessa visão, pois ela de fato representa um sistema doutrinário que substitui a simplicidade da fé por um moralismo cristão complexo. Isto é um erro, um desvio da obra expiatória de Cristo para as obras de justiça do homem.
3. Um Evangelho Mutuamente Exclusivo
Essa doutrina não é uma variação inofensiva do Evangelho , mas uma proposta teológica mutuamente exclusiva. Ou somos salvos pela fé apenas, ou por fé + obediência. As duas coisas não podem coexistir sem que uma anule a outra.
“Não
sabeis que um pouco de fermento faz levedar toda a massa?”
(1 Coríntios 5:6)
Mais uma vez desejo reiterar que a doutrina do progresso na vida cristã e o processo de aperfeiçoamento moral só ocorre de forma real na vida de um cristão espiritual que deve antes de tudo ser completamente revestido com o manto da humildade, este cristão entende ser o avanço espiritual da sua vida moral apenas mais uma ação da graça de Deus mediante a operação do Espírito Santo no intimo do homem regenerado, isso induz o cristão piedoso para uma vida de dependência, foco e descanso na misericórdia e na graça de Deus, a santidade é um fluir espiritual que nos impulsiona olhar somente para Cristo e nunca a confiar e olhar em nossas ações. Olhar para nossas obras produz sempre orgulho, olhar para a obra consumada e perfeita de Cristo produz mais humildade.
4. Contradições e Incoerências
Exemplos Contraditórios
Alguns de seus maiores proponentes demonstram incoerência interna. Paul Washer, por exemplo, declara que somos salvos pela graça mediante a fé sem obras — mas também afirma que "se você não tiver obras, irá para o inferno". Isso é contraditório.
O Caso de John MacArthur
John MacArthur, talvez o mais influente defensor dessa doutrina, expressa posições similares às de Herbert W. Armstrong, fundador da herética Igreja Mundial de Deus, ao afirmar que:
- A salvação exige “esforço sincero” e
- A obediência é “um elemento essencial na salvação”.
Note que esse ensino também tem grande ênfase em igrejas legalistas, pelagianas e semi-pelagianas que caracterizam o pentecostalismo e suas vertentes posteriores (Neopentecostalismoe carismatismo, pois esses grupos também dão uma forte ênfase nas obras como um processo adicional para a salvação)
A semelhança é alarmante: ambos tratam a graça como algo a ser qualificado pelo esforço humano.
Trata-se de um ensinamento perigoso, jamais podemos confiar em nossas obras, as boas obras tornam-se ídolos que sustentam o altar do orgulho do nosso coração, a salvação não é o que Cristo fez e o que eu faço, a salvação bíblica é o que Cristo fez e no que eu creio e confio. (Em Cristo e em Sua obra redentora perfeita na cruz)
“Porque com uma só oblação aperfeiçoou para sempre os que são santificados” (Hebreus 10:14) o que Cristo fez na cruz pelos salvos, não o que os salvos fazem por si mesmos.
“Não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo” (Tito 3:5) As obras de justiça antes da conversão não cooperam para a salvação do pecador que não está salvo, e as obras de justiça humana não cooperam com a salvação de quem já está regenerado.
5. Uma Nova Justificação Pelas Obras
Se a obediência é pré-requisito ou comprovante necessário da salvação, então a justificação não é mais um dom gratuito, mas um contrato condicional. Isso não é diferente da heresia dos galacianos que Paulo combateu com veemência:
“Sois vós tão insensatos que, começando pelo Espírito, acabeis agora pela carne?” (Gálatas 3:3)
A salvação começa pelo Espírito Santo e continua com o Espírito Santo, O agir do Consolador em nossas vidas nos conduzirá pelo caminho da verdade da regeneração até a glorificação, é obra divina do começo ao fim, não devemos confiar em nós mesmos. Vimos Cristo ensinando acercas disso quando falou acercado Espírito Santo que “Ele vos guiará em toda a verdade” (João 16:13) note no contexto que Cristo então afirma que o Consolador glorificará ao próprio Cristo” (João 16:14) Então nada mais justo crer que o Espírito Santo irá apontar para a obra de redenção que Cristo realizou na cruz e para a pessoa bendita do próprio Salvador durante todo o tempo da peregrinação de um salvo aqui neste mundo. Confiar em Cristo, e tão somente em Cristo é colocar a nossa segurança eterna sob uma rocha inabalável! ou seja: “Muita confiança na fé que há em Cristo Jesus” (I Timóteo 3:13)
“Chegamos, pois, com confiança ao trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno” (Hebreus 4:16)
“E assim com confiança ousemos dizer: O Senhor é o meu ajudador, e não temerei o que possa fazer o homem” (Hebreus 13:6)
6. As Raízes do Engano
Muitos são levados a crer nessa doutrina por motivos que não envolvem má fé:
- Confiança cega em líderes carismáticos
- Educação doutrinária enviesada
- Desejo sincero de agradar a Deus
- Pressão de ambientes eclesiásticos
No entanto, isso forma verdadeiras câmaras de eco teológicas, onde os fiéis reproduzem as idéias sem confronto bíblico honesto.
Embora muitas vezes as motivações sejam verdadeiras, os defensores da salvação senhorio devem rever seus conceitos para não caírem em extremos opostos, à justificação pela fé somente é um absoluto inegociável no contexto do cristianismo bíblico.
7. Lobos em Pele de Cordeiro?
Não devemos julgar o coração de ninguém (Romanos 14:4), mas devemos julgar os ensinos pela Palavra (Mateus 7:15-20). Se alguém ensina de forma consistente uma doutrina contrária ao Evangelho, essa pessoa é, segundo as Escrituras, uma pessoa que precisa ser corrigida e seus ensinos devem ser rejeitados e combatidos, em uma analise mais criteriosa, é um falso mestre
8. Por Que Essa Batalha é Pessoal
Houve uma época em que eu acreditava piamente nas minhas obras como essenciais e colaborativas no processo da minha redenção. Não acreditava na segurança eterna dos redimidos. Interiormente vivia sob uma forte pressão causada por uma rígida fiscalização de minhas próprias ações, dando ênfase extrema ao meu comportamento e minhas obras. Pior ainda é que elas começaram a moldar meu pensamento e teologia, e isso quando ainda era um semi-pelagiano. O foco nas obras como uma condição processual na justificação antes ou depois da justificação tem as mesmas raízes, só muda a posição em que a doutrina é aplicada. Hoje entendo que o que faço tem o único objetivo de glorificara Deus e não a mim mesmo, entendo que preciso ser irrepreensível e sincero no meio de uma geração perversa e corrompida, e que devo resplandecer diante das trevas como um filho da luz (Veja Filipenses 2:15) Mas isso é necessariamente uma seqüência da ação do Espírito santo no meu coração, confiar totalmente em Cristo e na Sua obra consumada e perfeita e não em minha obediência ou obras de justiça, me livra de pressões psicológicas e decepções, nenhum redimido é perfeito, possui falhas, limitações, tem uma natureza carnal ativa que precisa estar em processo de contínua crucificação, portanto é necessário que se creia e descanse totalmente em Cristo nosso Salvador, confiar totalmente nEle
9. Um Apelo Final
A doutrina da Salvação pelo Senhorio parece piedosa. Ela apela ao desejo humano por segurança baseada em frutos visíveis. Mas ao fazer isso, obscurece a beleza da graça incondicional.
“Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não de obras...” (Efésios 2:8-9)
Misturar obras à fé é trair o próprio Senhor que afirmamos seguir.
A fé cristã sadia repousa sobre os benefícios espirituais que a obra consumada e perfeita de Cristo na cruz oferece, isso não nos leva a um deprimente estado de apreensão por fiscalizar nossas obras de justiças e desenvolver uma super-ênfase num modelo de piedade concentrada na força antropocêntrica que foca o que podemos fazer ao invés do que Cristo fez. Cristo oferece descanso, paz, de acordo as Escrituras: “Tendo sido, pois justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo” (Romanos 5:1) Essa paz nos leva para um descanso no Senhor e uma confiança plena em Suas promessas.
Conclusão
A Salvação pelo Senhorio é um desvio teológico perigoso, que afasta os fiéis da suficiência da cruz. Devemos confrontá-la com a verdade bíblica e lembrar que:
“Se
alguém vos anunciar outro evangelho além do que já recebestes, seja anátema.”
(Gálatas 1:9)
Somos convocados a nos fortalecermos na graça que há em Cristo Jesus e não em nós mesmos (II Timóteo 2:1) A nos gloriarmos em Cristo Jesus e não confiar em nossa carne (Filipenses 3:4)
Que o Senhor da Graça nos mantenha firmes na liberdade pela qual Cristo nos libertou.
“Ao Deus único, sábio, Salvador nosso, seja glória e majestade, domínio e poder, agora e para sempre. Amém” (Judas 1:25)
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Todas as passagens bíblicas foram extraídas da ACF
C. J. Jacinto
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