Por C. J. Jacinto
Meditar é um exercício espiritual de grande proveito. No entanto, ao longo dos anos, percebi que raramente ouvimos pregadores ou mestres do evangelho tratarem desse tema. Ainda assim, a prática é bíblica e de enorme benefício espiritual para o homem piedoso.
“Lembre-se de que não é a leitura apressada, mas a meditação séria em verdades sagradas e celestiais, que as torna doces e proveitosas para a alma. Não é o simples toque da flor pela abelha que colhe mel, mas sim a sua permanência por um tempo na flor que extrai a doçura. Não é aquele que mais lê, mas aquele que mais medita, que se provará o cristão mais seleto, mais doce, mais sábio e mais forte.” (Thomas Brooks)
O problema é que a palavra meditação foi amplamente associada ao misticismo oriental, ao ocultismo e à Nova Era. Infelizmente o tipo de meditação esotérica é perigosa e está infiltrada entre os evangélicos por causa dos lideres de igrejas emergentes, neocarismáticas e pós-modernas. (O catolicismo romano também promove a pratica da meditação esotérica) De fato, encontramos a prática entre místicos medievais e nas religiões orientais, mas é preciso distinguir claramente: a meditação bíblica é completamente diferente da abordagem mística ou espiritualista.
O Conceito de Meditar
A palavra meditar vem do latim meditare, que significa “estar em seu centro, desligando-se do exterior e imergindo em si mesmo”. Essa, contudo, não é a meditação das Escrituras. No misticismo oriental, meditar significa silenciar a mente, colocar a consciência em uma espécie de “ponto morto”. Esse tipo de prática conduz à passividade e abre espaço para espíritos enganadores.
“A palavra "meditar", como usada no Antigo Testamento, significa literalmente murmurar ou resmungar e, por implicação, falar consigo mesmo. Quando meditamos nas Escrituras, falamos conosco mesmos sobre elas, remoendo em nossas mentes os significados, as implicações e as aplicações para nossas próprias vidas.” (Jerry bridges)
Na Bíblia, porém, a meditação é ativa e racional. A Almeida Corrigida e Fiel traduz o termo grego meletáo (1 Timoteo 4:15) por “medita”, no sentido de pensar profundamente, ponderar, refletir com diligência sobre as coisas espirituais e principalmente na Palavra de Deus, suas doutrinas e ensinos.
Veja como a definição das religiões e da Nova Era contrasta com a visão bíblica:
“A meditação consiste em refletir de forma controlada: decidir a direção do pensamento por um período de tempo e canalizá-lo nessa direção.”
A meditação é o pensamento dirigido pela vontade.
[...] Um exercício útil é parar de pensar, interromper o fluxo da mente.
A meditação visa elevar-nos a estados mais elevados de consciência.” (1)
Perceba: esse conceito difere radicalmente da meditação cristã.
A Meditação Cristã
A meditação bíblica não é parar de pensar, mas encher a mente com as verdades de Deus. É ocupar o coração com a sã doutrina, refletir nos versículos das Escrituras e nos ensinos do evangelho. O salmista declara:
“Os teus testemunhos são a minha meditação” (Salmo 119:99).
Não se trata de posturas físicas ou práticas esotéricas, mas de uma disciplina espiritual que pode ser exercida em qualquer lugar — no trabalho, nos afazeres cotidianos, nas caminhadas ou nas horas de descanso. Ocupar a mente com a Palavra é fonte de bênção e fortaleza espiritual (Josué 1:8).
“A meditação disciplinada nas Escrituras nos ajuda a focar em Deus. A meditação nos ajuda a encarar a adoração como uma disciplina. Ela envolve nossa mente e entendimento, bem como nosso coração e afeições. Ela trabalha as Escrituras através da textura da alma. A meditação ajuda a prevenir pensamentos vãos e pecaminosos (Mateus 12:35) e fornece recursos internos aos quais podemos recorrer (Salmo 77:10-12), incluindo orientação para a vida diária (Provérbios 6:21-22). A meditação combate a tentação (Salmo 119:11, 15), proporciona alívio nas aflições (Isaías 49:15-17), beneficia os outros (Salmo 145:7) e glorifica a Deus” (Salmo 49:3).(Joel Beeke)
Essa é a marca do homem piedoso:
“Antes, tem o seu prazer na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite” (Salmo 1:2).
O termo hebraico traduzido por “medita” aqui é yegeh, também usado em Provérbios 15:28 e 24:12; Jeremias 48:31. Em todos esses contextos, trata-se de uma ocupação interior: refletir, ponderar, recitar e interagir com as verdades divinas. Não significa em hipótese alguma, esvaziar a mente mas enche-las com passagens, ensinos e ordenanças das Escrituras.
Um Exercício de Santidade
Meditar é decorar versículos, repeti-los no coração, extrair significados práticos, nutrir a alma com a Palavra e cultivar afeição profunda pelas Escrituras. Diferente das propostas esotéricas, não é passividade, não envolve técnicas posturais nem busca “estados alterados de consciência”. Pelo contrário: é um ato consciente de fé que fortalece o homem interior contra o erro e contra espíritos enganadores.
“A meditação é um auxílio ao conhecimento; por meio dela, seu conhecimento é elevado. Por meio dela, sua memória é fortalecida. Por meio dela, seus corações são aquecidos. Por meio dela, vocês serão libertados de pensamentos pecaminosos. Por meio dela, seus corações serão sintonizados com todos os deveres. Por meio dela, vocês crescerão na graça. Por meio dela, vocês preencherão todas as fendas e frestas de suas vidas e saberão como gastar seu tempo livre e aproveitá-lo para Deus. Por meio dela, vocês extrairão o bem do mal. E por meio dela, vocês conversarão com Deus, terão comunhão com Deus e desfrutarão de Deus. E eu oro: não há aqui proveito suficiente para adoçar a viagem de seus pensamentos na meditação?” (William Bridge)
Cristo mesmo é o nosso exemplo. Ao enfrentar Satanás no deserto (Mateus 4; Lucas 4), Ele respondeu com a Palavra de Deus. É por isso que Paulo afirma em Efésios 6 que a Escritura é “a espada do Espírito”.
Meditar é pensar em Deus:
“Meditarei em Ti” (Salmo 63:6).
“Os meus olhos antecipam as vigílias da noite, para que eu medite na tua palavra” (Salmo 119:148).
Nosso coração deve ser como um baú de tesouros espirituais (Provérbios 16:16), de onde extraímos riquezas divinas por meio da meditação. Assim, a Palavra se torna luz e bússola em nossa peregrinação.
Conclusão
Pratique esta bênção. Encha o coração com as coisas celestiais, ocupe a mente com a Palavra de Deus e viva a vida normal do homem redimido: pensamento cativo a Cristo e coração cheio de riquezas espirituais.
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(1) Fonte: [http://learningsources.altervista.org/Meditazione\_ebraica.htm](http://learningsources.altervista.org/Meditazione_ebraica.htm)
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