João 5.23 revisitado – um chamado a re-colocar o Filho no trono
“Para que todos honrem o Filho…”
A palavra grega timaō não é mera etiqueta; é o gesto de curvar-se perante o
Soberano. Honrar é reconhecer que a autoridade pertence exclusivamente àquele
que, “sendo na forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus” (Fp
2.6). Quando o culto deixa de ser reverência e se transforma em réplica de
plateia, o Universo inteiro – que “clama com dores de parto” – sente o desvio
(Rm 8.22).
O CULTO QUE SE DESVIA DO PROPÓSITO
O que era adoração tornou-se espetáculo. Os hinos, outrora salmodias que subiam
como fumaça de incenso, agora servem de trilha sonora para celebrar arquétipos
humanos. Os sermões, que deviam ser flechas de teofania, converteram-se em
palestras de autoajuda. O púlpito, antigo lugar da cruz, virou palco de TED
Talks evangélicos. O resultado?
• Humanismo: Cristo é citado, mas não adorado.
• Utilitarismo: Deus vira fornecedor de benesses, não Fonte de beleza.
• Emoção sem temor: arder sem arder-se.
• Glória roubada: homens ocupam o lugar que só o Cordeiro pode ocupar.
Em Apocalipse 3.20, Jesus bate à porta de Laodicéia – não de um bar, mas de uma igreja. A tragédia da apostasia moderna é que o próprio templo o expulsa. Cristo fica lá fora, enquanto dentro ecoam aplausos para quem não é Ele.
A CRUZ QUE DESMONTA O PALCO
A cruz não é ornamento; é explosão. Ela despedaça o ego, desmonta o palco,
silencia o microfone da carne. Onde se prega Cristo crucificado, não há espaço
para performances, pois “o mundo está crucificado para mim, e eu para o mundo”
(Gl 6.14).
• A cruz expõe a profundidade do pecado – e, portanto, a altura da graça.
• A cruz desmascara a falsa espiritualidade – e revela a verdadeira santidade.
• A cruz exige resposta: arrependimento, fé, obediência, expectativa.
Retirar a cruz do centro é retirar o Sol do sistema solar. Tudo vira caos. E o caos, hoje, se chama relativismo moral: “cada um faz o que bem entende aos seus olhos” (Jz 21.25).
A IGREJA QUE ANSEIA PELO NOIVO
A marca dos cristãos bíblicos não é a multidão, mas a expectativa. O verdadeiro
crente respira: “Até quando, Senhor?” (Ap 6.10). Ele não se contenta com
igrejas que parecem shoppings; ele clama pelo Esposo.
• Cristocentrismo: Cristo é o conteúdo, o contexto e o objetivo da
espiritualidade.
• Cruciformidade: cada oração, cada hino, cada pregação cruza os braços e exala: “Não eu, mas Cristo.”
• Santidade: não modismo, mas temor reverente.
• Missão: não autopromoção, mas humildade e quebrantamento para que “Ele cresça”.
UM CONVITE PARA RECOMEÇAR
A boa notícia é que ainda se ouve o som da trombeta. Ainda há tempo de voltar
ao primeiro amor. Como?
Examine o culto: Onde Jesus é menos central, ali se abre brecha para idolatria.
Examine a pregação: Se a cruz é mencionada apenas como pano de fundo, é tempo de levá-la ao centro.
Examine o coração: A glória pertence a Deus; toda outra glória é fogo estranho (Lv 10.1-2).
Examine a esperança: Cristãos que não anseiam pela volta do Senhor estão dormindo noite adentro. Desperte!
Epílogo – A Terra aguarda Romanos 8.19 diz que a criação aguarda “a manifestação dos filhos de Deus”. A Terra não quer show; quer o Filho. E quer vê-lo manifesto em nós. Quando voltarmos ao cristocentrismo e à cruz, não teremos apenas igrejas lotadas – teremos igrejas que fazem o inferno tremer e o céu se regozijar.
Então, curvemo-nos. Em silêncio. Em
temor. Em amor.
E que, desta vez, a resposta não venha do aplauso dos homens, mas do trovão do
Pai: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo. A Ele ouvi!”
C. J. Jacinto
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