FATOS SOBRE A PEREGRINAÇÃO CRISTÃ


 



 

Eu resolvi dar ênfase a vida cristã e a realidade mais profunda da jornada de fé por este mundo, somos peregrinos em passagem pela vida. (I Pedro 2:11) Deus criou o tempo e nos colocou dentro dele, entramos aqui e depois saímos para a eternidade. Mas a jornada em si mesma, embora tenha um destino triunfante, é dotada de uma verdade indiscutível, crer em Cristo e viver o Evangelho é a única vida que de fato vale a pena ser vivida no âmbito espiritual eterno, mas a verdade tem um custo.(Marcos 8:34 e Lucas 9:23) Tendo um fato considerável assim em mente, sabendo de antemão que a glória do Evangelho da mensagem da cruz nos alcançou, é preciso que tenhamos uma noção correta sobre a vida cristã e a peregrinação. Essa é a realidade de fato como experiência de vida, longe das ilusões utópicas que as falsas religiões tentam incutir na nossa mente, apenas desejo realçar os fatos, tal como realmente são de acordo com o que a Bíblia nos revela do começo até o fim.

Primeiro fato. Coisas ruins acontecem com os cristãos, não estamos isentos da experiência que envolve coisas ruins. É fato, Estevão tendo rosto de anjo foi apedrejado até a morte, Jó sendo integro sofreu a mais aterradora das provações, Abraão chorou sobre o Cadáver da sua amada esposa, João foi desterrado na inóspita ilha de Patmos, Tiago foi transpassado pela espada. Coisas ruins acontecem no percurso da peregrinação, tais coisas não são um convite ao desespero, mas ao exercício da esperança celestial, pois tendo um corpo abatido, aguardamos a cidade celeste, Jesus disse: “No mundo tereis aflições”(João 16:33) e de fato é assim, devemos aprender com as dores, as aflições são aulas divinas para treinar o coração do redimido na esperança celestial, “Tu pois sofre as aflições como um bom soldado de Cristo” (II Timoteo 2:3)tendo tal verdade em mente, desejo prosseguir; há um outro fato ainda mais duro de aceitar: nem sempre a escolha por fazer a coisa certa nos concede experiência de justiça dos homens. A escolha por uma causa justa pode nos trazer danos, a escolha de João Batista por defender uma verdade lhe custou a cabeça, a escolha de Paulo por recorrer a Cesar lhe custou o martírio, nem sempre fazer as coisas certas nos trazem bênçãos imediatas, mas podem trazer sofrimento e tribulações momentâneas. Porém é fato que essas dores causadas por escolhas certas, trarão um peso de glória eterna. “Cumpro o resto das aflições de Cristo, pelo seu corpo que é a igreja” (Colossenses 1:24) “Sei estar abatido, e sei também ter abundância, em toda a maneira, e em todas as coisas estou instruído, tanto a ter fartura, como a ter fome; tanto a ter abundancia, como a padecer necessidade” (Filipenses 4:12)

Segundo fato: Nem sempre Deus responde nossas orações de acordo com as nossas perspectivas mais otimistas. Paulo estava sofrendo com um espinho na carne, de certa forma, tal coisa lhe dava uma enorme agonia de sofrimentos, mas ao implorar o favor divino, Deus responde de modo negativo e pede para Paulo considerar somente a Sua graça. “A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza” (II Coríntios 12:9) Assim a vida prosseguiu e Paulo não recebeu o alivio desejado.  Aqui temos as implicações teológicas mais complexas, pois nosso mundo tende a ser cada vez mais hedonista, e falar sobre assuntos de tamanha complexidade e realidade, é um insulto ao intelecto pós-modernista, que ampara-se num consumismo e num materialismo desenfreado seguido de paliativos que tentam anestesiar os problemas mais profundos da alma.

 

Terceiro fato: O mundo é um lugar inóspito para quem defende os absolutos da Palavra de Deus. Não importa o quanto isso possa ser desconfortável, mas a verdade é que se a posição do cristão for firme com relação às verdades da Palavra de Deus, ele estará em apuros algumas vezes e sofrerá perseguições em outras “E também todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus, padecerão perseguições” (II Timóteo 3:12)Cristãos que defendem os valores que são frutos da justiça do Reino de deus não serão bem quistos pela maioria dos incrédulos e também pela maior parte dos cristãos nominais e sofrerá ameaças freqüentes. Será comparado como inimigo da sociedade, será acusado de ser intolerante, fanático e obsoleto. Sei que isso não soa muito agradável, mas o que esperar de um mundo que crucificou o Salvador bendito e matou praticamente todos os apóstolos do Cordeiro? (Com a exceção de João) organizou uma perseguição furiosa contra os primeiros cristãos com o objetivo de arrancar o cristianismo pelas raízes para não florescer nos séculos futuro? Ora o mundo jaz no maligno (I João 5:19) satanás é chamado de “deus deste século”(II Coríntios 4:4) então vamos rever nosso conceito de mundo, pois o sistema é composto de muitos reinos que estão sob o domínio do diabo (Mateus 4:8). Temos uma luta contra inimigos invisíveis (Efésios 6:10 a 18) que de certa forma tomam posse da consciência e do coração dos incrédulos (Efésios 2:2) para serem usados como ferramentas ideológicas opostas aos valores do Reino de Deus e a sua justiça divina.

Quarto fato: O cristão passa por perplexidades e dificuldades, isso faz parte da vida, todos temos essas experiências, de modo que a nossa trajetória pelo mundo muitas vezes nos traz sorrisos e outras vezes lagrimas. Uma das mais sublimes promessas das Escrituras é que Deus enxugará todas as nossas lagrimas, (Apocalipse 7:17 e 21:4) então é lógico concluir que em choro muitas vezes marchamos e gemendo, outras vezes avançamos, mas a glória do celeste porvir é nosso alvo, em João 16 Jesus fala sobre a vinda do Consolador, o Espírito Santo, e sua função é ser um Consolador pelo fato de existir no mundo pessoas que precisam de consolação, de outra forma, como podemos entender a forma de expressão como as Escrituras nos apresentam a pessoa divina do Espírito Santo? É obvio que a função dEle é nos consolar quando a travessia é uma subida íngreme ou a descida é um vale escuro. Em tais situações podemos desanimar, mas devemos prosseguir, pois o Espírito Santo nos consola. “Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados, perseguidos mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos. Trazendo sempre por toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no corpo, para que a vida de Jesus se manifeste também no corpo”( II Coríntios 4:8 a 11)

 

Quinto fato: A morte é uma realidade, Salomão em Eclesiastes diz que a tempo de nascer e tempo de morrer, devemos meditar nesses fatos, os apóstolos morreram, quase todos os que estão na galeria dos heróis da fé de Hebreus 11 morreram! Temos poucos exemplos de santos que não passaram pela morte (Enoque e Elias), porém a morte é uma lei biológica e uma conseqüência do pecado, “ora o aguilhão da morte é o pecado” (I Coríntios 15:56) porém é o ultimo inimigo a ser vencido pelo salvo, haverá um triunfo absoluto da morte na ressurreição e vinda literal de Cristo. “Onde está o morte, o teu aguilhão? onde está ó inferno, atua vitória” (I Corintios 15:55) Não gostamos de ouvir sobre um assunto tão desagradável, mas a verdade é que a bíblia nos dá muitos versículos consoladores sobre esse drama tão sofrível, Paulo considerava a morte como um ganho, (Filipenses 1:21) aos olhos do Senhor a morte de um santo é preciosa (Salmos 116:15)e o livro de Apocalipse fala que a morte do santo é uma bem aventurança espiritual.(Apocalipse 14:13) Assim o que ocorre é que na condição atual, nosso corpo se debilita e adoece, pouco a pouco envelhecemos, nosso corpo debilita-se, envelhece, a lei da entropia aplica-se também aos corpos dos salvos, mas tudo será transformado. “Mas a nossa cidade está nos céus, de onde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o seu corpo glorioso, segundo o seu eficaz poder de sujeitar também em si todas as coisas” (Filipenses 3:20 e 21)

Sexto fato: O triunfalismo terreno absoluto do cristão é um mito, passamos por dificuldades, a injustiça pode vencer por um momento, a função de Jeremias até certo momento não foi bem sucedida, o inimigo pode fazer guerra contra os santos e vencê-los, “E foi-lhe permitido fazer guerra aos santos e vencê-los” (Apocalipse 13:7), mas isso nunca significa a perda da batalha no seu âmbito cósmico e atemporal. Antipas era uma fiel testemunha que perde a vida por causa do testemunho. (Apocalipse 2:13) A voz do pregador que silencia entre os homens pelo martírio, fará sempre coro aos anjos no céu. Muitas vidas são ceifadas por causa de Cristo, de certo modo a incredulidade e os inimigos de Cristo parecem triunfar por um momento, colocando a igreja debaixo de uma perseguição agonizante severa. A historia dos reformadores radicais (anabatistas) está cheia de exemplos, o livro dos mártires de John Fox que fale sobre tal assunto com muita erudição de dores. Por um momento podemos perder uma luta travada na vida, mas ha perdas que se transformam em triunfo absoluto, e a morte de Cristo é exemplo de como Deus trabalha encima de uma suposta derrota para conduzir ao efeito de uma vitória gloriosa. Há perdas terrenas que são ganhos de inestimáveis valores na dimensão celestial e eterna.

Sétimo Fato: as virtudes cristãs podem nos conduzir a vergonha e perdas temporais. Mais uma vez entremos nesse fator importante. Muitas vezes a honestidade pode ser um caminho de fracasso sob a ótica puramente mundana, muitas vezes a sinceridade pode trazer conseqüências terríveis. A vida de Cristo, descrita nos evangelhos apontam para isso, seu exemplo de bondade para com os homens redundou em ódio contra Ele. Muitas vezes a misericórdia divina é respondida com a ingratidão humana. É assim que as pessoas incrédulas e muitos falsos cristãos se comportam. O jogo do mundo é a conveniência pessoal, quase sempre tudo envolve interesses pessoais e egoístas. Não queremos ficar com o prejuízo, a tendência do homem é driblar as circunstancias para não sofrer qualquer tipo de dano material e pessoal. Assim, o mundo é viciado nos fins que justificam os meios, quase sempre a filosofia mundana é pele por pele, tudo quanto o homem tem dará pela sua própria vida, toda a questão do comportamento humano envolve conceitos puramente egoístas, e se o cristão não age em conformidade com a corrupção moral que predomina, sofre os danos e as conseqüências com isso. Mas perdas temporais e materiais podem ser superados, verdades bíblicas são inegociáveis, o sermão da montanha faz uma abordagem muito boa sobre o assunto, e de fato é o mundo muito inóspito para os que querem ser honestos, transparentes e justos. “Na verdade é já realmente uma falta entre vós, terdes demandas uns contra os outros. Por que não sofreis antes a injustiça? por que não sofreis antes o dano?” (Coríntios 6:7)

Conclusão: Aqui temos fatos que tingem a realidade cristã de agonias e sofrimentos na peregrinação. Eu não tenho sido demasiadamente pessimista, a coroação do santo vem por meio da legitimidade da batalha e não do descanso. Sei que o cristão está acima da media nas questões espirituais, e que nossa esperança e consolo são de uma durabilidade eterna, mas isso não significa que devemos viver um céu aqui na terra, o caminho de Cristo pode ser observado tomando a vida dEle nos evangelhos e então entremos no mesmo caminho, seguindo as mesmas pegadas e então chegaremos no fim da jornada, com a experiência beatifica plena: ver a Deus e ser consolado por sua presença.


Clavio J. Jacinto

 

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