O escritor Italiano Italo Calvino no magnífico
livro “As Cidades Invisiveis” descreveu algo interessante, é lógico que ele de
certa forma estava falando de forma figurada, mas no fundo, podemos encontrar
uma grandiosa lição, ele escreveu no livro citado acima:
“O inferno dos vivos não é algo que será;
se existe, é aquele que já está aqui,
o inferno no qual vivemos todos os dias, que formamos estando juntos. Existem
duas maneiras de não sofrer. A primeira é fácil para a maioria
das pessoas: aceitar
o inferno e tornar-se parte
deste até o ponto de deixar de percebê-lo. A segunda é arriscada e exige atenção
e aprendizagem contínuas: tentar saber reconhecer quem e o que, no meio
do inferno, não é inferno, e preservá-lo, e abrir espaço.”
Italo Calvino aborda a questão da vida e suas nuances de dificuldades,
os problemas existenciais, parece que o pensamento fica flertando a estética do
absurdo, mas não é assim. Sabemos que o inferno não é aqui, mas o mundo jaz no
maligno (I João 5;19) então há sim um pouco de inferno no mundo! Cada vez que
lemos Genesis 3 percebo que o diabo quis fazer do paraíso um inferno, mas o paraíso
foi removido, e um pouco do inferno ficou aqui.
O inferno é um lugar móvel, ele será lançado no lago de fogo. É bom
pensar sobre isso, porque essa percepção nos dá discernimento. A ação dos demônios
no mundo, faz da vida de muitas pessoas um “pequeno inferno” aqui neste mundo.
E em parte eu concordo com o escritor italiano. Mas o que vejo na descrição bombástica
extraída do livro “As cidades Invisíveis” é que há uma escolha, a escolha de
perceber as coisas que vão além desse pessimismo que escraviza a raça adâmica.
E então é o que ele diz: “reconhecer o que não é inferno no meio desse inferno”
e assim devemos proceder, porque em
primeiro lugar a igreja de Cristo não é! não me refiro a pseudo igrejas de uma
cristandade apostata, mas refiro-me a um pequeno remanescente bíblico que ainda
está sob a luz dos ensinos das Escrituras e principalmente do Novo Testamento
onde temos a revelação de toda a estrutura espiritual de uma assembléia bíblica.
A percepção do que é verdadeira num mundo de tantas falsidades, a percepção da
ortodoxia numa cristandade cheia de heresias, a percepção dos fatos no meio de
tantas ilusões consiste a força da expressão de Ítalo Calvino. O cristão não
deve ser parte do inferno mundano, porque ele tem o Espírito de Cristo (Romanos
8:29) e nem mesmo deve ter parte nesta condição infernal do mundo. Em segundo
lugar o cristão deve manter o status da natureza celeste dentro da esfera de
vida em que se encontra, pelo menos ao ponto do incrédulo na parte infernal do
mundo possa ver uma esperança em meio ao desespero, possa encontrar luz em meio
as trevas, possa encontrar uma saída em meio ao labirinto existencial e possa
encontrar verdades em meio a tantas ilusões e enganos. Aqui temos a parte
celeste do mundo, porque os que nasceram do alto estão vivendo aqui em baixo,
os regenerados estão caminhando no mundo dos condenados, esse é o papel do remanescente,
ser luz no meio da escuridão em que o mundo jaz ofegante, ser verdade num mundo
cativo pelo engano. A parte infernal desse mundo se dá pela seqüência mórbida da
ação do diabo que engana todo o mundo do princípio ao fim da era que está
andamento até que as primeiras coisas passem. Desse âmbito terrestre onde longe
da visão dualista, apenas se perpetua a rebelião dos homens e demônios que agem
em conjunto para que toda esta estrutura social em que estamos inseridos se
torna num pequeno inferno justamente porque está impregnado de natureza demoníaca.
Ao ler “As Cidades Invisiveis” aprendi a ver o mundo com uma visão
mais bíblica justamente pela expressão do autor do livro. De certa forma, isso
me ajudou a contemplar as coisas terrenas através da luz das Escrituras.
Assim, cada cristão deve bradar a mensagem na cruz, a mensagem da
esperança evangélica em meio a essa sociedade adormecida no caos.
CLAVIO J. JACINTO
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