A REVOLTA DE JOHN






A REVOLTA DE JOHN

Na Sua monumental obra distópica “Admirável Mundo Novo” o visionário Aldous Huxley criou um mundo obscuro, muito além de 1984 de Orwell. No Admirável Mundo Novo de Huxley a felicidade oferecida pelo sistema era artificial e psicológica. O mundo estava debaixo de um domínio condicionado, a verdade era o fruto de uma lavagem cerebral e consumo de elementos químicos “psico-analgesicos”.  A crença era baseada em um condicionamento psicológico, conseqüente de um ajuste social onde o individuo repetia milhares de vezes o que deveria crer ser correto. A química de um elemento chamado de “soma” era o paliativo necessário para se viver livre de qualquer pessimismo social ou espiritual. O Admirável Mundo Novo era admirável justamente porque não havia dor nem sofrimento, parte dos problemas biológicos estavam sanados, o homem não envelhecia (porém morria) mas toda a jornada da vida era condicionada pelo sistema, tudo porém era uma ilusão sob a mascara de fantasias sociais exóticas e existencialistas, essas fantasias eram o Admirável Mundo Novo carregado de uma ambiente de falsa felicidade. As pessoas era fabricadas em série, acho que Huxley foi pródigo em ver um tipo de clonagem humana fora do tempo. Mas o livro tem coisas interessantes, e uma delas era que a bíblia era um livro proibido, tudo o que fazia parte do “velho mundo” era privado religião e cultura principalmente, assim as obras de Shakespeare, por exemplo, também eram proibidos, valores judaicos cristãos tinham sido completamente abolidos como o casamento monogâmico e a família tradicional. A verdade é que de certa forma, o mundo parece caminhar para um estado totalitário desse gênero distópico. As prisões ideológicas eram mais psicológicas do que físicas, e os cidadãos desse novo mundo tinham prazer nisso e eram condicionados a ter horrores aos apelos do velho mundo junto com suas tradições arcaicas e “falidas”, o simples termo “mãe’ pronunciado por alguém dentro dessa sociedade  era um escândalo, um horror verbal.
Dentro desse sistema de castas, o que ocorria era uma lavagem cerebral pré-condicionada, um intricado sistema operacional de manipulação genética onde o destino do homem era controlado desde os laboratórios onde eram produzidos seres humanos em grupos idênticos. Assim temos um Admirável Mundo Novo onde as pessoas eram manipuladas para serem controladas de forma a se sentirem felizes, o que de certa forma não dava uma chance de se sentirem como enganadas. A oposição ao sistema se deu de alguém fora dele, e é ai que entra um personagem, identificado como John, um selvagem intelectual, vindo de um lugar fora do Admirável Mundo Novo, chamado de “Malpaís”. Ele é o grito de oposição que não convence ninguém, ele é quem se escandaliza pela promiscuidade daquelas pessoas criadas em laboratórios e dá seu grito de protesto contra todo aquele sistema de pessoas zumbificadas pelo efeito da lavagem cerebral e efeito de psicodélicos, a manipulação psicológica e uso de drogas no combate a qualquer tipo de dor física ou emocional era uma característica muito distinta daquela sociedade.
De certa forma consegui enxergar um mundo tecnopsicodélico, a conjunção da tecnologia avançada associada aos efeitos de drogas psicodélicas que promovem todo o tipo de êxtases e coloca o homem fora da verdadeira realidade. Isso explica porque os habitantes desse mundo distópico não percebiam a escravidão que estavam submetidos. Huxley foi fenomenal, porque ele apresentou toda uma estrutura social onde as pessoas não sentiam o sofrimento do totalitarismo porque estavam sob constantes efeitos de êxtases provocados por drogas (No romance era chamada de soma) e ao contrario eram completamente dependentes dela. O mundo era maravilhoso de acordo com o ego humano. É nesse cenário de torpor profundo que se ouve o eco do “selvagem” John. Ele não se ilude com essa tecnocracia mística psicodélica. Interessante notar que com a abolição das religiões principalmente o cristianismo, uma figura se destacava como se fosse uma divindade: Ford. Assim temos uma nova religião humanista. Durante a segunda guerra mundial, Stalin e os comunistas mantinham o cadaver de Lenin no Kremlin, acompanhado de um grupo de cientistas que trabalhavam para manter o corpo de Lênin “incorruptível”. O cadáver de Lênin era banhado com produtos químicos com freqüência a fim de mantê-lo preservado e em exposição publica, Stalin e seus associados promoviam a idolatria do personagem citado. A figura do político tornou-se uma divindade onde se prestavam as devidas honrarias religiosas e sociais. Novamente vimos como a tendência humanista é a auto-deificação ou a deificação de uma figura central no movimento de emancipação humana ao totalitarismo, e quase sempre isso se repete na história em todos os tempos, desde a antiguidade até nossos dias.
O fim dos tempos se caracteriza por uma espécie de neognosticismo que se encaixa com uma tecnocracia totalitarista. Admirável Mundo Novo é um mundo onde as pessoas morriam e então seus corpos eram cremados, sem ritos religiosos e sem cerimônias tradicionais. É incrível que agora enquanto escrevo esse artigo, milhares de pessoas em todo o mundo passam por esse processo de cremação depois de mortas pelo Covid-19. A expansão global gnóstica que se move por trás dos eventos é um processo que move-se em direção a deificação do homem. A heresia gnóstica inverte o evangelho. No Novo Testamento Deus se faz homem, na visão gnóstica cada homem se faz deus, e assim precisa ser, pois esse é o caminho para construir a plataforma do homem do pecado o filho da perdição se erguer e ser adorado por um mundo ávido por divindades que preencham os requisitos de suas expectativas mundanas e que apresentam respostas para o existencialismo voraz que assombrará os corações que idolatram o materialismo e a segurança necessária para desfrutar os prazeres da Babilônia que se ergue dos escombros de uma velha democracia arruinada.
Muito bem! Agora desejo fazer uma abordagem voltada para as Escrituras. A fé cristã antes de qualquer coisa era uma libertação, (E ainda é! Veja João 8:32) um novo êxodo para fora dos sistemas complexos de religiões onde predominavam mais elementos humanos do que divinos (Mateus 15:1 a 20) nesse caso podemos citar algo como: “vãs filosofias” (Colossenses 2:8) ou “fábulas astuciosamente compostas” (II Pedro 1:16) e ainda “fabulas profanas” (I Timóteo 4:7). No atual estagio da vida, a economia divina prossegue para um centro que é Cristo (Efesios 1;10) e a consumação de todas as coisas por etapas, até chegar ao estado final de novos céus e nova terra de acordo com os últimos capítulos do livro de Apocalipse. Mas o mundo segue por outro caminho, ele aguarda o aparecimento do homem do pecado.
John protesta contra o Admirável Mundo Novo, ele não quer viver a ilusão provocada por uma vida entorpecida, quando está diante dos lideres dessa falsa utopia, John grita e debate, revolta-se contra esse mundo cheio de paliativos psicodélicos que o impedem de sentir dores, emoções, ele quer ser pessimista quanto ao erro, quer ter o direito de sofrer, de envelhecer, sentir dificuldades na vida, passar por aflições, correr riscos, adoecer, chorar e morrer com dignidade. Esse auge do romance de Huxley é um brado cristão, do verdadeiro pelo menos. No mundo cheio de escapismo, onde a bajulação ao ego é “não sofra mais” a religião evangélica parece ser um Admirável Mundo Novo da religião pós-cristã. Por outro lado vimos o quanto isso é uma influência gnóstica e ao mesmo tempo segue as tendências do humanismo tecnocrático que abre caminho para o transhumanismo. A seqüência disso é a divinização do mortal, os restos mortais de Adão somos nós pecadores que agora encontramos meios artificiais de alienação para conduzir nossa alma por caminhos de transcendências duvidosas, pois o Admirável mundo Novo que se ergue agora é cheio de coloridos suspensos numa sociedade que ama a ilusão digital. Mas nós protestamos contra o mundo que impõe cegueira sobre nós e oferece segurança em troca da nossa liberdade?  A base pelo qual a vida cristã se sustenta é uma esperança de vida eterna ao custo do preço de servir a Cristo neste mundo, nesse caso, é muito melhor sofrer com Ele do que experimentar falsas alegrias num mundo sem Deus e sem Cristo. A construção de um mundo novo sob as potências de homens adâmicos, que querem suprimir a fé cristã e querem disseminar uma nova religião psicodélica, humanista, tecnológica, pragmática e relativista e assim promover a velha heresia de que somos deuses, a primeira que envenenou toda a humanista é a última a entorpecer toda a sociedade.
O grito de John é profético, ele quer sofrer pela verdade se for possível, aliás, é melhor sofrer pelo fato do que se iludir com a mentira. Haverá tempos difíceis para a igreja, as sombras de um mundo totalitarista já obscurecem a jornada dos santos, há necessidade de mais e mais luz espiritual, de firmeza e de discernimento espiritual.

Quando olhamos para dentro dos ensinos de Cristo, entendemos que no mundo teremos aflições (João 16:33) Paulo fala sobre a vida com Cristo e a morte com ganho (Filipenses 1:21) o atual sistema de coisas pertencem ao velho mundo com suas conseqüências da queda, e a restauração futura se dá em processos começando pela regeneração do espírito culminando com a glorificação do corpo, o moral que se reveste a imortalidade, o corruptível da incorruptibilidade como aborda Paulo em I Coríntios 15 com muita maestria teológica. De certa forma precisamos entender que uma teologia de fuga e de escapismo não encontra lugar nas páginas do Novo Testamento, os cristãos enfrentavam a dor e a perseguição e toda a sorte de dificuldades de forma objetiva, sempre olhando com otimismo cristão, “Por muitas tribulações  nos importa entrar no reino de Deus”(Atos 7:10). Assim o grito de John é uma rebeldia contra o sistema do Admirável Mundo Novo, e o nosso grito é contra todas as fantasias e fábulas que servem apenas para entorpecer a nossa sensibilidade quanto a realidade das coisas tais como elas são desde as perspectivas apresentadas nas paginas das Escrituras.
 Mas o grito de John deveria ser um eco nesse atual mundo que vivemos um mundo escravo da tecnologia cedendo seus direitos de liberdade para uma tecnocracia totalitária de controle total que se instaura aos poucos no nosso mundo. E nesse cenário futurístico pouco otimista, a igreja prossegue sua marcha,a perguntas que fica na minha cabeça é:  Quantos estão dispostos a prosseguirem contra as sombras de um admirável mundo novo?



Clavio J. Jacinto


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