Em Jeremias 8:20 o profeta chorão brada um lamento que a sega tinha
passado e o verão findando e “Nós não estamos salvos”. Essa percepção
espiritual arguta veio de um profeta que tinha intimidade com Deus, e sabia que
a apostasia do povo de Deus era uma realidade pouco perceptível para a maioria
senão quase todos os seus contemporâneos. A história do ministério de Jeremias
se caracteriza por essa percepção profunda da realidade espiritual, mas o povo
não estava inclinado a ouvir uma mensagem de juízo e advertência. O povo estava
propenso a ouvir coisas mais brandas, e os falsos profetas ofereciam esse
produto no mercado religioso. Essa é a grande diferença para nossos dias
também, aliás sempre deve haver aquela disponibilidade de ouvir o que Deus quer
falar e não procurar nunca, pregadores que ofereçam mensagens empacotadas de
acordo com os interesses do nosso egoísmo.
Em Jeremias 29, encontramos uma carta de consolação enviada aos cativos
da babilônia, no livro de lamentações encontramos o choro abundante sobre as
ruínas de Jerusalém. A questão crucial para nosso tempo é ouvir com disposição
o que Deus deseja falar, e já é tempo de despertarmos do nosso colossal e
profundo, pois os dias de dificuldades chegaram violentamente sobre nossas
vidas, e nos faltam profetas do quilate de Jeremias. A percepção “Não estamos
salvos” é um confronto, não um confronto ideológico e materialista, mas
decisivamente espiritual, séculos separam-nos de Jeremias, mas o seu brado é
atual. Precisamos emitir um parecer correto sobre a nossa própria condição “Tem
cuidado de ti mesmo e da doutrina” (I Timóteo 4:16) e em outra parte ainda
lemos: “Examinai-vos a vós mesmos, se permaneceis na fé; provai-vos a vós
mesmos, ou não sabeis quanto a vós mesmos, que Jesus Cristo está em vós? Se não
é que já estais reprovados.”( II Coríntios 13:5)
A percepção do profeta é identificativa, ele está inserido no contexto
da apostasia, uma crise moral e espiritual se abatia sobre o povo de Deus e
Jeremias estava ali no meio dessa crise de identidade e afastamento dos caminhos
do Senhor. O perceber tarde de mais pode ser uma grande tragédia, não foi uma
ruína completa para o Profeta porque mesmo diante de toda a extensão da ruína
espiritual do seu povo, ele era um salvo. Mas a sua identificação com a
realidade era severa, de tal modo que ele mesmo sofre as conseqüências da
tragédia na dimensão física. Jeremias vê Jerusalém em ruínas! e ele diz que não
estavam salvos. Paz e segurança eram os emblemas proféticos dos falsos
profetas, no brasão do estandarte dessa estirpe de ministros da mentira, havia
o símbolo da paz e da prosperidade, essa era a mensagem aceitável, tão estimada
eram as vozes desses algozes da verdade, que conseguiam arrancar o dobro de
aplausos no que tange a medida de perseguição que sofreu o profeta verdadeiro:
Jeremias.
Ora, também temos nós sérias advertências sobre uma vida alienada pelos
falsos discursos, a comichão nos ouvidos nos impele a buscar falsos doutores
que com palavras palatáveis, assumam o controle de nossos ouvidos e ofereçam
satisfação e o prazer de abrandar a coceira dos ouvidos.
Em I Tessalonicenses 5:4 Paulo fala da necessidade de estarmos na luz
para não cairmos na armadilha da surpresa relacionada ao dia do Senhor. O fator
surpresa é puramente mundano, ao cristão bíblico, a posição espiritual é de um
soldado no exercício da militância, é estar preparado para a vinda de Cristo.
No entanto, encontramos alguns exemplos nobres nos evangelhos que nos remetem
para o confronto, a saber, que devemos ter percepção espiritual aguçada para
que não tenhamos a indigna noção de perceber uma verdade fundamental fora do
seu tempo adequado, ou seja: percebê-la pelo meio mais trágico; tarde demais.
E assim, abrindo as páginas do Novo Testamento, encontramos a história
daquele fazendeiro rico em Lucas 12, que teve um grande êxito no seu
empreendedorismo, ao ser muito bem sucedido na cultura e sega, colheu de tal
modo grãos e frutos, que os víveres para a sustentação da vida estavam
garantidos por muitos anos. Mas o que não percebia o pobre fazendeiro insensato,
é que a vida do homem não pertence ao homem. Enquanto ele se regalava numa
frieza moral, indispostos a pensar na célebre declaração de Salomão de que há o
tempo de nascer e há o tempo de morrer, naquela noite fatídica seria a sua vez
de ser chamado a eternidade. Deus declara do seu trono enquanto aquele homem se
ufanava de ter muitos bens para viver tranqüilo o resto da vida, mas o que ele
não percebia que o resto da sua vida eram apenas mais algumas horas e nada
mais, pois Deus bradou de cima: “Louco esta noite te pedirão a tua alma ; e o
que tens preparado para quem será?” (Lucas 12:20) não percebia aquele homem a
brevidade da vida, um vapor que aparece e logo desaparece. E era então suas
últimas horas no mundo, breve seria recolhido á eternidade, mas ele não
percebia isso. Findou a vida, deixou este mundo e não estava salvo. Seria
também esta a condição do dileto leitor?
Então prosseguimos nas páginas do Santo evangelho de Lucas, o medico
amado, e lá no capítulo 16 encontramos outra historia, do rico e do Lazaro.
Ambos morrem, são meros mortais, vapores humanos que chegaram ao mundo e não
podem permanecer senão alguns anos sobre ele. Aconteceu que Lazaro morreu e foi
levado pelos anjos ao seio de Abraão e o rico também morreu e quando deu-se por
si mesmo estava atormentado nas chamas do Hades. “E no inferno ergueu os olhos,
estando em tormentos...” (Lucas 16:23) estava ali um homem que acreditava na
morte dos outros, talvez você também siga a mesma filosofia de vida. Ele sabia
que a morte existia, Vimos que o primeiro a morrer foi Lazaro, e o rico viu a
morte ceifando a vida do mendigo que jazia a porta de sua casa com fome. A
morte estava diante de seus olhos, foi testemunha ocular da brevidade da vida,
mas não percebeu que ele seria o próximo. Quando se dá conta da sai situação
precária e arruinada é tarde demais, lembrou-se de sues irmãos, e descobriu que
mortal algum merece aquele lugar de horror e tomento. Ficaram para trás sua
riquezas e posses, aquele que bebia o melhor vinho agora está mendigando um
pingo de água. Que tragédia! Sua percepção agora estava aguçada, ele via as
profundezas de sua própria alma, a vida para ele estava desnuda, os pecados
expostos, note que ele não pede para sair dali, por mais pungente que seja cada
minuto de tormentos, esse era um lugar adequado para um homem que permaneceu
debaixo da impiedade durante toda a vida, o lugar sombrio é o lar adequado para
um coração sinistro, ele não deseja sair de lá, mas ao mesmo tempo não quer que
seus irmãos tenham o mesmo destino de pavor. E assim, percebe tarde demais que
a condição de sua alma era de ruína e nunca quis se arrepender de seus pecados,
e ao rico podemos também concluir: Findou a vida e deixou este mundo, mas não
estava salvo.
Há outra passagem muito interessante, agora no livro de Mateus, capítulo
24, acerca do sermão profético proferido por Cristo, nos versículos 37 a 39,
nosso santo Salvador faz um paralelo entre os dias de Noé e os dias da Sua
vinda. Nosso bendito Salvador explica que assim como foi nos dias de Noé, também
será por ocasião da Sua vinda, comiam e bebiam, casavam-se de davam-se em
casamento e não perceberam, até que veio o dilúvio e levou a todos os
impenitentes e insensíveis. Os dias eram terríveis, pois havia uma sensação de
conforto, prazeres e prosperidade que escondiam os perigos por trás de uma
sociedade de decadência moral excessiva. Não importa o quanto isso tudo a
anestesie uma geração pervertida, mas a verdade é que o fato de não perceberem
a raiz da iniqüidade que findou no colapso total da civilização ante-diluviana
foi a corrupção moral extrema que havia naquela época entre os povos. Note que
também eles estavam como que embriagados, pois tornaram-se insensíveis diante
do conforto materialista e os prazeres da carne que estabeleciam a civilização
contemporânea de Noé. Então esses prazeres e luxúrias impediram as pessoas de
perceberem com antecedência que o que semeia na carne colherá a corrupção e era
isso que estava acontecendo naqueles dias. Mesmo sendo Noé um pregador na
função de tábuas, na construção do navio e depois também pregador profético,
anunciando a chegada de um cataclismo universal, o povo se encontrava em
profundo torpor. Mas o dilúvio veio e levou a todos. Quando perceberam, era
tarde demais. As mesas fartas foram levadas pelas águas, o materialismo e as
riquezas foram levados pelas águas, os adúlteros e os bêbados foram se afogaram
nas águas, orgulhosos, idólatras e avarentos, todos se afogaram nas águas
torrenciais daquela catástrofe. Todos esses exemplos que citei são provas do
quanto o homem é propenso à insensibilidade e dureza do coração. Que trágico
saber que aquele povo tinha testemunhas, Enoque e Noé eram luzes que brilhavam
em meio a escuridão, profetas que mantinham acesa a mensagem profética da
advertência divina, mas ninguém estava interessado em ouvi-los, e quando
perceberam que a mensagem era verdadeira, era tarde demais, assim o vapor da
vida se dissipou, a hora do juízo chegou, para aqueles homens, a vida se findou
e todos deixaram o mundo, e só perceberam o fato quando era tarde demais. Temo
que grandes partes das pessoas que lêem essa pregação estejam na mesma
situação.
“Por isso estai vós apercebidos também” (Mateus 24:44)
Autor: Clavio J. Jacinto
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UM GRITO NO CALVARIO
I
Há um rio além das montanhas escuras
Um jardim distante das estrelas
O mel do orvalho frio e duro
O muro da madrugada fortalecida
II
Há um calabouço no coração humano
Uma blindagem na alma faminta
Um antro cavado na turfa negra
Os musgos aglomerados na consciência
III
Há um carvão amolecido na praia
O espaço líquido das lágrimas em cubos
O homem e a espada se beijam ali
Ferindo-se nas batalhas consigo mesmo
IV
Que será do pobre homem sem luz?
Lavado pelos açoites das ondas da vida?
Ferido pelos grilhões das suas próprias ações
Viajando pelos vagões da insana soberba
V
Ainda que a esperança desponta no tempo
Há no Calvário uma luz que brilha mais forte
Mas o homem perdido em seus caminhos
Ainda insiste em buscar a eterna morte...
(CJJ)
Comunhão Biblica Bereiana
Paulo Lopes SC
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