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“Não sejais vagarosos no cuidado, sede
fervorosos no espírito, servindo ao Senhor” (Romanos 12:11)
“E era instruído no
caminho do Senhor e, fervoroso de espírito, falava e ensinava diligentemente as
coisas Dio Senhor...”(Atos 18:25)
a origem da palavra
“fervor” vem do latim fervere, que significa brilhar e ferver. A palavra
original do Novo Testamento grego é ζέοντες (zeontes) a raiz do termo indica o
calor suficiente que possibilita a fervura da água, por isso não é muito
deferente da raiz latina “fervere”. É
claro que de forma figurada significa uma paixão ardente, um amor intenso por
algo ou por alguém. O cristão fervoroso é aquele que tem um amor muito grande
por Deus. Essa é base pelo qual se sustenta a verdadeira espiritualidade, não
menos que isso. Deus abomina a mornidão
Em Apocalipse temos o oposto da religião
caracterizada pelo fervor: a mornidão e a frieza. O morno em Apocalipse 3:16 no
grego é χλιαρὸς (chliaros) denota pouca paixão, dubiedade e é provocado por
algo sem excesso, sem intensidade e puramente fraco. A origem da palavra morno
no português é atribuída ao espanhol “modorro” e esta associado à preguiça e
sonolência., um sinônimo alternativo para morno é tépido, que vem do latim
“tépidus” que significa pouco intenso, superficial, raso. A qualidade da vida
espiritual de cada cristão pode ser avaliada a partir desses conceitos morno ou
fervoroso. O fervor denota sempre uma vida de grande paixão e profundidade.
Desde a experiência de uma crucificação profunda quanto a vida de frutificação
na presença do Senhor por ser Cheio do Espírito santo, a condição necessária
para ter uma vida plena de frutificação espiritual.
Pelo fato do Evangelho está associado a
mensagem da cruz, o altar onde o Filho de Deus foi imolado por causa de nossos
pecados, é notável que não há nada de superficialidades na redenção. Aplica-se
essa verdade aos redimidos.
Talvez seja muito implicante tratar de um
assunto tão solene quanto a vida do cristão fervoroso, mas é bom começarmos
pelo lado da correção. Zelo sem entendimento não o mesmo que fervor espiritual.
Paulo testemunhava de que os judeus tinham um
zelo religioso muito intenso, porém era zelo sem entendimento (Romanos 10:2)
essa é uma característica distinta da religião dos judeus na época de Cristo,
algo completamente fora dos padrões espirituais exigidos pelo Senhor com
relação a vida fervorosa autentica. No Capitulo 10 de Lucas, quando a abordagem
á a parábola do bom samaritano, a questão principal envolvia um doutor da lei
que não sabia quem era o seu próximo. Toda a parábola mostra o zelo sem
entendimento do Levita e do sacerdote. Assim, jamais devemos confundir, pois
fervor espiritual não é zelo religioso. Alguns grupos contemporâneos do
apóstolo Paulo tinham um zelo muito bom sobre certos aspectos da vida moral, os
estóicos são um exemplo desses grupos. Podemos notar também que havia muito
zelo entre alguns gnósticos, vivendo uma vida de austeridade, a comunidade dos
essênios pode ser um exemplo de uma religião cujo adeptos tinham um grande
zelo.
O fervor espiritual só é possível em um coração
regenerado que tem acesso as riquezas insondáveis de Cristo, é posivel somente
para os cristãos que pelo novo nascimento, tem um acesso ao trono da graça e
uma comunhão com Deus, de modo que o Senhor é o centro da vida e do amor, amar
a Deus de todo o coração, alma e pensamento é a base pelo qual repousa uma
devoção fervorosa.
A condição pelo qual podemos alcançar a vida de
fervor espiritual é através da renovação do nosso entendimento (Romanos 12:2)
não menos do que isso. Afeiçoes rasas nos levam para a hipocrisia, mas
sentimentos profundos nos levam para a transformação do caráter.
Assim, entendemos que o fervor espiritual só
pode ser alcançado de acordo com o nível do nosso amor por Deus e pelo
evangelho. O amor nos conduz a sujeição, o fervor espiritual esta intimamente
conectado a vida de obediência e sujeição ao Senhor. Note que o homem prudente
em Mateus 7 ouve pratica os ensinos de Cristo. Escreveu Thomas Watson em sua
obra; A Body of Divinity: “Um bom cristão é como o sol, que além de irradiar
calor circula a terra. Assim, aquele que glorifica a Deus, não tem somente suas
afeições aquecidas com o amor de Deus, mas também realiza suas obras com vigor
na esfera da obediência” Assim a lâmpada da vida é aquecida por essa vida
espiritual plena que produz um elevado nível de amor e afeição por Cristo e
pelo Evangelho, de modo que a vida cristã é notável pela qualidade de vida
espiritual que manifesta na esfera devocional do relacionamento com Deus e com
a vida espiritual que é lapidada e moldada a partir desse relacionamento intimo
com o Criador.
Assim o fervor espiritual é um sinal da
presença do Espirito Santo, não se trata de uma vida de zelo religioso sem
entendimento, tão comum em todas as religiões, até mesmo as mais pagãs, mas
numa vida espiritual de discernimento e coragem. Discernimento porque a lâmpada
tem azeite, o que significa que não há escuridão predominante para obscurecer o
coração, coragem porque nem sempre a peregrinação cristã é um caminho suave e
agradável á carne, mas de desafios e sobriedade. Vimos por exemplo a vida de
alguns homens que eram fervorosos, Elias e Enoque são exemplos de fervor
espiritual seguido de discernimento, pois viviam numa época saturada de
confusão e muita apostasia e engano espiritual. Mesmo assim, diante da
escuridão eles permaneceram fieis, ainda que de certo modo se sentissem
solitários por viverem numa sociedade cheia de iniqüidades.
Por outro lado, lemos no clássico; Afeições
Espirituais de Jonathan Edwards, sobre o problema da mornidão: “ a Religião
Deus exige e aceita não consiste em anseios débeis, enfadonhos e sem vida, que
pouco nos elevam acima do estado de indiferença. E, sua Palavra, Deus nos insta
com veemência que sejamos sinceramente bons, de espírito fervoroso e de coração
fortemente comprometido, com a religião. Esse compromisso vigoroso e cheio de
fervor no coração com a religião é fruto da verdadeira circuncisão do coração,
ou a regeneração verdadeira, e tem consigo a promessa de vida” Edwards então
conclui: “Se não tivermos compromisso sério com a religião. e nossa vontade e
inclinação não atuarem com energia, não seremos nada”
As inclinações da nova natureza do homem
redimido tendem sempre para o progresso no sentido de crescimento e experiência
nas coisas concernentes ao Senhor. Lemos em Provérbios 4:18 e a vereda do justo
é como a luz da aurora que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito. Isso
denota avanço em uma maturidade que só é possível para a vida regenerada. Da
mesma forma em II Pedro 3:lemos que devemos crescer na graça e no conhecimento,
e o versículo termina com a conclusão de que esse crescimento redunda sempre em
glória para o Senhor e não para o homem. De modo que entendemos que o fervor
espiritual não a naquelas manifestações supostas de uma espiritualizada que faz
com que tal pessoa torne-se “super-espiritual. A vida espiritual autentica é
totalmente dependente do Senhor, o homem espiritual percebe que vive absoluta,
mente para a glória de Deus e depende completamente da graça e da misericórdia
de Deus, é nesse sentido que entendemos expressões de Cristo que remetem para
as profundezas de Deus e que só podem ser compreendidas por uma coração que
esteja iluminado pela luz da gloria do evangelho, passagens como aquelas que
definem de bem aventurados os pobres de espírito porque os tais pertencem ao
reino do seu poder só podem ser entendidas dentro do habito do fervor
espiritual, pois quanto mais um homem recebe do Senhor, mais ele percebe da
carência de ser totalmente dependente dEle.
Ser fervoroso só é possível para quem é cheio do Espírito, um
fato produz outro fato e estão interligados pelo princípio da dependência,
assim como uma lâmpada só permanece acesa quando existe combustível para manter
o fogo aceso. Infelizmente há certas noções erradas, puramente equivocadas com
relação a ser espiritualmente fervoroso. Uns acham que o barulho feito por
impulsos descontrolado, ou comportamentos bizarros são sinais de fervor
espiritual, assim como os religiosos com o zelo sem entendimento que foi
abordado nesse artigo. Há dois mover no homem fervoroso, a primeira é vertical
e a outra é horizontal, na vertical que é a principal, o homem fervoroso de
espírito volta-se completamente para o objetivo pelo qual ele foi criado ser
servo de Deus e adorador por excelência. Hermann Bavinck, ao abordar a relação
entre os ofícios de Cristo (Profeta, Sacerdote e Rei) ensinou que é através do
oficio triplo de Cristo que a imagem de Deus é restaurada no homem, ora,
através do novo nascimento o homem recebe o batismo do Espírito Santo, e então passa
a ter todas as condições necessárias para viver cheio da presença do Espírito
de Cristo e viver de forma fervorosa e tornar o cristianismo como algo real na
sua vida. Bavinck escreveu: Toda a imagem de Deus deve ser restaurada no homem,
conhecimento, justiça e santidade. O homem por inteiro deve ser salvo, alma e
corpo, cabeça mão e coração. Nós precisamos de um Salvador que nos redima
perfeita e completamente e que realize plenamente em nós Seu propósito
original”. Assim na via vertical o ser fervoroso é ter um relacionamento intimo
com Deus Pai e com Seu Filho Jesus Cristo (I Coríntios 1:9) a comunhão com o Senhor é a vida fervorosa,
aqui abre-se a porta para o zelo com entendimento, e fervor e zelo com entendimento
é o resultado da vida consagrada a Deus e cheia do Espírito Santo. O homem espiritual é fervoroso porque busca o reino
de Deus e a sua justiça, tem fome e sede espiritual, busca viver a plenitude
cristã, quer orar e estudar as Escrituras, quer viver dentro da realidade do
Evangelho.
Há também a inclinação horizontal, que é a inclinação de servir
ao próximo. Voltemos para Lucas 10, onde encontramos a parábola do bom
samaritano. Ali vimos que o levita e o sacerdote tinham grande zelo religioso,
com certeza sentiam grandes emoções por servirem na casa do Senhor, a agenda
religiosa era fiel aos preceitos da religião que praticavam. Mas eram completamente indiferentes com
relação ao serviço ao próximo, eram insensíveis aos problemas da humanidade a
sua volta. A falta de atividade e a irresponsabilidade como uma pratica de
religião morta impedia a doação da vida e do amor aos necessitados. Ser cheio
do espírito e ser fervoroso é andar na direção do bom samaritano Gene Edward
veith Jr escreveu: “De fato, este é o propósito de todas as vocações: amar e
servir o nosso próximo. Deus não nos diz para amar a humanidade de uma forma
abstrata, mas para amar o nosso próximo: o ser humano real, tangível, a quem
ele chama para dentro da nossa vida”. Veja o amado leitor que a ordem a sermos
fervorosos no espírito está dentro de um contexto em que se aplica ao amor ao
próximo a comunhão de necessidade entre uns e outros na assembléia local e a
comunidade onde o cristão está inserido. (Leia Romanos 12:8 a 12) O serviço de
ajuda ao próximo em forma de auxilio e intercessão é a forma vertical do nosso
fervor espiritual. Ora em Romanos12:1 Paulo fala sobre o culto racional, nesse
caso estamos lidando com a questão do fervor espiritual de forma vertical, é a
questão do relacionamento entre Deus e homem que foi aberto pelo sacrifico
perfeito que Jesus realizou na cruz do Calvário (Hebreus 10:19 a 23). Ao completar este pequeno estudo bíblico, volto
a abordar o problema atual na cristandade de ver o modo e a expressão de ser fervoroso
no espírito como a pratica de um fanatismo irracional e outras bizarrices
comportamentais. Toda experiência espiritual que não fertiliza a alma do
redimido para que produza o fruto do Espírito , não é uma experiência
espiritual genuína, mas misticismo barato e estéril.
“Deus foi gravemente e inevitavelmente falsificado por todos
aqueles que falaram dele, sem serem radicalmente transformados por ele." (Maurice Zundel)
Clavio J. Jacinto
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