Introdução
Os livros apócrifos (ou deuterocanônicos, como são chamados pela Igreja Católica) são textos religiosos que, apesar de seu valor histórico e literário, não foram reconhecidos como parte do cânon sagrado das Escrituras pela tradição judaica, por Jesus, pelos apóstolos e por muitos pais da Igreja primitiva. Este artigo examina as razões pelas quais esses escritos não devem ser considerados inspirados por Deus, analisando evidências bíblicas, históricas e teológicas.
1. O Cânon Judaico e o Testemunho de Jesus
A. O Tanakh: A Bíblia de Jesus e dos Apóstolos
Jesus e os apóstolos frequentemente citavam as Escrituras do Antigo Testamento, mas nunca mencionaram os livros apócrifos. Em Lucas 24:44, Jesus afirma:
"São estas as palavras que vos falei, estando ainda convosco: que importava que se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos."
Essa declaração confirma a divisão tradicional do cânon hebraico (Tanakh):
1. Torá (Lei de Moisés)
2. Nevi’im (Profetas)
3. Ketuvim (Escritos, incluindo os Salmos)
Os apócrifos não faziam parte desse cânon reconhecido pelos judeus.
B. A Declaração de Jesus sobre o Cânon
Em Lucas 11:51, Jesus menciona:
"Desde o sangue de Abel até ao sangue de Zacarias, que foi morto entre o altar e o templo; assim vos digo que desta geração será requerido."
- Abel é o primeiro mártir (Gênesis 4:8).
- Zacarias é o último mártir registrado no Antigo Testamento (2 Crônicas 24:20-22).
Jesus delimitou o cânon desde Gênesis (o primeiro livro) até Crônicas (o último na ordem judaica), excluindo os apócrifos.
2. Falta de Atributos Divinos nos Apócrifos
A. Ausência de "Assim Diz o Senhor"
- No Antigo Testamento canônico, expressões como "Assim diz o Senhor" aparecem mais de 3.800 vezes.
- Nos apócrifos, não há nenhuma afirmação direta de inspiração divina.
B. Erros Históricos e Doutrinários
Os apócrifos contêm:
- Contradições históricas (ex.: Tobias 1:3-5 vs. 2 Reis 15:29).
- Doutrinas estranhas, como oração pelos mortos (2 Macabeus 12:44-45) e justificação por obras (Tobias 12:9).
C. Admissão de Autoria Humana
O autor de 2 Macabeus 15:38-40 admite:
"Se ficou bem e como convinha à história, era isso que eu queria; se foi medíocre e inferior, foi o que pude fazer."
Isso contrasta com a afirmação de inspiração divina presente nos livros canônicos (2 Timóteo 3:16).
3. A Rejeição pela Igreja Primitiva e pelos Reformadores
A. São Jerônimo e a Vulgata
Jerônimo, tradutor da Vulgata Latina, rejeitou os apócrifos, afirmando:
"Toda obra que não esteja entre os 24 livros da Bíblia Hebraica deve ser considerada apócrifa." (Prologus Galeatus)
B. Concílios e Padres da Igreja
- Atanásio (367 d.C.), Cirilo de Jerusalém (375 d.C.) e Rufino (400 d.C.) rejeitaram os apócrifos.
- O Concílio de Cartago (397 d.C.) os incluiu sob influência de Agostinho, mas sem unanimidade.
C. A Reforma Protestante
Lutero e outros reformadores reafirmaram o cânon hebraico, classificando os apócrifos como "leitura edificante, mas não Escritura".
4. Os Apócrifos e a Igreja Católica
A Igreja Católica só oficializou os apócrifos no Concílio de Trento (1546) em resposta à Reforma, usando-os para apoiar doutrinas como:
- Oração pelos mortos (2 Macabeus 12:44-45)
- Justificação por obras (Tobias 12:9)
- Culto a anjos (Tobias 12:12-15)
Essas doutrinas não têm base nos 66 livros canônicos.
5. Lista dos Principais Livros Apócrifos
Livro |
Problemas |
1 e 2 Macabeus |
Histórias pós-exílicas sem inspiração profética |
Tobias |
Anjos mentirosos, magia (Tobias 6:5-8) |
Judite |
Narrativa lendária com erros históricos |
Sabedoria de Salomão |
Filosofia helenística, não judaica |
Eclesiástico (Sirácida) |
Sabedoria humana, não divina |
Baruque |
Atribuído a Jeremias, mas escrito séculos depois |
Acréscimos a Daniel (Bel e o Dragão, Susana) |
Lendas sem conexão com o original |
Conclusão
Os apócrifos não foram reconhecidos por:
1. Jesus e os apóstolos, que seguiram o cânon hebraico.
2. A Igreja primitiva, que os rejeitou até o século IV.
3. Os reformadores, que retomaram o cânon original.
Sua falta de inspiração, erros doutrinários e origem questionável confirmam que não são Palavra de Deus. Portanto, devem ser lidos com discernimento, mas não equiparados às Escrituras.
"À lei e ao testemunho! Se eles não falarem segundo esta palavra, nunca verão a alva." (Isaías 8:20)
Fontes e Referências:
- Bíblia Almeida Corrigida Fiel
- Prologus Galeatus (São Jerônimo)
- Enciclopédia de Apologética – Norman Geisler
- O Cânon das Escrituras – F.F. Bruce
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