Quietismo: Uma Espiritualidade Passiva e Seus Perigos


 


Quietismo: Uma Espiritualidade Passiva e Seus Perigos

1. O que é o Quietismo?

Traduzido do latim, quietus significa “paz” ou “tranquilidade”. O quietismo foi um movimento místico-ascético surgido no seio do catolicismo entre os séculos XVI e XVIII. Sua principal característica é a ênfase em um estado interior de calma profunda e de aceitação passiva da vontade divina. Em vez de buscar ativamente a presença de Deus, o adepto quietista aspira a uma espécie de “aniquilação” da vontade própria e a um recolhimento contemplativo, onde tudo deve ser entregue a Deus de maneira passiva.

2. Origem e Influências

O quietismo tem raízes no misticismo espanhol do século XVI, especialmente nas obras de Miguel de Molinos, seu principal sistematizador. Entretanto, ideias semelhantes já estavam presentes em Teresa de Ávila, que escreveu sobre o caminho da alma de volta a Deus por meio do desapego e da entrega total. Embora Teresa não seja uma quietista no sentido técnico, suas experiências místicas abriram espaço para a formulação de práticas semelhantes.

Outro nome importante foi João da Cruz, que levou ao extremo a ideia da “noite escura da alma”, onde toda sensação espiritual é anulada até que reste apenas a fé e o silêncio interior. Contudo, entre os nomes mais representativos do movimento está Jeanne Guyon, que combinou a espiritualidade quietista com uma leitura devocional das Escrituras.

3. A Influência do Neoplatonismo

Embora disfarçado sob linguagem cristã, o quietismo se alimenta de conceitos herdados do neoplatonismo, especialmente a ideia de união da alma com o Uno — o absoluto — que foi reinterpretada como “união com Deus”. Essa fusão de espiritualidade mística com uma filosofia de origem pagã torna o quietismo uma doutrina ambígua: ao mesmo tempo em que propõe uma vida interior intensa, desvia-se do fundamento bíblico objetivo.

4. A Espiritualidade Passiva e Seus Riscos

O quietismo promove uma espiritualidade de natureza psicológica, fundamentada na passividade mental e na abdicação completa da vontade pessoal. Tal entrega, quando dissociada da vigilância espiritual e do exame das Escrituras, pode se tornar extremamente perigosa.

A Bíblia ordena aos cristãos que "provem os espíritos" (1 João 4:1-6), o que exige discernimento e ação ativa. Uma mente passiva se torna vulnerável ao engano espiritual, pois deixa de exercer o filtro da verdade revelada. A fé cristã nunca é apresentada nas Escrituras como uma inatividade contemplativa, mas como obediência dinâmica, prática da Palavra e vigilância constante.

5. Conflitos com a Igreja Católica

O quietismo foi condenado como heresia pela Igreja Católica. Um dos motivos foi que seus praticantes, ao buscar uma comunhão mística direta com Deus, começaram a desprezar os sacramentos, os santos e a intermediação eclesiástica. Essa tendência minava a autoridade da Igreja e criava uma espiritualidade subjetiva que, embora sincera, era considerada perigosa e desordenada.

A Inquisição viu no quietismo um movimento potencialmente subversivo — não tanto por causa de seu fervor espiritual, mas por sua rejeição prática das estruturas religiosas estabelecidas.

6. A Oração: Atividade, Não Passividade

Jesus ensinou a oração como um ato de comunhão ativa com Deus, e não como um esvaziamento mental. A oração bíblica envolve súplica, intercessão, adoração e confissão — ações conscientes do espírito humano voltado a Deus.

Da mesma forma, a vida cristã é descrita como uma corrida, um combate e uma jornada. O apóstolo Tiago declara que devemos ser praticantes da Palavra e não apenas ouvintes (Tiago 1:22). O cristianismo é, por natureza, ativo. Ele nos chama a resistir ao diabo, a nos revestir da armadura de Deus, a batalhar pela fé e a frutificar em boas obras.

7. Considerações Finais

O quietismo tentou simplificar o caminho para a vida espiritual e talvez, em parte, oferecesse uma resposta ao formalismo e à frieza institucional. Seus líderes, como Molinos e Guyon, eram provavelmente sinceros em seu anseio por intimidade com Deus. No entanto, a sinceridade não é critério suficiente para validar uma doutrina.

A busca por uma espiritualidade profunda é louvável, mas deve ser trilhada pelos caminhos bíblicos. A Bíblia é o critério seguro para evitar os perigos do misticismo subjetivo, do esoterismo disfarçado de devoção e de experiências espirituais não testadas.


"Examinai tudo. Retende o bem." — 1 Tessalonicenses 5:21

 

O texto original do artigo é de autoria de C. J. Jacinto, o artigo foi reescrito, corrigido e as ideais foram organizadas através de AI, a fim do texto ficar mais didático, o que de fato possibilita ao autor elaborar mais artigos e estudos bíblicos.

 

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