A Superficialidade Religiosa e o Declínio da Espiritualidade Bíblica


A Superficialidade Religiosa e o Declínio da Espiritualidade Bíblica

 


C. J. Jacinto

 

Vivemos em uma era marcada por “retornos rápidos”, recompensas instantâneas e um desejo voraz por soluções fáceis — tudo com o mínimo de esforço e custo. É a era da conveniência e da superficialidade. A profundidade espiritual tornou-se algo raro, quase indesejado. A resistência — que outrora era sinal de caráter — passou a ser vista como obstáculo.

T. Austin-Sparks alertava que a super-artificialidade tem causado danos profundos à Igreja. Estamos cercados por uma espiritualidade plástica, alimentada por um cristianismo artificial, uma comunhão superficial e uma vida que não resistirá quando vier o tempo da provação. É um cristianismo que não tem raízes, não suporta pressões e não carrega a marca do discipulado genuíno.

 

A Religião Fast Food

Muitos hoje são atraídos por uma “religião fast food” — rápida, emocional e conveniente. Os sermões são rasos, diluídos e cuidadosamente moldados para evitar qualquer confronto com o pecado, a cruz ou a santidade. A espada afiada da Palavra de Deus, que separa alma e espírito (Hebreus 4:12), é substituída por mensagens que massageiam o ego humano.

A figura de Deus é distorcida para se adequar a um molde utilitarista. Ele deixa de ser o Senhor soberano para se tornar um mero servo das vontades humanas. É um deus criado à imagem do homem moderno — manipulável, previsível e funcional.

Rejeição do Caminho Bíblico

O caminho estreito, solitário e sacrificial da verdadeira peregrinação espiritual é evitado a todo custo. Poucos querem seguir os passos de Elias, Jeremias ou Enoque. Em vez disso, prefere-se o caminho largo da popularidade, o caminho de Jezabel, cercada por profetas que dizem o que o povo quer ouvir (1 Reis 22:13-14).

A santidade bíblica — um dos temas centrais da Escritura — é sistematicamente retirada dos púlpitos. Falar de cruz, pecado e separação do mundo não atrai multidões movidas por sentimentos e desejos pessoais. Contudo, o apóstolo Paulo foi claro: “Todos os que querem viver piedosamente em Cristo Jesus sofrerão perseguições” (2 Timóteo 3:12). Mas a perseguição não cabe no cronograma da “religião show”; nela, há apenas espaço para diversão, conforto e entretenimento religioso.

O Culto Sem Sacralidade

O culto moderno tem sido esvaziado de sua sacralidade. O espaço que deveria ser santo e centrado em Cristo foi transformado em um ambiente mundano, mais parecido com clubes e casas de espetáculo do que com o templo do Deus vivo. A Bíblia deixou de ser pregada com fidelidade e profundidade. A exposição das Escrituras — seja de forma expositiva, temática ou textual — foi substituída por discursos motivacionais e performances cênicas.

No cenário do movimento gospel moderno, há uma tendência cada vez mais evidente de rejeitar o uso sistemático da Palavra de Deus. A retórica emocional e egocêntrica toma o lugar da sã doutrina. Embora a Bíblia ainda seja mencionada, ela serve apenas como isca para dar aparência de legitimidade ao que, na prática, é outro evangelho — o qual Paulo condena severamente em Gálatas 1:8-9.


Conclusão: Um Chamado à Volta à Cruz

Diante desse cenário preocupante, é urgente um chamado ao arrependimento e ao retorno à centralidade da cruz, da Palavra e da santidade. O verdadeiro Evangelho é aquele que confronta, transforma e santifica. Ele não se adapta aos caprichos da cultura moderna, mas permanece firme como a verdade eterna de Deus.

Se quisermos uma fé que sobreviva ao tempo da provação, precisamos rejeitar o artificial e abraçar o caminho antigo — mesmo que solitário e doloroso — pois é nele que se encontra a verdadeira vida.

 

 

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