C. J. Jacinto
Introdução
Em um excelente artigo sobre a importância da comunhão com Cristo, Franklin C. Blount (1857-1922) nos convida a uma profunda reflexão sobre a centralidade de Cristo na vida dos filhos de Deus. Blount expressa uma crescente preocupação de que Cristo não esteja ocupando o lugar que Lhe é devido, sendo freqüentemente substituído por doutrinas, dogmas, experiências ou afiliações.
Creio que um cristão verdadeiro é absolutamente cristocentrico, o motivo é lógico, o Novo Testamento é totalmente cristocentrico, Paulo, Pedro, Tiago, João, o Autor aos Hebreus, todos eram cristocentricos, as paginas do Novo Testamento estão absolutamente direcionadas a Cristo, não há nenhuma ênfase a outra pessoa que não seja Deus em Cristo e Cristo em Deus, até mesmo a função do Espírito Santo é cristocentrica, não aponta em hipótese alguma para qualquer outra figura, seja Maria, Pedro ou seja lá quem for. Qualquer leitor pode sublinhar cada ênfase que é dada a Cristo nas paginas do Novo Testamento e saberá que as Escrituras apontam unicamente para Ele, somente Ele, Cristo é o argumento, o assunto, a questão, a revelação, a temática, a exposição nos evangelhos, nas epistolas, no livro de Atos e em Apocalipse, essa era a característica, a marca, o distintivo, da igreja do Novo Testamento a igreja de Cristo é absolutamente, totalmente, e isso de forma praticamente irrefutável, de Cristo, voltada para Cristo, submissa a Cristo, não há excessos aqui, a mais pura ortodoxia é cristocentrica, toda a movimentação cósmica, da criação até a consumação está enfaticamente direcionada a Cristo (Efésios 1:10) tão somente a Ele, o verdadeiro cristão tem seus olhos totalmente fixos em Cristo (Hebreus 12:2)
Infelizmente o cristocentrismo da igreja do novo testamento foi quebrado, e isso ocorreu fora das paginas do Novo Testamento. Foi a patrística, mas precisamente Inácio de Antioquia no segundo século da era cristã quem começou a introduzir uma dogmática mariana dentro da igreja, outros protagonistas posteriores foram Gregorio de Nissa, Gregorio Nazianzo, Basilio Magno, Ambrosio de Milão e Agostinho.
A Repreensão Divina e a Revelação de "Somente Jesus"
Blount evoca a cena da transfiguração no Monte Hermom (Mateus 17:1-8) para ilustrar como o Pai celestial repreende a tendência humana de colocar outras coisas ao lado de Cristo. Assim como Pedro, Tiago e João, muitas vezes nos apegamos a elementos secundários, perdendo de vista a primazia de Jesus. A voz do Pai ressoa com clareza: "Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo; a Ele ouçam" (Mateus 17:5).
Assim temos a voz divina, celestial, a autoridade máxima do universo, a Suprema Majestade, apontando para o Filho, Deus Pai apontando para Cristo, é a Ele que devemos ouvir, é a Ele que devemos seguir, é Ele quem devemos adorar, é Ele quem devemos confiar, é Ele quem devemos obedecer. Essa é a mensagem central, o ponto pelo qual se movimenta a ortodoxia celestial e que é sustentada pela voz excelsa de YAWEH: “Este é meu Filho amado” Deus pai alicerçando as bases da espiritualidade cristocentrica! Essa é a doutrina dos apóstolos, essa é a doutrina do Novo Testamento, essa é a voz do Espírito Santo, nunca devemos nos desviar daquele que é o Centro; Cristo Jesus nosso Senhor e Salvador.
Blount nos desafia a buscar uma experiência transformadora, na qual, despojados de tudo o que é periférico, possamos contemplar "somente Jesus". Ele questiona se já estivemos na "nuvem", se ouvimos a "voz", se estivemos em nosso "rosto" em adoração, e se nos levantamos para ver "somente Jesus".
A busca da excelência espiritual é ter mais de Cristo e ser mais de Cristo, não há outro caminho, Deus Pai deseja que sejamos parecidos com Seu Filho (Romanos 8:29) essa é a nossa missão como Cristãos. O agir do Espírito Santo em Nós é formar Cristo em nós, pois Ele é o modelo de piedade e vida, o perfil de um cristão é ter tão somente a imagem de Cristo, nada mais do que isso, este é o desejo de Deus Pai, a igreja de Cristo se constitui de redimidos que estão sendo formados progressivamente á imagem de Cristo. Essa formação espiritual é o propósito da regeneração, eis o processo que começa na cruz e encerra-se na glorificação.
"Cristo é Tudo": A Plenitude da Vida em Cristo
Blount declara enfaticamente: "Cristo é tudo" (Colossenses 3:11). Ele explora essa afirmação à luz de diversas áreas da vida cristã, demonstrando que Cristo é suficiente em todas as circunstâncias:
- Salvação: "Crê no Senhor Jesus Cristo, e serás salvo" (Atos 16:31).
- Relacionamento com Deus: "Todos vós sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus" (Gálatas 3:26).
- Experiência: "Porque para mim o viver é Cristo" (Filipenses 1:21).
- Serviço: "Posso todas as coisas em Cristo que me fortalece" (Filipenses 4:13).
- Caminho: "Eu sou o caminho" (João 14:6).
- Destino: Cristo define nosso destino como "onde eu estou" (João 14:3).
A Busca Pelo Abençoador, Não Apenas pelas Bênçãos
Blount nos adverte contra a busca egoísta por bênçãos, exortando-nos a ansiar pelo Abençoador em Si mesmo. Ele nos lembra que Cristo é a alegria do coração do Pai e nos convida a compartilhar desse deleite. Cristo é infinitamente superior a doutrinas ou experiências, e somente n'Ele nossos corações podem ser verdadeiramente satisfeitos.
A verdade consumada é uma pessoa: Cristo. Portanto ela não está numa instituição, desde que a igreja é a coluna e baluarte da verdade, será um fato, quando Cristo é o fundamento. Não há um assentamento fora dele, os apóstolos não reconheceram outro trono, a não ser o trono da graça onde Cristo está assentado a destra de Deus. A pessoa pelo qual temos comunhão, é o Salvador bendito. O Verbo que se fez carne, a encarnação do Filho de Deus é a base da confissão e da comunhão pelo qual sustentamos a nossa fé, a fé que uma vez por todas foi dada aos santos (Judas 3) Todo o corpo da patrística deve estar prostrado ao Trono de onde emanou a graça e verdade, pois as duas vieram através de Cristo, não compete a eles acrescentar algo, pois não houve falta alguma, o ensino de Cristo está completo nas epistolas, no Novo Testamento. A revelação está completa em Cristo, não faltou nada, assim como também a sua obra na cruz, foi perfeita, consumada e totalmente perfeita, satisfez completamente a justiça divina. Oh que grande gozo olhar para Cristo como Senhor! prostrar-se perante seu Senhorio e confessá-lo com bendito e todo suficiente salvador! Que graça abundante está na redenção completa efetuada na cruz, que majestosa obra redentora, que magnífica providencia divina! Deus em Cristo, pela autoridade e unção do Espirito Santo, seja louvado. Não há comunhão tão doce quanto aquela que um salvo tem com Cristo, a verdade em pessoa e a pessoa da verdade.
A Transformação Pela Contemplação da Glória de Cristo
Blount questiona por que não somos mais transformados "de glória em glória" (2 Coríntios 3:18). Ele atribui essa falta de transformação à nossa preocupação excessiva conosco mesmos e com a obra do Espírito em nós, em vez de fixarmos nossos olhos em Cristo. Ele critica a superficialidade de muitos movimentos de santidade, que se concentram mais na experiência do que na Pessoa de Cristo.
Aqui receio que muitos amados irmãos não se ocupam com todo o rigor a ter mais de cristo e a ser mais de Cristo, a pensar mais de Cristo e estudar mais sobre Cristo, a ter o pensamento completamente voltado para Ele, e nada, nada deve desviar a nossa atenção, não há celebridades nas escrituras que esteja autorizada a exigir que Cristo divida a Sua gloria com outros homens, o Espírito santo teve muito cuidado na ordem da redação de cada pagina no Novo Testamento quanto a isso. Nos precisamos nos voltar mais e mais para o Senhor, o cultivo de uma vida espiritual mais cristocentrica, mais voltada para o Salvador, quanto mais temos de Cristo, no coração, no pensamento, na vida devocional, na liturgia, na adoração, mais verdadeiro seremos em nosso cristianismo. Deixe que os hereges agonizem diante dessa verdade, Cristo é tudo em todos e se é tudo, devemos entender que o poder da concentração do homem piedoso deve repousar completamente e absolutamente sobre Ele.
Blount nos encoraja a contemplar a face desvendada de Cristo, da qual emana a luz do conhecimento da glória de Deus. Ao permanecermos nessa contemplação, tudo o mais perderá o seu brilho e desaparecerá.
O Espírito Santo Glorifica a Cristo
Blount ressalta que o Espírito Santo nunca nos ocupa com Sua obra em nós mesmos, mas sempre nos direciona a Cristo. Ele afirma que, se estivermos excessivamente preocupados com nossa própria experiência, estaremos, paradoxalmente, fora do Espírito. A obra do Espírito é glorificar a Cristo (João 16:14), e não a nós mesmos.
Aqui reitero novamente, desejo ser enfático; o Espírito Santo é o Espírito da verdade, e Ele como uma divina pessoa nos conduz, nos impele, nos força, nos capacita, nos dá entendimento, nos convence de que Cristo é a Verdade do Espírito da Verdade. O Espírito Santo não induz um regenerado a cultuar criaturas, por mais santa, exemplar, piedosa, que seja uma delas. Não! mil vezes não! o espírito do erro faz isso, desvia o incauto, o ignorante, o indisposto, o cego espiritual, o fanático, para fora da pessoa de Cristo, ele pretende desfigurar a obra consumada e perfeita que Cristo realizou na cruz, quer distorcer o Caráter de Cristo, a natureza de Cristo, a encarnação de Cristo, o Senhorio de Cristo, a mensagem de Cristo, quer diminuir a completitude da revelação celestial. O ponto fixo da obra redentora deve brilhar como o sol potente do meio dia, não tentem turvar essa gloria divina com sombras turvas e hipóteses turbulentas, não diminuam a oferta da esperança que há somente em Cristo, pensando que outros possam fazer por nós o que só Cristo faz
Cristo no Trono: A Suficiência e a Supremacia de Cristo
Blount conclui enfatizando que Cristo não está mais na cruz ou no túmulo, mas no trono. Ele nos convida a contemplar a maravilha de um Homem na glória de Deus, que é nosso Salvador, Sacerdote, Advogado e o Noivo de Sua Igreja. Ele é suficiente para todas as nossas necessidades, e Seu coração se alegra quando fazemos d'Ele o nosso tudo.
Blount exorta seus leitores a centralizar todos os seus afetos, desejos, pensamentos e objetivos em Cristo. Ele assegura que não há porção ou lugar melhor do que aquele que Cristo concede. Nossa porção aqui pode ser "alimento e vestimenta" (1 Timóteo 6:8), e nosso lugar "fora do arraial" (Hebreus 13:13), mas nossa porção lá é "todas as bênçãos espirituais" (Efésios 1:3), e nosso lugar "n'Ele".
Ah, que alegria bendita, que esperança maravilhosa temos em Cristo. Porquanto, na Sua pessoa e obra, na sua morte redentora, ressurreição justificadora e entronização dominadora, temos um Rei, um advogado, um mediador, um santo, um profeta, um remidor, um salvador, tudo nEle, para Ele, Rei dos reis, Senhor dos Senhores, Alfa e Omega e principio e fim. Tudo temos com Jesus, nada temos fora dEle.
Conclusão
Que a mensagem de Franklin C. Blount ressoe em nossos corações: Cristo, Cristo, CRISTO. Que Ele seja o centro de nossas vidas, o objeto de nossa adoração e a fonte de nossa alegria. Que possamos conhecer mais daquela rica bem-aventurança que vem de fazer de Cristo tudo, de ver somente Jesus.
Ele que é Deus bendito eternamente, amém!
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