Considero a definição abaixo do conceito de pós-modernidade, como uma das mais concisas que encontrei:
O pós-modernismo é notoriamente difícil de definir. A palavra “pós-moderno” é usada de diversas maneiras, e o pós-modernismo ou pós-modernidade é um fenômeno complexo e com cabeça de hidra que não se presta a uma caracterização fácil. O pós-modernismo pode significar coisas diferentes para pessoas diferentes. Para o arquiteto, artista ou romancista, o pós-modernismo refere-se a um estilo particular; para o filósofo, designa um afastamento da epistemologia cartesiana; para o teórico político, sinaliza o fim das ideologias utópicas; e para o economista, pode descrever a transição de uma economia da era industrial para uma economia da era da informação. A pós-modernidade parece ser melhor descrita do que definida. É mais um estado de espírito do que um movimento, com o seu impacto sentido não só na academia, mas também na cultura (popular) em geral. 2 É geralmente reconhecido que a pós-modernidade representa um novo capítulo na história cultural do mundo, embora até que ponto está relacionada com a modernidade seja uma questão de debate. Alguns estudiosos entendem a pós-modernidade como uma nova fase na reflexão filosófica, enquanto outros a vêem como uma forma de hipermodernidade. (1)
Hoje em dia, a relativização de conceitos e termos, a elasticidade da moralidade, o desdobramento da linguagem e o afrouxamento de absolutos e dos valores de identidade comprometem toda a estrutura do cristianismo. Há uma força que tenta desestruturar o universo e a criação, na verdade desde a queda, que deve ser vista como um fato histórico, uma força maligna comprometeu com as estruturas do cosmos, permita-me chamar essa força de pecado. O pecado arrasta a humanidade para um abismo, para o inferno. Metodicamente abalou a ordem cósmica, tudo está comprometido. O que vimos nos primeiros séculos com o surgimento do gnosticismo foi uma força espiritual, uma reação contra a unidade da verdade em Cristo Jesus. As controvérsias em torno da encarnação de Deus Filho, Sua identidade divina estava comprometida. A força espiritual era centrifuga, parece que houve uma reação para tirar a qualquer custo, a Pessoa de Cristo do centro da verdade, e inventar outro para colocar no lugar. Essa era a movimentação gnóstica, uma reação contra a materialização do Divino, a impossibilidade de uma teofabia absoluta, claro que um movimento espiritual dessa natureza tende a corroer as bases da ortodoxia e minar as bases do Novo Testamento. Acredite! eu tenho uma certeza, mesmo sendo suposição minha, estou plenamente convicto, que o Espírito Santo atuou de modo pratico a reunir os documentos do Novo Testamento, justamente para definir a verdade contra uma tendência oposta que por fim levou muitos a cultuarem a serpente do Eden como uma doadora de iluminação espiritual e por fim atacaram o Deus do Antigo Testamento, a Pessoa Divina de Yaweh como um demiurgo maligno, essa inversão dos valores espirituais foi uma conseqüência direta da rejeição de um Cristo bíblico, neotestamentario. negar a encarnação da divindade forçou os partidários do gnosticismo a inventarem um outro Jesus que se encaixasse na cosmovisão distorcida do movimento que emergia naquele momento em que a igreja cristã estava dando os primeiros passos, e com tal fúria levantou-se tal movimento espiritual anticristão, que não respeitou nem mesmo a presença de alguns apóstolos, que ainda estavam vivos quando ele começou a se estabelecer nos primeiros séculos.
A pós-modernidade caminha na mesma direção. Há uma luta, sempre para comprometer a identidade do cristianismo, e a igreja emergente é um exemplo claro, suas objeções e disputas contra absolutos e a tendência de emancipação do tradicional para os cultos neoliberais são provas irrefutáveis quanto a isso.
No centro está à disputa pela identidade verdadeira de Jesus e os ensinos do Novo Testamento como verdades absolutas que precisam ser praticados, observados, memorizados e defendidos. Mas meter-se a defender e praticar isso, será não somente um desafio na pós-modernidade, o mundo vai inclinar-se ao espírito do anticristo, e nunca irá tolerar um cristão que defenda absolutos, jamais aceitará conviver face a face com algum cristão que não aceite as pautas do relativismo e do pragmatismo. Cristãos que crêem em fundamentos bíblicos e doutrinas inegociáveis. como a divindade e a encarnação de Cristo, a ressurreição literal do Senhor e Sua vinda triunfante, cristãos que ainda continuam dando nomes corretos para conceitos relativizados pelo mundo, chamando desvios morais de pecado, não de problemas ou opções pessoais, etc. Cristãos que não atribuem uma natureza ambígua sobre o conceito de verdade, como se ela fosse definida por uma questão puramente social e pessoal, serão chamados de radicais inimigos do “estado” ou da “sociedade”. Para um cristão comprometido com a fé cristã autentica, os dias que se aproximam não são nada bons, sua única esperança é permanecer com os olhos para a mesma direção em que os discípulos estavam olhando quando Cristo subiu os céus no monte das oliveiras: Para o céu, aguardando e clamando pelo retorno de Cristo!
A pós-modernidade tenta desconstruir absolutos, e isso vai de encontro ao que Marcus Honeysett denominou de “A singularidade de Cristo”:
“E quanto à singularidade de Cristo? O que queremos dizer quando dizemos “a singularidade de Cristo”? E quais são as implicações da Sua singularidade para uma cultura contemporânea que nega a verdade e diviniza o eu?
Cristo é único em todos os aspectos, não é? Ele é único em conhecimento, Seu ensino é único, Sua morte e ressurreição são únicas, Seus milagres são únicos, Sua vida sem pecado é única, Seu ministério de resgate é único. A maneira como Ele revela Deus é única. “Seu caráter é único tanto rei quanto servo.” (2)
Vivemos numa era de declínios, enfraquecimentos, dissimulações, fragmentações e a Pessoa de Cristo, seus atributos e natureza estão sofrendo ataques de formas bem imperceptíveis, não mais por confrontos, mas por omissões. No primeiro século, não houve qualquer movimento contra a existência de Cristo, a historicidade de Cristo está muito bem sedimentada na historia, não me preocupo com os opositores antigos que atacaram a historicidade de Cristo, eles são muito controversos e desonestos, nunca estão preocupados com a existência histórica de Sidarta Gautama ou de Sócrates, e não há evidencias históricas sobre se eles existiram ou não (3) Mas eles não querem negar isso, a questão é Cristo! No começo da era cristã, o movimento emergente era o gnosticismo, não para negar o Cristo histórico, mas para diminuir a sua natureza, missão e encarnação. É evidente que Cristo poderia ser pregado, mas não como Paulo ensinou, muito menos como João apresentou, mas de acordo com uma cosmovisão esotérica, onde a pessoa de Cristo é diluída, a pessoa e obra de cristo é apresentada como divorciada de Yaweh e apresentada como uma redução, não se encarnou, não expiou pecados, não houve substituição penal nem morte vicaria na cruz, a salvação é apresentada como um conhecimento elitizado alcançado por esforços próprios, o que de certo modo é visto como um encontro com algum tipo de força luminosa adormecida dentro do homem ou seja, a salvação é uma conquista da experiência humanista de uma iluminação interior. A matéria é má, o mundo todo é uma ilusão, Cristo não, ele apenas parece ser, não há verdadeira carne nEle, uma divindade não pode viver uma teofania plena, Cristo não pode ter sido um homem, a materialização da divindade é uma impossibilidade para um gnóstico, a identidade e a força de expressão do ministério de Cristo sofre uma diminuição, uma descaracterização, uma dissolução e uma redução. A igreja moderna, em muitos casos, faz exatamente isso.
Como Cristo é visto hoje? Ele é apresentado como uma pessoa útil, a religião utilitarista é muito bem aceita hoje em dia, mas devemos nos lembrar que o utilitarismo está muito longe da gratidão. Porquanto a teologia de que Cristo morreu pelos nossos pecados é o cerne da mensagem da cruz, e isso por si só deveria conduzir um cristão a viver uma vida de gratidão pelo fato da graça de Deus possibilitar em Cristo Jesus, uma tão grande salvação, uma má teologia, com todas as deficiências cristologicas, muitas vezes elaboradas para produzir efeitos convenientes, arrasta multidões para um “outro Jesus”. Nunca deveríamos motivar pessoas a irem aos cultos ou ouvirem um pregador, usando como argumento atrativo, a cura física ou para receber bênçãos financeiras. Devemos levá-las a ouvirem a mensagem da cruz, a salvação pela fé em Cristo Jesus e a Sua obra perfeita que realizou na cruz do calvário.
Outro desvio sério hoje em dia, é a tendência em alguns “louvores” que fazem sucesso, de tratarem Jesus como um “namorado”, um espécie de garoto galã, uma redução do Seu Senhorio, confinando Jesus a uma personalidade artística ou algo que se encaixe com os padrões humanos de emoções amorosas.
A religião utilitarista que deforma o caráter de Deus, tem sido um meio eficiente para atrair pessoas para a cristandade, em Genesis 3 encontramos a proposta da antiga serpente sobre o utilitarismo da desobediência, a promessa da quebra de uma ordem divina transformará o homem em uma divindade, aqui temos a primeira proposta de evolução, de simples humano ao nível de divindade. E encontramos essa idéia no transhumanismo moderno:
“O sucesso alimenta a ambição, e nossas conquistas recentes estão impelindo o gênero humano a estabelecer objetivos ainda mais ousados. Depois de assegurar níveis sem precedentes de prosperidade, saúde e harmonia, e considerando tanto nossa história pregressa como nossos valores atuais, as próximas metas da humanidade serão provavelmente a imortalidade, a felicidade e a divindade. Reduzimos a mortalidade por inanição, a doença e a violência; objetivaremos agora superar a velhice e mesmo a morte. Salvamos pessoas da miséria abjeta; temos agora de fazê-las positivamente felizes. Tendo elevado a humanidade acima do nível bestial da luta pela sobrevivência, nosso propósito será fazer dos humanos deuses e transformar o Homo sapiens em Homo deus.”(4)
Ainda vimos em Mateus 4:1 a 8 que a proposta do diabo na tentação também aborda o dilema da religião utilitarista, o tentador ofereceu todos os reinos do mundo em troca da adoração, se Jesus se prostrasse e adorasse ele, receberia todos os reinos deste mundo como premio. Esse “toma lá, da cá” um trocadilho, a barganha das coisas espirituais, a negociação do torça a troca, as vantagens pessoais e os interesses egoístas, satanás sabe trabalhar e entende muito bem do assunto. A religião que tendenciosamente apresenta um Cristo que faz trocadilho e que negocia a fé, nada mais é do que uma distorção da verdade e é lamentável que isso se passe tão facilmente hoje em dia como se fosse cristianismo.
Conclusão: Que o mundo religioso passe por transformações radicais, não é uma mera expectativa vaga, a crise é sempre uma espécie de pavimentação para algo pior que a crise: as conseqüências. Quando o império romano ruiu, isso foi uma conseqüência, o histórico dessa ruína foi a desconstrução dos conceitos e a corrosão dos fundamentos partindo de dentro da própria estrutura. O diabo trabalha desta maneira, apenas uns 60 anos após o pentecostes, e vimos o estado lastimável das igrejas descritas em Apocalipse 2 e 3.
Com relação a Obra, a Pessoa divina de Cristo e a mensagem do Evangelho jamais podem ser minimizadas, a diluição e desconstrução da fé bíblica e ortodoxa, terá conseqüências terríveis: Milhões de pessoas que professarão uma fé vaga, não ortodoxa, equivocada. Um edifício espiritual com fundamentos superficiais não resiste aos abalos espirituais provocados pelo fim dos tempos.
(2) https://www.bethinking.org/jesus/postmodernism-and-the-uniqueness-of-christ
(3) No livro “Socrates, Jesus, Buda” Frederic Lenoir afirma que não há evidencias históricas que Sidarta Gautama e Socrates tenham de fato existido,
(4) yuval noah harari Homo Deus Uma breve história do amanhã Pagina 24 – Campanhia das Letras Pagina 24