O Problema das Heresias No Cristianismo Primitivo


 

 


De fato, nessa época, começaram a se multiplicar as seitas, especialmente devido a influência gnóstica. Mas a maior parte dos cristãos aguardava ainda a vinda do Reino de Deus como uma catástrofe exterior, taumatúrgica, devendo eclodir a qualquer momento. Contudo, esta suposta proximidade do fim do mundo, de um lado, e a possibilidade mais próxima ainda do martírio, de outro lado, mantinham os cristãos desse tempo em certo nível espiritual elevado. Porém, as perseguições não foram um fenômeno constante, geral e de todos os dias. Perseguições gerais sobre todo o território do Império Romano não houve nenhuma, e as perseguições de vasta extensão foram de curta duração. A maior parte delas tinha um caráter local e ocasional. Mas, como existissem leis romanas, em virtude das quais o cristianismo podia ser perseguido como um crime capital contra o Estado, pelo fato de ser uma religião não reconhecida ou não autorizada pelo Senado,  a possibilidade do martírio pairava, por toda parte e sempre, sobre os cristãos e dava a suas vidas um caráter purificador, trágico e heroico. Um fato que deve ser notado e de grande importância é que, nesses tempos, os cristãos podiam e eram perseguidos, mas não podiam, em nenhum caso, ser perseguidores. Em geral, pertencer à nova religião apresentava mais perigos que vantagens, e foi por essa razão que aqueles que a ela se convertiam eram ordinariamente convictos e sinceros. Predominavam os motivos superiores, religiosos e morais. Havia, realmente, no meio do mundo pagão, comunidades verdadeiramente cristãs, que, embora longe de serem perfeitas, eram regidas pela vontade de perfeição e pelo desejo ardente de redenção-salvação

CRISTÃOS, JUDEUS E PAGÃOS: acusações, críticas e conflitos no cristianismo antigo. Roque Frangiotti Editora Ideias & Artes Pagina 11

 

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