Um movimento que ainda guarda conceitos de doutrinas gnósticas do primeiro século da era cristã são os Mandeus, um grupo que ainda hoje existe no Iraque. São os Mandeus. O mito que “Mando” (de “Manda” que significa, “cognição”) inclui dois aspectos: cosmológico (que tem a ver com o mundo) e soteriológico (que tem a ver com a salvação). Uma figura celeste luminosa teria caído do céu e entrado na matéria onde foi derrotada por poderes demoníacos e dispersada na própria matéria. Dessa combinação de espírito e matéria viria o mundo. Os demônios teriam feito com que as partículas de luz esquecessem sua origem celeste. E aqui estaria a fase soteriológica: a divindade teria trazido ao mundo um ser celestial, filho da divindade, que, aparecendo em forma humana, não era reconhecido pelos demônios e assim podia revelar sua origem celestial as almas e redimi-las. A redenção seria, portanto, através do conhecimento ( manda). Após esta revelação, o enviado divino teria subido ao céu para aguardar as partículas luminosas que o teriam alcançado na morte dos corpos para recompor a primitiva figura luminosa
É notável que esse conceito de centelha interior adormecida e que pode ser descoberta por uma iniciação ao conhecimento, elevando o homem ao seu suposto estado original está associada ao engano da serpente. Infelizmente a crença na divindade do homem nunca morreu. A suposta partícula divina adormecida no homem, tem sido de alguma forma perpetuada tanto por antigos monarcas que se consideravam divinos, como por seitas gnósticas que começaram a surgir no contexto espiritual do Novo Testamento. Que a gnose esotérica tem influencias diversas inclusive nas religiões de mistérios da antiguidade, não restam duvidas. Tão forte é essa ideia que ela sempre é revolvida das ruínas da queda, não há nada de novo debaixo do sol. Tão potente é a sua influencia e tão cativante foi o discurso da antiga serpente, que até a teologia das igrejas cristãs orientais cederam a ela com a doutrina da Teosis. A crença de que o homem na consumação de todas as coisas se tornará um ser divino. Por todos os cantos da historia vimos essa influencia, de forma diversa e em síntese, conceitos como o panenteismo ou a crença de que a criação é uma emanação do Criador ou ainda as crenças mais primitivas como o Xamanismo que tende a forçar uma união do todo na percepção sensorial e o mergulho em um universo espiritual unificado ao físico, sugerem essa ascensão do homem a divindade, e não somente o homem, a transcedentalização da doutrina da serpente, saiu do centro humanista e se expandiu para o todo, no processo do desenvolvimento da religião.
O engano perpetuado pela antiga serpente, tem como o instrumento os homens que são enganados pelo “deus deste século.
C. J. Jacinto
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