Por John Kennedy
Em tempos como o nosso
é fácil alguém parecer fanático, se mantém uma firme convicção sobre a verdade
e quando se mostra cuidadoso em ter certeza de que sua esperança procede do
céu. Nenhum crente pode ser fiel e verdadeiro nesses dias, sem que o mundo lhe
atribua a alcunha de fanático. Mas o crente deve suportar esse título. É uma marca
de honra, embora a sua intenção seja envergonhar. É um nome que comprova estar
o crente vinculado ao grupo de pessoas das quais o mundo não era digno, mas
que, enfrentando a ignomínia por parte do mundo, fizeram mais em benefício
deste do que todos aqueles que viviam ao seu redor. O mundo sempre sofre por
causa dos homens que honra. Os homens que trazem misericórdia ao mundo são os
que ele odeia.
Sim! Os antigos reformadores eram homens fanáticos em sua época. E foi bom para
o mundo eles terem sido assim. Estavam dispostos a morrer, mas não
comprometeriam a verdade. Submeter-se-iam a tudo por motivo de consciência, mas
em nada se sujeitariam aos déspotas. Sofreriam e morreriam, mas temiam o
pecado. Esse fanatismo trouxe liberdade para a sua própria terra natal, como
bem demonstra o exemplo dos reformadores escoceses. O legado deixado por esses
homens . cujo lar eram as cavernas na montanha e cuja única mortalha era a
neve, que com freqüência envolvia seus corpos quando morriam por Cristo . é uma
dádiva mais preciosa do que todas as oferecidas por reis que ocuparam o trono
de seus países ou por todos os nobres e burgueses que possuíam suas terras.
Sim, eles eram realmente fanáticos, na opinião dos zombadores cépticos e
perseguidores cruéis; e toda a lenha com a qual estes poderiam atear fogueiras
não seria capaz de queimar o fanatismo desses homens de fé.
Foram esses implacáveis fanáticos, de acordo com a estimativa do mundo, que
encabeçaram a cruzada contra o anticristo, quando na época da Reforma desceu fogo
do céu e acendeu em seus corações o amor pela verdade. Esses homens, através de
sua inabalável determinação, motivados por fé viva, venceram em épocas de
severas provações, durante as quais eles ergueram sua bandeira em nome de
Cristo. Um lamurioso Melanchthon teria barganhado o evangelho em troca de paz.
A resoluta coragem de um Lutero foi necessária para evitar esse sacrifício. Em
todas as épocas, desde o início da igreja, quando a causa da verdade emergiu
triunfante sobre o alarido e a poeira da controvérsia, a vitória foi
conquistada por um grupo de fanáticos que se comprometeram solenemente na
defesa dessa causa.
Existe hoje a carência de homens que o mundo chame de .fanáticos.. Homens que
possuem pulso fraco e amor menos intenso pouco farão em benefício da causa da
verdade e dos melhores interesses da humanidade. Eles negociarão até sua
esperança quanto à vida por vir em troca da honra proveniente dos homens e da
tranqüilidade resultante do comprometimento do evangelho. Há muitos homens
assim em nossos dias, mesmo nas igrejas evangélicas e na linha de frente do
evangelicalismo; homens que se gloriam de uma caridade indiscriminada em suas
considerações, de um sentimento que rejeita o padrão que a verdade impõe;
homens que aprenderam do mundo a zombar de toda a seriedade, a queixarem- se da
escrupulosidade de consciência e a escarnecer de um cristianismo que se mantém
através da comunhão com os céus! Esses têm os seus seguidores. Um amplo
movimento emergiu afastado do cristianismo vital, de crenças fixas e de um
viver santo. As igrejas estão sendo arrastadas nessa corrente. Aproxima- se
rapidamente o tempo em que as únicas alternativas serão ou a fé viva ou o
cepticismo declarado.
Uma violenta maré se abate sobre nós nessa crise, e poucos mostram-se zelosos
em resistir. Não podemos prever qual será o resultado nas igrejas, nas
comunidades e nos indivíduos, tampouco somos capazes de tentar conjeturá-lo sem
manifestar sentimentos de tristeza. Contudo, uma vitória segura é o destino da
causa da verdade. E, até que chegue a hora de seu triunfo, aqueles que
atrelaram seus interesses à carruagem do evangelho perceber ão que fazem parte
de um grupo que está diminuindo, enquanto avançam até àquele dia; seu
sentimento de solidão se aprofundará, enquanto seus velhos amigos declinarão à
negligência, a indiferença se converterá em zombaria, e as lamúrias se
transformar ão em amarga inimizade. Eles levarão adiante a causa da verdade
somente em meio aos escárnios dos incrédulos e às flechas dos perseguidores.
Mas nenhum daqueles que amam a verdade . aqueles cujos olhos sempre descansaram
na esperança do evangelho . deve acovardado fugir das provações. Perecer
lutando pela causa da verdade significa ser exaltado no reino da glória. Ser
massacrado até à morte, pelos movimentos de perseguição, significa abrir a
porta da prisão, para que o espírito redimido passe da escravidão ao trono. Em
sua mais triste hora, aquele que sofre por causa da verdade não deve recusar a
alegria que os lampejos da mensagem profética trazem ao seu coração, quando
brilham através das nuvens de provação. O seu Rei triunfará em sua causa na
terra e seus amigos compartilharão da glória dEle. Todas as nações
sujeitar-se-ão ao seu domínio. As velhas fortalezas de incredulidade serão
aniquiladas até ao pó. A iniqüidade esconderá sua face envergonhada. A verdade,
revelada dos céus, receberá aceitação universal e será gloriosa no resplendor
de seu bendito triunfo aos olhos de todos.
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