Justiça de Cristo na Obra Consumada e Perfeita que Ele realizou na cruz
Se a igreja romana tivesse razão em afirmar que a justificação significa fazer o pecador justo, então a base da nossa certeza será a extensão e durabilidade da nossa própria justiça interior.
Ao cristão, cônscio de seu pecado inato, e tristemente ciente de suas falhas pecaminosas, esta base é vacilante demais para oferecer uma certeza espiritual. Portanto, não é de admirar-se que o concílio da contra-reforma em Trento ensinou que "ninguém pode saber como uma certeza infalível de fé que tem recebido a graça de Deus." (Secção 6, cap 9).
Enfim, a questão é saber se a justificação se refere ao nosso caráter essencial, ou se refere ao nosso novo estado diante de Deus.
Acaso somos aceitos porque estamos esforçando-nos para aperfeiçoar a nossa justiça introduzida em nós pelo batismo, ou somos reconhecidos como justos enquanto ainda evidentemente pecaminosos? A Bíblia claramente endossa a máxima de Lutero que o cristão é "simultaneamente um justificado e um pecador". A base da nossa aceitação não é uma justiça inerente, antes, é a justiça de Cristo, que Deus graciosamente nos outorga quando confiamos no Salvador.
Foi quando Lutero estava estudando e lecionando sobre a carta aos romanos que "a luz irrompeu e a verdade se esclareceu, e ele a compreendeu". Indiscutivelmente, um Deus justo exige justiça. Mas, por causa do nosso pecado, essa justiça fica fora de nosso alcance. Todavia, Deus exibe uma perfeita justiça em Seu filho, e sobre essa justiça depositamos toda a nossa confiança. Tudo isso nos conduz para uma questão ainda mais básica, qual é a significação bíblica do termo justiça? A resposta se encontra no título conferido ao Salvador. "Ele é Jesus Cristo, o justo". (1 João 2:1).
Ele é justo, porque tudo que ele fez em Seu ministério terrestre, e o que ele faz eternamente em seu ministério celestial, em todos os sentidos, é sempre agradável ao Seu pai. Em contraste, porém, os seres humanos são injustos porque deixam de fazer a vontade de Deus, e ainda pior, praticam o que não é a vontade de Deus. Existem pecados de omissão e pecado de comissão, e esses são sintomas reveladores da nossa natureza corrupta, e do nosso caráter que é essencialmente perverso. Então, o que é que nos conduz, não apenas ao conhecimento da vontade de Deus, mas também ao conhecimento da nossa deficiência pecaminosa? A resposta, como Paulo mostrou em romanos, encontra-se na lei de Deus.
Essa lei está gravada na consciência de cada ser humano e interpretada com detalhes específicos nas Escrituras. Entende-se que essa justiça basicamente significa obediência à lei de Deus, e que a injustiça é a transgressão dessa lei.
Por esta razão, as consequências de transgredir a lei são tão sérias aponto de desencadear a ira de Deus em juízo e condenação. Contudo, existe apenas um único exemplo de perfeita justiça entre os homens. Está no homem Jesus Cristo, Ele e somente Ele podia dizer: Eis aqui estou para fazer, ó Deus, a tua vontade. (Hb 10:7 cf Sl 40:6-8).
Se, porém, tudo que Cristo tem nos dado fosse apenas um exemplo de perfeita justiça, estaremos lançados no mais profundo desespero por causa da nossa incapacidade de alcançar tal padrão. O Evangelho, no entanto, não nos engana e nem zomba de nós através de um padrão impossível de ser alcançado. Antes, essa justiça é atribuída a nós, no mesmo sentido em que o nosso pecado foi atribuído a Cristo, como Paulo ensinou em segunda Coríntios 5:21:
"Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus".
A fim de apreciar a plenitude da justificação, é instrutivo contemplar justiça de Cristo de dois ângulos diferentes. Por um lado, ele é o grande substituto que tomou sobre Si mesmo, não apenas a culpa dos transgressores da lei, mas também a punição que a justiça divina exigia.
"Carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, nossos pecados". (I Pedro 2:24).
Assim, há a libertação da culpa e a isenção da pena. Agora, contemplado do outro ângulo, Ele não é apenas o substituto Divino que tomou o lugar de transgressores da lei. Ele é também o nosso representante, Aquele que guardou perfeitamente a lei de Deus. A sua obediência à lei não foi apenas literal, porém, foi realizada por motivo e por espírito. Essa justiça positiva é atribuída, e nós, somos vistos como praticantes da lei por causa da nossa fé em Cristo.
A resposta de um aluno da escola dominical, frequentemente citada, foi apenas parcialmente correta ao dizer que a justiça significa ser tratado "como se nunca tivesse pecado". Como pecadores perdoados, regozijamo-nos nessa verdade, embora sejamos a diversos trocadilhos. Ora, justificação significa muito mais. É como se tivesse sempre guardado perfeitamente a lei de Deus. Não sou apenas perdoado, sou também totalmente aceito. Foi a compreensão da plenitude da riqueza da justificação que deu a Paulo aquela confiança Alegre, e que o impeliu para uma devoção irrestrita a Cristo, bem como uma urgência para fazer que estas boas notícias fossem conhecidas. foi a mesma experiência do perdão, unida ao fato de que Deus graciosamente aceita o pecador justificado que não apenas baniu as dúvidas angustiantes de Lutero, mas também lhe deu à disposição para desafiar o poder do Papa e do imperador.
É a mesma mensagem que ainda aviva os pecadores perdoados para prestar uma obediência agradecida, e que conduzirá as igrejas a um caminho construtivo na prática de um testemunho e de um culto que são bíblicos.
Herbert M. Carson.
No livro: Declarado Inocente de James Buchanan.
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