Rick Warren e a Tradução de "A Mensagem” de Eugene Peterson.

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Rick Warren e a Tradução de "A Mensagem” de Eugene Peterson.


 

Rick Warren, renomado autor e pastor, faz amplo uso da versão "A Mensagem", de Eugene Peterson, em seu livro "Uma Vida com Propósito". De fato, ele cita essa versão mais do que qualquer outra da Bíblia. No entanto, "A Mensagem" é frequentemente criticada por conter influências de conceitos ligados à Nova Era. No primeiro capítulo do livro de Warren, cinco dos versículos citados provêm dessa tradução, o que levanta questões sobre a fidedignidade de sua mensagem em relação ao texto original das Escrituras.

Uma vez que “A Mensagem” é apenas uma paráfrase e não uma tradução, desavisados não se dão conta disso.

Embora Warren reconheça que "A Mensagem" é uma paráfrase da Bíblia, ele frequentemente a cita como se fosse uma tradução literal, utilizando expressões como "a Bíblia diz" antes de apresentar passagens dessa versão. Um exemplo significativo dessa diferença ocorre na oração do Pai Nosso. Enquanto a maioria das traduções tradicionais dizem "assim na terra como no céu", Peterson insere a expressão "assim em cima, assim embaixo".

 Talvez isso não pareça anormal, mas as vezes não consigo entender porque as versões modernas e as paráfrases que aparecem no mercado editorial evangélico, gostam tanto de inserir conceitos esotéricos, espiritualistas e ocultistas do movimento nova era. Isso é proposital? ou fazem intencionalmente sem levar em conta a conexão esotérica?

Essa expressão tem um significado profundo dentro das tradições esotéricas e ocultistas. O livro "Assim como em cima, assim embaixo", publicado em 1992 pelos editores do New Age Journal, descreve essa expressão como uma verdade fundamental do universo. Segundo Ronald S. Miller, editor da obra, essa frase reflete o ensinamento de que "somos todos um", uma ideia central das crenças da Nova Era, que enfatizam a imanência de Deus em todas as coisas.

A origem dessa expressão remonta ao Egito Antigo, sendo atribuída ao alquimista Hermes Trismegisto, Hermes era um médium ocultista, ele era contemporâneo do profeta Abraão. Uma de suas obras principais foi a “tabua Esmeralda” que ele recebeu como se fosse uma revelação divina, Hermes Trimesgisto influenciou muito os ocultistas de tradição ocidental.  Segundo seus ensinos, a frase sugere que Deus transcendente e o universo físico são essencialmente um só, um conceito panteísta que difere da teologia cristã tradicional.

O pesquisador Reshad Field reforça essa interpretação ao afirmar que "assim como em cima, assim embaixo" revela a unidade entre os mundos visível e invisível, o tempo e a eternidade, sugerindo que tudo é um só. Essa ideia, segundo Field, é central para a tradição mágica e esotérica. Precisamos ter mais cautela, não acredito que tudo isso possa ter sido mero acaso, de certa forma, “A Mensagem” de Eugene Peterson reflete a tendência das versões modernas. Um fluxo para fora da ortodoxia.

Entretanto, essa perspectiva difere radicalmente do ensino bíblico, que não prega a união mística entre Deus e a criação, mas sim a reconciliação com Ele através de Jesus Cristo. Em Gálatas 3:26-28, está escrito:

"Porque todos sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus; Todos vocês que foram batizados em Cristo já se revestiram de Cristo. Não há judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus."

Portanto, a união mencionada na Bíblia não se refere a uma conexão universal e esotérica entre todas as coisas, mas sim à unidade dos crentes em Cristo. Esse contraste é fundamental para entender as diferenças entre a perspectiva bíblica e os conceitos da Nova Era. No Novo Testamento temos uma criação redimida pela obra consumada e perfeita de Cristo.

A adoção de "A Mensagem" por Rick Warren em um contexto tão relevante levanta questionamentos sobre a precisão teológica dessa versão e os riscos de misturar ensinamentos cristãos com ideias de origem esotérica. Assim, é essencial que os leitores sejam criteriosos ao utilizar diferentes traduções da Bíblia, garantindo que os textos reflitam fielmente a mensagem original das Escrituras.

A influencia espiritualista e ocultista apresenta um perigo no contexto atual da igreja, O movimento Nova Era não morreu, se misturou. A infiltração foi um processo lento e sorrateiro, alguns apologistas como Dave Hunt já alertavam a igreja de Cristo sobre essa sedução espiritualista esotérica e pagã

 

No excelente artigo “Dominionismo e a Ascensão do Imperialismo Cristão” Sarah Leslie escreveu: “houve um aumento significativo de polinização cruzada desde o final d decada de 1970 entre dominionistas evangélicos e teosofistas da Nova Era” leslie fala de uma confraternização enrustida entre dominionistas e teosofistas com o propósito de encontrar um terreno comum para o futuro. Ambos os grupos tem planos utópicos para criar a paz na terra, os dois grupos começaram a tomar emprestado terminologias doutrinarias um com o outro e a trabalhar em teologias comuns. Adeptos do dominionismo evangélico como Jay Gary, afirma Leslie, teve laços estreitos com os teosofistas. Dessa síntese nasceu a igreja emergente que é uma mistura de paganismo e espiritualidade do Movimento Nova era, Misticismo oriental e do catolicismo medieval, teologia evangélica, carismatismo, progressismo pragmático e dominionismo patriótico.

Aqui novamente reitero, o caminho seguro é sair do caminho do ecumenismo e do sincretismo e adotar exclusivamente uma versão bíblica fiel. Eu indico sempre as versões que vieram do Textus Receptus para o Novo Testamento e do Massoretico para o Antigo Testamento.

 

C. J. Jacinto

 

Apostasia: O Abandono da Mensagem da Cruz

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A Nova Reforma de Schuller e sua Conexão com a Nova Era

A Ascensão do humanismo é a pavimentação da via que virá o anticristo.

Cristãos sem discernimento serão presas fáceis do engano que predominará nos últimos dias.

Lideres cristãos como Robert Schuller são exemplos dessa tendência ao erro, uma mudança de foco, da mensagem da cruz e a necessidade do arrependimento para uma mensagem positiva que exalta a natureza humana.

A interseção entre o pensamento cristão contemporâneo e os ensinamentos da Nova Era tem sido objeto de debate por décadas. Um dos exemplos mais notáveis é a influência das ideias de Robert Schuller sobre a autoestima e sua visão de uma "Nova Reforma", que despertaram interesse tanto na comunidade cristã como entre líderes da Nova Era.

Encontramos uma descrição clara acerca das tendências dos últimos tempos, amantes de si mesmos (Veja II Timoeto 3:1 a 5)

A Proposta de Robert Schuller

Robert H. Schuller, fundador da icônica Catedral de Cristal, propôs uma "Nova Reforma" no cristianismo, que buscava afastar-se da tradição teológica centrada no pecado, culpa e condenação. Em seu livro Autoestima: A Nova Reforma, ele argumentou que a igreja deveria se concentrar mais na autoestima e no desenvolvimento pessoal, promovendo uma espiritualidade baseada na valorização do ser humano.

Essa perspectiva foi amplamente aceita por alguns e criticada por outros, que viam essa abordagem como um afastamento das doutrinas centrais do cristianismo. No entanto, a ideia de uma reforma que enfatizasse o respeito universal e o desenvolvimento individual ressoou com diversas correntes espirituais, incluindo as vertentes da Nova Era.

O Envolvimento de Neale Donald Walsch e a Nova Espiritualidade

No livro The New Revelations (2002), Neale Donald Walsch e seu "Deus" da Nova Era elogiam a proposta de Schuller e aplaudem seu apelo por uma reforma dentro do cristianismo. Walsch argumenta que a visão de Schuller poderia servir como um ponto de partida teológico para um acordo universal, promovendo um diálogo inter-religioso e interespiritual.

Walsch sugere que essa nova abordagem poderia unificar diferentes tradições religiosas e espirituais sob a ideia central de que "somos todos um". Essa é uma premissa fundamental da Nova Espiritualidade, que busca integrar ensinamentos espirituais diversos em um paradigma mais amplo e inclusivo.

Uma religião mundial ecumênica a síntese de todos os credos, parece ser uma idéia muito elevada mas em essência é relativista e ambígua, quando erro e verdade se juntam o resultado sempre será uma grande ilusão!

O Plano PEACE e Suas Convergências

Curiosamente, tanto Neale Donald Walsch quanto Rick Warren desenvolveram um plano de cinco pontos chamado "PEACE", que se propõe a promover uma nova abordagem para a espiritualidade e a transformação global. A semelhança entre as propostas sugere uma convergência de ideais entre o pensamento cristão moderno e a Nova Era.

Rick Warren, autor de Uma Vida com Propósito, também se inspirou na visão de Schuller para formular sua própria abordagem ministerial. Isso reforça a ideia de que a "Nova Reforma" proposta por Schuller exerceu uma influência significativa não apenas na Nova Era, mas também em setores do cristianismo contemporâneo.

A advertência bíblica de que um poucp de fermento leveda toda a massa deve ser levada a serio, a estrutura espiritual sempre fica comprometida quando heresias são toleradas em um sistema de crenças.

As Conexões com Outros Líderes da Nova Era

O impacto das ideias de Schuller também pode ser observado nas conexões que ele estabeleceu com diversos líderes da Nova Era. Gerald Jampolsky, autor de Amor é Libertador, e Bernie Siegel, famoso médico e escritor espiritualista, elogiaram os ensinamentos de Schuller. Jampolsky, inclusive, teve seu curso Um Curso em Milagres ministrado na Catedral de Cristal em 1985, um dos indícios da proximidade entre essas abordagens espirituais.

O endosso mútuo entre Schuller e Jampolsky, bem como a citação de Siegel no livro de Rick Warren, demonstra como conceitos da Nova Era se entrelaçaram com a visão de reforma dentro do cristianismo contemporâneo. Essa intersecção levanta questões importantes sobre as fronteiras entre o cristianismo tradicional e novas formas de espiritualidade. Infelizmente essas infiltrações ocorrem por causa da falta de discernimento espiritual. Estamos vivendo dias difíceis e confusos, infelizmente as influencias espiritualistas, ocultistas e do movimento nova era, serão sempre receptivas pelos lideres evangélicos não comprometidos com a sã doutrina.

Conclusão

A proposta de uma "Nova Reforma" por Robert Schuller, inicialmente voltada para a revitalização da igreja cristã, encontrou ressonância em diferentes vertentes espirituais, incluindo a Nova Era. Líderes como Neale Donald Walsch, Rick Warren e Gerald Jampolsky reconheceram e incorporaram aspectos dessa reforma em seus respectivos movimentos.

Essa interconexão evidencia a crescente tendência de integração entre diferentes tradições espirituais e levanta a questão: até que ponto essa aproximação representa uma evolução positiva ou um afastamento dos princípios fundamentais do cristianismo? O debate continua, mas uma coisa é certa: a influência de Robert Schuller ultrapassou os limites do cristianismo tradicional, deixando um legado que continua a moldar a espiritualidade moderna.

 

 

C. J. Jacinto

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Heresias em Disciplinas Espirituais

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Os perigos da formação espiritual e das disciplinas espirituais

Uma Crítica de Dallas Willard e O Espírito das Disciplinas

por Bob DeWaay

 

Práticas chamadas de “disciplinas espirituais” que são consideradas necessárias para a “formação espiritual” entraram no evangelicalismo. Encontros recentes com esse ensinamento narrado a mim por amigos me fizeram investigar essas práticas. A primeira experiência envolveu meu amigo e colega de trabalho Ryan Habbena, que voltou ao seminário para terminar seu mestrado. Aqui está sua experiência em suas próprias palavras:

Recentemente, fiz um curso de seminário sobre o livro de Lucas. Era um curso intensivo de verão e uma das duas únicas aulas oferecidas na época. Mais ou menos na metade da semana, enquanto a classe estava mergulhada em tentar discernir a intenção e o significado do livro de Lucas, começamos a ouvir os ecos de cânticos místicos vindos através das paredes. Como se viu, a outra classe oferecida estava estacionada bem ao lado da nossa. As paredes finas como papel carregavam os coros de uma classe explorando a vida e os ensinamentos do místico católico Henry Nouwen. Prosseguimos, tentando nos concentrar no estudo das Escrituras enquanto ignorávamos os cânticos que estavam acontecendo na sala ao lado. Talvez o que tenha sido mais perturbador, no entanto, é que a classe que estudava Nouwen estava lotada, enquanto havia muitos assentos vazios na sala ao lado para qualquer um que quisesse aprender sobre o livro inspirado de Lucas. 1

Como isso pode ser? Um seminário batista estava estudando favoravelmente os ensinamentos desse místico católico cujos próprios biógrafos descrevem como tendo tido problemas emocionais e inclinações homossexuais. 2 Logo depois de falar com Ryan, conheci uma senhora que frequenta uma faculdade cristã. Como parte de seu programa de estudos, ela foi obrigada a fazer um curso sobre formação espiritual em sua faculdade. A formação espiritual em sua classe também se referia ao estudo de místicos católicos romanos e à busca por técnicas para ajudar aqueles que as implementam a se sentirem mais próximos de Deus. Este estudo também explorou “disciplinas espirituais” que prometiam tornar aqueles que as praticassem mais semelhantes a Cristo. Depois que ela terminou a aula, ela compartilhou seus livros didáticos comigo. Este artigo se concentrará nas alegações de um desses livros didáticos, The Spirit of the Disciplines , de Dallas Willard. 3 Em nosso estudo, veremos que aqueles que promovem disciplinas espirituais em cursos de estudo chamados “formação espiritual” fazem alegações que são antibíblicas e perigosas.



O “jugo” de Jesus como “disciplinas espirituais”

Dallas Willard baseia todo o seu livro de disciplinas espirituais em sua compreensão de Mateus 11:29, 30, que diz: “Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave, e a minha carga é leve.” Willard cita esta passagem no início de um capítulo intitulado “O segredo do jugo suave,” 4 Willard diz: “E nesta verdade está o segredo do jugo suave: o segredo envolve viver como ele viveu em toda a sua vida — adotando seu estilo de vida geral.” 5 Ele também diz: “Temos que descobrir como entrar em suas disciplinas de onde estamos hoje — e, sem dúvida, como estendê-las e amplificá-las para atender aos nossos casos necessitados.” 6 Ele afirma que o “jugo” é tentar imitar o estilo de vida de Jesus de todas as maneiras possíveis. 7 Willard interpreta o “jugo” de Jesus como a prática de disciplinas espirituais como solidão, silêncio e vida simples. Mais tarde, ele acrescenta o banimento voluntário e outros que discutiremos mais tarde.

Willard é muito crítico da doutrina e prática protestante tradicional, declarando-a um fracasso enorme. 8 Seu remédio para esse fracasso é ver o corpo e certas práticas ascéticas usando o corpo como meio de mudança: “Olhando para trás em nossa discussão até este ponto, conectamos a realidade do jugo fácil com a prática das disciplinas espirituais. Estas, por sua vez, nos levaram ao papel do corpo na redenção.” 9 Ele alega que fomos mal orientados por estarmos preocupados com o perdão dos pecados e “teorias da expiação.” Ele diz: “A salvação como concebida hoje está muito distante do que era nos primórdios do cristianismo e somente corrigindo-a a graça de Deus na salvação pode ser devolvida à existência concreta e corporificada de nossas personalidades humanas caminhando com Jesus em seu jugo fácil.” 10 De acordo com esse pensamento, o jugo de Jesus envolve usar o corpo de certas maneiras para realizar vidas transformadas:

Embora chamemos as disciplinas de “espirituais” — e embora elas nunca devam ser empreendidas à parte de uma interação constante e interna com Deus e seu gracioso Reino — elas nunca deixam de exigir atos e disposições específicas de nosso corpo à medida que nos engajamos nelas. Somos finitos e limitados a nossos corpos. Portanto, as disciplinas não podem ser realizadas, exceto quando nosso corpo e suas partes são entregues de maneiras precisas e ações definidas a Deus. 11

Então, evidentemente, em vez de nos preocuparmos com a expiação pelo sangue, evitando a ira de Deus contra o pecado, e com a salvação pela fé por meio da graça, deveríamos praticar disciplinas espirituais com nossos corpos para que pudéssemos ser mais semelhantes a Jesus.

O conceito do “jugo” de Jesus sendo interpretado como um convite para praticar Seu estilo de vida é reiterado ao longo do livro de Willard; veja as páginas 91, 121 e 235. Essa ideia é a estrutura e a fundação lógica de toda a tese de Willard. Mas a questão é: “É isso que Jesus quis dizer em Mateus 11:29, 30 ?” Vamos examinar a passagem em contexto para ver se ensina as disciplinas espirituais.



O verdadeiro significado do “jugo” de Jesus

Se quisermos entender Mateus 11:29, 30, é essencial que entendamos o contexto, particularmente o significado do versículo 28. Jesus disse: “Vinde a mim, todos os que estais cansados ​​e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. ( Mateus 11:28 ). Devemos entender a oferta de descanso de Jesus no contexto de Seus debates com os líderes religiosos. O “jugo” deles exigia a estrita observância das regras do sábado e sua tradição oral. Imediatamente após a oferta de Jesus de “descanso” Nele, seguiu-se um debate sobre o sábado com os líderes religiosos acusando Jesus e Seus discípulos de serem violadores do sábado (ver Mateus 12). Eles colhiam grãos no sábado e Jesus curava no sábado. Jesus estava oferecendo o verdadeiro descanso do sábado e os líderes judeus estavam oferecendo o jugo da Lei. O jugo de Jesus era diferente. Jesus guardou a lei perfeitamente para que todos que viessem a ele entrassem no verdadeiro descanso sabático, que nunca poderia ser alcançado pela observância das regras estabelecidas pelos líderes religiosos.

Tomando esse entendimento do termo “jugo”, podemos ver o que Jesus quis dizer em Mateus 11. Suas palavras vieram no meio de uma disputa com a liderança judaica. Ele havia pronunciado ai sobre as cidades que não se arrependessem ( Mateus 11:20-24 ). Ele proferiu esta oração:

Naquele tempo, Jesus respondeu e disse: “Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas dos sábios e inteligentes e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado. Todas as coisas me foram entregues por meu Pai; e ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar.” ( Mateus 11:25-27 )

Os sábios e inteligentes eram os escribas e fariseus judeus que acusaram Jesus de ser um violador do sábado e que se recusaram a se arrepender quando testemunharam Seus milagres. Eles rejeitaram tanto Jesus quanto João Batista de uma maneira muito inconstante ( Mateus 11:16-19 ). Eles se recusaram a vir a Deus em Seus termos, mas exigiram que Deus, o Filho, os obedecesse em seus termos! Então Jesus pronunciou o julgamento de endurecimento sobre eles e escolheu, em vez disso, revelar-se aos bebês.

Quando Jesus disse: “Vinde a mim, todos os que estais cansados ​​e sobrecarregados, e eu vos aliviarei ( Mateus 11:28 ), Ele estava oferecendo a eles o que a liderança judaica rejeitou — a salvação messiânica. O verdadeiro descanso do sábado só é encontrado em Cristo (veja Hebreus 4:1-9 ). Ironicamente, as pessoas que acusaram Jesus de ser um violador do sábado foram os maiores violadores do sábado porque rejeitaram o único que poderia dar o verdadeiro descanso. Eles colocaram o jugo da guarda da lei sobre o povo, mas os mantiveram longe do único verdadeiro guardador da Lei, Cristo, que morreu por seus pecados. Portanto, não importa quão escrupulosa e religiosa uma pessoa seja, se ela não vier a Cristo pela fé, essa pessoa estará sob o jugo da escravidão em vez do descanso do sábado para o povo de Deus.

Há outros lugares no Novo Testamento onde o termo “jugo” é usado no sentido da exigência de guardar a lei. Dois deles são muito pertinentes para interpretar Mateus 11:28-30 . Em Atos 15, os apóstolos se reuniram em Jerusalém para determinar se os novos convertidos gentios seriam obrigados a guardar a Lei. As três leis mais proeminentes que marcavam os judeus como únicos eram as leis alimentares, o sábado e a circuncisão. O discurso de Pedro convenceu os apóstolos de que os gentios não eram obrigados a seguir tais leis judaicas:

E, havendo grande discussão, levantou-se Pedro e disse-lhes: Irmãos, bem sabeis que já nos primeiros dias Deus me elegeu dentre vós, para que os gentios ouvissem da minha boca a palavra do evangelho e cressem. E Deus, que conhece os corações, deu testemunho a respeito deles, dando-lhes o Espírito Santo, como também a nós; e não fez distinção alguma entre eles e nós, purificando os seus corações pela fé. Agora, pois, por que tentais a Deus, pondo sobre a cerviz dos discípulos um jugo que nem nossos pais nem nós pudemos suportar? Mas cremos que somos salvos pela graça do Senhor Jesus, como eles também o são. ( Atos 15:7-11 )

O “jugo” era estar sob a Lei.

Agora, considere como Paulo usou o mesmo termo: “Foi para a liberdade que Cristo nos libertou; portanto, permaneçam firmes e não se sujeitem novamente a um jugo de escravidão” ( Gálatas 5:1 ). Os judaizantes queriam colocar os cristãos sob a obrigação de serem circuncidados e Paulo chamou isso de “jugo de escravidão”.

Então, o jugo de Jesus está em forte contraste com o “jugo” que os líderes religiosos colocam sobre o povo. Ele está oferecendo salvação a todos que vêm a Ele pela fé. Craig Blomberg resume esta seção em Mateus 11:

A sequência de pensamento dos vv. 25-30 progride assim como segue. A crescente polarização da resposta a Jesus reflete de fato as escolhas soberanas de Deus (vv. 25-26). Jesus é o agente único de Deus na realização dessas escolhas (v. 27). Isso lhe dá a autoridade de Deus para chamar as pessoas para si (vv. 28-30). O convite para vir a Cristo permanece para todos hoje, mas agora como então requer o reconhecimento de que as pessoas não podem vir exaltando a si mesmas (lembre-se do v. 23), mas apenas dependendo completamente e confiando em Cristo. 12



O jugo de Jesus é praticar disciplinas espirituais?

Portanto, nossa conclusão é que em Mateus 11 Jesus estava oferecendo salvação a todos que vêm a Ele. Agora, vamos examinar a alegação de Willard de que Jesus estava dizendo às pessoas para tentarem imitar Seu estilo de vida. Willard alega que estamos falhando em praticar as disciplinas que nos tornariam capazes de viver vidas melhores e que a maioria dos cristãos está falhando em viver vidas agradáveis ​​a Deus. Ele ainda afirma que a solução é que pratiquemos disciplinas espirituais que são baseadas no estilo de vida de Jesus e suplementadas por práticas da Igreja Católica Medieval. Então ele vê o “jugo” de Jesus como uma oferta para assumir um estilo de vida que nos tornará pessoas melhores, em vez de uma oferta de verdadeiro descanso sabático por meio da obra consumada de Cristo na cruz. Isso equivale a substituir obras pela graça e fazer de Jesus um professor ético cujo exemplo pode ser seguido em vez do Filho único de Deus que sozinho sempre faz as coisas que agradam ao Pai. Willard não oferece nenhuma análise exegética da passagem em Mateus para defender sua interpretação. Na minha opinião, sua posição não é defensável.



A Bíblia prescreve disciplinas espirituais?

As disciplinas espirituais não são ensinadas em Mateus 11:29, 30 (o teste de prova primário de Willard), e até mesmo Willard admite que elas não podem ser encontradas em nenhum outro lugar nas escrituras (mostraremos isso em breve). Mas ele está, no entanto, entusiasmado com a recente redescoberta das disciplinas.

Dallas Willard está animado para nos dizer que finalmente, por meio da liderança de pessoas como Richard Foster, estamos tendo um reavivamento do uso de disciplinas espirituais. Willard escreve: “Hoje, pela primeira vez em nossa história como nação, estamos sendo apresentados a uma gama característica de comportamentos humanos, como jejum, meditação, vida simples e submissão a um supervisor espiritual, sob uma luz atraente.” 13 Ele afirma que meios comuns, como estudo da Bíblia, oração, comunhão e evangelismo, são inadequados e, tendo falhado, deixaram a maioria dos cristãos como fracassados. Ele escreve: “Todos os esquemas agradáveis ​​e doutrinariamente sólidos de educação cristã, crescimento da igreja e renovação espiritual chegaram finalmente a esse resultado decepcionante. Mas de quem foi a culpa desse fracasso?” 14 O “fracasso”, de acordo com Willard, é que “... o evangelho pregado e a instrução e o exemplo dados a esses fiéis simplesmente não fazem justiça à natureza da personalidade humana, como corporificada, encarnada. ” 15 Então, o que isso significa? Isso significa que falhamos porque nosso evangelho teve muito pouco a ver com nossos corpos.

As disciplinas espirituais supostamente remediam essa deficiência. Willard diz: “Por outro lado, o segredo das disciplinas espirituais padrão, historicamente comprovadas, é precisamente que elas respeitam e contam com a natureza corporal da personalidade humana.” 16 Willard afirma que Paulo entendeu a necessidade de tais práticas, mas que elas foram perdidas: “O ensinamento de Paulo, especialmente quando adicionado às suas práticas, sugere fortemente que ele entendeu e praticou algo vital sobre a vida cristã que perdemos — e que devemos fazer o nosso melhor para recuperar.” 17 Claro, se Paulo tivesse se incomodado em escrever sobre essas disciplinas “perdidas” em suas epístolas, elas não teriam sido perdidas.

Então por que Paulo falhou em escrever sobre essas disciplinas secretas e perdidas? A resposta de Willard é que Paulo tinha em mente, “... um curso preciso de ação que ele entendia em termos definidos, seguia cuidadosamente a si mesmo e chamava outros para compartilhar... Tão obviamente assim, para ele e os leitores de sua época, que ele não sentiria necessidade de escrever um livro sobre as disciplinas para a vida espiritual que explicasse sistematicamente o que ele tinha em mente.” 18 Traduzido, isso significa que Paulo não escreveu sobre as disciplinas espirituais porque todos as praticavam. Willard continua dizendo, “É quase impossível no clima de pensamento do mundo ocidental de hoje apreciar o quão completamente desnecessário era para Paulo dizer explicitamente, no mundo em que ele vivia, que os cristãos deveriam jejuar, ficar sozinhos, estudar, dar e assim por diante como disciplinas regulares para a vida espiritual.” 19 Há um problema sério aqui que Willard ignora: Paulo escreveu sobre abordagens como essas — ele escreveu contra elas!

Se você morreu com Cristo para os princípios elementares do mundo, por que, como se estivesse vivendo no mundo, você se submete a decretos, tais como: "Não manuseie, não prove, não toque!" (que se referem a coisas destinadas a perecer com o uso) - de acordo com os mandamentos e ensinamentos dos homens? Essas são questões que têm, com certeza, a aparência de sabedoria na religião autocriada e na auto-humilhação e no tratamento severo do corpo, mas não têm valor algum contra a indulgência carnal. ( Colossenses 2:20-23 )

Eles tinham ascetas nos dias de Paulo e ele os repreendeu. Willard nunca discute essa passagem que ensina explicitamente que “tratamento severo do corpo” não pode nos ajudar a encontrar a liberdade da pecaminosidade.

Onde encontramos essa “sabedoria” sobre a qual Paulo falhou em escrever? Diz Willard: “Isso não é algo que São Paulo teve que provar ou mesmo declarar explicitamente aos seus leitores — mas também não foi algo que ele ignorou, deixando para ser pensado por monges enlouquecidos na Idade das Trevas. É, ao contrário, uma sabedoria colhida de milênios de experiência humana coletiva.” 20 Então, as disciplinas que precisamos para ser mais como Cristo não podem ser encontradas na Bíblia, mas podem ser colhidas da história religiosa. Willard nos diz: “Mas pessoas pensativas e religiosamente devotas do mundo clássico e helenístico, do Ganges ao Tibre, sabiam que a mente e o corpo do ser humano tinham que ser rigorosamente disciplinados para alcançar uma existência individual e social decente.” 21

O problema óbvio com isso é que, se esse tipo de lógica for válido, poderíamos alegar que precisamos de tabuleiros Ouija como parte de nossa prática espiritual e que Paulo e outros cristãos primitivos devem tê-los usado tão regularmente que não havia necessidade de escrever sobre eles. Ironicamente, Willard admite que a Bíblia não nos ordena a praticar as disciplinas espirituais que ele prescreve.

Ouvir evangélicos como Dallas Willard e Richard Foster nos dizerem que precisamos de práticas que nunca foram explicitadas na Bíblia para nos tornarmos mais como Cristo ou para nos aproximarmos de Deus é espantoso. O que é mais espantoso é que faculdades e seminários evangélicos estão exigindo que seus alunos estudem práticas que são relíquias da Roma Medieval, não encontradas na Bíblia e muito semelhantes às práticas de muitas sociedades pagãs.



O Falso Evangelho da Capacidade Humana

Como na maioria das abordagens não bíblicas, as disciplinas espirituais são baseadas na ideia de poderes humanos inatos que podem ser aproveitados para o bem. Mantendo um falso conceito de pecado como uma “perturbação daquela vida [espiritual] superior”, 22 Willard busca uma solução encontrando nosso verdadeiro potencial, individual e corporativamente, por meio de disciplinas espirituais que nos permitirão reconstruir o governo de Deus agora. Willard diz: “O mal que fazemos em nossa condição atual é um reflexo de uma fraqueza causada pela fome espiritual”. 23 Em vez de rebeldes perversos permanecendo sob a ira de Deus, os humanos são feixes de enorme potencial que se perderam por meio da “perturbação dos poderes superiores”. Supostamente temos um grande potencial: “É a extensão surpreendente de nossa capacidade de utilizar o poder fora de nós mesmos que devemos considerar quando perguntamos o que é o ser humano. Os limites de nosso poder de transcender a nós mesmos utilizando poderes não localizados em nós — incluindo, é claro, o espiritual — ainda não foram totalmente conhecidos”. 24 Willard dá esta interpretação de 1 João 3:2: “Por causa de sua experiência pessoal com poderes espirituais trazidos a ele em Cristo, João sentiu uma grandeza inimaginável em nosso destino.” 25

Então, como podemos explorar esse grande potencial humano? Ele diz que devemos explorar a dimensão espiritual usando disciplinas espirituais. Willard compartilha sua definição de “espírito”: “Se o elemento que falta na atual ordem humana é o espírito, o que é espírito? Muito simplesmente, espírito é poder pessoal incorpóreo .” 26 Sua ideia é que “espírito” é o nutriente que falta para realizarmos nosso potencial completo. As ideias de depravação total, a ira de Deus contra o pecado, a expiação pelo sangue e a cruz estão ausentes ou distorcidas na teologia de Willard. O que substitui essas verdades é a esperança de que realizaremos nosso potencial explorando o reino espiritual de Deus. Isso deve ser feito pelo uso de disciplinas espirituais para obter o poder necessário para transformar o mundo. A terminologia que Willard usa é estranha e antibíblica. Por exemplo, ele escreve:

“Quando o organismo humano é trazido para um relacionamento pessoal e voluntário com o Reino espiritual de Deus, 'sugando a ordem' daquela parte específica do ambiente humano, ele se transforma de forma penetrante, como um talo de milho na seca é transformado pelo início de uma chuva torrencial — o contato com a água transforma a planta internamente e então a estende para fora. Da mesma forma, as pessoas são transformadas pelo contato com Deus.” 27

Essas ideias são mais parecidas com a religião oriental do que com o cristianismo bíblico. Nosso problema não é a necessidade de sugar mais “poder pessoal incorpóreo” por meio de técnicas para contatar Deus. Somos pecadores mortos enfrentando a ira de Deus, a menos que nos arrependamos e creiamos no evangelho. Os conceitos de Willard são estranhos à Bíblia. Ele diz: “Uma 'vida espiritual' consiste naquela gama de atividades nas quais as pessoas interagem cooperativamente com Deus — e com a ordem espiritual derivada da personalidade e ação de Deus.” 28 Isso significa praticar o ascetismo por meio das disciplinas espirituais. Ele diz: “As disciplinas são atividades da mente e do corpo propositalmente empreendidas, para trazer nossa personalidade e ser total em cooperação efetiva com a ordem divina.” 29 Isso depende de nós: “No entanto, mesmo quando buscamos mais graça para esse fim, também aprendemos pela experiência que a harmonização de nosso eu total com Deus não será feita por nós. Devemos agir.” 30

Quais resultados estão reservados para a igreja quando tomamos medidas para explorar essa dimensão espiritual para realizar nosso potencial total? A igreja será a encarnação de Cristo e o reino de Deus virá por meio de nós, agora, antes do retorno corpóreo de Cristo. Rejeitando a doutrina pré-milenar, Willard diz: “Frequentemente, somos informados de que o governo de Deus sobre a Terra será cumprido em um grande ato de violência, no qual multidões de pessoas são mortas por Deus, seguido por um governo totalitário de proporções literalmente infinitas, com sede em Jerusalém.” 31 Ele deixa de mencionar que esse governo “totalitário” é o governo do próprio Cristo, conforme prometido na Bíblia. Qual é a alternativa de Willard? – “Eu acredito, ao contrário, que o governo vindouro de Deus deve ser um governo pela graça e pela verdade mediado por personalidades maduras em Cristo.” 32 É surpreendente que ele considere o próprio Cristo reinando como “totalitário” e nós reinando como “graça e verdade.”

Para Willard, Cristo não está vindo para a igreja, mas na igreja: “A presença real de Cristo como uma força governante mundial virá somente quando seu povo chamado ocupar suas posições na santidade e no poder característicos dele, enquanto demonstram ao mundo a melhor maneira de viver em todos os aspectos.” 33 Nós ganhamos a habilidade de reinar sobre o mundo para Cristo por meio de disciplinas espirituais.

Como essas disciplinas eram a ordem do dia para Roma em um período em que seu objetivo era governar o mundo, eu me pergunto por que o resultado foi a Idade das Trevas? Que tipo de otimismo superficial nos faria pensar que se tentássemos novamente, desta vez teríamos um resultado melhor? Sempre que a teologia se volta para o potencial humano e a habilidade humana auxiliada por algum tipo de infusão espiritual, o resultado é um sonho utópico. Supostamente, não precisamos que Cristo retorne em julgamento e estabeleça Seu Reino; precisamos apenas explorar o grande potencial humano que nunca foi totalmente implementado. Willard diz que o caminho de Cristo ainda não foi tentado. 34

De acordo com a teologia de Willard, assim como Cristo vindo na plenitude dos tempos durante o primeiro advento, a igreja será a resposta (não o retorno corpóreo de Cristo) para o reino vindouro. Nós, não Jesus, seremos a nova encarnação: “[E]xiste igualmente uma plenitude de tempo para seu povo se apresentar com o estilo concreto de existência pelo qual o mundo ansiou em seus momentos de reflexão e louvou por meio de seus poetas e profetas. Como uma resposta aos problemas deste mundo, o evangelho do Reino nunca fará sentido, exceto quando encarnado — dizemos 'encarnado' — em seres humanos comuns em todas as condições comuns da vida humana.” 35

Ao minimizar a doutrina da depravação total e da natureza pecaminosa, Willard faz parecer plausível que podemos ser infundidos pelo poder divino e estabelecer o reino agora. A Bíblia, no entanto, prevê a apostasia e a revelação do homem da iniquidade pouco antes de Cristo retornar em julgamento ( 2 Tessalonicenses 2:3-8 ). As afirmações de Willard carecem de trabalho exegético sólido das escrituras para seu suporte. Ele precisa oferecer uma definição mais clara do reino de Deus e fornecer suporte bíblico para a ideia de que podemos estabelecê-lo antes do retorno de Cristo. Na falta de suporte bíblico, seus argumentos não são convincentes.



Quais disciplinas espirituais?

As disciplinas espirituais que são supostamente necessárias para a formação espiritual não são definidas na Bíblia. Se fossem, haveria uma descrição clara delas e uma lista concreta. Mas, como as disciplinas espirituais variam e foram inventadas por pioneiros espirituais na história da igreja, ninguém pode ter certeza de quais são válidas. Willard diz: [N]ão precisamos tentar elaborar uma lista completa de disciplinas. Nem devemos presumir que nossa lista específica será adequada para os outros.” 36 As práticas são coletadas de várias fontes e o indivíduo tem que decidir quais funcionam melhor. Willard lista o seguinte: exílio voluntário, vigília noturna de rejeição do sono, registro em diário, guarda do sábado do AT, trabalho físico, solidão, jejum, estudo e oração. 37 Willard então lista “disciplinas de abstinência” (solidão, silêncio, jejum, frugalidade, castidade, segredo, sacrifício) e “disciplinas de engajamento” (estudo, adoração, celebração, serviço, oração, comunhão, confissão, submissão). 38

Willard oferece uma discussão de cada um deles, citando pessoas como Thomas Merton, Thomas a Kempis, Henri Nouwen e outros místicos. Dizem-nos que práticas como solidão e silêncio vão nos mudar, embora a Bíblia não as prescreva. Willard escreve: “Essa prioridade factual da solidão é, acredito, um elemento sólido no ascetismo monástico. Preso na interação com os seres humanos que compõem nosso mundo caído, é quase impossível crescer em graça como se deveria.” 39 Então, se não podemos crescer em graça sem solidão, como é que a Bíblia nunca nos ordena a praticar a solidão? O mesmo vale para muitos outros itens na lista de Willard.

Willard nos diz que a lista de disciplinas que ele fornece não é exaustiva. Outras podem ser determinadas pragmaticamente. Ele diz: “Como indicamos, há muitas outras atividades que poderiam, para a pessoa certa e na ocasião certa, ser contadas como disciplinas espirituais no sentido estrito declarado em nosso capítulo anterior. A caminhada com Cristo certamente é aquela que deixa espaço e até mesmo exige criatividade individual e uma atitude experimental em tais questões.” 40 No entanto, há um problema sério com a lógica de Willard aqui. Anteriormente, ele rejeitou práticas como autoflagelação, expondo o corpo a severidades, incluindo ser comido por besouros, ser suspenso por algemas de ferro e outros meios de tratar severamente o corpo para se tornar mais santo. 41 Willard rejeita essas práticas pelos seguintes motivos: “Aqui é uma questão de se esforçar para se esforçar. É de fato uma variedade de auto-obsessão — narcisismo — algo muito distante da adoração e do serviço a Deus.” 42

Willard admitiu que não há uma lista clara de disciplinas e que cada pessoa pode escolher práticas diferentes por meios pragmáticos. Isso não dá base suficiente para rejeitar tais práticas como autoflagelação. Então Willard recorre à argumentação de que aqueles que fazem tais coisas têm motivos ruins. Mas ele não pode realmente saber seus motivos, talvez eles tenham determinado que essas práticas “funcionaram” usando os mesmos meios que Willard ofereceu. Se testes pragmáticos são os meios de determinar quais práticas são válidas, e se essas pessoas se sentem mais próximas de Deus e mais como Cristo por meio de suas práticas, então Willard não tem uma maneira válida de rejeitar suas práticas. Não tendo nenhum argumento válido, ele recorre a um argumento ad hominem inválido.

Ele não pode ter as duas coisas. Ou a Palavra de Deus determina como chegamos a Deus e como crescemos na graça, ou os humanos determinam essas coisas por meios pragmáticos. Willard escolheu o último. Mas então ele intervém e nos diz que algumas práticas são erradas, embora se encaixem em seus próprios critérios de validade. Se uma pessoa sente que dormir em uma pequena fenda de pedra com todo o calor sendo sugado para fora de seu corpo a torna mais disciplinada espiritualmente, então quem pode dizer que isso é errado? Se ele estivesse disposto a se submeter à autoridade das Escrituras, Willard poderia ter refutado essas práticas com base em Colossenses 2:21-23.

Embora denuncie alguns dos excessos do monasticismo, Willard gosta dos monásticos e acha que a Reforma não nos deixou meios práticos de crescimento espiritual. Ele diz: “Ele [o protestantismo] excluiu as 'obras' e os sacramentos eclesiásticos do catolicismo como essenciais para a salvação, mas continuou a não ter nenhuma explicação adequada sobre o que os seres humanos fazem para se tornarem, pela graça de Deus, o tipo de pessoas que Jesus obviamente os chama para ser.” 43 Isso é simplesmente falso. Lutero acreditava em meios de graça que Deus forneceu a todos os verdadeiros crentes para que eles pudessem crescer na graça e no conhecimento do Senhor. 44 A diferença é que os meios de graça são o que Deus forneceu a todos os cristãos em todas as eras e são determinados por Deus, não pelo homem. Eles são revelados na Bíblia. As disciplinas espirituais são feitas pelo homem, amorfas e não reveladas na Bíblia; elas assumem que alguém é salvo pela graça e aperfeiçoado pelas obras.

Paulo escreveu: “Vocês são tão insensatos? Tendo começado pelo Espírito, vocês estão sendo aperfeiçoados agora pela carne?” ( Gálatas 3:3 ). Paulo rejeitou a ideia de que somos salvos pela graça e aperfeiçoados pelas obras. Somos salvos pela graça e crescemos pela graça. Willard parece não entender esse ponto. Aqui está como ele vê: “As atividades mencionadas — quando nos engajamos nelas de forma consciente e criativa e as adaptamos às nossas necessidades individuais, tempo e lugar — serão mais do que adequadas para nos ajudar a receber a vida plena de Cristo e nos tornar o tipo de pessoa que deve emergir ao segui-lo.” 45 Em outro lugar, ele sugere que o crescimento vem por meio do poder da vontade humana: “Toda a questão da disciplina, portanto, é como aplicar atos da vontade à nossa disposição de tal forma que o curso de ação adequado, que nem sempre pode ser realizado por esforço direto e destreinado, será, no entanto, realizado quando necessário.” 46 É difícil ver como isso é outra coisa senão “ser aperfeiçoado pela carne”, o que Paulo disse ser impossível.

A compreensão da Reforma sobre os meios de graça era que eles eram meios graciosos de Deus para trabalhar na vida de uma pessoa de fé. Tudo o que não é de fé é pecado. Até mesmo a Palavra e os sacramentos como Lutero os entendia não tinham valor a menos que fossem recebidos com fé. Nenhuma justiça por obras poderia ser tolerada. A abordagem de Willard é orientada para obras e centrada no homem; foi criada por inovadores espirituais que, em sua maioria, não encontraram suas práticas na Bíblia.



As Disciplinas Espirituais como Presunção

As disciplinas espirituais, como vimos, são atividades corporais nas quais nos engajamos na esperança de nos tornarmos mais semelhantes a Cristo. Então, decidimos qual disciplina precisamos, talvez com a ajuda de um “diretor espiritual”. Já que estabelecemos (e Willard admite) que a maioria dessas disciplinas não são prescritas na Bíblia, temos que decidir quais delas funcionarão para nós. O problema é que isso é exatamente o oposto do que a Bíblia diz sobre disciplina: “e vocês se esqueceram da exortação que lhes é dirigida como a filhos: Filho meu, não despreze a disciplina do Senhor, nem desmaie quando for repreendido por ele; pois o Senhor disciplina aqueles a quem ama, e açoita a todo filho a quem recebe” ( Hebreus 12:5, 6 ). Deus, não o homem, determina o que cada um de nós precisa porque somente Deus sabe exatamente o que cada um de nós precisa.

Por exemplo, considere o espinho na carne de Paulo descrito em 2 Coríntios 12 : “E, por causa da suprema grandeza das revelações, foi-me dado um espinho na carne, a saber, um mensageiro de Satanás para me esbofetear, para me impedir de me exaltar!” ( 2 Coríntios 12:7 ). Paulo não determinou que precisava disso, Deus sim. Quando Paulo pediu que fosse removido, este foi o resultado: “E ele me disse: 'A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza.' Portanto, de boa vontade me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo” ( 2 Coríntios 12:9 ). Deus permitiu o espinho na carne para o bem espiritual de Paulo. A disciplina de Deus é o que Ele faz soberana e providencialmente para trazer cada um de nós, em última análise, à imagem de Cristo. Willard está certo de que cada pessoa é diferente e tem necessidades diferentes. Ele está errado que, portanto, devemos experimentar disciplinas espirituais para ver o que funciona para nós. Nós nem sequer conhecemos nossas próprias necessidades completamente, somente Deus as conhece. Se precisamos de pobreza para nos ajudar a aprender a confiar em Deus, Ele pode providenciar isso. Não há necessidade de fazer um juramento de pobreza e se juntar a um monastério.

Deus nos disciplina de maneiras que nunca poderíamos imaginar ou nunca arranjar. A Bíblia nos diz: “E sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” ( Romanos 8:28 ). Obviamente, tudo no universo está à Sua disposição. Achamos que Ele é incapaz de nos disciplinar de acordo com Sua infinita sabedoria? Supomos que sabemos melhor do que Deus o que precisamos? Para uma pessoa, a disciplina de Deus pode ser a tristeza de perder um emprego e a necessidade de confiar que Ele encontrará um diferente. Para outra, pode ser que Deus a empurre para uma situação de grande responsabilidade que a esforce ao máximo. Se precisamos de solidão, Deus pode conceder isso. Ele pode fazer com que o único emprego que possamos encontrar seja ser um vigia do turno da meia-noite.

O que é presunçoso sobre a abordagem das disciplinas espirituais é que o praticante presume saber o que ele ou ela precisa quando somente Deus sabe dessas coisas. O monge que faz um voto de castidade presume saber que ele será mais como Cristo solteiro do que casado. A pessoa que deixa a civilização em um exílio voluntário na solidão presume saber que ele será mais como Cristo exilado do que interagindo com os outros. Este é o caso, não importa qual atividade presumimos que nos tornará mais espirituais. As únicas exceções são aquelas coisas que Deus ordenou para TODOS os cristãos. Nós nunca somos presunçosos em, com fé, nos valermos dessas práticas que Deus ordenou. Mas isso nos traz de volta aos meios de graça, não às disciplinas espirituais. 47

Portanto, aquelas coisas que são únicas para o indivíduo em relação à disciplina, Deus está no comando. Ele disciplina cada cristão para seu próprio bem, de acordo com Sua própria sabedoria infinita. Aqueles assuntos que são necessários e comuns a todos os cristãos são claramente descritos na Bíblia; eles são meios de graça.



Conclusão

Começamos esta discussão com uma descrição de ensinamentos e práticas estranhas que entram em faculdades bíblicas e seminários evangélicos. Eles foram emprestados da Roma Medieval e disfarçados para consumo evangélico. Examinamos os ensinamentos de um dos líderes visíveis deste movimento. Começando com uma séria interpretação errônea de Mateus 11:29, 30, Dallas Willard construiu todo o seu sistema na ideia de que o “jugo” de Jesus consiste em várias disciplinas espirituais. A questão em Mateus 11 era a salvação messiânica — encontrar o verdadeiro descanso sabático em Cristo em vez de seguir regras religiosas meticulosas decretadas pelos escribas e fariseus. A ideia de praticar disciplinas espirituais foi importada para o texto, não encontrada lá.

Vivemos em uma era de misticismo. As pessoas desejam realidade espiritual e experiências espirituais. O perigo é que práticas não bíblicas darão às pessoas uma experiência espiritual real, mas não de Deus. O engano é o resultado provável. Deus coloca um limite em torno dos meios pelos quais chegamos a Ele e crescemos Nele para nossa própria proteção. Se ignorarmos o limite estabelecido pelas diretrizes bíblicas, não há como dizer onde acabaremos. Se, no entanto, chegarmos a Deus em Seus termos, sabendo que temos um Sumo Sacerdote que está à direita de Deus, e que temos acesso através de Seu sangue ao lugar mais santo, podemos ter certeza de que não podemos estar mais perto de Deus deste lado do céu.

“Aproximemo-nos, pois, confiadamente do trono da graça, para que recebamos misericórdia e achemos graça, a fim de sermos socorridos em ocasião oportuna.” ( Hebreus 4:16 )




Edição 91 - Novembro / Dezembro 2005

 




Notas Finais

1.  Isso aconteceu durante o verão de 2005 no Seminário Teológico Bethel em Arden Hills, MN.

2.  Michael Ford, Wounded Prophet (Imagem: Nova York, 1999); para uma resenha: https://www.spiritualityhealth.com/newsh/items/bookreview/item_1589.html

3.  Dallas Willard, O Espírito das Disciplinas, Compreendendo como Deus muda vidas , (HarperCollins: Nova York, 1991)

4.  Ibidem 1.

5.  Ibidem 5.

6.  Ibidem 9.

7.  Ibidem, 10.

8.  Ibidem, 11-18.

9.  Ibidem, 40.

10.              Ibidem, 33.

11.              Ibidem, 40.

12.              Craig L. Blomberg, “Matthew” em The New American Commentary (Broadman: Nashville, 1992) 195.

13.              Willard, 17 anos.

14.              Ibidem, 18.

15.              Ibidem, ênfase dele.

16.              Ibidem 19.

17.              Idem.

18.              Ibidem, 95.

19.              Ibidem, 99.

20.              Idem.

21.              Idem.

22.              Ibidem, 63.

23.              Idem.

24.              Ibidem, 62.

25.              Ibid. Willard erra ao não nos dizer que esse “destino” não é um que é atualizado agora, mas está ligado ao retorno de Cristo: 1João 3:2b – “Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque o veremos assim como ele é.”

26.              Ibidem, 64.

27.              Ibidem, 65.

28.              Ibidem, 67.

29.              Ibidem, 68.

30.              Ibidem, ênfase dele.

31.              Ibidem, 238.

32.              Idem.

33.              Ibidem, 239.

34.              Ibidem, 243.

35.              Idem.

36.              Ibidem, 157.

37.              Idem.

38.              Ibidem, 158.

39.              Ibidem, 161, 162.

40.              Ibidem, 190.

41.              Ibidem, 142-144.

42.              Ibidem, 144.

43.              Ibidem, 145.

44.              Veja Bob DeWaay, “Means of Grace” em Critical Issues Commentary , Edição 84, Set./Out. 2004. HTTPS://CICMINISTRY.ORG/COMMENTARY/ISSUE84.HTM

45.              Willard, 191.

46.              Ibid. 151, 152 ênfase dele.

47.              A Bíblia nos diz para “nos disciplinarmos”; mas neste contexto: “Mas não tenha nada a ver com fábulas profanas, próprias somente para mulheres velhas. Por outro lado, discipline-se com o propósito da piedade; pois a disciplina corporal é somente de pouco proveito, mas a piedade é proveitosa para todas as coisas, visto que contém a promessa da vida presente e também da vida futura” (1 Timóteo 4:7, 8). Observe, no entanto, que Paulo está ensinando a prática da piedade, não “disciplina corporal” para criar piedade. A promoção de Willard de atividades corporais como “disciplina” não é apoiada por este texto.

https://cicministry.org/commentary/issue91.htm